Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 21
Borgin & Burkes


Notas iniciais do capítulo

Oii, pessoal! O site de postagem de fics que mais gosto, com os melhores leitores (e também ótimos autores!)
Espero que gostem desse capítulo, mais aventura aqui, em busca de uma horcrux!



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           Desde que voltaram ao hotel, depois da noite da reunião da Ordem da Fênix, Harry, Rony, Hermione e Ana passaram a estudar profundamente o livro sobre Horcruxes, para saber mais sobre elas, a maneira como eram feitas, o que poderia destruí-las — principalmente isso. Elas só podiam ser destruídas de duas maneiras, o arrependimento sincero do bruxo que as criou, o que era muito doloroso, ou através de algum material mágico ou veneno realmente poderoso, como sangue de dragão em muda, veneno de basilisco, chifre de unicórnio. O ruim é que não tinham em seu poder nenhuma dessas coisas. Entretanto, mais fácil seria conseguir qualquer dessas coisas capazes de destruir as Horcruxes do que as próprias Horcruxes.

Certa noite, Harry teve um sonho. Era um sonho com Dumbledore, mais uma lembrança do que sonho. No seu sonho, ele e Dumbledore conversavam sobre as visitas a pensamentos que tinham feito através da Penseira no ano passado.

Harry, eu pensei que essas ‘viagens’ ao distorcido mundo de Tom Riddle criança, adolescente e adulto te ajudariam nessa busca que tanto almeja. Você apreendeu fatos da vida de Voldemort que o fizeram entendê-lo, compreendê-lo mais do que qualquer outro, até eu. Já era hora de ter percebido o provável lugar de uma das Horcruxes.”

No sonho, Harry baixou a cabeça, como que envergonhado. O interessante era que não conseguia falar, apenas ouvir pacientemente Dumbledore, com sua aparência bondosa e inteligente. Ele lembrou cada uma das incursões que fizeram aos pensamentos de bruxos que tinham tido contato com Voldemort ou pessoas de sua família, uma delas o próprio Dumbledore. Tom Riddle fora um adolescente sem família, vivendo ano após ano em um orfanato numa vida cheia de privações, com o desejo de sair daquele lugar. Não muito diferente de Harry, ele tivera em Hogwarts o seu primeiro “lar” de verdade... Não, se a Horcrux estivesse em Hogwarts, Dumbledore já teria achado ou ao menos lhe daria essa indicação. Uma das Horcrux deveria estar em algum outro lugar que fora importante para o bruxo... Algum lugar que, depois de que ele saíra de Hogwarts, fora a porta de entrada para conseguir o que tanto ele almejava... Um lugar como... Borgin & Burkes! Nesse momento, enquanto ia se aproximando do nível consciente, ainda pode ver Dumbledore com seu plácido e enigmático sorriso.

Harry não percebera que gritara de verdade aquele nome até que viu um sardento rosto estranhamente “esfumaçado” se aproximando do dele, com olhos assustados e sacudindo seu braço. Percebia apenas um borrão vermelho-cenoura até pegar seus óculos na cabeceira da cama.

— Harry?! Você “tá” bem, cara? Foi o “cara-de-cobra” de novo?

Ele se sentou na cama, os cabelos negros mais bagunçados que o normal, e falou para Rony, sorrindo:

— Eu sou mesmo muito lesado. Um dos lugares onde deve ter uma Horcrux é tão simples, tão fácil, e nem me liguei... Um lugar que eu próprio já vi e já entrei...

Os olhos de Rony estavam arregalados.

— Mesmo?! Então qual é?

Estava amanhecendo, e daqui a pouco Hermione e Ana iriam se levantar para uma nova maratona infrutífera à Biblioteca dos Bruxos.

— Deixa as garotas levantarem, assim conto para todo mundo de uma vez. É bom mesmo ter a opinião de Mione, de longe a mais inteligente aqui... Bem, junto da Ana, agora, eu acho.

Enquanto as meninas não apareciam, Harry e Rony pediram ao serviço de quarto do hotel o café-da-manhã. Quando as meninas apareceram na sala, por certo guiadas pelo delicioso cheirinho da comida, todos passaram a comer, e logo Harry abordou o assunto.

