Quando você se vê frente a uma bifurcação no meio da estrada, é uma decisão difícil escolher o caminho ao qual seguir. Afinal não se sabe aonde cada caminho lhe levará.

Flashback
Passei o resto da manhã dentro do quarto de hotel, e saí para andar pela cidade à tarde. Quando voltei, à noite, o recepcionista do hotel me informou que o Naruto havia ido me procurar pouco tempo depois que eu saí.

Decidi voltar ao quarto, eu estava decidida a não ligar para ele.

Fiquei triste ao entrar e ver o quarto vazio. Tirei o grosso sobretudo que eu vestia e pendurei-o atrás da porta ao lado do casaco que eu havia usado na viagem até o Canadá. Lembrei que havia deixado o anel de noivado de Sasuke no bolso do casaco, no momento em que estiquei o braço para pegar o anel, o telefone tocou.

O recpecionista do hotel me avisou que o Naruto estava lá e queria me ver. Pensei em pedir para que não o deixassem subir, mas ao olhar para a cama e me lembrar que era véspera de Natal, eu acabei concordando que ele viesse até mim.

- E daí se terminarmos brigando? – eu disse para mim mesma enquanto o esperava subir.

Naruto tocou a campainha duas vezes, e depois de respirar fundo eu abri a porta.

Notei que seu rosto estava sério e seus olhos evitavam olhar para o meu rosto, aquilo me deixou irritada. Furiosa eu bati a porta e fui logo perguntando:

- O que tá fazendo aqui? Será que já entendeu os seus sentimentos confusos?

- Por que o Sasuke voltou? - ele quis saber.

- Veio aqui só me perguntar isso? - eu fiquei ofendida.

- Não...

Esperei que ele dissesse algo mais, mas sua voz emudeceu. Eu acabei falando em seu lugar.

- Sasuke quer reconstruir a vida dele nos Estados Unidos, e pediu que eu voltasse a ser a namorada dele.

- Por que aceitou?

- Não dá para ficar a vida inteira esperando para viver ao seu lado.

Os olhos azuis de Naruto refletiam a surpresa e a tristeza que havia em seu inteior. Era certo que ele não achava que eu diria que não queria ficar esperando para viver o nosso amor, mas o que mais eu poderia dizer? A verdade? Eu não queria que o Naruto soubesse que o Sasuke estivera envolvido com drogas na Suiça e nem tampouco que ele havia sido expulso do time depois que foi pego pelo anti-dopping.

Naruto colocou as mãos atrás da nuca.

- O nosso amor é muito confuso! – ele disse forçando um sorriso.

Eu tirei o colar com o pingente de floco de neve e estendi em direção a Naruto que ficou olhando o movimento do pingente como se houvesse sido hiponitizado.

- Então é melhor pararmos de ficar nos confundindo ainda mais!

- Isso foi um presente do Papai Noel.

- Eu não acredito mais em Papai Noel, e nem em amor impossível com um final feliz...

Era preciso ajeitar a nossa situação.

- Você voltou a ser a namorada o Sasuke?

- E você nunca terminou com a Hinata – eu deixei os ciúmes falar isso por mim – Droga!

Estendendo a mão, ele tocou meu ombro.

- Sakura...

O rosto dele foi aos poucos se aproximando do meu, eu dei um passo para trás e abaixei a cabeça.

- Você está estragando tudo o que estou sacrificando por você.

- Sakura, eu não quero que você sofra – eu ergui a cabeça e o vi sorrindo – Eu espero que você seja feliz ao lado do Sasuke.

Naruto se afastou de mim, e girando os calcanhares caminhou até a porta.

- Você sempre será alguém especial para mim – ele disse ainda de costas – Mesmo que não seja minha irmã.

Eu não tive coragem de retrucar nada, e em meio ao meu silêncio e minhas lágrimas, Naruto partiu. E eu também parti na manhã seguinte.

Nunca contei a ninguém as verdadeiras razões pelas quais eu precisava me sacrificar por Naruto, pois havia segredos que sequer ousava dizer em voz alta com medo que alguém os escutasse.

Fim do flashback

 A separação. Esse foi o caminho que o Naruto e eu escolhemos. Um caminho que nos levou a muito sofrimento e tristeza, mas que ao mesmo nos manteve seguros.

Sentada à mesa, sozinha naquela sala com um monte de papéis a minha frente, eu pensei se as minhas decisões estiveram sempre certas. Era quinta-feira, e no sábado seria a festa de formalização de meu casamento com o Sasuke; eu não sabia se aquele era o melhor momento para eu me casar.

Ao chegar à casa a noite, tudo estava bem escuro. Pensei que o Naruto não estivesse em casa, mas a moto dele na garagem me dizia que ele estava. Encontrei-o sentado no sofá olhando através da janela da sala a luz que vinha do poste do jardim.

