A porta se abriu. Rapidamente Naruto se levantou da cadeira e soltou minha mão. O médico entrou no quarto e abriu um sorriso ao ver-me desperta.

- Olá Sakura. A Shizune me contou que você havia acordado. Como está se sentindo?

- Um pouco cansada e confusa.

- Isso é normal para quem acorda depois de tanto tempo em coma. Vou examiná-la.

Pela lateral do corpo do médico, eu vi Naruto caminhando em direção a porta. Tombando um pouco o corpo para o lado e olhando-o, eu lhe pedi.

- Por favor, Naruto. Não vai embora.

Surpreso, ele virou-se em minha direção e sorriu.

- Eu vou ficar aqui, Sakura.

- Bom, só peço para que fique um pouco afastado para que eu possa examiná-la – pediu o médico para Naruto.

O médico colocou o estetoscópio em seu ouvido, e gentilmente pediu que eu abaixasse a camisola, em seguida começou a examinar meu tórax por sobre a faixa que envolvia meu tronco na altura dos seios; eu havia fraturado duas costelas no acidente.

Durante todo o exame, meus olhos não perderam de vista a figura que Naruto que ficava me olhando também com uma expressão serena no rosto, exceto quando eu gemia de dor que sua expressão mudava para preocupação.

- Seu estado de saúde está muito bom.

Eu quis perguntar quais foram ferimentos que eu havia sofrido no acidente, mas ao pensar que ouvir sobre tal coisa poderia incomodar o Naruto, eu acabei deixando de lado a minha curiosidade. Tempos depois, Shizune me contou que eu havia quebrado duas costelas e que uma delas havia perfurado meu pulmão, o que provocou sangramento pulmonar; o sangue em meu pulmão se juntou a água que havia ido parar em meu pulmão quando eu quase me afoguei. Em meu rosto não houve nenhuma lesão graças ao air-bag que se abriu no momento do acidente. Além das costelas quebradas, eu também havia sofrido uma luxação extensa no tornozelo direito e no antebraço esquerdo; essas luxações foram curadas ainda no primeiro mês após o acidente.

O médico continuou falando:

- O tratamento vem nos mostrando grandes progressos. Até mesmo seus pulmões estão limpos.

- Isso é bom – eu disse aliviada contendo mais ainda minha curisidade.

- Se continuar tendo esses progressos poderei te dar alta em dois dias.

Animou-me a possibilidade.

- A Sakura é um mulher forte – olhei surpresa para Naruto ao escutá-lo dizendo aquilo sobre mim – Ela vai sair logo daqui!

O médico sorriu.

- Não tenho dúvidas que ela é mesmo forte. Pelo o que eu soube ela sobreviveu a dois grandes acidentes de carro.

- É que eu tinha alguém que não podia deixar sozinho – foi a minha vez de dizer algo especial para o Naruto.

- Seu noivo vai ficar feliz em ouvir isso – disse o médico jocoso – Agora se me permitem, devo me retirar para examinar outros pacientes.

- OK – eu concordei.

O médico balançou a cabeça e girando o corpo para a esquerda caminhou até a porta e saiu do quarto.

Naruto se aproximou de mim com um sorriso forçado nos lábios, o médico ter achado que eu falava do Sasuke quando disse que tinha alguém que eu não podia deixar sozinho não o devia ter agradado.

- É ótimo Sakura que logo você vai sair daqui.

A menção ao meu noivo fez lembrar-me de uma coisa importante.

- Por que você disse para o Sasuke que não havia acontecido nada entre nós?

Eu não conseguia esquecer que ele não confirmara o que eu dissera para o Sasuke.

O rosto de Naruto ficou sério de repente e ele ficou parado me encarando.

- Sakura, eu não quero que as pessoas te apontem e falem que você dormiu com o próprio irmão.

- Mas foi isso que eu fiz! – eu retruquei num tom severo de voz.

- Eu sei que é mau quando as pessoas falam coisas ruins sobre você.

Eu tentei me mover, porém ao sentir uma forte pontada em minha costela quebrada voltei a minha posição anterior. Ao voltar a olhar para Naruto, vi que ele estava agora ao meu lado na cabeceira da cama.

- Sakura, é melhor não ficar se movendo desse jeito.

- As pessoas sempre o chamaram de bastardo, e eu nunca fiz nada para defendê-lo; então... - eu abaixei minha cabeça e fiquei olhando para os meus dedos que se moviam nervosamente sobre o lençol branco - Não precisava ter me poupado – voltei a levantar a minha cabeça – Sabe Naruto, eu finalmente entendi que você quer que as pessoas continuem nos vendo da maneira como você nos vê: como irmãos.

- Eu estou protegendo o nosso segredo! – ele retrucou nervoso – Não é isso que você quer?

- Eu quero ficar com você.

Vi que ele ficou comovido por minhas palavras. Eu continuei.

- Quando eu sair daqui, você me leva para um lugar bem longe?