— Então, com esse sonho, eu percebi o que deveria estar claro como um espelho. Um dos lugares importantes na vida de Voldemort foi o lugar onde teve seu primeiro emprego, aquele que o auxiliou a encontrar objetos mágicos e poderosos para que fizesse as suas Horcruxes. A Borgin & Burkes, aquela loja da Travessa do Tranco em que vimos Malfoy, no começo do ano letivo passado. Aposto como lá deve estar alguma das Horcruxes, possivelmente a taça de Hufflepuff, pois o medalhão de Slytherin nós sabemos que foi guardado na caverna, e ambos, a taça e o medalhão, foram adquiridos por Voldemort enquanto ele trabalhava na Borgin & Burkes, com a visita que ele fez a Hepzibah Smith. O que vocês acham?

Hermione franziu a testa, pensando.

— É bem possível, e mesmo que fosse algo apenas provável, é a única coisa que a gente tem, não é? Começou um novo ano e não avançamos praticamente nada na busca às Horcruxes. Que adianta termos o livro sobre Horcruxes, se não as encontrarmos?

— Então a gente tem de ir lá — disse Rony. — É bom fazermos a invasão à noite, quando correremos menores riscos.

— Rony! — falou Hermione meio indignada. — Não fale assim... Invasão...

— Bem, minha querida — ele disse de maneira cínica — então me diga que o que fizemos ao Ministério da Magia, à Casa Ministerial, ao lugar exclusivamente para funcionários do Museu de Godric's Hollow não foram invasões... Pois sim!

Por incrível que pareça, apenas nesse momento Hermione realmente caiu em si, percebendo quantas infrações vinham cometendo. Levou a mão aos cabelos lanzudos e fez uma cara que para os outros era bastante cômica.

— Tem razão, Rony... Pelo menos, o que viemos fazendo é para um Bem maior...

Eles passaram o resto do dia imaginando o que poderiam fazer para entrar na Borgin & Burkes e que prováveis feitiços estariam protegendo a Horcrux. Perceberam que a melhor coisa a fazer em primeiro lugar era dar uma passada nas Gemialidades Weasley. Fred e Jorge moravam lá mesmo, num apartamento em cima da loja. Seria um ótimo lugar para ficarem, pois seria altamente suspeito se eles tentassem entrar no Beco Diagonal de madrugada, acordando Tom, o barman do Caldeirão Furado. E também seria um bom lugar para se esconderem, depois.

Disfarçados, Harry, Rony, Hermione e Ana foram ao Beco Diagonal. Agora tinham que ter maior cuidado, pois iam todos de uma vez, não de dois, como geralmente iam quando precisavam ir à biblioteca. Aparentemente, não foram reconhecidos nem seguidos, e entraram na loja dos irmãos de Rony como se fossem meros clientes. Nem mesmo Fred e Jorge os reconheceram, sendo tão solícitos com Hermione e Ana que dava para perceber o flerte por trás de sua amabilidade — coisa que não era típica dos gêmeos! Quando a loja ficou vazia, exceto por eles quatro, os gêmeos e as duas leais funcionárias, Rony se virou para Fred, que dera em cima de Hermione, e lhe deu um soco no nariz, não muito forte, quase de brincadeira. O ruivo entroncado olhou para Rony com os olhos castanhos em fogo, e teria partido para cima dele com sua varinha se Rony não tivesse voltado logo ao seu estado normal.

Quando todos os quatro voltaram ao seu estado normal, Fred e Jorge ficaram um longo tempo os olhando com caras de bobo. E então caíram na gargalhada e pularam em cima de Rony, quase o derrubando no chão e bagunçando os seus cabelos, tão ruivos quanto os dos irmãos. Cumprimentaram os outros, surpresos, e somente não fecharam a loja antes do fim do expediente porque isso daria muito na vista. Puxaram os quatro para o seu apartamento, incumbindo as funcionárias de atenderem sozinhas os clientes, por enquanto.

— E aí, o que os quatro fazem em pleno Beco Diagonal? Precisam de algum produto Gemialidades Weasley para sua missão secreta? — disse Jorge erguendo as sobrancelhas, jogando verde para colher maduro, talvez tentando descobrir alguma coisa, curioso como era. Completando o irmão, Fred falou:

— Sim, acho que as Gemialidades estão parecendo com aquele homem que fazia as invenções secretas para aquele personagem famoso dos filmes trouxas, o Games Blond. 

Ao ouvir aquilo, Hermione, Ana e Harry caíram na risada. Eles queriam se referir ao James Bond, dos filmes de espionagem 007, e acabaram fazendo um trocadilho hilário. Embora não seguindo o sistema de determinante/determinado — qualificador e qualificado — típico do inglês, eles chamaram o herói da espionagem inglesa de “jogos loiros”.

