PDV KAIO

Karina me olhava com aqueles olhos vermelhos, sedentos de sangue e seus cabelos pareciam fogo.

- O que está fazendo aqui? – eu perguntei.

- O que você acha?

Tentei raciocinar. Como ela tinha entrado? Rany e Karina, minha irmã, estavam guardando a entrada. Percy e Annabeth estavam vigiando a praia. Só se...

- Como você entrou? – perguntou Gabi

- É óbvio não é? – eu disse – Pela floresta do acampamento.

- Isso mesmo. E sabe o que eu estou fazendo aqui?

- Esclareça por favor. – eu disse

- Eu vim acabar com a sua vida – ela disse num tom frio

Eu gelei. Me lembrei de quando senti a pontada no pulso, e Bianca me disse que era uma ameaça de morte. Então Karina queria me matar? Tentei ganhar tempo:

- Por que quer me matar?

- Acho que não preciso te responder isso agora. Vou tentar te matar primeiro e aí nós vemos, se você sobreviver eu te conto ok?

Saquei minha espada de ouro e Gabi sacou a dela de prata. Karina investiu contra mim, jogando Gabi na parede oposta. Com a espada investi contra a barriga dela, mas como Karina era invulnerável, minha espada se quebrou em mil pedaços. E agora o que eu iria fazer? Legal, e agora? Tô sem arma, com dois patetas desacordados no chão e a Gabi tá do outro lado da sala. Karina tirou a faca dourada do meu bolso e a ergueu ameaçadoramente:

- Morra Kaio Solary.

Fechei os olhos. Karina levantava a faca para cravá-la direto no meu coração. A última coisa em que pensei foi: “Rany, eu te amo.”

PDV GABRIELA

Pisquei os olhos tentando afastar a dor na cabeça por causa da pancada na parede. Ao longe vi Kaio encurralado na parede. Sua espada aos cacos no chão e Karina prestes a perfurar seu coração.

Tirei minha faca de prata do bolso e joguei contra a asa dela. A faca perfurou sua asa e atingiu a mão, fazendo Karina errar o coração por pouco e acertar o ombro.

Eu não sei qual dos berros foi pior. Karina por ter a asa perfurada, ou Kaio por ter uma faca cravada por inteiro no ombro.

Corri até ele enquanto Karina se recuperava da dor na asa.

- Você está bem? – perguntei.

Ele puxou a própria faca dourada do ombro, completamente ensangüentada.

- Como você acha que eu to?

- Prefere seu ombro ou seu coração? – perguntei indignada

Mas, não tínhamos tempo para conversar. Karina veio pra cima com um soco que acertaria nossas cabeças se não tivéssemos desviado um pra cada lado. O soco pegou na parede, que se espatifou em vários pedaços. Onde estão Renan e Felipe quando precisamos deles?

A resposta veio em seguida quando os dois abriram a porta.

- O que é isso? – perguntou Felipe vendo a bagunça.

Karina virou para trás e com uma batida do braço jogou os dois no lado oposto da sala, onde eles caíram desacordados.

Eu e Kaio nos levantamos. Empunhei minha espada e ele pegou sua faca toda cheia de sangue.

- Você precisa morrer! – gritou Karina

Ela veio pra cima. Bloqueei o braço dela com a espada e por incrível que pareça, saíram faíscas do choque. Com o outro braço dela agarrou o pescoço de Kaio e apertou, para sufocá-lo.  Bati com o cabo da espada na cabeça dela.

Karina ficou meio tonta e afrouxou o pescoço de Kaio. Bati no pulso dela e ela finalmente o soltou, deixando-o desabar no chão.

Ela pegou minha faca de prata no chão e começou a lutar comigo.

Bloqueei o ataque no pescoço e na barriga, mas eu sabia que não poderia atacar. Enquanto não achasse o ponto de Aquiles eu não poderia correr o risco de atacar e perder a espada igual ao Kaio.

Mas, aí eu vi o corte na asa. É isso, as asas das empousai não são invulneráveis.

Me abaixei para evitar um golpe no pescoço e quando levantei cravei a espada na asa dela e puxei pra baixo, fazendo um rasgo enorme.

Ela soltou minha faca que caiu no chão e se afastou gritando. Voltei pra trás onde Kaio ainda tentava pegar ar.

- Escuta – eu disse pra ele – Ataque na asa entendeu? Na asa. É o único lugar visível que atinge ela.

Ele assentiu. Mas, Karina já voltava e tinha ódio puro no olhar.

