Uma coisa de que devem ter ouvido falar foi a mitologia grega, pelo menos uma conversa na sala de aula sobre o assunto muito vagamente. Vou contar um segredo, eles são reais, e neste momento o Olimpo é sobre o Empire State Building, para entrar basta ir ao 600º andar. Existe um acampamento para os meio-sangue filhos dos deuses, para onde se pode ir durante os verões ou até mesmo ficar o ano inteiro. Apenas fiquei a saber disso á um dia, e por incrível que pareça, neste momento, já tenho a cabeça a prémio por parte de Zeus.

            Sabem aquele professor que sempre implica connosco por qualquer motivo? É, esse mesmo. Estava agora na minha frente com uma cara carrancuda como se o que eu tivesse feito fosse o mais abominável possível e olhem que eu apenas me levantei para pegar uma caneta que escorregou da mesa.

            - senhorita Brine, fique depois do toque – olhei para ele como que perguntando se estava a brincar comigo, mas cinco minutos depois encarar daquele olharzinho ranhoso, desisti de o fazer. A maldita aula não passava nunca e quando tocou para sair, fui obrigada a ficar na sala enquanto os outros saíram.

            - olha professor, eu só me levantei para pegar a caneta – disse esperando que ele me deixasse sair depois disso, mais uma vez estava enganada. O maníaco fechou a porta e atirou a secretária voando por cima da minha cabeça até parar no outro lado da sala. Sério, onde aquele velhote foi buscar a força? Eu queria aquele tipo de vitaminas, as aulas de educação física matavam-me.

            - onde está a pérola?! – arregalei os olhos, a voz dele muda com as vitaminas também? É que soou um pouco, para não falar completamente, diferente do normal, e de que porcaria de pérola está ele a falar? Foi aí que o professor voou, literalmente, na minha direcção. Eu não ia mesmo ser atingida pelo super-homem reformado, meu deus eu não disse isto, por isso acabei desviando e corri para a porta o mais rápido que pude. Abri-a e saí para o corredor. Vazio. Droga, onde tinham ido todos? Alunos ingratos que não ficam depois das aulas. Tá, eu faço a mesma coisa. Mas qual é? Agora tinha um professor de física voando na sala e atirando mesas pelo ar, isso pelo menos merecia audiência. Vi o velho virar-se para sair da sala e comecei a correr para a porta de saída da escola. Não ia ficar ali para ver quando ele começasse a disparar raios dos olhos.

            Não sei nem quantas vezes percorri o bairro até fazer tempo do próximo autocarro, mas acabei por perder a coragem de o apanhar na frente da escola – não fosse o velhote voador estar á minha espera com os seus olhos laser – e acabei por andar até casa a pé. O resultado foi uma boa dor de pernas. Esperava descansar depois de um bom banho, mas assim que entrei, encontrei a minha mãe sentada no sofá com um rosto constrangido na frente de um homem de cabelos ruivos ondulados e barba, com olhos estranhamente semelhantes aos meus, que segurava uma espécie de tridente com uma cobra marinha enrolada nele. Ignorei, talvez ainda abalada pelo choque de ter um professor do género Hulk e fui na direcção do quarto sem dizer nada, sem nem sequer pensar. Olhei para o espelho e franzi o nariz ao encarar o meu reflexo. Podia dizer que era bonita. A minha pele era um pouco morena, resultado de passar tantas vezes na praia. Os cabelos ondulados eram longos, num estranho tom vermelho escuro e os meus olhos azuis-esverdeados de um tom pouco comum. Não era muito alta, mas também não era baixa, resumindo, a minha altura era bastante mediana e eu tinha as curvas nos lugares certos assim como peitos fartos, mas nunca entendi o porquê de não ter namorado, talvez porque me achavam esquisita. Deitei-me na cama e foi então me pensei sobre o que vi na sala, aquele homem era bastante semelhante comigo, os cabelos ruivos, os olhos, mas deus, ele tinha um tridente e uma cobra enrolada nele! Levantei-me a correr, mas assim que cheguei, o homem não estava mais lá, e a minha mãe assistia animadamente um programa aleatório de televisão como se nada tivesse acontecido.

            - mãe, onde está o senhor com que estavas a falar? – ela olhou para mim e fez uma cara confusa, como se não soubesse do que eu falava.

            - Serina, acho que andas a ver coisas querida – riu, mas notei que seu tom era nervoso, encarei a televisão por segundos e vi o programa, esbocei um sorriso falso, ela detestava programas sobre moda, preferiria mil vezes assistir um sobre luta livre possivelmente, olhei novamente para ela, estava a esconder-me algo.

            - claro, deve ser o cansaço, chama-me quando for para jantar, acho que vou dormir um pouco – estava já a caminho do quarto quando a sua voz me interrompeu, olhei para trás e vi-a com o rosto um pouco preocupado.

            - arruma alguma roupa em malas, nós vamos visitar o acampamento de verão de um amigo meu – franzi a testa sem entender direito.

            - eu amanhã tenho aulas – disse-lhe como se conversasse com uma criança, ela deu um sorriso nervoso e passou a mão pelos cabelos castanhos, notei um brilho diferente em seus olhos castanhos, era clara preocupação e eu poucas vezes vira esse brilho nela, uma coisa eu tinha certeza, algo péssimo estava a acontecer.

- estamos quase nas férias de verão querida, eles não vão sentir falta – assenti sem falar muito e fui para o quarto arrumar as malas enquanto pensava no comportamento estranho dela. Mas por mais que eu pensasse, a imagem do homem ruivo de tridente e a cobra circulavam na minha cabeça, deus, eu estava a ficar louca, pensei enquanto jogava algumas roupas dentro da mala. Primeiro o meu professor é um velhote com mais força que eu, segundo entro em casa e encontro um homem parecido a mim com um tridente e uma cobra na mão e por ultimo, a minha mãe resolve dar-me férias antecipadas num acampamento desconhecido. Que será que estava para acontecer mais?!

Se eu soubesse agora, acho que não tinha feito uma pergunta tão idiota.