— Você quis dizer James Bond, Fred — disse Ana.

— Que seja.

— Bem, o que precisamos mesmo é de abrigo por essa noite. Temos algo a fazer aqui, no Beco. Algo importante, e nem adianta fazer essa cara, que não vou contar o que é, Jorge — disse Harry, rindo.

Os gêmeos fizeram cômicas caras de decepção, fazendo os outros caírem na gargalhada.

— Bem, não precisam nos dizer o que é, mas caso precisem da nossa ajuda para qualquer coisa, estaremos à disposição.

— Talvez algum dos produtos Gemialidades Weasley os ajudem na sua missão.

— Muito obrigado, Fred, Jorge. Talvez precisemos de ajuda, sim. Vai ser perigoso, o que pretendemos.

Quando os gêmeos fecharam a loja e as funcionárias foram embora, os seis se reuniram na loja para fazer um plano. Harry resolveu aceitar a ajuda dos gêmeos, embora não dissesse que o que precisava surrupiar da Borgin & Burkes fosse uma Horcrux. Iriam tentar invadir à madrugada, quando a loja estivesse vazia, pois o Sr. Borgin não morava no imóvel onde tinha sua loja, como acontecia com Fred e Jorge. Alguns dos produtos das Gemialidades seriam uma “mão na roda”, como os chapéus, luvas e capas à prova de feitiços, embora só de feitiços menos graves, como o Estuporante, pois não funcionavam com Maldições Imperdoáveis. Levariam, também, o Pó Escurecedor Instantâneo do Peru, pois podia ser necessário, caso alguém aparecesse. Fred e Jorge levaram, também, um novo Kit Defesa que estava em testes, um kit versátil com material para se defender de vários coisas diferentes, como feitiços, ataques de certas criaturas e venenos.

Os seis esperaram até as duas da manhã, quando não era possível ver mais ninguém nas ruas. Disfarçados com o Feitiço da Desilusão, eles caminharam rapidamente pelo Beco Diagonal e entraram na Travessa do Tranco. A noite estava, para felicidade deles, muito escura, embora fosse noite de lua-cheia, pois ela estava encoberta, desde seu “nascimento”, por nuvens escuras. Mesmo assim, certa claridade prateada tocava todo o Beco, deixando-o com uma mágica aparência, refletindo-se nas pedras lisas e tortas do calçamento. As lojas e postes com candeeiros mágicos causavam longas sombras, e por elas eles aproveitavam para andar, uma precaução a mais. Seus pés estavam enfeitiçados para não causarem o mínimo de barulho que pudesse despertar algum morador do Beco.

A Travessa do Tranco, em compensação, estava muito escura, pois era estreita e com lojas espremidas umas às outras, em edifícios de dois andares para caberem o máximo possível de espeluncas em que se vendiam produtos suspeitos. Enfim, avistaram a Borgin & Burkes. Uma loja grande em relação às demais, e de aparência lúgubre. Ocupava um prédio de dois andares inteiro. Harry, Rony e Hermione lembravam muito bem da vez em que seguiram Draco Malfoy até a loja, quando foram ao Beco comprar o material escolar do sexto ano.

Em fim, pararam em frente à loja. Foram tentar abri-la por meio do Feitiço Alorromora, mas não conseguiram.

— Isso está se tornando um “repeteco”. Esse feitiço não funciona nunca quando queremos ou precisamos de verdade! — disse Rony, chateado.

— Bem, maninho, o que você queria? Quantos bruxos com varinha existem, que podem realizar esse simples feitiço? — disse Fred.

— Deixar a porta fechada de maneira a poder ser aberta de maneira tão fácil é o mesmo que falar aos ladrões: Vamos, entrem e peguem tudo o que quiserem — disse Jorge. — Nenhum bruxo que se preze toma tão pouco cuidado com suas propriedades, principalmente se forem lojas. Bem, aprendi uns truques trouxas... Podemos tentar com um pé-de-cabra. Tenho um aqui, resolvi trazer, sabe, para se fosse necessário.

— Não é preciso — disse Harry, enfiando a mão no bolso largo do grande casaco que usava. — Um pé-de-cabra força a porta, dá para se perceber quando ela foi forçada. Tenho algo melhor comigo, um canivete mágico que ganhei de presente de natal do Sirius. Abre qualquer porta que não esteja protegida por senhas, enigmas ou coisas do tipo. Tinha estragado quando passei naquela porta que não quis se abrir no Departamento de Mistérios, mas eu mandei consertar no Beco Diagonal, naquela vez que fomos lá antes da queda do Ministério.

