Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 22
Dragões, Dragões e mais Dragões!


Notas iniciais do capítulo

Oie!!!! Pessoal, espero que gostem! Esse capítulo vai ser para todos os gostos! Aventura, fantasia e romance! Espero que gostem!



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            O pessoal da Ordem da Fênix conseguiu, no dia seguinte, entrar no Beco Diagonal com ajuda do auror que trabalhava disfarçado no Ministério da Magia, Dawlish, e se desfez do corpo do lobisomem, enterrando-o num cemitério para bruxos indigentes, pois não conseguiram descobrir quem ele era. Não era um lobisomem registrado no Departamento para a Regulação de Criaturas Mágicas do Ministério. Através de disfarces os mais diferentes possíveis, vários membros da Ordem alteraram as mentes dos moradores do Beco Diagonal e da Travessa do Tranco que perceberam a perseguição e alvoroço que acontecera naqueles lugares, durante a madrugada.

Harry, seu grupo e os gêmeos continuaram meio taciturnos durante toda aquela operação perigosa da Ordem em pleno Beco Diagonal, sob os narizes dos “patrulheiros” ministeriais — leia-se “Comensais da Morte”, isso fique claro — que vigiavam constantemente o Beco e demais lugares onde os bruxos normalmente se reuniam. Sentiam uma leve culpa pela morte do lobisomem, pois apesar de tudo, ele era um ser humano. Esse episódio foi como um teste de fogo; amadureceu-os mais ainda do que já o haviam feito, tornou-os mais velhos e vividos como muitos anos de vida não poderiam ter feito. Enfrentariam coisas piores no futuro ao finalmente confrontar às claras as forças das trevas, quando Harry estivesse apto a combater Voldemort.

Ao se acalmarem as coisas no Beco Diagonal, Harry, Rony, Hermione e Ana se despediram dos gêmeos e voltaram ao seu hotel. Passaram o restante do dia refletindo, digerindo tudo o que tinham passado desde a noite passada, mal falando uns com os outros. Era necessária essa reflexão, esse ajustamento e confirmação de valores no íntimo de cada um. Agora percebiam, pela primeira vez claramente, a crueza do que iriam enfrentar. E na visão de Harry, que até o momento mais enfrentara situações difíceis assim, isso fora o melhor que pudera acontecer, apesar de lamentar a morte de um ser humano. Agora os demais tinham uma dimensão clara do que enfrentariam enquanto andassem com ele, combatendo as forças das trevas. Agora tinham uma base melhor para decidir se continuavam com ele ou não naquela jornada árdua que tinham pela frente.

Mais tarde, enquanto jantavam novamente mal conversando, Harry pigarreou. Quando teve a atenção de todos, falou:

— Pessoal, vocês têm ideia de que esse tipo de situação pela qual passamos pode acontecer novamente? Estaremos muitas vezes lutando por nossas vidas, tendo que matar para sobreviver. Isso é uma guerra. Agora pergunto: sabendo o que podem enfrentar se continuarem comigo, pretendem continuar nessa caminhada?

Todos o olharam fixamente por um tempo, mudos. De repente todos os três passaram a falar de uma vez, deixando Harry atônito. Davam “carões” nele pelo absurdo da pergunta, principalmente. Afirmavam o quanto aquela jornada em busca de justiça, paz e um mundo melhor os deixava orgulhosos, orgulhosos por saber que estavam contribuindo para um mundo em que não houvesse tanto preconceito, um mundo que seria melhor para os filhos deles. E o quanto se sentiam felizes por seguir junto a Harry. Por fim, afirmaram que o acontecido só abrira os olhos deles para a verdade e os horrores do que poderiam enfrentar, amadurecendo-os. Isso tudo deixou Harry bastante emocionado e feliz. Agora era continuar com sua jornada em busca das Horcruxes e das partes perdidas do Amuleto de Merlin. Ao menos tinham em sua posse uma das Horcruxes. Bastava arrumar uma forma de destruí-la.

Como sempre (ou quase, agora que existia Ana), foi Hermione quem conseguiu imaginar qual poderia ser o paradeiro de uma das duas partes do Amuleto de Merlin desaparecidas. Certo dia, lendo, como era o seu normal, ela soube que a reserva de dragões que havia na Romênia era a maior do mundo. Ela era a única que possuía exemplares de quase cem por cento de todas as espécies conhecidas, inclusive as que estavam em risco de extinção. Era possível que a parte do Amuleto com os poderes do dragão podia ter sido enviada para lá. Conversando com Harry, ela expôs sua argumentação.

— Bem, realmente acredito que a parte do Amuleto está lá, pois a reserva é a maior que existe. Mas não é só por isso que acredito, na verdade, ela podia ter sido enviada para qualquer lugar do mundo. Entretanto, como deve ser salientado, os pais de Ana deviam estar correndo contra o tempo enquanto eram enfrentados por Voldemort, para poder enviá-la e as partes do Amuleto a qualquer lugar antes que o bruxo conseguisse por as mãos neles. Acredito que ela foi enviada ao Brasil por lá ser um país tropical e muito longe, um lugar que Voldemort nunca imaginaria procurá-la. Outra parte do Amuleto foi enviada a Aberforth, mas as demais, creio que os pais dela não tiveram tempo para escolher lugares. Penso que eles apenas as mandaram, por meio de magia, para os lugares mais longínquos que conseguiram, e ocorreu uma espécie de atração natural entre os poderes presentes nas partes do Amuleto e os lugares com maior concentração desses poderes. A reserva de dragões da Romênia, além de ser a maior, tem uma alta concentração de vulcões ativos, ou seja, o elemento dessa parte do Amuleto, o fogo. Bem, pode ser que eu esteja errada, mas não custa nada tentar.

Harry a olhou fixamente.

— Explique-se melhor... Então você está sugerindo, Mione, que a gente faça o quê? Vá à Romênia? Creio que seria bastante fácil, nesses tempos atuais... — a voz de Harry vinha com um toque de ironia.

— Bem, oh, esperto, tem uma ideia melhor? Pode me indicar um lugar, ao menos, onde você acredite que estejam as partes do Amuleto? Ou onde as Horcruxes estejam? Acha que a gente pode ficar aqui, nesse hotel, indefinidamente esperando que as coisas caiam do céu?

As palavras de Hermione calaram fundo em Harry. Era verdade. Só agora se dava conta de que já se tinham passado quase sete meses desde que as aulas do ano passado terminaram e ele resolvera seguir fora da escola na busca às Horcruxes, e na verdade só tinham conseguido, até o momento, uma das Horcruxes, e nem ao menos puderam destruí-la ainda. Envergonhado, Harry não conseguiu olhar Hermione nos olhos.

— Tem razão, acho que eu não tenho dado conta do recado como Dumbledore esperava... Como eu mesmo esperava...

Com remorso, Hermione se aproximou dele, pondo-lhe a mão no ombro.

— Nem pense uma coisa dessas, Harry! Você já fez mais do que a maioria dos bruxos já fez na vida! Me desculpe por pôr dúvidas em sua mente. Na verdade, também estou um pouco desesperada... Queria tanto conseguir logo as coisas que se precisa para derrotar esse monstro!

Ele maneou a cabeça afirmativamente. Em seguida, ambos foram até os outros, pois tinham ficado na varanda do hotel, como sempre Ana lendo e Rony jogando no notebook de Ana. Hermione expôs a ideia que tivera a eles também, que, a exemplo de Harry, acharam-na interessante, mas meio inviável, por causa da distância. Foi nesse momento que Rony deu um tapa na testa, lembrando-se de algo...

