Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 17
XVI - Almas entrelaçadas


Notas iniciais do capítulo

5ª repostagem...(consulte meu perfil para esclarecimentos)
ATENÇÃO:

ESSE CAPÍTULO PODE CAUSAR DANOS CEREBRAIS IRREVERSÍVEIS, COMO RETARDO MENTAL, AMNÉSIA TEMPORÁRIA, ALÉM DE OUTROS COMO TAQUICARDIA E QUEBRA E FRATURA DE OSSOS DEVIDO A QUEDAS REPENTINAS DA CADEIRA DO PC.

PORTANTO, DEIXE O SEU MÉDICO DE PLANTÃO, RENOVE O SEU ESTOQUE DE GARDENAL E AOS PERSISTIREM OS SINTOMAS O PSICÓLOGO DEVERÁ SER CONSULTADO.

EU DESEJARIA BOA LEITURA, MAS ACREDITO SER MELHOR DESEJAR UM BOM CAPOTE!



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Capítulo XVI – Almas entrelaçadas

“Eu acredito em você,

Eu desistiria de tudo somente para te encontrar

Eu tenho que estar com você para viver, para respirar,

Você está assumindo o controle sobre mim”.

(Evanescence – Taking Over Me)

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Cambaleávamos pela floresta, tudo ao meu redor mal passava de borrados e figuras distorcidas.

Eu ofegava pelo esforço enorme que vazia, mas não me importava. Continuava caminhando, enquanto sustentava o peso do corpo dele junto ao meu.

Meus pés teimavam em enroscarem-se uns nos outros, mas mesmo assim eu seguia. Porque eu sabia que se o deixasse para trás, se eu o perdesse agora, seria como ter metade minha abandonada, como se metade minha morresse, e eu também sabia que se isso acontecesse, eu voltaria para o meu mundo de solidão e meu oceano de tristeza mais uma vez.

Eu tinha que fazer algo por ele, tinha que salvá-lo, e eu estava disposta a pagar esse preço com minha vida se fosse preciso.

Eu me sacrificaria por ele sem o menor temor.

Porque ele era agora tudo para mim, todo o meu mundo girava ao seu redor, todo o meu ser necessitava da sua existência, todo o meu ser respirava-o.

Eu mal me importava com o fato de que minha blusa devia estar encharcada por seu sangue. Seu corpo estava tão próximo do meu, e tão debilitado, frágil. Ele em nada parecia agora com a figura imponente, letal, poderosa que eu costumava ver, ele agora parecia apenas alguém como eu, um frágil humano.

Eu ainda o rebocava comigo, usando de todas as minhas forças para continuar puxando seu corpo enquanto o meu movia-se por aquelas matas intermináveis.

Quando enfim avistei o chalé, o alívio tomou conta de todo o meu ser. Com todas minhas forças esgotadas, lutei para arrastá-lo até a pequena clareira, e com um movimento nada sutil, empurrei a porta da frente, estacando na soleira; havia perigo ali?

Fitei Aidan, mas ele estava tão enfraquecido que mal teria forças para me responder algo. Então ignorei a tudo, e lancei-me para dentro do pequeno chalé.

Atravessei todo o cômodo, e assim que percebi que a cama estava perto suficiente, desabei, completamente exausta, e o corpo dele tombou junto ao meu, de bruços.

Sentei-me no colchão, virando cuidadosamente seu corpo para cima, eu tinha de fazer algo e tinha que ser rápido para estancar aquele sangramento. Não pensei duas vezes, com Aidan meio sonolento, seus olhos oscilando entre a consciência e a inconsciência, movi-me com desespero e angústia.

Meus dedos flutuaram até sua camisa ensopada pelo líquido carmim, onde trataram de abrir os botões e retirá-la. Joguei-a no chão de qualquer maneira e depois avancei para a camiseta que ele usava por baixo.

Ergui sua barra um pouco, focalizando a imensa ferida no lado direito de abdome. Olhei para ele mais uma vez, mas suas forças ainda estavam quase que extinguidas, ele não permaneceria consciente por muito tempo.

Então não me importei também em puxar sua camiseta, erguendo-a até que os músculos de seu tórax fossem totalmente expostos. Ignorei aquelas sensações estranhas por hora e apenas me foquei em salvá-lo.