Harry abriu o canivete e o passou pela abertura da porta, como se fosse um cartão. Em pouco tempo se ouviu um clique e o barulho da porta se abrindo, num suave rangido. Cautelosamente, entraram na loja e andaram um pouco por ela, em silêncio, usando como luz apenas as pontas de suas varinhas. A união delas tornava o ambiente razoavelmente iluminado, mas não tanto para ser visto de longe por alguém de fora. A loja tinha aparência escura, e era assim mesmo de dia. Não era apenas a escuridão, entretanto, o que a tornava soturna e sombria. Os produtos e artefatos mágicos ali presentes não seriam usados por bruxos decentes, eram... maléficos. Com os dentes cerrados de angústia, Harry olhou para o armário que sabia ter sido a porta de entrada para os Comensais da Morte entrarem em Hogwarts. A loja não mudara muito, tinha os mesmos objetos que ele lembrava, como uma mão murcha e seca dentro de uma redoma, a Mão da Glória, que devia ser outra, pois aquela que ele vira fora usada por Draco Malfoy ano passado para entrar com os Comensais da Morte em Hogwarts sem dificuldade. O colar de pérolas amaldiçoado não estava ali, como esperado; Katie Bell fora amaldiçoada por ele ano passado por culpa também de Draco Malfoy, em uma de suas fracassadas tentativas de matar Dumbledore ao longo do ano.

Harry parou no centro da loja e todos se reuniram ao seu redor.

— O que estou procurando é uma pequena taça de ouro com duas asinhas lavradas finamente, com uma insígnia gravada nela, a insígnia de Helga Hufflepuff. Se acharem, não tentem pegá-la; deve estar protegida por algum feitiço muito poderoso. Temos de ter cuidado. Ah, e tomem cuidado com as outras coisas da loja, também. Nunca podemos saber só de olhar quais objetos estão ou não amaldiçoados.

Eles se dividiram e passaram a procurar, sem deixar nenhum rincão sem olhar. Harry começou a procurar, mas como não estava conseguindo encontrar nada através de seus cinco sentidos, resolveu prestar atenção à ligação que o unia a Voldemort e, consequentemente, às suas Horcruxes. Fechou os olhos e respirou fundo, deixando a sua mente o mais aberta possível às influências negativas que o pedaço de alma do Lord causava nele. Ao fechar os olhos e se concentrar, tornando a sua mente o mais aberta possível, ele sentiu. Foi como se os abafados sons que os outros causavam ao procurar a taça de Hufflepuff sumissem, para apenas um longínquo som de batimentos cardíacos, que não eram os seus, penetrasse em sua mente. Ouvia apenas o som de sua respiração e batimentos cardíacos, os seus e os de um outro coração que parecia ligado ao seu. Uma energia maléfica, sombria, uma magia escura o chamava, conectava-se com sua própria magia, o levando em direção à estreita e escura escada que levava ao andar superior do prédio. Como em transe, embora consciente de seus atos, Harry subiu os degraus, que o levaram para um amplo cômodo que mais parecia um depósito de velharias, coisas quebradas e objetos que há muito deviam ter desistido de tentar vender. Ele parou no centro daquele lugar e olhou em volta. Não se sentia muito bem. Uma leve náusea o acometia, bem como calafrios, e ele tinha certeza que o porquê daquilo era a conexão entre ele e o pedaço de alma de Voldemort. A Horcrux estava ali.

Enquanto os outros procuravam no andar de baixo, Harry procurava no de cima. E ele preferia assim. Tinha certeza de que a Horcrux estava naquele andar, e era bom que seus amigos tivessem o mínimo de contato possível com aquele objeto tão cheio de maldade, tão poluído. Sabia, por experiência própria, o quanto os objetos com pedaços de alma de Voldemort eram perigosos. Como no caso de Gina, em que o pedaço de alma preso ao diário de Tom Riddle saíra da Horcrux, mantendo, é claro, a conexão com o objeto, e a possuíra.