— Como não pude pensar nele? Creio que tem uma maneira de a gente poder ir para a Romênia! Vocês não se lembram, por acaso, que o Carlinhos trabalha na Romênia? E para a gente vai ser mais fácil, lá dentro, pois a Romênia não foi um dos países que caiu aos pés de V-Voldemort... — ele ainda gaguejava ao dizer o nome do bruxo, mas já era um grande avanço. — O que vai ser mais difícil é sair da Grã-Bretanha e entrar na Romênia...

Ao ouvir o nome de Carlinhos, o coração de Ana deu um baque. Fazia muito tempo que não o via, desde antes da viagem a Godric's Hollow. Sentia muitas saudades dele, pois a paixão que sentia pelo ruivo não diminuíra, ao contrário, aumentara com a distância e o tempo. Se fosse à Romênia, poderia revê-lo... Ele ainda gostaria dela como sugerira? De maneira excitada, a voz ofegante e trêmula, disse:

— Eu adoraria ir à Romênia... Seria maravilhoso... E ainda mais se parte do Amuleto de Merlin estiver lá, como supõe a Mione.

Os rapazes desconfiaram da maneira como ela falara, mas Hermione no mesmo instante percebeu o que fazia Ana ter tanta vontade assim de ir à Romênia. Ainda lembrava do jeito que a garota ficara ao ver Carlinhos.

— Creio ser muito fácil sair da Inglaterra... — Ana falou, seus olhos ainda brilhantes.

— Fácil? Com os portos vigiados, a aparatação a distâncias continentais restringida, a falta de conexão das lareiras entre países de continentes diferentes ou entre ilhas e os continentes? — disse Rony cético.

— Sim, Rony. Da mesma maneira como a gente vem vivendo muito bem nesses últimos meses. Nos disfarçando de trouxas, ora!

***

Era a primeira vez que Rony via um avião de passageiros. Na verdade, era a primeira vez que ele via um avião de verdade e de perto, fosse de qualquer tamanho, e seus olhos azuis estavam enormes, assustados diante a enorme geringonça de metal que mais parecia um pássaro de ferro. Sua boca estava tão aberta e por tanto tempo que Ana achou que a baba ia escorrer. Seu espanto era tanto que estava deixando Hermione envergonhada.

Sim, essa fora a ideia de Ana para que saíssem da Grã-Bretanha. Por incrível que pareça, uma maneira simples e segura, que não seria sequer imaginada por Voldemort e seus Comensais da Morte, como a ideia na hospedagem no hotel trouxa. Fora mais simples do que eles imaginaram. Sem ter tempo de preparar documentação, pedir vistos e etc, bastou usar a Maldição Imperius para que pudessem comprar as passagens sem o mínimo de problemas, usando o dinheiro trouxa que Ana pedira a Aberforth para trocar no começo da sua jornada acompanhando Harry e os demais. Agora, na hora do embarque, estava sendo difícil convencer Rony a entrar na “geringonça de metal”.

— Rony, quer parar de me fazer passar vergonha? — murmurou Hermione em meio a um sorriso tenso e falso.

— Mas... Mione... essas “avisonas”, ou seja lá como se fala... Por Merlin, como uma coisa desse tamanho pode se sustentar no ar sem o uso da magia?

— É avião, quantas vezes terei que falar? Quer parar de parecer tão estranho, Rony?! — Harry lhe deu uma cotovelada nas costelas. — Creio que os aviões se mantêm no ar por motivos físicos, leis da aerodinâmica, coisa que os trouxas dominam muito bem, ouviu? Não é necessário magia para isso, então venha e entre, é mais seguro que uma vassoura ou um tapete mágico, embora esses últimos tenham sido proibidos na Grã-Bretanha.

Hermione foi mais grossa:

— Ronald Weasley, quer parar de dar chilique e entrar logo, ou terei que lançar uma Maldição Imperius em você?!

Essa ameaça foi mais eficiente que as palavras sussurradas de Ana e Harry, que vinham tentando convencê-lo desde que a loira tivera a ideia da viagem pelo mais seguro, rápido e melhor meio de locomoção trouxa a longas distâncias. Rígido, Rony entrou a contragosto no avião, tremendo de medo. Ficou no assento do corredor enquanto Hermione ocupava o da janela, e Harry e Ana ocuparam os do outro lado do corredor. Rony segurava com forte tensão o encosto do assento da frente, e quando uma comissária de bordo, preocupada, aproximou-se dele, Hermione, com um sorriso amarelo, explicou:

— É que é a primeira vez que ele viaja de avião...

Quando a comissária se afastou, lançaram logo o abaffiato para que pudessem conversar sem problemas, e Rony, ao ver a expressão de pena no rosto dos demais, falou, emburrado:

— Para vocês é fácil... Hermione, você já andou de avião várias vezes, e vocês, Ana e Harry, conhecem a fundo o mundo trouxa, já convivem com a ideia de andar de avião desde pequenos!

E voltou a cruzar os braços, emburrado e muito trêmulo. A viagem era longa, com escalas em alguns outros países, como França e Itália, e Rony ficou toda a viagem emburrado, na verdade escondendo um grande terror de que o avião caísse. Seu rosto estava verde, de tal modo que Hermione ficou com medo de que regurgitasse tudo o que comera e bebera durante o dia. Mais tarde agradeceria a Deus por isso não ter acontecido. Os outros conseguiram dormir um pouco, mas ele não pregou os olhos, de tal modo que, quando desembarcaram finalmente no país centro de tantas lendas sobre os vampiros e o conde Drácula, ele estava sonolento, mal-humorado e com olheiras. Haviam aterrissado na capital do país, Bucareste. A reserva de dragões ficava bem longe, na Transilvânia, mas agora eles podiam utilizar uma Chave de Portal sem problema. Seria uma surpresa e tanto para Carlinhos, pois não o haviam avisado de que iam viajar para lá.

Quando desembarcaram, Rony tremia como um caniço. Continuava verde.

— Acho que fiquei com enjôo de avião... — disse.

Os demais riram. Toda a bagagem ia dentro da bolsa de Hermione, e não precisavam ficar na fila de espera. Saíram do aeroporto e entraram em uma rua deserta, de onde puderam usar uma Chave de Portal feita naquele momento por Hermione. Já tinham tanta prática naquilo que caíram de pé, embora não tão elegantemente como bruxos com anos de prática. O lugar em que apareceram era incrível. Uma belíssima cadeia de montanhas servia de recorte para um céu extremamente azul, lindo. As montanhas eram fascinantes, com picos nevados , cobertas de árvores que pareciam ser pinheiros. Eram parte da grande cadeia de montanha dos Cárpatos. Havia um lugar nas montanhas desconhecido pelos trouxas e bem diferente da paisagem carpática, pelo fato de ser seca, com vulcões ativos, quente. Era onde ficava a reserva de dragões, um lugar tão mágico que nada de origem trouxa funcionava, nem mesmo carros. Essa paisagem inóspita só era permitido ver a quem entrasse na reserva, que ocupava um espaço que era ao mesmo tempo espaço dos trouxas, mas como se a magia transformasse o mesmo espaço em dimensões diferentes.

Harry e os outros caminharam pela acidentada rota que levava à entrada da reserva. Rony, que já conversara muitas vezes com Carlinhos sobre a reserva, sabia que, da mesma maneira que em Hogwarts, não se podia aparatar e desaparatar dentro dela, não funcionava nem mesmo Chave de Portal, era uma grande burocracia para poder entrar, dado o perigo que havia ali dentro e o poder reunido. Eles pararam em frente a altos e fortes muros, onde havia apenas uma janela. Rony bateu nessa janela e esperou que alguém aparecesse. Qual não foi sua surpresa quando um rosto sem corpo apareceu na janela. Ele deu um pulo para trás.

Rezervare dragoni — disse uma voz numa língua que eles não conheciam, mas que entenderam pelo fato de a palavra “dragoni” ser muito parecida com “Dragão” em inglês.

