O tempo, cruel como sempre, continuou passando; e sem que percebesse cheguei ao dia que antecedia o embarque de Naruto para o Afeganistão. Sasuke havia embarcado dois dias antes, ele não veio me procurar antes de sua partida; por suposto havia se divertido nos últimos tempos com sua amante Karin. Naruto não comentou nada sobre a partida de Sasuke, e eu somente soube que ele havia ido dois antes que o Naruto porque a Ino comentou comigo tempos depois.

As conversas entre o Naruto e eu passaram a ser apenas sobre banalidades, e o tempo que passávamos juntos, nós aproveitávamos para relembrarmos de nossa infância juntos, não assistíamos televisão e nem líamos o jornal; estávamos vivendo em nosso próprio mundo dentro das paredes de nossa casa. Acho que foi por isso que não vi que os dias estavam se passando tão rapidamente, e quando me dei conta já era a manhã do dia que antecedia a viagem de Naruto.

Acordei envolta pelo calor do corpo de Naruto que dormia tranqüilamente em minha cama. Olhando para sua face serena, lembrei-me de que ele deveria embarcar amanhã para o Afeganistão, e isso me fez sentir mal. Por instantes, senti vontade de chorar, mas me segurei. Sem fazer demasiado alarde, comecei a me levantar da cama, porém nessa hora a mão dele que estava sobre a minha cintura se contraiu e ele me puxou para mais próximo de seu corpo.

- Ainda está cedo, Sakura – ele me disse com a voz sonolenta e os olhos ainda fechados.

Fiquei tentada a ceder e assim permanecer por mais algumas horas ali, no entanto quanto mais junto a ele eu estava, pior eu me sentia. Eu tinha que sair de casa.

- Eu preciso ir até a cidade – eu disse forçando meu corpo para trás.

- Vai outro dia – ele me contestou sem abrir os olhos.

- Eu não vou passar mais um dia deitada na cama com você! – retruquei nervosa.

Sentei-me na beirada do colchão de costas para Naruto. O frio do chão subiu pelos meus pés até minha coluna.

- Sakura, amanhã... – a voz dele estava pesarosa. Ele não continuou aquilo que pretendia dizer – Está tudo bem, pode ir até o centro. Quer que eu a acompanhe?

- Nada está bem – eu respondi enquanto mantinha minha cabeça baixa e meu olhar em meus pés que se mexiam impacientes – Eu sei que dia é amanhã. Não preciso que me diga que amanhã você não estará mais em minha cama – fechei minhas mãos agarrando o lençol – Deus! Por que você tem que ir? – virei meu rosto em sua direção – Será que nem por um momento pode pensar em mim?

- Eu penso em você todo o tempo – Naruto sentou-se na cama – Eu pensei em você quando aqueles aviões atingiram o World Trade Center. Você estava lá... Em Nova Iorque.

Meus olhos se arregalaram.

- Como sabia que eu estava em Nova Iorque? – minha voz saiu falha.

- Shikamaru me contou que a Ino a havia levado para ver um musical na Broadway. Quando eu soube o que aconteceu, eu quis vir até você, mas logo você me ligou chorando. Disse que estava tudo bem, e que você estava em casa.

Girei meu corpo na cama e dobrei minhas pernas para trás.

- Eu ainda estava em Nova Iorque. Eu vi tudo acontecendo – meus olhos se encheram de água e minha voz ficou chorosa - Apenas te liguei porque eu estava assustada. Queria ouvir a sua voz, pensar que você estava ali comigo.

Naruto me abraçou e eu encostei minha cabeça em seu peito.

- Não sabe o que eu senti quando eu pensei que algo tinha te acontecido. Eu não posso te perder, você é importante para mim. Mas muitas pessoas importantes para outras pessoas morreram naquele dia. Eu quero fazer algo por elas, para que elas não percam ninguém importante nunca mais.

Ao fim de tudo, eu entendi que o Naruto estava fazendo aquilo por mim.

- E se eu te perder?

Ele acariciou meus cabelos.

- Eu vou te proteger, Sakura.

Alguns homens compram anéis de diamantes, outros mandam flores, outros ainda pagam caríssimos jantares em restaurantes grã-finos; porém para Naruto demonstrar seu amor por mim, ele estava indo lutar na guerra. Eu não achava isso nada romântico, mas não pude dizer a verdade.