Havia muitas caixas e armários onde a Horcrux poderia estar. Harry abriu ainda mais sua mente, tomando cuidado apenas para que Voldemort não percebesse seus pensamentos e sentimentos, e focalizou sua mente apenas na magia perversa que pairava na ampla sala. Como se algo o guiasse, ele seguiu seus instintos e foi até um grande armário verde e prata encostado a uma parede e quase escondido de tantas caixas que havia na frente. Harry tirou as caixas e tentou abrir o armário. Não conseguiu. Tentou de todas as maneiras humana e magicamente possíveis, com um pedaço de ferro como pé-de-cabra, com sua varinha e seu canivete mágico. Nada surtiu efeito. Àquela altura, ele já tinha certeza de que aquele era o reduto da Horcrux, pois sentia, além do enjôo, uma leve queimação em sua cicatriz. E além disso, um simples armário não estaria tão protegido assim se não contivesse algo precioso ou importante.

Ele já estava quase desistindo quando se lembrou do que Dumbledore precisara fazer para entrar na parede que parecia sólida na caverna onde haviam ido procurar a outra Horcrux. Pagar um tributo. Um tributo de sangue. Esse armário exigiria o mesmo tipo de “pagamento”? Suspirando, ele resolveu tentar. Ergueu a manga do casaco até um pouco acima do cotovelo, pegou o canivete mágico e fez um pequeno furo na parte interna do cotovelo, franzindo um pouco a cara de dor. Ele levou a ponta molhada de sangue do canivete até a fechadura das portas do armário e o girou como se fosse uma chave. Quase ao mesmo tempo ouviu-se um estalo e o armário se destrancou. Harry apontou sua varinha para seu ferimento e disse:

Episkey.

Na mesma hora o corte se fechou com uma nova e fresca camada de pele rosada. Ele, então, escancarou as portas do armário. Lá dentro, para sua surpresa, havia dezenas de taças iguais, todas cheias de um claro líquido. Não tinha como se ter a mínima ideia de qual era a verdadeira taça de Hufflepuff. Devia ser uma armadilha. Sobre a madeira do alto do armário, umas inscrições em dourado apareceram:

Uma apenas de nós é a verdadeira. Toma cuidado. As demais, males poderão te causar

Harry respirou fundo e levou sua mão a uma delas. Ao tocar o metal frio da taça, ele sentiu uma profunda dor. Logo seu corpo foi cortado em vários lugares como se estivesse sendo atingido por diversos Sectumsempras. O corpo sangrando em vários lugares, ele soltou a taça e se apoiou no armário. Quando o líquido que tinha dentro dela o tocou, só aumentou o sangramento dos cortes. Era como se, dentro delas, houvesse alguma espécie de poção hemorrágica, que agia junto aos cortes causados pelo metal enfeitiçado.

— Uma já se foi... — disse, a voz tensa e, no rosto, uma careta de dor.

E continuou a pegar as taças. Tentou de outras maneiras, usando um feitiço ou um material isolante, mas elas só saiam do seu lugar através do toque da mão humana. A cada taça errada, ele era mais ferido, até que sua camisa estava quase toda tingida de vermelho. Já se sentindo tonto pela perda de sangue, quase sem conseguir manter a consciência, Harry pegou mais uma das taças e se surpreendeu ao perceber que não recebeu novos cortes ao seu toque. Essa era a verdadeira taça de Hufflepuff. Ele, entretanto, já não conseguia nem se manter em pé. Caiu de joelhos, a mão segurando uma das asinhas da taça de maneira trêmula. Nesse momento, uma parte do líquido que ela continha respingou nele e alguns dos seus cortes se curaram completamente. Ele sorriu. Da mesma maneira que as taças falsas continham poção venenosa, a taça verdadeira devia conter o antídoto. Ele espalhou parcimoniosamente a poção incolor sobre todos os cortes de seu corpo, que instantaneamente se curaram. Na mesma hora, a taça voltou a se encher magicamente. Harry, então, se lembrou de algo que lera sobre essa taça, numa de suas incursões à Biblioteca. Um dos mágicos poderes da taça de Hufflepuff era o da cura. Ela curava quase todas as doenças, ferimentos e envenenamentos conhecidos no mundo bruxo. Num assomo de coragem, Harry levou a taça à sua boca e bebeu o líquido que nela havia. Na mesma hora sentiu um gostoso calor e sentiu como se o sangue perdido fosse recuperado. Ele se levantou com a taça, que voltara a se encher magicamente com sua poção curadora, e desceu até o andar de baixo.