— Será que ele fala inglês? – perguntou-se Rony coçando o queixo. Resolveu tentar. — Ei, você pode por favor chamar o meu irmão, o Carlos Weasley?

Numa voz cheia de sotaque, muito parecido, por sinal, com o sotaque do Vítor Krum, o rosto do homem falou:

— Pom, sim, poderrei chamarr-lo. Digo que quem querr falarr com ele?

— O irmão dele, Ronald Weasley — nunca Rony dizia aos outros seu horrível nome do meio, Billius.

— Pom, irei afissá-lo... — e seu “rosto” desapareceu da janela.

Após uns instantes a cabeça de Carlinhos apareceu na janela. Rony, na frente de todos, sorriu para o irmão. Esse fez cara de surpresa e deu um grande sorriso, mas logo ficou com uma expressão desconfiada e perguntou:

— Se você for o meu irmão Rony, vai me dizer qual o seu maior medo e o porquê dele.

Rony ficou corado, detestava falar daquilo, tinha vergonha, e Ana não sabia ainda daquilo e acharia que ele era um frouxo.

— Você me paga, Carlos Weasley... — murmurou. — Tenho medo de aranhas, porque Fred transformou meu ursinho numa aranha enorme quando eu tinha três anos porque quebrei a vassoura dele. Satisfeito, ou tenho que dizer o número exato de sardas que tenho no corpo?

Carlinhos, com seu bom humor, riu da raiva de Rony e falou:

— Que surpresa! Vou abrir o portão, espere um momento, estou na minha sala!

Após uns dez minutos, uma porta apareceu do nada na parede e foi aberta. Carlinhos apareceu, um grande sorriso nos lábios. Vestia-se com algo que era uma espécie de uniforme: uma calça e camisa cáqui, botas de couro de dragão negras, que fazia conjunto com luvas grossas que deixavam apenas as pontas dos dedos de fora. A camisa do uniforme devia ser originalmente de mangas compridas, para proteger dos dragões, mas ele as arrancara, de modo que os musculosos braços estavam de fora, os lugares em que as mangas foram arrancadas, desfiados. Usava uma boina da mesma cor das botas. Para Ana, que se encontrava ofegante com aquela visão, ele parecia o homem mais bonito do mundo.

Carlinhos não viu Ana, puxou logo o irmão caçula para um grande abraço que deixou Rony com dor nas costelas. Ergueu a vista e viu Harry e Hermione, e deu-lhes um grande sorriso, puxando-os para um abraço também, embora mais leve. Só então viu Ana. Seu sorriso congelou, ele ficou com olhos vidrados, como se pensasse que ela não era real. Meio ofegante e tentando parecer normal, a garota murmurou:

            — Oi, Carlinhos... Como vai?

Então ele pareceu sair daquele estado, e com um grande sorriso disse:

— Agora? Melhor impossível.

Ela sentiu que aquelas palavras estavam relacionadas mais a ela que aos outros, pelo seu olhar, mas fez que não entendeu, pois já estava começando a ficar corada — droga de pele clara! — e tinha que evitar isso, não queria parecer boba. Mas ele estava tão lindo... Os dois ficaram se olhando durante uns minutos, então ouviram o som de um pigarro e se voltaram para os outros, avermelhando. Harry, Hermione e Rony estavam com expressões divertidas nos seus rostos, de tal maneira que dava para se notar que eles deram bandeira demais. Clareando a voz, Carlinhos falou:

— Que surpresa incrível, vocês virem visitar a Romênia... Não avisaram que viriam, e aposto que não avisaram sequer “os velhos”, senão teriam me mandando uma coruja ou me avisado de outra maneira.

— Nos tempos atuais, o correio-coruja é muito arriscado, Carlinhos — disse Harry. — Tanto que mantenho a Edwiges na casa do Largo Grimmauld, junto com Pichitinho e o Bichento. Mas tem razão, nós não avisamos a eles, você sabe que a gente tem uma missão. E conhece sua mãe mais do que qualquer um...

Carlinhos riu, lembrando do jeito de fera com que a Sra. Weasley protegia os que amava.

— Sim, eu sei... Já tive a minha cota de encheção de saco desde que vim estudar dragões e posteriormente administrar a reserva e cuidar dos bichos.

Bichos... Só mesmo Carlinhos e Hagrid mesmo para chamar de bichos monstros enormes cuspidores de fogo, pensava Harry.

— Nossa, que hospitalidade essa minha! – falou Carlinhos. — Venham, entrem... Ah, esperem, todos os visitantes precisam de crachás.

Com um movimento de sua varinha, conjurou quatro crachás com as imagens de cada um deles e seus nomes, distribuindo-os. Ao estender o crachá de Ana, suas mãos se tocaram, e ambos tornaram a se olhar, como se estivessem sozinhos. A atração que ambos sentiam era forte demais.

— Bem, venham, entrem... — Carlinhos falou. — Aposto que vocês têm um motivo muito forte para ter feito uma viagem internacional nesses tempos, já que estão sendo procurados. Queria saber como conseguiram fazer essa viagem.

Eles passaram pela porta, que voltou a se fechar assim que entraram. A paisagem vista por trás dos muros era tão diferente da de fora que ficaram impressionados. Enquanto lá fora predominavam as lindas montanhas dos Cárpatos, com suas encostas arborizadas, por trás dos muros, as montanhas eram de pura rocha nua e avermelhada, com cumes que expeliam nuvens de fumaça cinzenta. Pairava no ar não o cheiro gostoso de pinheiros de montanha e de terra molhada, mas um acre cheiro que os fez franzir os narizes. Ao ver as expressões deles, Carlinhos riu, e disse:

— É enxofre. Os gases expelidos pelos vulcões que estão vendo mais adiante são sulfurosos. É um ambiente perfeito para a criação dos dragões. O enxofre faz muito bem à formação das glândulas ígneas dos dragões jovens.

Ao pé das montanhas, que não eram muito elevadas, havia vários edifícios. Carlinhos os levou a um deles. Era um bangalô de cinco cômodos, sala, cozinha, banheiro e dois quartos, pelo visto o seu lar ali, na reserva. Serviu-lhes garrafas de cerveja amanteigada, importada da Inglaterra, enquanto se sentavam na sua sala, que tinha apenas um carpete e várias e confortáveis almofadões, e ficaram conversando. Primeiro se conversou sobre as novidades, coisas que Carlinhos, por estar muito longe, não sabia, como o retorno de Sirius e o casamento de Tonks e Lupin, e sobre coisas simples, como a maneira como tinham viajado, e o pavor de Rony provocou muitas risadas em Carlinhos e mau-humor pela parte do seu irmão. Em seguida, passaram para as coisas sérias, como o medo e arbitrariedades cometidos por Voldemort e o motivo por que tinham feito aquela viagem.

— Achamos que a coisa que precisamos para ajudar a acabar com Voldemort está aqui, na reserva de dragões da Romênia, pois a tal coisa tem uma ligação séria com os dragões, pois a magia inteira de um deles foi aprisionada dentro dela, fora o poder do elemento fogo.

Ao saber disso, Carlinhos deu um assovio agudo. O dragão era uma das criaturas de magia mais poderosa, tanto que, dele, nada se desperdiçava, tudo era usado, desde em material de defesa quanto no preparo de poções e varinhas mágicas.

