Dirigi rapidamente pelas ruas vazias até chegar em casa. Ao entrar com o carro na garagem vi que a moto do Naruto não estava lá.

Fui até a sala e sentei no sofá.  A casa vazia era torturantemente silenciosa.

Meu corpo doía e eu me sentia suja por ter sido tocada a força. Lágrimas surgiram em meus olhos, mas eu as segurei para não deixá-las cair; o Sasuke não as merecia.

- Nunca perdoarei o Sasuke pelo o que ele fez. Ele não tinha o direito...

Meu celular em minha mão começou a tocar, verifiquei o número de chamada e vi que o número era do celular do Naruto. Atendi rapidamente.

- Onde você se meteu, Naruto?

- Ah, alô. Sakura... – não era a voz do Naruto – Aqui quem está falando é a Hinata. O Naruto está aqui comigo... – ela parecia nervosa – Ele vai passar a noite aqui, OK?

Fechei o flip do celular cortando assim a ligação. Perguntei-me se todos achavam que eu era a mãe do Naruto. O que me importava se ele ia passar a noite na casa da noiva? Exceto pelo louco ciúme que eu estava sentindo dele por causa disso, eu não tinha que ficar me preocupando por ele.

- Maldita! Ela me ligou do celular dele só para me provocar!

Subi e tomei um banho de chuveiro demorado. Depois me deitei na cama e fiquei esperando o sono chegar, mas Morpheu não veio me levar ao mundo dos sonhos. Passei a maior parte da noite em claro chorando e desejando estar morta.

Sasuke havia me violentado e Naruto estava dormindo com a noiva, nada parecia certo; aquele não era o jeito que as coisas deveriam acontecer. E para me atormentar mais o Sasuke havia dito que o Naruto partiria para a guerra em duas semanas. Como eu podia consertar tudo em tão curto tempo?

Pela manhã eu fiquei esperando a volta de Naruto e perto das oito da manhã ele entrou pela porta da sala. Eu estava sentada no sofá ainda vestindo meu pijama azul.

- Olá Sakura – ele me saudou meio sem jeito.

Eu me levantei e o encarei em silencio.

Aproximei-me dele e o beijei da maneira mais ardente e fingida que eu consegui.

- Sakura, o que está fazendo?! – ele estava espantado com a minha atitude.

Aquele não era o meu jeito natural de agir numa situação assim. Eu normalmente não o olharia na cara e se ele tentasse me abraçar eu gritaria:

“Não quero que me toque depois de tê-la tocado!  Não quero me beije depois de tê-la beijado!”.

No entanto, dizer essas coisas seria hipocresia da minha parte. Eu havia passado a noite no apartamento e nós estivemos juntos, mesmo tendo um sido um ato forçado, eu havia me deitado com ele e nada mudaria o que se passou. Portanto, eu não podia recriminá-lo por se deitar com sua noiva.

Segui o beijando. Empurrei-o no sofá e desajeitadamente ele caiu deitado. Eu comecei a tirar minha blusa e minha calça ficando apenas de calcinha. Deitei-me sobre seu corpo e notei que ele corou.

- Sakura...

Coloquei meu dedo indicador sobre seus lábios fazendo-o se calar.

- Escute Narute. Nós podemos continuar como amantes pelas duas semanas que restam para você ir para o Afeganistão - Naruto sentou-se no sofá - Ninguém precisa saber sobre nós...

- Sakura, como sabe que eu...? O Sasuke...

Eu o interrompi. Sentando-se em seu colo, cruzei os braços.

- Por que eu tenho que ficar sabendo das coisas pela boca do Sasuke e não da sua?

Naruto sentou-se no sofá também.

- Eu não queria te preocupar.

- Ah, como se eu fosse ficar menos preocupada não sabendo quando você vai.

Silêncio.

