O jovem olhou para o lado vazio da cama de casal. Vazio. Suspirou descontente. Era a segunda vez naquela semana que ele e sua esposa discutiam e ela ia para a casa do irmão mais novo.

– Problemática... – sussurrou para a noite quente de verão – Sabe de uma coisa? – Ele falava com seus botões sentando-se na cama – Quem ela pensa que é para abandonar a casa dela assim?

Sem mais demora pegou o celular que ficava na mesa de cabeceira e apertou o número um da chamada de discagem rápida e aguardou. Chamou uma, duas, três, sete vezes e ninguém atendeu.

– Eu sei que você está colada nesse celular Temari! – Guinchou de olhos fechados massageando as têmporas – Admito que eu errei, agora volta para casa... Eu te amo. – Murmurou antes de desligar.

Deitou novamente e observou o teto, gostaria que fosse de dia para poder olhar as nuvens e ficar mais calmo. Porém como tudo era tão problemático ele e a esposa tinham de brigar depois que o sol se punha. Estava entediado.

Saltou da cama de um pulo com uma decisão clara no cérebro estrategista. Ia para o cais.

Trancou a casa e escreveu com giz na porta de madeira em letras de forma: Você sabe onde me encontrar, a luz estará acessa problemática.

Quando terminou de escrever jogou o toco de giz no gramado e foi abrir o portão para sair com o carro. Pouco se importava se eram três da madrugada, logo estaria amanhecendo e ele poderia passar o dia todo à base de bolinhos de arroz e nuvens. Só.

Meia hora depois Shikamaru estacionava o carro em um lugar iluminado perto do cais, já podia ver o seu querido barco de lá.

Desceu do veículo e acionou o alarme, qualquer coisa estaria por perto.

Seu barco era um veleiro não tão pequeno que herdara do pai, mesmo ele ainda sendo vivo. Seu pai dissera que a melhor lua de mel era aquela que não envolvia muitos gastos, por isso o pai lhe dera o barco que ambos construíram quando o jovem ainda estava no ensino médio. Melhor época da sua vida.

Andou despreocupado vendo algumas nuvens no horizonte se tingirem de roxo, logo o sol surgiria imponente e mais um dia começaria. Amava o verão por causa disso, dias mais quentes e longos; perfeito para quem amava o mar.

Só faltavam mais alguns metros quando percebeu uma coisa. Uma luz verde estava acessa dentro do barco.

Sorriu satisfeito.

– Temari? – Chamou já dentro do barco.

– Shikamaru... – ela vestia apenas uma regata e um short curto – Eu... – começou.

– Shhhhh! – Ele pôs o indicador colado nos lábios dela silenciando-a – Vamos fazer uma coisa. Eu me arrependo e você também e vamos pensar melhor no projeto bebê Nara 2010. O que você acha?

A loira sorriu e abraçou o pescoço do marido.

– Sabia que você não iria resistir aos meus olhos verdes...

– Problemática... – o jovem rodou os olhos, brincalhão, um sorriso bobo brincando nos lábios finos.

– É a mãe...

– Você sabe que ela também! Mas... Eu pensei que seria eu a lhe esperar aqui – ele falou contrariado descolando o corpo dela do seu e olhando de maneira penetrante nos olhos verdes.

– Você é muito lerdo Shikamaru, se eu dependesse de você a nossa luz queimaria – Temari girou os olhos e se esticou para desligar um interruptor, na mesma hora a luz verde se extinguiu – Você sabe que essa lâmpada já tem dois anos, não é?

– Como eu poderia esquecer? Foi a primeira coisa que compramos depois de casados, acho que se eu esquecesse você faria o favor de me lembrar a quebrando na minha cabeça, não é?

– Baka... – murmurou semicerrando os olhos.

– Mas eu não preciso dessa luz para me lembrar do nosso casamento – disse o moreno de maneira convicta, bocejando em seguida.

– Não? – Temari ergueu uma sobrancelha especulativa.

– Iie. Não preciso. Eu posso encontrar essa mesma luz no seu olhar. E pode ter certeza de que sempre eu estarei buscando essa luz no seu olhar, não importa onde ou como – a voz dele foi abaixando de tom até se tornar um sussurrou – sempre...

Os olhos verdes da jovem se encheram de lágrimas e ela enterrou a cabeça do peitoral do marido. Ele nunca havia falado coisas tão bonitas assim para ela.

– Não me faça chorar! – A loira falou com a voz saindo meio abafada.

– Tudo bem, tentarei não fazer... – Shikamaru sorriu e afagou as costas da esposa – Mas que tal vermos as nuvens?

– Você não muda mesmo não é? – Ela se afastou e balançava a cabeça descrente.

– Alguma vez eu disse que iria mudar? Isso é tão problemático... – Ponderou com um bocejo.

– Sabe de uma coisa – Temari juntou se corpo no dele – não quero que você mude. Você pode ser o cara mais preguiçoso que eu conheço, mais eu me apaixonei por você assim. Fazer o que, não é?

– Fazer o que, não é – repetiu as últimas palavras da loira e aproximou o rosto do dela, afagando de leve a pele macia do rosto sorridente dela.

– Baka... – foi a última coisa que disse antes dos lábios famintos do esposo tomarem o seu. Ao fundo o sol nascia tingindo as nuvens de tons entre vermelho e laranja, nada como o começo de um novo dia quente de verão.

Fim.