— Acho que não vai ser fácil... A reserva é enorme. Temos quase todas as espécies de dragões puros-sangues, como o Chifres-Longos Romeno, principal por aqui e que está em risco de extinção, o Focinho-Curto Sueco, o Dorso-Cristado Norueguês, o Meteoro-Chinês, o Negro das Ilhas Hébridas, o Verde-Galês, o Rabo-Córneo Húngaro, e até alguns híbridos raros, para vocês terem ideia da nossa capacidade e tamanho de território, pois as espécies gostam de ter cada uma o seu território. E terei que ajudar vocês. Não posso deixar visitantes andando por aí sozinhos, normas da reserva invioláveis, dado o perigo que se corre aqui dentro, até mesmo para os peritos no trato com essas criaturas. Bem, mas é tarde, daqui a pouco irá escurecer e não se pode andar pela reserva depois das sete horas da noite. Vocês estão hospedados em algum lugar ou vão aceitar minha hospitalidade? Não tenho muito para oferecer, apenas um quarto, mas ele tem dois beliches. Se as garotas não se importarem de dividir...

E olhou expectante para elas. Na verdade, não queria que fossem embora, pois queria ficar mais tempo com Ana Christie. Só agora ele percebia o quanto sentira falta dela, o quanto a queria para ele, mesmo que fosse só por uns momentos.

Harry, Rony, Hermione e Ana se consultaram e resolveram aceitar a hospitalidade de Carlinhos, pois seria muito incômodo ter que sair dali todas as noites para a cidade mais próxima, e era melhor que montar acampamento nas montanhas carpáticas, pois mesmo num país estrangeiro e inimigo de Voldemort, era perigoso ficarem desprotegidos. Ali, estariam bem mais seguros.

***

Era noite. Todos já tinham adormecido. Isto é, quase todos. Ana rolava pela cama, insone. Já irritada por não conseguir conciliar o sono, ela se levantou, pôs um robe e saiu do bangalô. Encostou-se à parede e ficou olhando o céu. Ele estava lindo, cheio de estrelas, e a lua minguante não era mais que uma lasquinha no firmamento, mal iluminando as montanhas ao longe. Respirou fundo o ar, apesar do cheiro de enxofre. Seus pensamentos, então, convergiram para Carlinhos. Ao pensar nele, as lembranças do único beijo que partilharam vieram à sua mente, e ela fechou os olhos, para saboreá-las. Quando os abriu, quase gritou de susto, ao ver uma silhueta forte perto dela. Só após um tempo percebeu que era Carlinhos que estava ali, perto dela, olhando-a com muita intensidade, e ela se encheu se alegria. Cogitou até se não fora ela a invocá-lo com seus pensamentos.

Ele não falou nada. Ela também não. Não era preciso. Apenas eles dois e a noite escura e bela, própria para o amor. Nenhum dos dois soube de quem foi a iniciativa, mas logo estavam nos braços um do outro, num enlace apertado, os corpos trêmulos juntos. A cabeça dela recostava em seu peito, ouvindo seu coração potente, e os dois respiravam pesadamente, matando as saudades. Os lábios de Carlinhos tocaram suavemente o alto da cabeça dela, pressionando seus cabelos loiros e macios.

— Você não sabe o quanto me fez falta... — ele murmurou com voz trêmula. — Na verdade, nem eu mesmo sabia a falta que você me fazia, mas ao te ver, hoje, soube que você é a coisa mais importante em minha vida — tocou suavemente seu queixo e o elevou, para mirar seus olhos. — Descobri que amo você, Ana.

O coração dela deu um salto ao ouvir aquelas palavras. Após muito esforço, emocionada demais para conseguir se expressar, ela disse, sua voz rouca:

— Pois eu já sabia há muito tempo o quanto te amo. Desde a primeira vez que te vi.

Aconteceu, então, o beijo. Não era um beijo simples, doce e amoroso, mas um beijo que falava de paixão e de saudade. Intenso, forte e completo. Suas bocas se buscavam como se fossem ímã e ferro, não desgrudavam nem para respirar, suas línguas duelavam entre si, famintas, e logo estavam completamente sem fôlego, e tremiam de emoção, e alegria, e desejo. Depois de uma leve hesitação, Carlinhos a recostou contra a parede e suas mãos grandes e fortes lhe tocaram trêmula e delicadamente o corpo, passeando por suas costas, laterais e seios, com muito cuidado, como se ela fosse feita de porcelana. Ana tremia ao receber aquelas carícias que nunca tinha deixado homem algum fazer, e o desejo irrompia nela como fogo líquido. Ela o abraçou intensamente, suas mãos percorrendo as costas e ombros musculosos dele, descendo por seus quadris e o trazendo para mais perto dela, sentindo o quanto ele estava excitado, rijo e pulsando intensamente contra ela. Assim, permitindo aquela intimidade, deixava claro o que queria. Com sabedoria nos olhos castanhos, ele a olhou com intensidade e perguntou, a voz trêmula:

— Você tem certeza?

Como resposta, ela apenas lhe deu mais um beijo, os dedos se infiltrando nos cabelos vermelho-escuros dele, quase negros sob a fraca luz do luar. Olhando-a com um sorriso cheio de alegria, emoção e desejo, ele lhe tomou as mãos e a puxou por uma estradinha de terra ascendente até um lugar escondido da visão dos edifícios. Por trás de rochas, uma lagoa mínima que soltava fiapos de fumaça, um lugar encantador e privativo. Sem falar nada, ele a fez se sentar à beira d’água, fazendo-a experimentar o calor da água: era uma fonte termal, e devia ter algumas espalhadas por lá. Sentou-se ao seu lado e ambos ficaram se beijando e tocando suavemente, até que ela ficasse mais segura. Era inexperiente, mas o desejava muito. Como uma virgem não hábil naqueles assuntos, Ana sentiu bastante vergonha quando Carlinhos passou a despi-la, mas as carícias suaves e sensuais dele enquanto tirava lentamente suas roupas a fizeram esquecer a timidez e almejar os próximos momentos com ansiedade. Ela mesma tomou a iniciativa de começar a despi-lo e ofegou profundamente excitada quando viu o corpo masculino e musculoso nu sob a luz do luar. Ele era muito bonito. Carlinhos também se embriagou com a visão de Ana, sua pele clara com um leve brilho nacarado, suas formas voluptuosas e sinuosas, sua longa cabeleira loira caindo contra seu corpo numa vestimenta natural que era uma moldura perfeita para a visão celestial que ela era. Entraram, enfim, na água deliciosamente quente.

Ana tremia de desejo e de temor de decepcioná-lo, mas suas dúvidas logo foram esquecidas com a maneira terna como Carlinhos a tocou, livrando-a de seus temores e a fazendo se sentir nas nuvens e ao mesmo tempo num incêndio de desejo e prazer. Carlinhos a tocava em lugares sensíveis de seu corpo que ela jamais se permitira estimular. Seus seios rijos intumesciam mais com a carícia sensível de seus dedos e lábios, sua pele inteira se arrepiava, seu baixo-ventre pulsava com um doce ardor que lhe exigia uma satisfação que ela jamais sentira falta antes de conhecer aquele homem perfeito. Com Carlinhos, acontecia a mesma coisa. Apesar de ser um homem naturalmente ardente e experiente, sentia-se delicado, terno e temeroso, como se aquela fosse sua primeira vez. As mãos e boca suaves e inexperientes de Ana lhe provocavam mais desejo e prazer que os artifícios das mulheres mais experientes que conhecera, e quando deslizavam temerosa e timidamente por todo seu corpo, conhecendo cada porção de pele e cada músculo, ele fechava os olhos e imaginava que jamais conhecera tão profundo êxtase em toda sua vida. Após caricias longas e extremamente prazerosas, nenhum dos dois suportava mais a espera, o desejo de alívio e prazer. Apesar do temor inicial quando Carlinhos a fez envolver as pernas em torno de sua cintura e deslizou lenta e suavemente dentro de seu corpo, Ana logo se esqueceu de qualquer dúvida e medo. Ele a amou com um misto de ternura e desejo intenso que a fez chorar de alegria, prazer e certeza, a certeza de que, mesmo que não sobrevivesse à batalha iminente, ou aos preparativos para ela, saberia antes de morrer o que era ser possuída pelo homem amado. Imersos na água quente e relaxante, os movimentos que ambos faziam, tão naturais e velhos quanto o próprio tempo, só lhes trouxeram prazer. Não houve qualquer dor, desconforto ou vergonha. O êxtase experimentado por ambos foi poderoso e doce ao mesmo tempo. Cerrando os olhos, apertando as pernas ainda mais em torno do corpo dele, Ana se arqueou contra o corpo musculoso unido ao seu, a cabeça jogada para trás, e soltou um longo gemido. Carlinhos grunhiu contra sua pele, seu corpo inteiro tremendo e seu rosto profundamente enterrado no pescoço feminino, as mãos procurando um apoio na realidade enquanto se enterravam nos cabelos loiros jogados para trás. Ambos tinham a sensação de que tinham chegado ao Nirvana.

