Rumando entre Marés escrita por Catherine


Capítulo 2
2 - Eu conheço um cavalinho e vou virar poeira




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            Eu já tinha visto coisas estranhas – o velhote de física era um exemplo – mas neste momento, sentada ao lado da minha mãe no carro enquanto ela tagarelava alguma coisa sobre mitologia grega, era o mais estranho de todos.

 

            - Serina, entendes o que te disse ? – olhei para ela com cara de tacho, eu muito menos tinha ouvido o que ela havia dito durante a ultima meia hora. Quer dizer, não é átona que tenho défice de atenção, ela não esperava que eu ouvisse tudo né? Vendo o olhar confuso no meu rosto, e olhem que tentar disfarçar, ela revirou os olhos para a estrada – eu estava a dizer, que tudo, os deuses, as histórias, é tudo verdade – franzi a testa e olhei para ela com má cara, detestava as suas piadas sem graça, mas quando vi aquele olhar no rosto dela, percebi, meu deus, ela realmente estava a falar a verdade, ou pelo menos o que acreditava ser verdade – eu sou uma semi-deusa, filha de Apolo, o deus do sol e da profecia – ela realmente parecia estar a falar a verdade. Encarei-a por uns minutos em silêncio avaliando-a. Os seus cabelos eram dourados, numa cor bastante semelhante aos olhos cor de mel meio esverdeados. Eu não era semelhante consigo, em nada, a não ser estrutura de corpo e o formato do rosto, ambas tínhamos o rosto como um daqueles anjos nas pinturas. Isso realmente me fez pensar que de resto eu devia ter saído muito ao meu pai.

 

            - imaginando que o que dizes é verdade .. – eu comecei recebendo de seguida um olhar daqueles perigosos, como se ela dissesse “ estás a duvidar?” e engoli em seco antes de continuar – quem é o meu pai afinal? Outro semi-deus?

 

            - não – respondeu de forma seca – o teu pai não é um semi-deus, é .. diferente – notei pelo tom de voz que não gostaria de continuar a falar, e não forcei sobre aquele assunto.

 

            - então e esse acampamento, é para uhn, semi-deuses? – ela olhou para mim de sobrancelha erguida e sorriu.

 

            - notas as coisas depressa Serina, sim, é para semi-deuses, nós vamos para o acampamento meio-sangue, uma benevolente anda atrás de ti, de qualquer forma estamos a chegar, consigo já ver a colina – arregalei os olhos para ela e senti o meu queixo pender.

 

 

            - COMO É QUE É?! – praticamente gritei do meu assento e ela olhou para mim um pouco surpresa e assustada – que história é essa de benevolente ? – perguntei tentando acalmar-me um pouco para que não saíssemos da estrada.

 

            - o teu professor de física, na verdade é uma benevolente, uma das Fúrias – respondeu um pouco nervosa – era por isso que nós nos mudávamos muito nos últimos tempos, ela vem-te a perseguir faz um ano, a enfermeira, a professora, o advogado no elevador, eram a mesma pessoa – deixei-me afundar no banco e olhei pela janela, a minha mãe parou o carro e nós saímos, encarando a colina na nossa frente – depois da colina é o acampamento, mortais excepto alguns casos não são capazes de ver devido á Névoa, pega a tua mala do carro – disse enquanto tirava a dela para fora. Eu esbocei um sorriso fraco, talvez essa loucura até fosse verdade. Mas ainda assim, qual é, se eu não era filha de um semi-deus, eu só podia ser filha de um deus. Lembrei-me do homem na sala por um flash de segundos. Ele tinha um tridente! Pessoas normais não passeiam por aí de tridente na mão, só podia ser ele!

 

            Nós começamos a subir a colina e foi quando o meu pior pesadelo aconteceu. Algo da floresta pulou sobre nós e as ultimas coisas que ouvi da minha mãe, foi um grito para que eu corresse para o cimo da colina, antes que um arco dourando aparecesse na sua mão. Eu corri, estava apavorada, a mala fazia-me tropeçar, mas eu continuava a correr, desejando que a minha mãe tivesse dado umas boas flechadas naquela droga e estivesse a correr atrás de mim.

            Passei por um dragão enrolado em um pinheiro com algo dourado em cima e desabei no chão a chorar. Eu não ouvia a minha mãe, aquela coisa devia ter acabado com ela. A ultima coisa que eu vi antes de fechar os olhos foi uma rapariga loira correr na minha direcção.

            Acordei assustada e olhei em redor, estava num género de enfermaria com várias camas, alguns garotos estavam deitados a curar ferimentos e assim que olhei na direcção da porta, a garota que eu tinha visto antes de desmaiar apareceu.

