Na cozinha, sentada e olhando fixamente para a cartela de anticoncepal que havia sobre a mesa, eu me perguntava se deveria ou não ingerir a pílula daquele dia. Era certo que em menos de duas semanas o Naruto estaria indo para a guerra e que se ele morresse, eu ficaria sozinha no mundo, então não achei errado desejar uma gravidez naquele momento. O tempo que nos restava juntos seria suficiente para que eu pudesse engravidar, bastava apenas que eu deixasse de tomar as pílulas anticoncepcionais; uma pequena decisão que mudaria a minha vida para sempre.

Desviei meu olhar para a direção da janela, a noite avançava rápido e Naruto não havia chegado ainda. Apesar dos meus pedidos e de nossa briga, que eu iniciei, ele foi para o treino de hockey. Ele disse que não abandonaria o time e ficaria com os companheiros até o dia de sua partida. Não é que eu não achasse a atitude bonita, mas o problema é que o Sasuke também estaria lá e depois do que havia acontecido no apartamento dele, eu não sabia se seria uma boa eles se encontrarem.

Eu não tive coragem de contar ao Naruto que o Sasuke havia me tomado a força, porém eu pensava que o Sasuke gostaria de jogar na cara do Naruto que eu ainda pertencia a ele. Receei que a disputa deles por mim pudesse tomar proporções catastróficas.

A porta da sala se abriu e logo foi fechada com força, o estrondo me assustou. Senti que o meu temor havia se tornado realidade.

Levantei-me da cadeira e foi correndo para a sala.

- O que aconteceu Naruto?

O olhar colérico dele me assustou no início, mas ao me olhar seus olhos ficaram mais serenos.

- Sakura... - apesar de tentar aparentar estar calmo, a voz dele estava grave e alta, típica voz de quem está zangado - Você dormiu com o Sasuke ontem?

Negar ou confirmar? Um dilema cuja resposta nos levaria céu ou ao inferno. Enrijeci meu corpo e o fiquei fitando em silêncio tentando manter a expressão séria e firme.

- Sakura, eu preciso saber! - a voz dele ficou mais alta e grave.

- O que você acha, Naruto? - perguntei mantendo o tom sério em minha voz - Você acredita que depois de tudo eu dormiria com o Sasuke?

Vi que ele ficou sem saber o que ia falar. Eu o desarmei com aquela pergunta.

Não era justo jogar com o fato de ele confiar ou não em mim, no entanto o Sasuke havia jogado antes e eu sabia que ele não havia contado ao Naruto que ele me tomou a força. Não, o Sasuke nunca diria que precisou transar com uma mulher sem ela o desejar; o mais importante para ele nessa história era ferir o Naruto, e para isso ele precisaria dizer que eu quis dormir com ele.

- Eu acredito em você, Sakura - a resposta dele por fim saiu num tom de voz quase inaudível.

Respirei aliviada.

- O Sasuke vai fazer de tudo para nos separar, e é por essa razão que eu não queria que vocês se encontrrassem.

Cabisbaixo e de costas para mim, Naruto se desculpou.

- Desculpe, Sakura.

- Está tudo bem. Nós podemos aguentar isso por mais um tempo.

- Eu vou tomar um banho.

Naruto subiu para o quarto. Eu voltei para a cozinha e meu olhar recaiu sobre a cartela de anticoncepcionais abandonada em cima da mesa.

"O amor é o laço mais forte que existe entre duas". Repeti a frase que Ino uma vez me dissera mentalmente e pensei que o amor que existia entre o Naruto e mim já não era mais o suficiente para nos manter juntos. O Sasuke jamais permitiria que nós ficássemos juntos, por isso a opção que me restava era acreditar que se ele visse que eu e o Naruto tínhamos uma família tudo ficaria bem, e não só em relação ao Sasuke, mas pensava que seria mais fácil para todos aceitarem o nosso amor.

Peguei a cartela de anticoncepcionais e joguei-a no lixo que ficava ao lado da pia.

Subi e fui até o quarto de Naruto. Notei que ele ainda estava no banho, e sem fazer barulho fechei a porta do quarto e sentei-me na cama. Encostei a cabeça em seu travesseiro e fiquei ouvindo o som do chuveiro ligado, e assim acabei dormindo sem perceber.

Despertei ao sentir a mão de Naruto tocando meu rosto.

- Sakura, o que está fazendo aqui?

Esfreguei os olhos tentando espantar o sono.

Ele estava sentado na cama, ao meu lado, com apenas uma toalha em volta da cintura.

- Eu estava esperando por você.

Naruto tomou meus lábios entre os seus e eu não mostrei qualquer resistência. Inclinei meu corpo para frente diminuindo a distância entre nós.

As mãos dele desceram por meu braço até chegarem a minha cintura, e num movimento natural levantei meus braços para que ele tirasse a minha blusa. O gesto foi entendido rapidamente e antes que eu percebesse, eu já estava nua deitada na cama com Naruto cobrindo o meu corpo.

Ele depositou em meu corpo beijos que começavam no pescoço e seguiam uma trilha que passava pelos seios indo direto até o umbigo. Meu corpo se excita e se aquecia, não era mais inverno naquele quarto.

A cama de solteiro era um pouco desconfortável por ser pequena, mas o Naruto e eu estávamos nos acostumando a ter pouco espaço.

Distraidamente, enquanto beijava meu seio, Naruto apoiou sua mão sobre o meu pescoço. Na mesma hora, a forte lembrança de Sasuke apertando meu pescoço e me tocando de forma violenta veio a minha mente; fiquei desesperada e com falta de ar. Sentei-me na cama e Naruto parou o que estava fazendo. Eu respirava com dificuldade.

- Sakura...

Antes que ele tivesse a chance de perguntar algo, eu joguei meu corpo para frente e voltei e beijá-lo de forma possessiva e apressada. Mesmo sem entender nada, Naruto seguiu me beijando e tocando meu corpo.

O que interrompido logo foi recomeçado e em poucos segundos sentimos como se nunca houvéssemos feito qualquer pausa.

Toques e carícias nos excitavam cada vez mais. A chama do amor que ardia em meu interior queimava meu coração, mas eu, um pouco sadomazoquista, gostava de sentir-me incendiando. O medo foi afastado do meu coração, e naquele momento nada mais existia além de nós e de nosso sentimento.

 O encaixe perfeito de nossos corpos e a sensação de se ter chegado ao paraíso são coisas que não se pode explicar apenas com a fisiologia, é preciso que haja a poesia para descrever as sensações maravilhosas que somos capazes de sentir quando nos entregamos por amor.

Após o prazer, eis que há o descanso.

Nos deitamos de lado, pois a cama não nos permitia ficar de outra forma. Eu fiquei com o corpo virado para o lado da janela, enquanto que o Naruto abraçou minhas costas.

- Desculpe, Sakura.

- Por que ainda está se desculpando? Escute, o Sasuke...

- Não estou me desculpando por isso – ele rapidamente me corrigiu.

Girei meu corpo e fiquei de frente para ele.

- Então pelo o que está pedindo desculpas?

- Eu estou indo para a guerra, e vou te deixar sozinha por um tempo.

Pelo tom baixo e o olhar vazio eu percebi que havia uma grande dor em seu coração.

Coloquei minha mão direita sobre sua bochecha e ele me olhou assustado, eu sorri ternamente.

- Apesar de tudo o que eu disse, eu quero que saiba que eu estou orgulhosa de você. Naruto, você é o meu herói.

Ao ouvir o que eu disse, ele abriu um enorme sorriso.

- Eu vou proteger o nosso país, Sakura.

- Só não vá morrer fazendo isso, tá?

Eu lhe dei um selinho e fiquei olhando-o.

- Quer que eu apague a luz, Sakura?

Eu havia me esquecido que a luz do quarto estava acesa.  

Levantei-me.

- O que foi? – ele me perguntou preocupado.

- Eu preciso ir à cozinha. Estou com sede.

Peguei o casaco do Naruto que estava atrás da porta e saí no corredor. Enquanto descia as escadas apressada, eu fui vestindo o casaco. Acendi a luz da cozinha e fui até o lixinho, a cartela com as pilulas anticoncepcionais estavam lá em cima de um monte de sacolas e sacos de salgadinhos. Recolhi a cartela e lavei-a com água corrente e sabão, sem exitar rompi a cartela e peguei uma pílula colocando-a rapidamente na boca e engolindo-a.

Eu não poderia fazer o Naruto carregar o peso de estar deixando um filho para trás. Por mais que eu não me negasse a aceitar que talvez ele não voltaria, era certo que numa guerra não como prever se você irá sobreviver ou não. Já bastava a dor dele em me deixar sozinha, ele não precisava sentir isso por mais ninguém; nem mesmo por um filho que ele não conhecia.