PDV KAIO

Ferrou. Segurei a faca com força na mão, mas Karina não me atacou. Ela levantou Gabi pelo pescoço, olhou em seus olhos, socou sua barriga e a jogou na parede do outro lado. O sangue que escorria de seu cabelo indicava que ela tinha batido a cabeça.

Então foi a minha vez. Escondi bem a faca para ela não ver que eu ainda a segurava.  Ela tentou me socar na cabeça, mas eu desviei e ela socou o ar. Isso se repetiu três vezes,até ela decidir outro ataque. Segurou em meus ombros, me abaixou e chutou minha barriga com o joelho.

Quando me levantei, quase recuperado da dor, ela finalmente acertou o soco em cheio no meu nariz. A força foi tanta que eu pensei que iria perder o pescoço com o impacto que ele foi jogado para trás.

Por sorte, não estava quebrado. Mas, estava sangrando, e muito.

Karina veio andando e eu fui indo para trás até encostar na parede. Ela atacou direto na cabeça, me abaixei e cravei a faca na asa esquerda. Puxei pra baixo fazendo um rasgo do início ao fim, cortando assim uma parte da asa inteira.

Karina soltou um berro aterrorizante. Saí correndo de perto dali o mais rápido que pude, mas não podia arriscar ir pra perto de Gabi agora.

Karina agora tinha metade de uma asa arrancada e a outra ensangüentada.

- Admito que te subestimei, Kaio – ela disse – Mas, eu tenho um propósito aqui e você... morre!

Ela apareceu tão rápido na minha frente que eu só pude sentir o chute no peito e minhas costas se arrebentando contra algo que se quebrou.

Quando abri os olhos, vi o céu escuro da noite e senti a grama, onde eu estava deitado. Eu quebrei a porta e agora me encontrava do lado de fora.

Minha vista estava meio embaçada, não consegui ver nada. Assim que minha visão se normalizou vi alguém saindo da sala branca. Ranielly vinha em minha direção:

- Rany? – perguntei me sentando na grama

- Kaio? Kaio você está bem? – ela perguntou correndo na minha direção.

- Estou, mas... O que você tá fazendo aqui? – perguntei

- Ouvi alguma coisa vindo daqui e vim correndo. Quando cheguei vi todo mundo desacordado e você do lado de fora.

- Mas, e Karina? Cadê ela?

- Calma, amor. Tá tudo bem. Ela fugiu assim que eu cheguei. Pensou que você estivesse morto. Pensou que sua missão tinha sido cumprida.

Amor? Espera um minuto. Ela nunca me chama de amor. Nunca. E...

- Como você sabe que a missão de Karina era me matar?

Ela não respondeu.

- Eu só fiquei sabendo disso hoje quando ela chegou. – eu disse desconfiado.

- Ei, calma... eu só deduzi que fosse isso porque ela deixou os outros vivos.

- Rany...

Ela segurou meu pescoço com as duas mãos em um gesto tranqüilizador.

- Shiiu, o importante é que você está bem.

Meu olhar baixou para seu braço. O braço direito tinha alguns machucados e o esquerdo estava completamente ensangüentado:

- Como você machucou o braço?

- Eu já disse. Karina é claro.

- Mas, você disse que quando chegou, ela estava indo embora. Como pode ter se machucado?

Ela sorriu. Um sorriso que logo desapareceu. Seus olhos ficaram vermelhos e ela fechou a mão em torno do meu pescoço. Se levantou, me levantando junto no ar e mantinha o rosto com expressão de ódio:

- É. Não dá mesmo pra te enganar não é? – ela disse – Filho de Apollo.

Seus cabelos viraram fogo e sua pele branca. Karina havia se transformado em Ranielly para me atingir.

Ela me jogou de volta dentro da sala, onde, mesmo com a distância eu pude bater a cabeça e as costas contra a parede.

Sei que meu nariz ainda sangrava e senti algo quente escorrendo da testa, sinal de que esta também estava machucada.

Karina pegou a espada prateada de Gabi, que estava ao lado dela, ainda desacordada.

Quando chegou à minha frente, ela se ajoelhou e empurrou minha cabeça contra a parede duas vezes.

Minha vista ficou turva e embaçada. Pontinhos pretos dançavam em frente aos meus olhos. Eu não conseguia enxergar nada. Tudo que pude ver foi o brilho prateado da faca de Gabi e ouvi Karina repetir a frase final:

- Morra Kaio Solary!