Puxei mais sua camiseta, pegando em seus braços, tentando de alguma forma passá-los pelas mangas, era algo difícil, ele era forte e parecia querer resistir ao que eu tentava fazer.

Mas não me dei por vencida até passar a camiseta por sua cabeça, retirando-a por completo. Lancei-a no chão também, depois eu daria um jeito nisso. Minhas mãos deslizaram até sua face meio sonolenta, seus olhos lutavam para permanecerem abertos. Ergui sua face e aproximei a minha da dele.

- Diga-me o que fazer. – sussurrei, ainda lutando contra aquele desejo esmagador de ceder às lágrimas. Eu queria ser forte, devia ser forte, era quase como se a minha força pudesse ser transferida para ele. E de fato eu queria que isso acontecesse.

Seus orbes quase completamente cerrados encontraram os meus e com muito esforço ele conseguiu responder-me.

- Não faça... absolutamente nada... – e ele não disse mais nada.

Seu corpo repousou sobre o colchão macio, seus olhos que lutavam para permanecerem abertos fecharam-se por completo. Sua respiração estabilizou e sua face foi tomada pela serenidade.

Baixei seu rosto, pousando sua cabeça com delicadeza no colchão. E depois suspirei.

A umidade ardeu com maior intensidade em meus olhos, mas eu não choraria, seria forte. Limpei seus vestígios, determinada a esperar que ele acordasse, não importasse quanto tempo.

Ainda sentada ao seu lado naquele colchão, percebi que a blusa de mangas que eu usava estava encharcada por seu sangue.

Abri os botões dela e a retirei, permanecendo com a blusa de alças finas branca que eu usava por baixo. E a joguei no assoalho também.

Tentei recompor-me, dispersar aquela nuvem de infelicidade e agonia que ameaçava destruir tudo o que eu conseguira construir nesses meses, ainda que graças a ele. Meus olhos voltaram para sua figura serena, cochilando tranqüilamente.

E então decidi mover-me também. Levantei-me do colchão, procurando nas gavetas por um pano limpo. Encontrei-o, e tratei de ferver um pouco de água.

Enquanto esperava que ela fervesse, rumei até o banheiro e ajeitei-me um pouco. Lavei meu rosto e minhas mãos e olhando para o meu reflexo naquele pequeno espelho eu vi algo vincado em meu rosto, a incerteza, a dúvida, o medo de perdê-lo.

Sacudi minha cabeça, afastando aqueles pensamentos de mim. Voltei para a pequena cozinha novamente e percebi que o pequeno bule já havia tratado de fazer o serviço. Arrumei uma bacia de metal e despejei o pano em cima, para em seguida despejar a água quente sobre ele, esterilizando.

Eu não sabia se Mediadores podiam pegar infecções, muito menos se o sistema imunológico deles funcionava como o dos humanos, mas não queria arriscar nem mesmo se fosse um pouco.

Levei a bacia até perto da cama e meti minha mão no pano que agora se encontrava um pouco quente, e então o levei até seu corpo, limpando com muita sutileza a grande ferida em seu abdome.

Poderia parecer loucura, mas eu jurava que ela havia diminuído de tamanho, e no mesmo instante concluí, ele estava curando-se, seu corpo estava se autocurando, uma das várias habilidades úteis de um Mediador.

E por alguns minutos eu relaxei, e uma certeza súbita dominou todo o meu ser: ele ficaria bem.

Mesmo assim continuei a limpar seu ferimento, depois limpando toda a bagunça que eu havia feito. Eu me encontrava em um grande dilema agora, eu não sabia se deveria esperar que ele acordasse e permanecesse distante de sua figura até que isso acontecesse, o motivo era que aquelas sensações estranhas estavam atacando-me novamente e faltava muito, muito pouco para que eu cedesse completamente a elas, ou se eu deveria ignorar a todos esses temores tolos e simplesmente permanecer ao seu lado.

Não havia dúvidas do que eu queria, e sem pensar duas vezes, lancei-me novamente em sua direção, disposta a ficar ao seu lado até que ele se recuperasse totalmente e decidisse voltar para mim.