Naruto começou a se levantar e empurrou gentilmente meu corpo para o lado. Eu não protestei e nem continuei tentando... Seduzi-lo? Acho que era isso que eu estava tentando fazer ao atacá-lo daquela maneira.

- Sua noiva o deixou muito cansado? – perguntei com ironia.

Naruto virou seu rosto em minha direção e vi que ele me olhava com tristeza.

- Eu não dormi com a Hinata.

Eu não fiquei feliz em ouvir aquilo porque foi nesse momento que eu percebi que eu estivera fazendo a mesma coisa que o Sasuke havia feito comigo em seu apartamento. Eu o estava tentando forçar uma transa simplesmente porque eu estava com ciúmes do Naruto e da Hinata. Senti-me péssima e todos os sentimentos negativos por ter sido tomada a força vieram a mim novamente.

Sentada no sofá com as pernas esticadas para trás, eu fiquei observando Naruto recolher minha roupa do chão, em seguida ele estendeu seus braços e me entregou-as.

- Naruto me leva de volta para a praia?

Meu pedido o surpreendeu num primeiro momento, mas vi ternura em seu olhar. Ele sentou-se ao meu lado no sofá.

- Por que foi até o apartamento do Sasuke ontem?

-Como sabia onde eu estava? – dessa vez fui eu quem ficou surpresa.

- Eu te procurei pela cidade, e encontrei seu carro estacionado em frente ao prédio dele.

- E por isso você foi correndo para os braços da sua noivinha?!

Nada calava o meu ciúme.

- O que foi fazer lá? – ele me perguntou desviando o olhar de meu rosto.

- Contar para o Sasuke que eu te amo. Que eu quero ficar ao seu lado. E quanto a você? O que foi fazer na casa da Hinata?

Naruto passou o braço por trás de mim e me puxou para junto dele.

- Sakura...

- Fique longe! – eu ordenei empurrando-o para o lado – Você nunca vai terminar com a Hinata, não é mesmo? É como um homem casado que faz promessas de um futuro junto comigo, mas segue ao lado daquela que frente a todos é a sua noiva.

Finalmente toda a angústia da noite saiu através da minha boca em forma de palavras.

Levantei-me do sofá e Naruto rapidamente copiou meu movimento. Eu continuei falando ainda com mais raiva.

- De que adianta falarmos de um futuro juntos, se seguimos com a mesma droga de vida?! Eu devia ter morrido naquele acidente!

O braço de Naruto se esticou e acertou o vaso que estava sobre a mesinha lateral ao sofá. Eu me distraí vendo o vaso que caía e por isso, eu não notei quando ele veio em minha direção e me abraçou.

- Nunca mais diga isso! – ele brigou comigo.

O som da sua voz só não foi mais alto do que o som do vaso de porcelana se rompendo.

- Eu digo sim, porque eu não agüento mais essa vida!

Naruto segurou em meu rosto e vi que seus olhos brilhavam por causa das lágrimas presas neles.

- Eu não posso te perder, Sakura.

- E eu não quero que o meu amor por você seja apenas entre quatro paredes – empurrei o corpo dele para se afastasse do meu e dei dois passos para trás – Eu estou tão cansada de ficar lutando. De ficar escondendo. Eu pensei que depois de contar tudo para você, as coisas seriam diferentes... Dói ser apenas a sua amante!

Tomando cuidado para não pisar nos cacos de porcelana do vaso, eu girei meus calcanhares e subi a escada. Naruto veio logo atrás de mim.

Eu deitei-me na cama de bruços e ele sentou-se ao meu lado. Sua mão acaricou meus cabelos.

- Não quero que seja a minha amante.

Eu o via me olhar com ternura e isso fez a minha raiva desvanecer aos poucos.

- E o que mais eu posso ser na sua vida? A sua irmã?

- Minha esposa.

Sentei-me na cama de joelhos e o encarei.