Quando os outros o viram com as roupas empapadas de sangue, ficaram paralisados de choque. Hermione, pálida, correu até ele, na mesma hora que Ana conseguia dar um grito de angústia e Rony e os gêmeos levavam as mãos até suas bocas, como se detendo um grito. Hermione quase derrubou Harry na sua ânsia de ver como ele estava. Ele levantou sua mão e disse:

— Não se preocupem, eu estou bem.

— Como está bem?! — disse Hermione em tom esganiçado. — Olhe para você, está coberto de sangue! O que aconteceu?!

— Sim, Mione, estou bem. Estive muito mal, mas agora já estou curado. Achei a taça de Hufflepuff. Havia outras falsas por perto, que cortava quem as tocava, mas a verdadeira taça me curou com sua inacabável poção de cura.

Ele mostrou para todos a bela tacinha. Hermione abriu a boca de espanto, lembrando-se sobre os poderes que aquele objeto mágico tinha.

— Mas é claro! — ela disse. — A taça de Hufflepuff tem poderes benignos como sua verdadeira dona, Helga Hufflepuff!

Nesse momento os outros foram até Harry, só acreditando que ele estava bem após examinar sua pele, que parecia totalmente lisa, sem os cortes que deveriam ter.

— Bom, temos que sair daqui... — disse Harry. — Quanto mais tempo passarmos aqui, maior a chance de sermos pegos...

Nem bem ele falou isso, uma porta nos fundos da loja se abriu. Não tinham percebido que era uma porta porque ela era disfarçada em tapeçaria. Pela luz que provinha de lá, devia ser uma outra sala ou um porão. Um homem esfregando os olhos, como se tivesse estado dormindo, apareceu. Vinha vestido com umas vestes longas e largas que pareciam um camisolão trouxa antigo de dormir.

— Esses vagabundos que ficam gritando e não deixam nem as pessoas dormirem direito... — disse uma voz rouca de sono. — Eu devia ter ido para casa, eu devia...

Era o Sr. Borgin. Para grande azar de Harry e seus amigos, naquela noite ele ficara trabalhando até mais tarde e resolvera dormir na loja mesmo. Só nesse momento eles perceberam que o Feitiço da Desilusão perdera seu efeito. A loja devia ter uma espécie de proteção anti-ladrão que desfazia esse tipo de feitiço.

Ao chegar mais perto e abrir os olhos, o Sr. Borgin arregalou os olhos. Na mesma hora ergueu sua varinha, mas era apenas a varinha dele contra seis varinhas nas mãos de quatro bruxos procurados e dos Weasleys da loja de logros e brincadeiras. Ele fez algo que os outros não entenderam na hora, apertou um botão. Um som mágico, baixo e agudo soou.

— Não estou gostando nada, nada disso... — disse Fred.

— É melhor corrermos, cambada — continuou Jorge. — Acho que isso foi o alarme que chamará o bruxo de vigia no Beco Diagonal a serviço do “cara de cobra”, quer dizer, do nosso “amado” Ministro.

— Mas, espere... — disse Hermione, nervosa. Apontou sua varinha para o Sr. Borgin, que na verdade era um covarde e recuou, assustado. — Obliviate! — ela disse. Na mesma hora o olhar do bruxo ficou fora de foco. Continuando com a varinha erguida, Hermione praticou agora um feitiço não-verbal. Após isso, o fez perder a consciência com um Feitiço Estuporante.

— O que você fez, Mione? — perguntou Harry.

— Implantei umas lembranças na memória dele... Se conseguirmos fugir, ele não dará com a língua nos dentes. Voldemort não pode ter a mínima ideia de que viemos a Borgin & Burkes, esqueceu?

Era verdade. Se Voldemort soubesse da presença deles na loja, logo saberia que eles sabiam das Horcruxes e aumentaria ainda mais as defesas em torno das demais. Eles apagaram as luzes de suas varinhas e foram tentar sair pela porta da frente, entretanto era tarde demais. Ao olharem para ela, recuaram. Um bruxo desconhecido grande e moreno, de longos, desgrenhados e oleosos cabelos negros, entrou pela porta. Tinha dentes amarelados e unhas grandes, pontudas e sujas, e vestia-se de maneira esfarrapada. Apresentava um amplo e maléfico sorriso. Sua língua passou lascivamente pelos lábios enquanto seus olhos negros e rasgados olhavam para Ana e Hermione. Falou numa voz rouca e arrastada:

— Ora, ora, vejam a minha sorte... Duas lindas garotas... Tenho obrigação de manter o Potter e a garota loura vivos, mas nada me impede de matar os outros e me divertir com as duas lindas garotas... Imaginem como serei recompensado por ter pego sozinho tantos “assassinos procurados” e traidores do Ministério da Magia...