Não importa o que era são agora, não importa o que era ético, ou o que era correto, eu queria apenas ficar ao seu lado e como eu mesma dissera, eu enfrentaria a todo o inferno apenas para estar junto dele.

Subi no colchão novamente, sentando-me ao lado de sua figura que ainda transmitia tanta paz e serenidade. Virei-me para o lado, meus olhos vagando por todo aquele ambiente. Àquela hora da tarde o sol já devia preparar-se para se pôr no horizonte, todo o chalé ganhava um aspecto meio alaranjado devido à intensidade dos últimos raios solares do dia.

Os raios penetravam através dos panos das cortinas, infiltrando-se por todos os cômodos e refletindo na madeira escura. E o tempo apenas passava. As horas pareciam arrastar-se lentamente, tudo ao meu redor parecia fluir com uma maior lentidão.

E eu assistia inerte, enquanto o implacável tempo devorava pouco a pouco todas as minhas esperanças e certezas de que tudo ficaria bem. Eu me via angustiada, ansiosa, em profunda agonia e terrivelmente assustada.

Por que estava demorando tanto? Por que ele não despertava? Tantas perguntas vinham a minha cabeça, e todas as possíveis respostas deixavam-me atordoada.

Devo ter virado-me para ele novamente dezenas de vezes, meus olhos limitados tentavam buscar por qualquer mudança que fosse, mas não havia nada, ele continuava naquela mesma situação e isso me apavorava.

Eu já não encontrava tantas forças assim para lutar contra as lágrimas, todo o meu ser queria ceder a elas, cair-lhe prostrada e afogar-se em um mar de agonia e dor. Eu mordia meus lábios, cerrava meus olhos, abraçava minhas pernas e tentava em vão convencer-me de que tudo ficaria bem.

Mas eram esforços inúteis, porque toda a minha alma gritava desesperadamente dentro de mim. E todo o meu ser já se preparava para prantear a perda dolorosa que eu sofreria caso ele nunca mais acordasse.

E em minha mente eu já podia imaginar meu próprio futuro, como estaria minha vida sem sua presença. E então cheguei à constatação de que eu voltaria ao nada mais uma vez se o perdesse, porém, depois de ter conhecido a felicidade, depois de tê-la sentido em minha pele, eu sabia que voltar ao nada, a solidão e a tristeza seria o mesmo que me condenar à morte. Porque eu não resistiria, não mais, não depois de ter provado daquele fruto.

Porque uma vez que se come dele, é impossível esquecer-se dele, impossível viver sem seu doce néctar, impossível permanecer sem seu aroma e sem sentir sua essência.

Eu não voltaria para aquele mundo sombrio mais uma vez, não depois de Aidan ter tirado-me de lá, eu não me perderia mais uma vez naquela escuridão densa e interminável. Eu morreria lá, definharia e minguaria como um pequeno botão sem a luz de seu sol, sem as gotas da chuva e sem o seu ar para respirar.

Eu morreria se voltasse para lá, disso eu tinha plena certeza.

Concluir isso foi como ser fortemente golpeada, largada a própria sorte, apenas para que a morte poupasse sua alma um pouco mais e demorasse a levá-la, demorasse a tirá-lo daquela situação horrorosa.

Aquele peso esmagou-me, prensando meu coração sem a menor piedade ou compaixão. Aquela dor era tão profunda que nada se comparava ao que eu já havia sentido em toda a minha vida. Era como ser dilacerada viva, ter a sua carne retalhada, esmigalhada, moída, era como ser torturada até a morte.

Eu não conseguiria resistir a aquilo, era doloroso demais. Era como se todo o meu corpo fosse esmagado por aquela dor, cada músculo, cada centímetro de minha pele sentia-na.

O desespero fluía por minhas veias, congelando cada pedaço de mim, e toda essa gelidez parecia ser a minha condenação. Eu não agüentaria a aquilo, era demais para suportar. E quando dei por mim, eu já chorava.

As lágrimas corriam por meu rosto, como jatos de água quente, embaçando meus olhos. Seria tão normal assim que eu tivesse tanto medo de perdê-lo? Que somente de imaginar-me sem ele, todo o meu ser se desesperasse e praticamente morresse de tanta tristeza?