- Você fica falando essas coisas, mas desde o colégio eu sigo com o Sasuke e você com a Hinata. E logo você vai se casar com a Hinata porque o pai dela não quer que você vá para a guerra sem ser casado com a filha dele e eu... Vou acabar me entregando ao amor doentio do Sasuke. Então, qual será o nosso futuro? Continuarmos escondendo de todos o que sentimos?

- Sakura, eu e a Hinata... Nós terminamos tudo há 3 anos atrás. Quando você foi para o Canadá, ela já não era mais minha namorada.

Eu abri um sorriso nervoso.

- Não... Você disse que ia se casar com a Hinata!

- A Hinata me pediu que fingisse ser o namorado dela para que o velho dela não a obrigasse a se casar com alguém que ela não amava.

- Eu não acredito! Naquele dia, ela estava no seu quarto usando a sua camisa e o seu note.

Naruto abriu um sorriso travesso.

- A Hinata veio pegar alguns arquivos no meu note e eu quando fui atender a porta sujei a blusa dela com suco que eu estava tomando. Eu disse que ela podia colocar uma blusa minha enquanto eu ia à padaria comprar um café da manhã para nós dois... Eu tinha ficado a te esperando a noite toda com a lareira acesa.

- Por favor, não me faça parecer uma idiota por ter sentido ciúmes de você todos esses anos... Por que não me contou...? – a resposta veio a minha mente antes mesmo que eu terminasse a pergunta – Um segredo. O falso noivado de vocês era um segredo?

- Desculpe, Sakura.

Abaixei a cabeça e fiquei olhando minhas mãos fechadas em forma de punho que repousavam sobre minhas coxas.

- Sabe, Naruto. Os segredos existem para esconder aquilo que achamos que vai magoar ou prejudicar alguém, mas a verdade é que os segredos quando revelados acabam causando uma dor maio, porque as pessoas percebem que se elas soubessem daquele segredo antes teriam feito as coisas diferentes.

- O que seria diferente? – ele me questionou curioso.

Eu levantei a cabeça. Sentia meu rosto úmido e meus olhos ardiam.

- Não posso responder essa pergunta, porque a resposta não muda mais nada.

O Naruto ficaria muito triste se soubesse que o seu segredo poderia ter evitado o meu acidente de carro, pois se eu não estivesse brigada com ele, eu não teria me exaltado daquela maneira com o Sasuke e consequentemente não teria saído da festa dirigindo nas péssimas condições em que eu me encontrava pela sionuosa estrada que ladeava o mar e conduzia até Konoha.

 - Sakura, eu vou ficar sempre ao seu lado, mesmo que você me odeie.

- Acho que é você que deve me odiar, porque no final fui eu que nunca me afastei do Sasuke.

- Eu não te odeio.

- Poder viver o amor que eu sinto por você sempre me pareceu algo tão maravilhoso, eu não acreditava que podia ser real, então por muito tempo eu me escondi atrás de meus medos e meus segredos. Já não sei mais até que ponto, eu escondi a verdade de você apenas para salvá-lo. Talvez tenha sido apenas por covardia que eu tenha entrado no avião que me trouxe de volta aos Estados Unidos. Se houvesse em mim um mínimo de coragem, eu teria ficado no Canadá... E teria ido lhe procurar para dizer que nada no mundo importava mais do que nós.

- Podemos começar agora.

- E em duas semanas você vai embora da minha vida mais uma vez. Não sei se posso agüentar.

- Em dois anos eu estarei de volta, e vamos poder ficar juntos.

- Se você não voltar?

Ele me abraçou forte. Por um momento, ele se esqueceu que minha costela ainda doía.

- Não vou romper a minha promessa. Eu vou ficar ao seu lado, vou cuidar de você...

- Essa é a promessa mais importante que você já me fez, então, por favor, não a quebre.

Por muitas noites eu rezei para que o Naruto pudesse de fato cumprir sua promessa, porque eu não queria sentir-me quebrando por dentro nunca mais.