Depois disso, eu desci e fui preparar o café da manhã. Quando me sentei à mesa, Naruto apareceu na sala de jantar trazendo as mãos fechadas e erguidas.

- O que foi?

Ele se aproximou de mim e sentou-se na cadeira ao meu lado. Vagarosamente ele abriu as mãos e me mostrou o que ele tanto segurava: uma caixinha azul marinho surgiu entre seus dedos.

- Não... – eu balbuciei surpresa.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

- É seu, Sakura.

Meu corpo se paralisou.

Impaciente, Naruto tentou abrir a caixinha, mas acabou por deixar seu conteúdo cair em cima da mesa entre o pãozinho e o vidro de mel. A pedra de rubi no anel dourado reluzia à medida que a luz da lâmpada a iluminava, e meus olhos se deslumbraram por aquele brilho.

- Casa comigo? – ele pediu rápido e de maneira desajeitada.

Olhei para ele assustada. As lágrimas escorreram por minha bochecha rosada e quente.

- Está tudo bem se eu deixar de ser a sua irmã?

A mão dele se posicionou sobre a minha.

- Não somos irmãos...

- É mesmo... – eu ri sem jeito – Não somos... – o sorriso despareceu de meu rosto – Por que isso agora?

- O treinador Jiraya disse que eu tinha que te dar um anel para oficializar o compromisso...  – ele fez uma cara pensativa – É foi assim que ele disse...

- Isso é importante para você?

Ele me olhou de forma confusa.

- Você não quer?

Comecei a soluçar enquanto chorava.

- Eu só quero saber se isso significa tanto para você quanto significa para mim.

Naruto segurou minha mão com força.

- Sabe o que eu sinto por você, e nada vai mudar.

Levantei-me e o abracei. Naruto encostou sua cabeça em minha barriga enquanto eu envolvia sua cabeça com meus braços.

- É... Nada vai mudar o que sentimos.

Soltei-o e peguei o anel que estava sobre a mesa. Coloquei-o delicadamente em meu dedo, substituindo dessa forma o anel de diamante do Sasuke. A pedra de rubi reluziu e seu brilho cintilou em meus olhos.

- Obrigado.

Ele abriu um enorme sorriso. Limpei as lágrimas com a manga da blusa.

- Então você aceita casar comigo, Sakura?

- Ainda está esperando que eu te responda? - eu abri um sorriso travesso.

Inclinei meu tronco e lhe dei um selinho.

- Casar com você... Acho que em todos esses anos que estivemos separados eu esperei por isso, mesmo que eu não soubesse que era isso o que eu realmente queria.

Tomando impulso, ele se levantou da cadeira e sorrindo me disse em voz alta:

- Vamos nos casar agora!

Comecei a rir da bobeira que ele dissera.

- Estamos muito longe de Las Vegas – eu repliquei rindo ainda mais em seguida.

- Podemos nos casar em Kohona.

Passei a levar a sério o que ele estava dizendo. Meu rosto ficou sério.

- Naruto, pense por um momento no que está falando. A única documentação que temos prova que somos irmãos!

- Contamos ao juiz que não somos irmãos.

Naruto parecia ter a solução na ponta da língua para tudo. O sangue começou a ferver em minhas veias.

- Não me tente a fazer isso, porque contar a verdade ao juiz foi exatamente o que eu pensei muitas vezes fazer só para que você não fosse para a guerra. Talvez tenha esquecido que você é britânico!

Desanimado, ele deixou o corpo cair sobre a cadeira.

- Casar deveria ser mais fácil – ele desabafou.

Ajoelhei-me frente a ele e encostei minha cabeça em suas coxas.

- Estamos juntos e apenas isso que realmente importa. Não preciso de um papel que prove que você é o meu marido. Só preciso de você ao meu lado.

Naruto começou a acariciar meus cabelos.

- Eu estou aqui. Pelo menos por hoje, eu vou ficar aqui do seu lado.

Pensei em pedir-lhe que ficasse muito tempo mais do que aquele dia, mas não adiantaria prolongar a angústia que precedia a partida dele para a guerra com súplicas e lágrimas. A minha luta de tentar convencê-lo a ficar já estava perdida no instante em que ele soube que dois aviões haviam atacado o WTC que ficava no mesmo lugar que eu me encontrava naquela época: em Nova Iorque.