Naruto se aproximou mais da cama e eu estendi minha mão em sua direção, ainda que o movimento me provocasse dor, eu tentei não deixar que a dor transparecesse em meu rosto. Ele tomou minha mão entre suas mãos e a apertou.

- Sakura, eu te levo pra onde você quiser.

- Você vai mesmo ficar comigo para sempre?

- Sim.

Eu não sabia quanto tempo era “sempre”, mas eu desejei que “sempre” fosse muito tempo.

Tentei dobrar minhas pernas e senti o formigamento ir se estendendo do pé até o joelho.

- Naruto, me ajuda a ficar em pé?

- O que você quer fazer?

Girei meu corpo para a lateral da cama e coloquei minhas pernas para fora da cama. Eu queria ficar em pé, não queria mais ficar deitada na cama.

- Tem certeza que pode fazer isso? – perguntou Naruto preocupado – É melhor perguntar para o médico.

Pulei para fora da cama. Minhas pernas fraquejaram e eu cambalei, Naruto foi em minha direção e me envolveu em seus braços, joguei o peso do meu corpo contra o dele e isso o fez perder o equilíbrio; nós dois acabamos caindo no chão sentados, apesar da dor em minhas costelas, eu comecei a rir.

- Você está bem, Sakura?

- Ótima!

Minha risada contagiou-o.

Apoiei minhas mãos no chão e comecei a me levantar sozinha, aos poucos minhas pernas ganhavam a força necessária para manter-me em pé. Consegui, com algum sacrifício e dor, ficar em pé. Naruto rapidamente se pôs em pé também e me amparou cololcando sua mão direita no fundo de minhas costas.

A distância entre nós era tão curta que eu podia sentir a respiração dele sobre meu rosto. Inclinei meu corpo um pouco para frente, coloquei minha mão direita em seu ombro para me apoiar e lhe dei um selinho.

- Eu te amo – eu sussurrei baixinho ao pé de seu ouvido.

Naruto me puxou para mais junto de seu corpo, e num segundo o mundo deixou de existir. Mais uma vez as paredes protegiam o nosso amor.

- Sakura...

- Eu não vou me casar com o Sasuke.

Senti a mão dele se fechando e apertando minhas costas. Eu continuei falando.

- Eu vou fazer alguma coisa por nós. Eu não quero mais sofrer por te amar.

- Eu vou estar com você, Sakura. Não importa o que aconteça.

O abraço se desfez e eu comecei a andar pelo quarto. As pernas formigavam um pouco, mas já se mostravam mais estáveis; notei que o Naruto me olhava com admiração.

Depois de passar quase duas horas comigo, a muito custo, Naruto foi para o treinamento.

À noite, eu recebi uma visita que me deixou muito surpresa.

- Sasuke...

Ele trazia em mãos um ramo de rosas vermelhas.

- Sakura, finalmente você acordou.

- Por que está tão preocupado comigo?

Eu não sabia se havia restado algum ódio nele pelo o que eu havia dito sobre mim e o Naruto, ainda que a história tivesse sido desmentida, o fato deu o ter provocado até aquele ponto poderia ter deixado mágoas.

- Você é a minha noiva.

- Eu... Pensei que ainda estivesse zangado.

Sasuke abriu um sorriso malicioso e eu me calei.

- Você conseguiu me deixar realmente furioso – o sorriso deu lugar a uma expressão séria - E de certa maneira me sinto responsável pelo o que aconteceu. Eu não tenho nada com a Karin, e também tô limpo.

Aliviava-me saber que o Sasuke não estava mais usando drogas, apesar de tudo eu me preocupava com ele.

- Sasuke, eu não quero mais ser sua noiva. Não quero mais me casar com você.

Ele ficou surpreso ao escutar aquilo. Aproximando-se da cama, ele tocou minha face.

- O que foi, Sakura? Não vamos deixar que isso estrague a nossa relação. Você ainda me ama, e nós vamos nos casar.

- Não! Eu não te amo, e não vou me casar com você! – a mão dele se afastou de meu rosto - Estou cansada de ficar fingindo que quero estar com você!

O olhar de Sasuke se estreitou. Era notável que não lhe agradava nada daquilo que eu estava dizendo, mas havia chegado o momento de terminar com as mentiras.

- Sakura, você ainda está abalada com o aconteceu. Conversaremos numa outra hora.

Sem dar-me chances para rebater, Sasuke saiu do quarto.

No dia seguinte, ele foi me visitar, no entanto, eu havia pedido a Shizune que não o deixasse ir até mim; ela disse então ao meu noivo que eu estava fazendo uns exames que levariam mais ou menos umas cinco horas. Acreditando na mentira de Shizune, Sasuke foi embora.

Eu não podia deixar que a minha vida continuasse seguindo o caminho errado que me levaria novamente para o abismo, um abismo do qual eu não sabia se poderia escapar mais. Eu precisava consertar o que havia se quebrado dentro de mim, e somente a verdade poderia me dar bases sólidas para tal reconstrução.