Com um rápido movimento de sua varinha, ele trancou as portas da loja atrás de si. Avançou em direção aos seis, que recuaram. Sem nenhum aviso partiu para cima deles com feitiços estuporantes, ao invés de Maldições Imperdoáveis, por certo não querendo correr o risco de matar os que Voldemort queria vivos. Sem ter para onde correr, os seis começaram a lançar seus feitiços também, subindo correndo a escada que dava para o andar superior. Eles tinham bastante sorte, pois as capas-escudo, chapéus-escudo e luvas-escudo das Gemialidades Weasley que usavam impediam que tais feitiços os atingissem. Trancaram a porta lançando por meio do feitiço Mobilicorpus vários móveis e caixas na sua frente, mas sabiam que isso não deteria o Comensal da Morte por muito tempo. Correram para uma das janelas que davam na lateral do prédio e olharam por ela. Os prédios naquela Travessa eram tão juntos que não tinham como descer ao chão, mas em compensação, o prédio vizinho era um metro mais alto, apenas, que o prédio da Borgin & Burkes, e passaram sem dificuldade para o telhado daquele.

Começaram a correr pelos telhados dos prédios, passando de um para o outro, aproveitando que eram muito juntos. Escorregavam em alguns trechos, mas tinham sorte pelos telhados não serem muito inclinados, como a maioria dos telhados das casas trouxas. Olhando para trás, perceberam que o Comensal os perseguia pelos telhados. Ele devia ter conseguido entrar no quarto de depósito. Continuaram correndo, com suas peças-escudo os protegendo de feitiços simples e médios, mas tendo que se desviar de Maldições Imperdoáveis que ele agora lançava, talvez tão irritado que nem ligava mais para as ordens de seu Lord. Para confundi-lo e poderem tomar uma boa dianteira, Fred lançou para trás uma descarga de Pó Escurecedor Instantâneo do Peru. Na mesma hora se escutou um grunhido de raiva. Olhando-se para trás era possível se ver uma mancha escura que os protegia da visão do Comensal, e puderam se distanciar mais.

Hermione, a menos acostumada a exercícios físicos, já sentia uma dor forte no flanco, e já estava bem atrás dos outros. Cansada, mas tentando alcançá-los, ela pisou numa telha meio solta e escorregou. Ficou pendurada no telhado, e gritou:

— Rony!

Todos pararam ao ouvir seu grito e ao vê-la naquela perigosa situação, se desesperaram, principalmente Rony, que ao ver a menina que amava quase caindo sentiu a pior sensação que já sentira na vida, desde que a vira petrificada pelo basilisco no segundo ano da escola.

— Mione! — gritou com desespero, seu rosto sardento tão pálido que as sardas se sobressaiam imensamente.

Todos voltaram sobre os calcanhares para salvá-la. Jorge segurou Rony pelos pés, que se esticou até tocar a mão de Hermione. Os outros seguravam Jorge sobre o telhado.

— Vamos, Mione, pegue minha mão!

Tremendo e pálida, ela o olhou e disse:

— E-eu... e-eu não consigo...

— Faça um esforço! Por favor... Por mim... Não posso perder você, Mione...

Tremendo de medo, ela ficou presa só por uma mão e esticou o braço, agarrando-o pelo pulso. Os outros, então, os puxaram até que eles estivessem sãos e salvos sobre o telhado. Rony e Hermione se abraçaram fortemente. Fred falou, pigarreando:

— Ei, vocês, será que não podem deixar para se “amassar” outra hora? Estamos fugindo de um Comensal da Morte, lembram? E o efeito do pó só dura muito em lugares fechados; ao ar livre rapidamente se dispersa.

Vermelhos com o comentário de Fred, Hermione e Rony se separaram e todos voltaram a correr. Entretanto, como Fred predissera, o efeito do Pó Escurecedor Instantâneo do Peru estava se dispersando, e o Comensal pode recomeçar a persegui-los e lançar feitiços e azarações contra eles. Enfim, chegaram a um beco sem saída. O último prédio terminava abruptamente, e eles não podiam pular, pois era muito alto. Pararam, as varinhas em punho, sobre o telhado dele. Quando o Comensal os alcançou, percebia-se que o estratagema “gemialítico” o deixara bastante furioso. Olhava-os com ódio não disfarçado, a varinha em punho numa mão trêmula de raiva. Nesse momento, as nuvens se dispersaram, revelando no céu uma enorme e prateada lua-cheia. O Comensal ergueu seus olhos para ela e o impensável aconteceu.