Após o amor, ficaram sentados num banco de pedra submerso que os cobria apenas até a altura do peito dela, ela entre as penas dele e o tronco recostado em seu peito. Trocavam beijos e carícias ternas, murmuravam bobagens e riam delas, apenas curtindo aquele momento especial. Ambos tinham a mais absoluta certeza de que tinham encontrado sua alma-gêmea, o amor de suas vidas. Entretanto, evitaram falar sobre o futuro, pois ele parecia incerto para todos. No momento, apenas saber que se amavam e que ficariam juntos o quanto desse já era mais do que muitos tinham, e agradeciam a Deus por isso. Sem sentir o mínimo arrependimento, vestiram-se e voltaram para o bangalô. Na porta do quarto que ela ocupava com os amigos, eles mais uma vez reafirmaram seu amor por meio de palavras e de um beijo misto de doçura e paixão. Foram dormir plenos de felicidade.

***

No dia seguinte, Carlinhos e Ana mal se olhavam, não por estarem arrependidos de sua noite de amor, mas por querer que aquele momento fosse apenas dos dois, que não houvesse especulações por parte dos outros. Nos momentos em que seus olhos se cruzavam, eles sorriam de maneira discreta, sabendo o que o outro estava pensando.

Carlinhos levou todos para ver os lugares onde os dragões viviam. Essas áreas ficavam nas próprias montanhas, pois os dragões eram animais fundamentalmente montanhosos, com exceção apenas do Olho-de-Opala da Nova Zelândia, que preferia os vales, e não tinham aquela espécie por ali. Não podiam se aproximar muito, pois os dragões prezavam sua liberdade e seu território. Havia lugares exclusivos para filhotes, mais dóceis, em geral, e melhor de serem estudados. Mesmo não chegando muito perto da cerca que delimitava as áreas residenciais, encantadas com uma magia repelente de dragões, tinham que usar proteção pelo corpo todo, feita com couro de Focinho-Curto Sueco, couro de dragão preferido para a confecção de capas, escudos e luvas de proteção. Era uma visão impressionante. Sobrevoando umas rochas, um grande dragão de escamas verde-escuras e longos chifres dourados faiscantes matinha os olhos fixos num carneiro montanhês. De repente, ele desceu como uma flecha, enfiando seus pontudos chifres no carneiro, que deu um balido de dor antes de morrer. Hermione se arrepiou e escondeu o rosto no ombro de Rony enquanto o dragão assava o carneiro com uma descarga de chamas e o levava consigo pelos ares.

— Esse é um Chifres-Longos Romeno. É uma fêmea, caçando a refeição de seus filhotes. Essa espécie quase se extinguiu, tanto que essa reserva foi criada em primeiro lugar para aumentar a sua população e salvá-lo da extinção.

Caminhando ao longo da cerca que rodeava as escarpas rochosas da montanha, tendo que ter muito cuidado com as rochas íngremes, eles puderam vislumbrar várias espécies de dragão, seus hábitos de vida.

— Hagrid aqui estaria no céu... — disse Harry lembrando do amigo.

— Falando em Hagrid, olha Norberta, ali, a fêmea de Dorso-Cristado Norueguês que ele tentou criar — disse Carlinhos apontando para um imenso dragão que lembrava o Rabo-Córneo Húngaro, mas que tinha no rabo não cornos, mas cristas salientes e negras.

— A gente se livrou de uma... — disse Rony, maneando a cabeça.

— Agora você vê, Harry, como essa sua missão é impossível? Só não fomos atacados por causa da cerca mágica. Até para examinar a saúde dos dragões, os novos filhotes, nós não entramos no território deles, nós os atraímos para um lugar especial em que os dopamos e estuporamos. Isso não vai ser fácil, meu amigo, ainda mais porque, me desculpe, não poderei permitir que vocês quatro entrem aí. Mesmo que não fosse norma da reserva, inclusive para os tratadores e estudantes, eu não permitiria que corressem esse risco. Pelo que me contaram, aposto que essa coisa que querem deve estar no topo das montanhas, onde os dragões repõem suas energias com o fogo dos vulcões, que embora não sejam violentos, aqui, são ativos e expelem lava.

“O Qurteto”, como Harry e os outros se denominavam, voltaram para a área residencial pensativos e temerosos, pois era preciso a parte do Amuleto para que pudessem derrotar Voldemort. Será que tinham viajado tão longe para nada, para voltarem de mãos vazias e sem esperanças de poder destruir o maior bruxo das trevas de todos os tempos? Estavam muito sérios, quando Hermione conseguiu alegrá-los um pouco. Ela se lembrou de que o raro sangue de dragão em muda podia destruir Horcruxes.

— Só agora percebi, que idiota que sou! Aqui é o melhor, praticamente o único lugar onde poderemos conseguir sangue de dragão em muda, que é muito raro, pois é extremamente difícil capturar um dragão na época de sua muda, que ocorre uma vez na vida, na passagem de sua fase jovem para a adulta. Vamos ver com o Carlinhos se tem algum dragão nessa fase.

Carlinhos achou muito estranho que precisassem do sangue do dragão em muda, que é quando o sangue draconiano é mais mágico e poderoso. Entretanto não se negou a conseguir um pouco desse sangue para eles, pois confiava que não fariam nada de errado com esse sangue — algumas das poções mais poderosas e de efeitos mais terríveis eram feitas com esse tipo de sangue. Para a sorte de Harry, eles estavam cuidando de um dragão que estava justamente nessa fase, pois os dragões ficavam muito vulneráveis nessa época e tinham que protegê-los do ataque dos outros dragões, que geralmente atacavam os de outras espécies, e muitas vezes os de suas próprias espécies.

Algumas horas mais tarde, ele entregou nas mãos de Harry um frasco de 10 ml. Muito excitado com a possibilidade de destruir uma Horcrux, ele chamou Rony, Hermione e Ana até um canto e lhes mostrou o frasco, seus olhos verdes brilhantes por trás dos óculos.

— Sabem de um lugar onde podemos destruir a Horcrux sem sermos incomodados? Não será bom que nos vejam destruindo a taça de Hufflepuff, uma relíquia perdida há tanto tempo.

— Bem, há um lugar seguindo por aquela estradinha de terra — disse Ana sem pensar antes. — Leva a um lugar bem escondido.

— E quando você teve tempo de conhecer esse lugar, Ana? — Rony lhe perguntou, no rosto uma expressão desconfiada.

No mesmo tempo Ana avermelhou fortemente, e todos desconfiaram da verdade, mas não falaram nada. A vida pessoal dela não era da conta deles, afinal. E ela se sentiu muito aliviada de que não comentassem nada sobre o que imaginavam. Guiou-os pela estrada de terra até a fonte termal, e se sentaram sobre umas pedras. Hermione tirou de dentro da sua bolsa a taça de Hufflepuff e puxou a tampa improvisada que tinha posto nela para evitar que o líquido com que ela se enchia molhasse as coisas dentro da bolsa, e Harry tirou seu canivete mágico do bolso. Falou:

— Eu preferia que vocês ficassem longe. Quem sabe o que pode acontecer na hora em que eu destruir essa coisa...