- Naruto, o que está fazendo aí?

Notei que ele olhou para a minha mão direita. A luz da sala era refletida na solitária de diamante do meu anel de noivado.

- Você vai se casar com o Sasuke? – notei a cólera em sua voz.

- O Sasuke já te contou...

- O Sasuke convidou a todos do time para a festa do anuncio oficial no sábado.

Naruto realmente estava furioso.

- O que espera que eu diga? – eu acabei me irritando também.

- Que não mentiu quando disse que gostava de mim.

- Então faz alguma coisa por nós!- eu gritei desesperada.

Naruto ficou pasmado ao escutar eu lhe pedindo tal coisa. Eu queria que alguém pudesse me salvar o que estava se destruindo dentro de mim.

- Eu não sei o que fazer, Sakura... Você não quer que eu conte a todos que não somos irmãos e que eu gosto de você.

- Naruto, eu não quero ter que explicar novamente as razões disso.

- Por que vai se casar com o Sasuke?

- Se eu dissesse não, ele saberia que não o fiz por nós.

- Até quando vai ficar protegendo o nosso segredo, Sakura?

A raiva se inflamou em meu interior, e como o fogo que rapidamente se alastra pela campina seca, destruiu o que restava dentro de mim.

- Que droga! – eu irrompi em lágrimas – Você continua namorando a Hinata desde o colégio, e você fica fazendo parecer que o meu noivado com o Sasuke está errado. Por que não desaparece da minha vida e me deixa em paz?

Eu estava cansada de sentir-me destruída por amá-lo. A culpa não era minha por tentar manter o nosso segredo oculto! Ele não entendia que eu o estava protegendo.

Naruto girou os calcanhares e subiu para o quarto. Eu também fui para o meu quarto.

Meu coração agitado não me deixou dormir, ainda que me esforçasse para isso uma vez que no dia seguinte eu teria que enfrentar um plantão de 24 horas no hospital. Eu me virava de um lado para o outro, as molas da cama rangiam e o barulho me incomodava.

Levantei-me e fui até a janela e abri-a. O contraste do calor de meu rosto com o vento frio da madrugava fez me sentir um pouco mais tranqüila.

- Por que não há outra solução que não seja contar a verdade?

Comecei a pensar no que eu poderia fazer para resolver a minha situação com o Naruto. Eu não poderia me casar com alguém que eu não amava de verdade, mas até que eu encontrasse uma solução, eu teria que manter as aparências.

Na manhã seguinte, eu saí mais cedo do que o de costume de casa; não queria me encontrar com o Naruto. Eu havia passado boa parte da madrugada em claro pensando em como resolver a minha situação com o Naruto e quando por fim algo surgiu já era de dia.

Eu estava me sentindo muito cansada quando cheguei ao hospital, mas tentei me animar ao pensar que eu teria um plantão de 24 horas e depois uma festa de anúncio de casamento para enfrentar.

A manhã passou rápida e na hora do almoço eu corri para o jardim. Eu tinha uma importante ligação para fazer.  Sentei-me num banco mais afastado e disquei o número que eu já sabia de cor; aguardei ansiosamente a ligação ser atendida.

 - Alô?

- Kakashi!

- Ah, Sakura – ele logo reconheceu a minha voz – Por que está me ligando?

Eu fiquei bem séria e comecei a falar.

- Tem uma coisa importante que eu preciso contar para o juiz sobre a paternidade do Naruto.

- É sobre o exame de DNA que o Naruto se recusou a fazer?

Kakashi adivinhou o que eu queria.

- Eu pedi que ele não fizesse, porque eu sou adotada.

- Adotada? – Kakashi pareceu não acreditar - Não há registro...

- Eu fui adotada quando ainda era um bebê – eu não deixei ele terminar de falar - Meu primeiro registro foi de meus pais adotivos.

Kakashi ponderou por um tempo aquilo que eu havia falado.

- O Naruto sabe disso?

- Ele sabe que não somos irmãos de verdade, e pensa que foi ele o adotado.

- Nessa situação, se você revelasse que foi adotada, então, o juiz entenderia a diferença de DNA.

- E o Naruto não seria mandado para a Inglaterra? – eu fiquei empolgada com a possibilidade que se abria a minha frente.

- Está contando isso para que o Naruto não seja extraditado?

- Não... É que... Eu só queria parar de esconder as coisas.

- Não se revela um segredo contando uma mentira. Sakura, você deveria pensar antes de falar com o juiz.

Kakashi desligou. Toda a minha animação desvaneceu.

Eu queria mesmo contar a verdade, mas a verdade era proibida. E quanto mais eu tentava resistir as ondas fortes que me derrubam, mas eu me sentia destruída por elas. Eu sentia que estava a ponto de me partir.