Não importava se aquilo era normal ou não. Porque aquele desespero não me deixava pensar em outra coisa que não fosse morrer junto dele. Antes na verdade, que meu corpo fosse atirado às aves carniceiras, tinha certeza de que seria bem menos doloroso do que passar por essa situação.

Ou então que coiotes encontrassem-me primeiro, e que me dilacerassem viva, ainda assim eu não estaria em tamanho poço de desespero como estou nesse momento.

Limpei minhas lágrimas, impelida por meu desespero e minha dor, eu me virei para ele novamente, mas nada mudara; ele continuava em total repouso.

Não me importei com mais nada.

Que se dane a ética, que se dane a moral e que encontre o caminho para o inferno tudo o que é correto e direito.

Porque naquele momento meu medo guiava todas as minhas ações, controlava-me inteiramente, eu era um mero fantoche em suas mãos.

Sem hesitação alguma, debrucei-me sobre seu corpo, meu rosto permanecendo a centímetros do seu. Eu não ficaria sem aquelas sensações, eu não voltaria ao nada, não sem ao menos provar daquele fruto proibido.

Suspirei e minhas mãos tocaram em sua face serena. Meus dedos impacientes acompanhavam cada linha que compunha seu semblante maravilhoso. Até que se depararam com seus lábios sedutores e carnudos, sentindo toda a maciez deles, meu Deus, ele era absolutamente perfeito.

Mais uma vez, sem qualquer controle de minhas ações e levada por meu imenso desespero em perdê-lo, minhas mãos ousaram passar de sua face, percorrendo seu pescoço, seus ombros largos, até que avançaram para os músculos de seus braços, acompanhando cada linha que os compunham. Alcancei a palma de sua mão, virada para cima, e entrelacei meus dedos nos seus.

Suspirei novamente, totalmente entorpecida por aquelas sensações e sorri. Para mim não havia outro paraíso que não fosse aquele, para mim não poderia haver coisa melhor do que aquilo.

Ainda mais atrevidas, minhas mãos retornaram, refazendo todo o percurso novamente, e então sem mais e nem menos, elas deslizaram por seu tórax, sentindo na ponta de meus dedos o quão macia e sedosa era a sua pele.

Inspirei o cheiro maravilhoso que emanava dela, perdendo completamente o pouco de juízo que me restara.

E enquanto minhas mãos atrevidas percorriam os músculos de seu abdome perfeito, parecendo até mesmo ter sido esculpido por um artista de talento imensurável, abri meus olhos e fitei meu objeto de desejo naquele momento.

Tão lindos, tão perfeitos, tão sensuais, indescritíveis, seus lábios.

Parecia que toda a razão havia fugido de mim, eu estava completamente entorpecida por aquelas sensações e como conseqüência, ignorava a tudo o que pudesse tirar-me daquela nuvem de felicidade.

De qualquer forma, eu já havia me perdido nele mesmo. Estava completa e inteiramente perdida em Aidan. Eu havia caído dentro dele e perdido-me para sempre. Não havia retorno, não havia volta, era tarde demais, todo o meu ser, todo o meu corpo estava conectado ao dele.

E até mesmo a minha alma havia se entrelaçado a dele. Algo completamente irreversível.

Eu estava presa a ele agora, seria sua por toda a eternidade, então por que eu ainda hesitava?

Aproximei-me ainda mais dele, rocei meu nariz ao dele, meus lábios a centímetros dos dele. Entreabri-os, suspirando, e finalmente minhas mãos voltaram para a sua face.

Segurei-a delicadamente e decidi que não lutaria mais contra isso, eu me entregaria de uma vez por todas e selaria meu destino ali, em seus lábios.

Fechei meus olhos mais uma vez e então curvei meus lábios até os seus, roçando-os cuidadosamente. E fui surpreendida.

A suavidade, a delicadeza daquele nosso contato apanhou-me desprevenida, eu não consegui conter aquelas sensações dentro de mim, era como se uma fera a muito aprisionada, tivesse se libertado dentro de mim e agora lutasse desesperadamente para dominar todo o meu ser.