— Não, Harry, chegamos até aqui juntos e continuaremos juntos para o que der e vier — disse Hermione.

Os outros manearam as cabeças, concordando. Com um suspiro de raiva e aceitação, Harry pôs a taça sobre uma rocha mais alta, molhou a ponta de seu canivete no sangue de dragão e se preparou para destruí-la. Sabia que o canivete, por si só, não conseguiria destruir o ouro da taça, talvez somente arranhá-lo, mas o mágico sangue de dragão em muda se encarregaria do resto. Quando desceu a mão, entretanto, teve que se conter, pois o líquido dentro dela passou a borbulhar. Todos olharam assombrados para a Horcrux. Dela, uma voz melodiosa se ergueu:

Não! Não me matem... Não matem o meu espírito, aprisionado aqui dentro... Helga Hufflepuff não pode simplesmente sumir...

Harry e os outros se encararam, abismados. Como aquilo era possível? Se não fosse através de uma Horcrux, um espírito não podia ser aprisionado num objeto... Ou não? E o espírito de Helga Hufflepuff devia ser um espírito iluminado, pois ela fora uma bruxa tão boa em vida. E apesar de a voz ser doce e melodiosa, ouvi-la causava arrepios de repulsa em Harry. Hermione disse, a voz baixa:

— Harry, não se pode aprisionar uma alma inteira num objeto, nem mesmo um pedaço, se não for através da confecção de uma Horcrux. Jamais Helga Hufflepuff faria uma Horcrux, ainda mais que ela não se manteve semi-viva, como Voldemort. Você já sabe o que foi que falou, não?

Harry sabia. Era o pedaço da alma de Voldemort preso dentro da taça de Hufflepuff. Aquela porção de alma devia estar fazendo o possível para não morrer, para viver, como o pedaço de alma dentro do diário de Tom Riddle fizera. Por isso, Harry sentia aquela aversão e repulsa ao ouvir a falsa voz. Na mesma hora, algo diferente aconteceu, como se a Horcrux tivesse percebido que seu estratagema não tivera resultados favoráveis. Algo se elevou de dentro da taça, uma espécie de vulto feito de uma substância que parecia gás liquefeito, ou líquido gaseificado, uma substância meio imaterial. Essa substância foi tomando forma até se transformar numa mulher de cabelos ruivos e olhos verdes e bondosos. A mãe de Harry, Lílian. O rapaz se enrijeceu. Voldemort era mesmo cruel.

Harry? Meu filho? Por que você quer destruir algo tão divino, uma relíquia tão importante e mágica como essa taça? Não se lembra que foi ela que curou as suas feridas e recuperou o seu sangue, quando foi em procura do que tanto busca? Como pode ser tão insensível? Pela sua mãe, que te ama e morreu por você, não faça algo assim...

Harry olhou para a falsa imagem e, com os dentes cerrados, falou:

— Você não é a minha mãe. Ela seria a primeira a te destruir, caso estivesse viva. E muito menos é Helga Hufflepuff. Com certeza ela não gostaria nem um pouco de saber no que a sua preciosa relíquia e insígnia foi transformada. Então, morra agora!

E desceu o braço com toda a força. Ouviu-se o som agudo de metal contra metal, e logo depois um grito fino e desesperado, como de profunda dor. Apesar de o canivete não ser capaz, normalmente, de sequer amassar a taça, com o sangue de dragão ele a quebrou em duas metades sem ao menos se entortar. O líquido da taça escorreu pela última vez junto com uma substância viscosa que parecia sangue, como se fosse a substância da própria alma negra de Voldemort. Harry e os outros deram urros de alegria e se abraçaram. Antes de saírem de lá, envolveram as duas partes da preciosa taça, agora livre de toda impureza causada por uma substância alienígena tão conspurcada, em tecido conjurado e as levaram consigo. Ela, agora, merecia um descanso num lugar especial. Ana percebeu algo, também. Antes, tinha pensado que a sensação de calor e luz dentro de seu peito tinha sido causada pelos momentos com Carlinhos, mas percebeu que não era só isso. Longe dele, percebeu que parte da sensação vinha do seu Amuleto, que na verdade estivera lhe enviando sensações desde que entrara na reserva. Agora ela tinha certeza, a parte do Amuleto de Merlin do Dragão estava realmente naquele lugar. Ela dividiu com seus amigos essa certeza.

Ao voltarem para o bangalô de Carlinhos, empolgados com o sucesso que tiveram, pois era uma Horcrux a menos que tinham que descobrir e destruir, começaram a pensar em uma maneira de poderem encontrar a parte do Amuleto de Merlin do dragão. Carlinhos viera com todo aquele discurso de perigo e tal, e não percebera que os ajudara muito ao lhes dizer o lugar mais provável onde ela poderia estar, o que os impediria de procurar por todas aquelas montanhas infestadas de dragões. Tinham “apenas” de conseguir uma maneira de irem até lá e permanecerem vivos até conseguir encontrá-la e voltar para a área segura da reserva. Não podiam aparatar nem usar Chave de Portal para ir até lá, porque esses métodos de locomoção eram restritivos e só funcionavam fora da reserva.

Para surpresa de todos, foi Rony quem solucionou esse problema.

— Bem, Harry, eu estava tentando pensar em uma maneira mais segura, mas já vi que não tem jeito. Só há uma maneira de a gente poder ir até o topo dessas montanhas. Voando. Pense, foi uma coisa que serviu no Torneio Tribruxo.

— Mas... mas, Rony... No Torneio Tribruxo o dragão estava preso por correntes... e tinha a postos uma delegação de tratadores prontos a estuporá-los caso as coisas ficassem muito perigosas... Sabe que só vamos poder contar com nós mesmos, e é preciso muitas pessoas para estuporar um dragão. Ora, Rony, eles também voam! Tem que ter outro jeito!

— Sei que não é a maneira mais segura, Mione, mas nas atuais circunstâncias é a única maneira. Me diga, consegue pensar numa ideia melhor? A pé, será impossível, pois estaremos bem mais vulneráveis. Há dragões por todas as partes, mesmo que cada espécie tenha o seu território. Voando, teríamos alguma chance.

— O Rony tem razão, Mione — disse Harry, olhando-os seriamente. — Essa é a maneira mais viável, apesar de ser perigosa. Na verdade, não há maneira alguma que não seja perigosa, não é? Por isso, já que essa é minha responsabilidade, outorgada por Dumbledore a mim, eu estava pensando...

— Ora, cale-se Harry! — disse Ana, para surpresa de todos. — Já estou cansada dessa sua maneira de querer carregar o mundo nas costas. Isso já é complexo de herói, viu? Você já sabe que estamos todos juntos nisso, para o que der e vier. Por isso, poupe-nos.

Hermione e Rony, achando divertida a maneira da amiga se expressar, a apoiaram totalmente, e Harry não pôde fazer nada a não ser ficar calado e aceitar. Iriam procurar a parte do Amuleto à noite, quando Carlinhos, os outros funcionários da reserva e, principalmente, os dragões estariam dormindo. A claridade da lava expelida fraca e constantemente lhes daria luz o suficiente para poder procurar. E se fossem sob o Feitiço da Desilusão, seria ainda melhor — ou menos difícil, se quisermos ser francos.