Harry e os outros estavam pálidos de medo. Não era um bruxo que fazia a ronda pelo Beco Diagonal aquela noite. Bem, era um bruxo, mas não em todas as noites do mês. Era um Lobisomem. Um enorme e peludo Lobisomem negro, que acabava de se transformar bem diante os seis pares de assustados olhos, um Lobisomem com dentes grandes e ferozes. Devia ser um parceiro de Fenrir Grayback, o Lobisomem que mordera Lupin e Gui e que invadira Hogwarts junto a Comensais da Morte no ano passado. A situação não poderia ser pior para eles. A enorme fera estava curvada, dos dentes arreganhados escorrendo uma viscosa baba, um pavoroso rosnado ecoando. Ameaçava-os, e sua posição era nitidamente de ataque. Não tinham como fugir, ou caíam ou eram mordidos. Foi quando Jorge se lembrou de algo...

— O Kit Defesa, Fred! Como pudemos esquecer?! Lembra?! Pusemos arma contra Lobisomens nele! 

Fred deu um tapa na própria testa, como se chamando de burro. Ao mesmo tempo, como se fosse num ato ensaiado, ambos abriram as maletas do Kit, que levavam a tiracolo por suas longas alças, e delas tiraram umas armas que pareciam pistolas trouxas. Apontaram-nas para o Lobisomem e, na hora que a fera deu um salto para atacá-los, descarregaram nele centenas de pequenas setas de prata, uma das únicas substâncias capazes de matar Lobisomens transformados. Em pleno vôo, atingido pelas setas que penetravam fundo a grossa couraça do monstro, o Lobisomem caiu no chão com um baque surdo. No telhado, todos olharam, ofegantes, o corpo do Lobisomem, que, atingido pelas setas, voltava à sua forma humana. Viram seus últimos estremeções antes de ele morrer. Todos ficaram calados, meio chocados com o que acontecera. Era a primeira vez que um deles matava um homem. Era um Lobisomem, uma perigosa fera, mas mesmo assim um homem. Ana lembrou de um feitiço que lera e tentara aprender em um dos livros que lera. Em voz sumida disse:

— Vamos, vamos pular. Eu posso amortecer a queda com um feitiço...

Na hora que todos pularam a altura de um prédio de primeiro andar, ela disse:

Arestum Momentum.

Esse feitiço retardou a queda, fazendo com que caíssem como se fossem em câmera lenta e mais devagar. Chegaram ao chão sem impacto e sem mesmo cair. Perto deles, o corpo nu coberto de sangue, o Comensal da Morte, que sequer chegaram a conhecer o nome, irremediavelmente morto. Pálido, Jorge disse:

— É melhor levarmos o corpo dele para a Ordem. Ninguém deve descobrir o corpo dele aqui... Assim, com ele desaparecido e o Borgin obliviado, ninguém vai desconfiar do que realmente aconteceu. Vamos todos para a Gemialidades... Daremos um jeito de contatar a Ordem... Eles vão dar um jeito de levar o corpo. E vocês quatro, nada de aparatar, desaparatar, usar Chave de Portal ou a Rede de Flu dentro do Beco Diagonal. Todos esses meios de transporte mágico estão sendo vigiados, aqui dentro...

Nunca nenhum dos quatro vira Fred e Jorge tão sérios como naquele momento. A morte do homem por parte deles, mesmo sendo em legítima defesa, devia tê-los abalado muito. Sem dizerem mais nada, Fred tornou a desilusioná-los e Jorge levou o corpo através do Feitiço de Levitação. Andando pelas sombras, agora mais necessário por causa do barulho que causaram com a fuga e perseguição sobre os telhados, voltaram a Gemialidades Weasley. Todos iam muito calados, e continuaram calados mesmo quando chegaram à loja, onde deixaram o corpo escondido no depósito, e subiram ao apartamento dos gêmeos. Fred mandou um recado aos membros da Ordem através do medalhão e sem conseguir dormir, os seis ficaram à espera do raiar do dia, mudos como entraram.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo, pessoal!

Lembrem-se, reviews sempre ajudam e alegram um autor!

Beijos da Ana christie (que não é nem de longe a mesma da história, fique bem claro! rsrsr)