Como um pássaro, que passara toda a vida engaiolado, agora encontrasse a liberdade e quisesse voar pelo céu infinito, rumo ao horizonte.

Eu sentia a liberdade pulsar dentro de todo o meu ser, eu sentia meu coração martelando fortemente contra meu peito, e eu sentia que todo o meu corpo tremulava. Mas não me importei, porque tudo o que eu queria era sentir o doce néctar que toda aquela loucura proporcionava-me, eu só queria me perder mais e mais ali, em seus lábios.

Exerci uma pressão maior em seus lábios, não me importando com mais nada. Porque ali eu havia encontrado a parte que faltava em mim, a parte que me completava e tornava-me plena.

Rocei meus lábios aos dele novamente, e abri meus olhos, espantando-me com o que vi.

Seus orbes estavam sobre mim, fitando-me com tanta intensidade.

Assustada, recuei, deixando seu corpo e encolhendo-me sobre o colchão como um gatinho assustado.

Aidan sentou-se sobre a cama, seus olhos não se demoviam dos meus, assustados e congelados pelo medo. Meu coração ainda martelava violentamente contra o meu peito e eu não sabia se devia pedir desculpas a ele por isso.

Todo o meu corpo ainda estava trêmulo, eu só não sabia se era pelo que aquelas sensações causavam em mim ou por temer que ele reagisse de forma inesperada.

Tentei recompor-me, remodelar todas as minhas feições, estabilizar a minha respiração, acalmar meus batimentos, mas não conseguia, e falhava miseravelmente em falar-lhe.

Aguardei impacientemente que ele me dissesse alguma coisa, que ele fizesse algo, mas nada acontecia e os segundos apenas avançavam e o silêncio prevalecia entre nós dois.

Ele aproximou-se ainda mais de mim, esgueirando-se pelo colchão, estacando a poucos centímetros de onde eu estava, seus olhos pousando sobre minha face novamente.

Sua face estava tão próxima a minha que eu podia até mesmo sentir sua respiração quente chocar-se contra minha pele.

Mas sua expressão permanecia rígida, inflexível, enquanto seus olhos devoravam-me como dois leões ferozes e famintos.

E eles rugiam para mim, enquanto tentavam repreender-me por meus atos inconseqüentes.

Mas depois seus orbes tombaram para baixo, as feras morrendo lentamente enquanto eles ganhavam um aspecto tristonho, melancólico, decepcionado.

Eu devia tê-lo magoado, essa era a única explicação para o que acontecera. Então, ele não devia corresponder os meus sentimentos. Seria isso? Não me atrevi a perguntá-lo, a coragem fugia-me e eu nem sei como ainda tinha forças para deixar que meus olhos permanecessem sobre seu semblante.

Aidan sacudiu a cabeça, ainda triste, enquanto sua voz abafada e aveludada rompia aquele silêncio mortal que havia se instaurado entre nós dois.

- Isso não é certo. – murmurou ele com relutância, embora a tristeza ainda tingisse o seu semblante e sua voz.

Então eu estava enganada, não se tratava de não corresponder aos meus sentimentos, tratava-se de optar por aquilo que fosse correto, direito.

Minha coragem retornou no mesmo instante, impelindo-me a insistir naquele assunto.

- Eu nunca disse a você que queria algo certo. – murmurei, decididamente.

Aidan ainda hesitava, todos os seus músculos pareciam estar rígidos, como se ele mesmo tentasse refrear seus desejos e o que seu corpo mais queria.

O cheiro de sua pele estava enlouquecendo-me, como um drogado em abstinência, que tinha a poucos metros de si o fruto de seu desejo, mas hesitasse em pegá-lo, não porque tentava resisti-lo, mas sim porque temia que todo o seu futuro fosse comprometido por ela e então ele apenas ponderava em pegá-la ou não; uma decisão que mudaria toda a sua vida.

Aidan cerrou seus punhos, todos os seus músculos permaneciam enrijecidos.

- É arriscado demais para você. – teimou ele.

E mais uma vez, minha coragem impeliu-me, empurrou-me a bater naquela tecla novamente.

- Eu não me importo.

- Mas eu sim. – rebateu ele.