À noite, quando todos estavam dormindo na reserva, os quatro se levantaram e, pé ante pé, saíram da casa e começaram a subir as escarpas rochosas, seguindo pelo mesmo caminho que tinham seguido pela manhã. Apesar de as montanhas serem vulcões, estava frio e ventava muito. Protegidos pelo Feitiço da Desilusão, eles subiram até chegar à cerca que separava a parte segura da perigosa. Vestiam as proteções de couro de Focinho-Curto Sueco, mas sabiam que elas não eram eficazes contra o ataque contínuo de um dragão, quanto mais de um grupo inteiro desses seres. Perto da cerca, Hermione tirou as duas Firebolts de dentro de sua bolsa e Harry e Rony as pegaram, logo as montando com as moças uma na garupa de cada um. Olhando-se nos olhos com ar decidido e um movimento de cabeça que era como um incentivo, Harry e Rony deram impulso e voaram. Logo viam as montanhas por baixo deles, e a sensação que tinham sobre as vassouras era totalmente diversa da que sentiam quando no chão. No ar, sentindo o vento forte soprando nos seus cabelos, era como se estivessem imbuídos de toda a coragem e determinação necessária para uma aventura do porte daquela. Excitados, sobrevoaram a montanha por todos os seus flancos, procurando o lugar falado por Carlinhos, o ponto onde a lava escorria lentamente.

Por baixo deles, nas escarpas, podiam ver ninhos gigantes com dragões adormecidos dentro, cuidando de possíveis filhotes. A maioria, entretanto, ocupava as cavernas, à noite. E sob a escuridão da noite, era muito difícil identificar espécies. Todos eram apenas grandes e temíveis dragões cuspidores de fogo. Após muitas voltas com as vassouras, descobriram, no cume, o lugar na rocha bruta onde havia uma abertura que despejava lentamente uma viscosa substância que era uma mistura de todos os possíveis tons do vermelho, laranja, amarelo e dourado. Por sorte, não havia dragão nenhum naquela paragem onde estavam tão vulneráveis, pois a luz que a lava produzia era muito brilhante e iluminava tudo num raio de vários metros. E também aquecia, o que era bom para eles, que estavam quase congelados com o glacial vento que soprava nas montanhas da Romênia. Desceram as vassouras e apearam. Olharam em volta.

— E agora? — perguntou Hermione. — Como faremos para encontrar a parte do Amuleto? E pior, se ela não estiver aqui, mas em qualquer outro lugar dessas montanhas?

— Ora, Mione, tenha fé, não venha com sentimentos negativos... Nós vamos encontrar o que queremos e nada vai nos acontecer de mau! — disse Ana, num tom levemente otimista.

Passaram a procurar por todos os lugares — reentrâncias, fendas, sob rochas soltas, mesmo as grandes, as quais levantavam por meio de feitiços. Não conseguiram encontrar nada, entretanto. Logo passaram a desconfiar que, se estivesse ali, a parte do Amuleto devia estar em contato direto com a lava, o fogo que era parte inerente dos dragões. Harry se aproximou da pequena fenda que expelia a lava ardente. Era difícil até olhar para o líquido viscoso formado por minerais derretidos.

— Acho que... que terei que enfiar a mão aí dentro.

Com olhos esbugalhados, os outros olharam para ele.

— Mas... mas, Harry! Sabe a que temperatura está essa lava?! — disse Rony. — Você vai perder sua mão! Se o calor pôde derreter minerais, o que não vai fazer com uma mão de carne e osso?! O couro do dragão não vai suportar...

— Sim, eu sei. Vou precisar da ajuda de vocês. Se nós quatro lançarmos o Feitiço de Congelamento, claro que em conjunto com o couro de dragão da luva, pode ser que dê certo, que eu acabe não me queimando, ao menos muito... Bem, esse é o único jeito, ou vocês têm uma ideia melhor? Não tenho nada mais que a gente possa fazer... Bem, então vamos logo, antes que eu perca a coragem necessária.

Tremendo, ele aproximou a mão esquerda do buraco ardente. Com a outra mão, lançou o mais forte feitiço de Congelamento que foi capaz. Sua mão, que já tinha sentido, apesar da grossa luva de couro, o efeito do calor potente, sentiu o frescor gostoso do ar congelado. Vendo que Harry iria tentar de qualquer jeito, os outros três também lançaram os mais fortes feitiços que puderam, inclusive Ana, que ainda não era expert em feitiços. Logo Harry não sentia mais o efeito do calor. Munindo-se de coragem, ele enfiou de vez a mão dentro do buraco que expelia lava. Tateou em volta como um louco, para ver se encontrava algo. Tinha que agir rápido, pois mesmo o efeito dos quatro feitiços juntos não era páreo para o calor inimaginável da lava. Ele já estava sentindo o couro de dragão da luva começar a derreter em alguns pontos e a pele começar a queimar, embora não muito forte, quando sua mão encontrou algo solto. Não podia ser uma rocha, pois pedra alguma conseguiria se manter inteira ao contato da lava. Ele segurou o objeto, rezando para que fosse a parte do Amuleto que procurava, e puxou a mão. Nem olhou para o que segurava, soltou logo no chão e começou a sacudir os dedos. O couro derretido grudara em seus dedos, e estava queimando sua pele.

— Ai, Ai! Tirem essa coisa de mim!

Os amigos conseguiram tirar a luva da mão de Harry, mas algumas partes de seus dedos estavam cheias de bolhas e com a pele irritada. Pelo menos não era uma queimadura de alto grau. Ninguém sequer se lembrou de olhar para o que Harry tirara de dentro do buraco, nem mesmo ele; Hermione tirou de dentro de sua bolsa uma caixa de primeiros-socorros trouxa, que achara ser de bom alvitre levar consigo, pois o feitiço Episkey era usado para curar cortes e outros tipos de machucados, mas não queimaduras. Não tinham água corrente e gelo, o melhor tratamento contra queimaduras, nem tempo, por isso ela lançou um feitiço permanente de resfriamento nos dedos queimados do rapaz, o que o aliviou bastante, e cobriu-os com gaze e esparadrapo para evitar que as queimaduras entrassem em contato com qualquer outra substância que as infeccionassem. Só então se lembraram do Amuleto. Harry olhou avidamente o chão, procurando-o, e quando seus olhos se fixaram no quarto de esfera prateado que refletia o brilho da lava e que tinha a imagem de um dragão dourado em alto-relevo, ele ergueu a mão direita, a boa, e deu um soco de vitória no ar. Os outros se abraçaram, contentes.

— Mas... Mas como é que não derreteu? — perguntava-se Rony. — Se derrete minerais e outros metais...

— Esse não é um simples metal, Rony — disse Ana. — Aberforth me disse que ele é um metal mágico só encontrado na lua. Só não me pergunte como Merlin o conseguiu, isso talvez esteja escrito no livro de Merlin, não sei, não leio em runas antigas. Pode ser que ele seja mais resistente que os metais encontrados na Terra.

— Bem, agora a gente tem que voltar para a área residencial. Tivemos muita sorte, tudo deu tão certo...

— Harry não diz uma coisa dessas — cortou Rony, pois a cada vez que Harry falava algo do tipo, alguma coisa, coincidência ou não, acontecia.

— ... até agora — Harry terminou sua sentença, e foi aí que tudo “se danou”.

Ao se levantar, ele bateu com força sem querer a mão queimada numa das rochas pesadas que tinham afastado para procurar a parte do Amuleto e tudo aconteceu de uma vez. Na mesma hora em que ele soltou um grito aterrador e ecoante, a pedra deslizava despenhadeiro abaixo, e a cada batida que dava, enquanto rolava nas escarpas rochosas, um alto som retumbava. Os quatro, paralisados de choque, apenas se encolhiam a cada retinido que ouviam. Quando o silêncio se fez, eles ficaram com as respirações em suspenso, pois era um silêncio tão pesado e denso que parecia que poderia ser cortado com uma faca. Um daqueles silêncios mortais que sempre eram prenúncios de uma tempestade ou algo igualmente violento.