 

            - a minha mãe .. – eu comecei por dizer, mas ela levantou a mão com o rosto triste e com pena. Mordi o lábio de raiva, detestava que tivessem pena de mim, mas preferi não dizer nada.

 

            - lamento imenso, nós encontrámos o corpo dela .. – murmurou lentamente enquanto encarava os meus olhos – Apolo levou-o – esboçou um sorriso – ela vai ficar feliz, ela vai para os campos Elísios – isso havia despertado a minha curiosidade.

 

            - quer dizer que todo aquele negócio de deuses gregos, é verdade? – franzi a sobrancelha e ela sorriu confirmando.

 

            - sim, eu sou a Claire, do chalé de Afrodite – olhei-a e sorri, é, fazia sentido, ela era bonita, loira e tinha olhos azuis.

 

            - Serina – uma outra garota loira apareceu pela entrada e sorriu para mim enquanto Claire ia embora acenando.

 

            - sou Annabeth Chase, filha de Atena – mirei-a, devia ser apenas um ano mais nova que eu, cerca de dezoito – vou levar-te até ao Quíron.

 

            - Serina Brine – devo dizer a verdade. Ao ouvir um nome Quíron fiquei entusiasmada. Quer dizer, o tipo treinou os maiores heróis gregos! É claro que todo o entusiasmo foi por água abaixo quando Annabeth me levou á Casa Grande e o Quíron na minha frente estava sentado numa cadeira de rodas a jogar pinochle com um gorducho. Abri a boca de espanto, e por mais que eu tentasse não dizer nada, acabei por dizer algo muito estúpido.

 

            - onde está o traseiro de cavalo? – Quíron pareceu surpreso com a pergunta, Annabeth não sabia o que dizer, e o gorducho na mesa começou a rir enquanto bebia da lata de Coca-Cola.

 

            - gostei dessa daqui Quíron – disse o gorducho enquanto tentava parar de rir.

 

            - eu, ahm, a cadeira de rodas é mágica, então meio que esconde – ele falou um pouco encabulado. Na hora senti-me um pouco mal, mas até Annabeth tinha começado a rir da situação, decidi que não era uma coisa má afinal – eu sou o Quíron, director de actividades do acampamento, e este é o Sr. D, o director do acampamento – apontou para o gorducho de bochechas avermelhadas, só poderia ser Dionísio, fazia sentido – depois do ocorrido com a tua mãe, estou certa de que sabes sobre os deuses? – balancei a cabeça confirmando – então quem é o teu pai ? – certo, aquela pergunta pegou-me desprevenida. Mordi o lábio a olhar para ele.

 

            - eu não sei, a minha mãe não me disse – ele, o Sr. D e Annabeth entreolharam-se pensando.

 

            - isso é impossível, os deuses são obrigados a reclamar os seus filhos quando eles fazem treze anos – resmungou Annabeth, olhei para ela, realmente parecia chateada. Ouvi Quíron arfar enquanto olhava para mim, e Dionísio ficou pálido durante uns segundos antes de a cor avermelhada voltar ás bochechas.

 

            - mas não os titãs .. – ouvi Quíron murmurar enquanto me encarava. Annabeth pareceu curiosa e então olhou para mim. Um olhar de assombro ocupou o seu rosto, e perante aquilo tive que olhar para mim mesma, olhei para cima ainda confusa e vi algo a brilhar sobre a minha cabeça. Óptimo, agora tenho pirilampos a servir de chapéu. Só então vi realmente o que era. Um tridente com uma cobra enrolada, piscava em azul marinho em cima da minha cabeça.

 

            - mas que palhaçada .. – eu comecei antes de ver o símbolo desaparecer e sentiu o meu pulso queimar. Encarei-o, o símbolo havia aparecido ali em negro, e parecia uma tatuagem. Irritei-me com a cara deles – muito bem, que diabos foi isto?

 

            - o teu pai reconheceu-te, és filha de .. – Quíron engoliu em seco e eu continuei a olhar para ele irritada – Oceanus, o Titã dos mares, Zeus não ficará contente, isto trará confusão – isso fez sentido. O homem de cabelos ruivos na minha sala era Oceanus, e por algum motivo ele tinha ido procurar a minha mãe. Eu sabia do pouco de história, que os titãs não era amigos dos deuses. Senti o meu rosto empalidecer, deuses, eu estava condenada. Ouvi trovões do lado de fora e mordi o lábio, parece que o Senhor dos Céus não estava satisfeito com a minha descoberta. Deuses, eu ia virar poeira de raio dentro de minutos, era melhor começar a rezar seja para o que for, até já consigo sentir o cheiro de cabelo queimado. Eu e a minha imaginação.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado