Sacerdote Riorian -  disse uma voz familiar com um tom mais rouco - Bem na hora, não ?
Lá estava eu de novo, naquele horrível pesadelo .
Eu me encontrava deitado num pedestal de pedra encravado com caveiras humanas . Eu sentei e olhei em volta : Era uma sala mal iluminada com velas em pequenos buracos nas quatro paredes de pedra que me cercavam e uma saída para um corredor escuro; eu não estava mais naquela capela sinistra ... eu não fazia ideia de como eu tinha ido parar ali, mas havia alguma coisa nos dois vultos que estavan na minha frente que me faziam acreditar que minhas respostas chegariam .
Um deles eu já 'conhecia', era o senhor que eu tinha encontrado na capela ; e, olhando bem para o segundo, eu comecei a reconhecê-lo também : era um homem alto, magro, com uma batina preta esfarrapada  e com um cabelo curto com um corte repicado .  Ele ainda tinha um dos olhos intactos, sua boca estava meio de lado, seus lábios eram roxos e sua pele estava um pouco mais conservada .
Padre Anakh'Alynn, um dos honorários da Igreja da Sindilária .
- Santíssimo ... -  disse eu, um pouco aliviado por ver um rosto conhecido - O que aconteceu conosco ? Que lugar é esse?
- Riorian, nós fomos amaldiçoados... - Disse o padre, com um olhar vazio.
- C.. Como assim?
- Não sabemos quem, mas, há alguns anos, uma maldição muito poderosa foi jogada na nossa terra, fazendo-nos voltar a uma pós-vida . Riorian ...
- Então ...- interrompi o padre - eu estou morto ?
- Você morreu há muitos anos, Riorian ... não fazíamos ideia que você algum dia retornaria ... pensamos que você seria um dos únicos que descansaria em paz ...
- Mas, se isso tivesse acontecido, eu saberia ! Eu não morri ! Eu saberia ...
-  Até este momento, eu pensava que Deus não estava conosco, mas Ele te mandou, Riorian ... - Disse
Eu não sabia o que dizer ... aquilo parecia não ser real ... Quem poderia nos amaldiçoar desta maneira ?
-  Estamos aqui refugiados por causa das Guerras Espirituais . - disse o padre com tom de medo .
- Como assim Guerras Espirituais ?
- Nós temos sido caçados desde quando a maldição se alastrou no nosso reino, antiga Sindilária . Outros povos como os Elfos e até mesmo os Humanos do norte nos vêem como sinais do apocalipse . Eles nos caçam para nos mandar pro inferno .
- Muitos de nós foram capturados e exorcizados por eles, a Armada Siana ... eles rondam as nossas fortalezas no intuito de achar um ponto fraco .  Em breve, estaremos todos no inferno . - interrompeu o padre o senhor da capela, com o mesmo tom sombrio .
Olhei para o padre Anakh no intuito que ele me dissesse ao contrário ... que ele retirasse o que eu havia acabado de ouvir ...
- Infelizmente, - disse o padre em resposta ao meu olhar - tudo o que Sillon disse é real...
...
 Depois de pensar um pouco, percebi que tudo começava a fazer sentido ... eu me lembrava de mim ! Me lembrava de minhas habilidades como sacerdote, minhas habilidades sagrada de luta, dos meus aprendizados na Igreja ... eu me lembrava do meu passado !
E esse nome, "Armada Siana", me fez lembrar de um antigo ...
- SIANOO ! - gritei eu, me lembrando do meu melhor amigo - Siano ... onde ele está ? Ele também se transformou em um ... um ... Um de nós ?
- Riorian, - disse o lentamente o padre - você realmente não se lembra ?
  Era verdade que ainda faltava uma peça pra tudo se encaixar ... ainda faltava um elo . O que havia acontecido comigo para eu ter parado aqui ?
Eu fiz que não com a cabeça .
 -Não faz muito tempo ...  anos atrás,  - continuou o padre- você o Siano saíram pra caçar uma bruxa que ficava perto das terras proibidas ... Siano disse que a batalha estava muito árdua, você o salvou diversas vezes , porém, não foi capaz de se salvar . Ele não entrou e detalhes, mas trouxe seu corpo até nós e pediu para que você tivesse um enterro digno .
Eu mal podia acreditar no que acabava de ouvir ... eu estava chorando mas nenhuma lágrima saia dos meus olhos . Deus, por quê ?
- Alguma notícia dele, até então ? -  disse eu desconsolado
- Claro ... - disse o padre em tom sombrio - É ele quem lidera a Armada Siana .
Aquilo foi um grande choque pra mim . Saber que o meu melhor amigo estava atrás de mim para me exorcizar como se eu fosse uma alma do mal era realmente triste. No momento, eu não sabia o que pensar, foi tudo tão rápido... eu ainda não conseguia entender o que acontecia .
 Maldições fazem isso ? Isso tudo? ... Eu tinha realmente que aceitar o fato que meu povo tinha sido vítima de uma maldição . Agora, eu devia me perguntar o que fazer para passarmos por essa situação...
- Me levem pra fora, por favor . Eu preciso de ar .... - eu disse sem ânimo .

- Não antes de - disse o santíssimo me dando as costas e pegando um copo cheio de um líquido verde espumante - Tome isso. Você precisa .
Antes que eu protestasse, o copo já estava encostado em meus lábios e então eu os abri . O líquido tinha um gosto forte, era como se tivesse tomando algo inflamável ... Aquilo desceu queimando . Estremeci ao senti-lo estourando meu estômago ...
- Argh !! - eu gemi de dor - O que ... é isso ?
- Isso é pra acabar com as bactérias que decompõem sua carne ... - disse o padre - Medidas necessárias, Riorian ...
Era como se por dentro de mim estivesse pegando fogo, borbulhando; eu podia ouvir um pequenos chiados, como se a pressão interna estivesse escapando por buracos em minha barriga .
No momento, só o que eu queria era sair dali;  tomar um ar, ver como era o redor, mesmo sabendo que não podia ser melhor do que dentro daquela sala assustadora .
- Eu preciso sair daqui - disse eu com uma expressão descontente .
- Nakh, se me permite ...
- Leve-o, Sillon . - Permitiu Anakh - Eu preciso formar esquadrão que entregará a solicitação para a nossa união com A Horda .
- Siga-me, Riorian .
- Santíssimo,- reverenciei a ele .
- Vá, Riorian ... Brevemente te procurarei para um trabalho, se ainda tivermos tempo necessário - Disse o padre
- Às suas ordens - disse eu, enquanto seguia o Sr. Sillon que se esgueirava pelo corredor sombrio como um espírito .