Contra-ataquei mais uma vez, decidida a não desistir daquilo que eu queria e precisava. E eu precisava dele como preciso do ar que respiro, talvez até mais.

- Eu estou segura ao seu lado.

- Não dessa forma. – murmurou ele, friamente, mais uma vez tentando dissuadir-me desse assunto.

- Já lhe disse que não me importo.

E seus olhos voltaram para os meus, calorosos, abrasadores, intensos, belos. E eu me perdi completamente em suas íris, mergulhando e afogando-me nelas, perdendo toda a razão, todo o meu juízo, se é que ainda restava algum em mim.

Mais uma vez ele sacudiu a cabeça, como se tentasse convencer a si mesmo de que era o melhor, algo que discordávamos inteiramente.

Ele trincou seus dentes e pareceu ficar enfurecido consigo mesmo ou comigo, eu não sabia ao certo. Mas esperei em silêncio até que ele se pronunciasse outra vez.

- O mais incrível é que eu não consigo lutar contra isso, não consigo evitar de desejar isso, eu simplesmente... não quero resistir a você.

Suas palavras apanharam-me com a guarda baixa e eu devo ter permanecido surpresa e boquiaberta com sua confissão até que minha coragem inflou meus pulmões novamente.

- Então não tente. – sussurrei, em nenhum momento meus olhos deixaram os seus, mesmo quando ele os desviava, era como se uma força magnética levasse meu olhar até o dele.

Ele semicerrou seus olhos, ainda hesitando. Todo o seu corpo parecia conter-se, todo o seu ser parecia relutante, mas eu estava ali e lutaria por aquilo até o final.

Aidan demoveu seus olhos dos meus mais uma vez, baixando seu olhar novamente, e por um momento eu achei que afinal ele havia se decidido, porque todo o seu semblante mudou, ele parecia assustado, surpreso, seus olhos o delatavam.

E ele observava algo fixamente, como se não acreditasse no que visse. E eu só dei por mim quando senti seus dedos longos subirem por meu braço esquerdo, fazendo um trajeto lento, suave, gentil.

Suspirei quando senti seus dedos em meu ombro, e acompanhei seus movimentos com o olhar enquanto vagarosamente eles afastavam as mechas de meu cabelo, retirando-as de meu ombro e estacando.

E sem o menor aviso ou cerimônia, seus dedos moveram-se até a alça fina de minha blusa, segurando-a com suavidade, para depois deliberadamente, movê-los, levando-a consigo, enquanto ele deixava meu ombro esquerdo completamente desnudo.

E então eu entendi, aquela era a primeira vez que ele via a minha estranha marca de nascença, a fênix que eu carregara comigo durante toda a minha vida.

Com meu ombro nu, seus dedos tornaram até ele, contornando as linhas que compunham aquela estranha figura que parecia ter sido gravada em minha pele. E mais uma vez eu fiquei completamente entorpecida por aquelas sensações, enquanto seus dedos acariciavam minha pele, traçando leves círculos.

Minha respiração fluiu de forma lenta através de meus lábios entreabertos, e enquanto eu me preparava para o que viria a seguir, sua outra mão subiu até minha nuca, segurando com delicadeza na raiz de meus cabelos, seus dedos entrelaçavam-se aos fios de meu cabelo, enquanto seus olhos encontravam os meus mais uma vez e eu me perdia na profundidade deles, seu rosto aproximou-se mais do meu, seus lábios estavam a centímetros dos meus, e não houve mais hesitação, não houve mais relutância, ele simplesmente cedeu, ele simplesmente se entregou, e meus lábios foram tomados súbita e calorosamente pelos seus.

Fechei meus olhos, esquecendo-me completamente do resto. Porque de repente não havia mais nada ao meu redor, a não ser seus braços fortes envolvendo meu corpo, acalentando-me.

Seus lábios avançaram ferozes sobre os meus, beijando-me de forma sôfrega, ávida, mas em nenhum momento sendo rude ou ríspido. Então eu soube que ele compartilhava do mesmo desespero que eu, da mesma necessidade.

Meus lábios entreabriram-se, enquanto os dele moldavam-se aos meus, como um encaixe perfeito, e a doçura de seu hálito esvaziou minha mente e não me deu chance de pensar em mais nada.