Um som que a princípio era surdo, de algo que ainda estava se aproximando, encheu o ar, e era como um som agourento, que arrepiava os cabelos da nuca deles. De vagar, aproximaram-se da borda do despenhadeiro. Era um verdadeiro pandemônio o que perceberam que aconteceria. Pelo que parecia, a pedra despertara os dragões em peso. Uma revoada de dragões de vários tamanhos e espécies diferentes subiam voando em espiral, como que enlouquecidos, misturando-se, o que não era normal entre as espécies draconianas. Não devia ser normal para eles serem despertados em plena noite por um barulho tão alto.

Era uma cacofonia de gritos, ou seja lá como se chama a “voz” dos dragões, cada espécie tinha uma maneira diferente, ao menos na altura, e eles anunciavam o pandemônio que ia acontecer em breve bem ali, onde os quatro estavam. Harry foi para trás, guardando a parte do Amuleto em seu bolso. Os quatro, para poder se ver sem problema, tinham se desfeito do Feitiço da Desilusão, e agora não tinha mais tempo de usar o feitiço de novo. Iluminados pelo brilho laranja do fogo, eles recuaram e se puseram contra uma rocha. Ali em cima não tinha caverna alguma em que pudessem se proteger. O barulho crescia cada vez mais em intensidade, até que eles viram os primeiros dragões aparecerem, seus corpos grandes subindo em espiral, batendo uns nos outros, o que aumentava o desespero deles. Eles passavam sem ao menos olhar para os humanos que tremiam ali perto. Era como se só quisessem sair dali. Entretanto, um deles pareceu parar e farejar o ar com suas imensas narinas. Logo, seus olhos muito saltados, sagazes e de aparência cruel se fixaram nos seres que se espremiam contra as rochas, olhando-o aterrorizados. Farejou mais e começou a descer.

— Rony! — gritou Harry, tentando se fazer ouvir em meio àquela zoada. — Pega a Firebolt e vamos “dar no pé”!

Rápidos, pois sentiam que a qualquer momento o dragão podia alcançá-los, montaram nas vassouras, com Hermione e Ana nas garupas, e levantaram vôo urgentemente. Foi uma sorte que Harry pensasse logo naquilo. Poucos segundos mais que permanecessem ali, teriam recebido uma descarga feroz, em forma de cogumelo, de fogo. O dragão, ao ser iluminado, mostrou ser um Meteoro-Chinês, enorme e belo, porém mortal. Suas lisas escamas vermelhas brilhavam contra a luz da lava, bem como a franja de cristas douradas em torno do seu focinho arredondado. Eles sabiam que aquela espécie era agressiva e, pior, o que mais gostava de comer eram porcos e... humanos! Eles voaram rápidos, mas o Meteoro-Chinês vinha atrás deles, soltando labaredas de fogo, e eles tinham que fazer movimentos bruscos que faziam as garotas se agarrarem mais a eles e gritarem. Sorte deles que tinham bons reflexos sobre uma vassoura por causa do Quadribol. O pior aconteceu quando, alvoroçados pela “caça” do Meteoro-Chinês, muitos dos outros dragões entraram na “disputa” pelas “coisas” que fugiam voando deles.

Os quatro tentaram lançar feitiços, mas era muito difícil atingir os dragões daquela maneira, de costas e em franco movimento, além de que a grossa couraça que revestia os dragões impedia que a maioria dos feitiços fizesse algum efeito neles. Seu ponto mais vulnerável, os olhos, eram muito minúsculos em relação ao seu tamanho para poderem atingir sem mirar. Se conseguissem ultrapassar a cerca repelente de dragões... Entretanto, as feras eram muito rápidas, e por mais que as Firebolts fossem velozes, os dragões eram muitos. Eles já estavam quase perdendo a batalha, suas roupas e a palha das vassouras já tinham sido chamuscadas várias vezes quando o que parecia ser um milagre aconteceu: um bom número de vassouras montadas por homens usando grossas vestes de couro apareceu. Vinham em formação de delta, como aviões de ataque, e no meio e na frente, como se fosse o comandante, vinha Carlinhos Weasley, seus cabelos ruivos voando para trás, uma expressão determinada e pétrea no rosto. Os olhos dele vinham fixos na revoada de dragões, algo em riste nas mãos. Os outros que o seguiam pareciam ter a mesma determinação, e partiram para cima dos dragões com umas armas estranhas desconhecidas por Harry e os outros. Eram nove homens, todos disparando uma espécie de dardos que deviam conter uma poção altamente tranquilizante. Disparavam seguidamente vários dardos em cada dragão, pois não era fácil conter um deles com apenas um. Quando as vassouras de Harry e Rony chegaram perto deles, puderam notar o era a tal arma, que lembrava uma besta medieval, mas com entrada para duas coisas, o lançador de dardos e a varinha mágica do bruxo na parte diretamente abaixo, como se fosse uma defesa a mais. Como tratadores dos dragões, eles tinham como lema não ferir os bichos, a não ser que não tivesse como se safar e tivessem que defender a própria vida e integridade do corpo. Harry e Rony levaram as vassouras para trás dos homens de Carlinhos, ficando defendidos por três dos lados pela formação de delta deles. Queriam ajudar, mas sabiam que só podiam atrapalhar, naquele momento. Era melhor deixar aquilo nas mãos de profissionais.

Pouco a pouco, os homens de Carlinhos foram acalmando uma boa parte dos dragões, que ficavam meio sonolentos e lentos, incapazes de lançar suas labaredas de fogo, e atrapalhavam os que vinham atrás deles, o que dava tempo para irem sempre recuando, levando as vassouras de ré. Quando já estavam relativamente próximos da cerca, eles desfizeram a formação de delta, puseram as vassouras de Harry e Rony na frente deles, como se para protegê-los como um escudo humano e partiram rápido para ultrapassarem a cerca. Atrás deles, alguns dragões mais afoitos ainda vinham vorazes, lançando no ar rajadas de fogo. As vassouras passaram como um raio a cerca repelente de dragões, e esses ficaram do outro lado, urrando tão alto de raiva que com certeza era possível ouvi-los a quilômetros de distância.

Enfim, todos voaram mais devagar pela parte segura das montanhas, em direção à parte habitável da reserva. Longe do alto das montanhas, da lava ardente, o vento tornava a ser gelado, e o contraste do que sentiam antes com o que sentiam agora causava profundos arrepios nas peles de Harry, Rony, Hermione e Ana. Eles tremiam, mas não era só de frio, mas também de choque, de reação retardada. Harry fora o único a enfrentar um dragão entre os quatro, e o bicho estivera preso e cheio de tratadores por perto, e fora apenas um. Um bando deles, vorazes e agressivos, nunca estivera nos planos deles. Nenhum dos treze que vinham nas vassouras falava nada. Sentimentos bastante contraditórios eram abrigados, alegria e alívio por não terem se machucado, raiva (de Carlinhos e dos tratadores), pelo que Harry e os demais tinham feito. Finalmente, apearam em frente ao prédio principal. Os tratadores de dragões apenas os olharam de maneira séria. Era a primeira vez, entretanto, que Rony via seu simpático e bem-humorado irmão com aquela cara. Uma que parecia mais a do Snape, da McGonagall ou do Percy, ou talvez dos três juntos. Não estava preparado para a reação do irmão, quando esse se aproximou dele, segurou-o pela gola da camisa e o levantou por ela, gritando:

— O que era que você estava querendo, seu moleque estúpido?!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e, please, comentem,! reviews são como combustível, e, além de tudo, sempre nos ajudam quando a gente se sente na pior.

Beijos da Ana!



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