Como uma leoa, avancei sobre ele, prendendo-o no cerco de meus braços, impedindo-o de libertar-se, como uma presa indefesa diante de seu predador imponente.

Puxei-o para mais perto de mim, meu corpo moldou-se ao redor do seu, e depois não havia o menor espaço entre nossos corpos, estávamos entrelaçados, unidos ao máximo, e mesmo assim para mim não era o suficiente.

Eu precisava dele, precisava de toda a sua essência, eu precisava tê-lo comigo por toda a eternidade. E enquanto seus lábios macios e vorazes roubavam-me todo o fôlego, meus dedos avançaram para seus cabelos, entrelaçando-se nos fios negros como a noite.

Suspirei em seus lábios, entorpecida demais para pensar em qualquer outra coisa que não fosse ele ou seus lábios nos meus, suas mãos em minhas costas e minha cintura, o seu hálito maravilhoso na ponta de minha língua.

E eu sentia cada centímetro dele ao meu redor, cada pedaço dele estava próximo a mim, e pela primeira vez, minha existência passou a ter algum valor, algum sentido.

Porque em seus braços era o lugar ao qual eu pertencia, ao qual eu sempre pertenci. E ele era tudo para mim a partir de agora. Eu não seria nada sem a sua existência, eu não teria nada sem a sua presença, e aquele buraco voltaria a me dominar se algum dia ele me deixasse.

Sua pele quente, sedosa e macia era como o meu porto-seguro, o meu descanso eterno, o meu lugar de paz e tranqüilidade. Eu nunca em minha vida fui tão feliz e completa quanto eu estou agora.

E de repente todos os meus pensamentos escaparam de mim, quando eu senti que seus lábios deixavam os meus, mas rumavam para meu rosto, sedentos por minha pele.

Recuperei meu fôlego roubado, enquanto sentia seus lábios quentes sobre meu queixo, todo o meu maxilar e finalmente na base de meu pescoço, sua língua explorava minha pele, causando arrepios em todo o meu corpo.

Sussurrei seu nome, sorrindo, enquanto afagava seus cabelos, e mesmo respirando aos arquejos, meus lábios foram tomados pelos seus mais uma vez. Mas dessa vez foi mais suave, mais gentil, e foi o toque mais carinhoso e doce que eu já senti em toda a minha vida.

Agora seus lábios moldavam-se aos meus com mais delicadeza, enquanto desfrutávamos vagarosamente daquele momento tão perfeito.

E então ele cessou...

Sobressaltei-me um pouco quando eu senti-o pousar ternamente sua face em meu peito, enquanto eu ainda recuperava todo o fôlego que me fora retirado. E nós permanecemos assim por um tempo incontável. Parecia que o mundo ia acabar ao nosso redor e nada conseguiria abalar-nos.

Porque estávamos completos, havíamos encontrado as nossas metades, as nossas respectivas almas gêmeas. E agora éramos um todo.

Fechei meus olhos, deixando-me embalar por aquelas sensações, e enquanto eu me perdia naquele turbilhão de emoções e sentimentos à flor da pele, eu constatei que pertencíamos um ao outro, tínhamos aguardado pacientemente pelas forças do destino, até que ele nos lançasse um no caminho do outro e pusesse-nos frente a frente.

Porque apenas quando isso acontecesse, nós daríamos por encerrada nossas jornadas, apenas quando nossos destinos se cruzassem nós encontraríamos essa estranha felicidade que tantos buscam, mas que tão poucos encontram.

E sim, não havia dúvida, eu tinha em meus braços naquele momento, a minha única e eterna felicidade. E eu não permitiria que nada nos separe, eu não deixaria que ele escapasse de mim tão fácil, e talvez nem mesmo a morte fosse capaz de tal proeza.

Porque nossos caminhos agora andavam lado a lado, nossos corações estavam unidos e nossas almas estavam entrelaçadas para todo o sempre...


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Notas finais do capítulo

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!

TO MELHOR AGORA... ALGUEM SOBREVIVEU AÍ???

MEREÇO REVIEWS???

ATÉ A PRÓXIMA...

BEIJOSS