PDV GABRIELA

Abri os olhos aos poucos, forçando minha cabeça a voltar a pensar. Foi quando me lembrei que provavelmente ainda estávamos lutando.

Do outro lado, Karina erguia minha faca de prata para matar um Kaio Solary desacordado. Peguei minha espada e fui até ela. Sentia minha têmpora sangrando.

Cheguei por trás sem fazer o menor barulho. No exato momento em que ela iria descer o braço com a faca, cravei a espada no ponto em que a asa se encontrava com a pele nas costas e puxei.

A asa caiu por inteiro. Karina largou a faca que caiu e fez um fino corte abaixo do olho de Kaio. Seus gritos eram ensurdecedores.

Seu lado esquerdo inteiro sangrava. Os gritos logo pararam e deram lugar a uma expressão de ódio puro. Ela esqueceu completamente de Kaio e se virou para mim com a pior cara que eu já vi na vida:

- Parece que eu não consigo terminar o serviço com você aqui. – ela veio andando até mim – Então vou acabar com você primeiro, filhinha de Poseidon.

Fui andando para trás, mas tudo que encontrei foi a parede. Em questão de segundos Karina já apertava meu pescoço e me erguia no ar.

Eu não conseguia respirar. Era como se ferro puro se fechasse em volta da minha garganta.

- Você daria uma boa aliada sabia? Logo estaria vindo para o nosso lado e fortalecendo ainda mais o nosso exército. – ela disse – Mas, acho que você ainda não está pronta para virar uma empousai. Ejetarei veneno o suficiente apenas para você sentir a dor e a agonia que é estar com sua vida mudando pra sempre.

Tentei evitar me debatendo, tentei gritar, mas ela apertava minhas cordas vocais. Eu não tinha mais tempo. Ela cravou os dentes no meu pescoço e me soltou.

Caí no chão tremendo e me debatendo. O veneno corria pelas minhas veias me queimando por dentro. Tinha consciência de que eu berrava de dor e da risada fria de Karina, mas não conseguia ouvir nada.

Ela como se tivessem ateado fogo dentro de mim. Me queimando cada vez mais. Minha cabeça estava prestes a explodir. Fechei os olhos. Ou talvez tudo tenha ficado escuro. A dor era insuportável.

A queimação nas veias e no sangue começou no ombro, e se estendeu por todo o meu braço esquerdo. Sentia meu coração batendo acelerado através da têmpora que pulsava.

Se eu estava morrendo, queria que acabasse logo.

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PDV EDUARDO

Minha consciência voltou aos poucos com os gritos terríveis de alguém. Piscando para afastar a repentina dor de cabeça, vi a empousai que todos chamavam de Karina, gargalhando friamente. Gabi se debatia no chão com os olhos fechados e era dela que vinham os gritos. Kaio estava sangrando e desacordado ao meu lado.

Os outros garotos também acordavam. Karina percebeu. O mais rápido que pude, me levantei e puxei a espada. Os outros três fizeram o mesmo. Ela iria atacar, mas foi impedida pela quantidade de gente que entrou na sala através do lugar onde antes havia uma porta.

Rany, Érick e Karina (irmã do Kaio) entraram na sala com as espadas em punho. Karina olhou em volta e depois para Gabi:

- Acho que não vou conseguir terminar minha missão aqui. Cuidado com a garota. Se não correrem, logo ela será uma de nós. Mesmo que o veneno seja demorado. Não vão querer que ela sofra não é?

E desapareceu usando o teletransporte. Mesmo assim sua gargalhada penetrante ecoou em meus ouvidos.

- O que aconteceu aqui? – perguntou Karina – Escutamos os gritos de alguém do outro lado do acampamento.

Érick largou a espada e correu para Gabi que continuava se contorcendo e gritando no chão com os olhos fechados.

- O que aconteceu com ela?

Renan foi correndo para perto dos dois:

- Karina mordeu ela. Vai virar uma empousai em pouco tempo.

Os gritos de Gabi eram como um balde de água gelada. Congelavam.

- Não tem nada que a gente possa fazer? – perguntou Érick

Renan balançou a cabeça negativamente. Tentei lembrar do pouco que eu sabia sobre empousai. Foi aí que eu me lembrei:

- Érick dá um choque nela! – eu disse

- O que?

- Dá um choque no local da mordida.

- Por que?

- A corrente elétrica em contato com o sangue envenenado causa uma espécie de curto-circuito assim o veneno vai paralisar.

- E isso é... – disse Rany

PDV ÉRICK

O que? Eu teria que meio que eletrocutar a Gabi? Não. Nunca. Ver ela sofrendo desse jeito, gritando de dor.

Ela abriu os olhos. Não eram mais pretos, estavam vermelhos. Aos poucos seus cabelos viravam fogo e esvoaçavam. Sua pele estava se tornando branca.

- ÉRICK AGORA! – gritou Rany desesperada

PDV GABRIELA

O veneno agora percorria todo o meu corpo.  Não sei mais descrever a dor. Nem sei mais como pensar. Estar queimando em uma fogueira seria melhor do que isso. Senti meu corpo começar a pesar. A temperatura do meu corpo caiu uns dez graus. Minha vista se tornou turva. O que é isso?

Minha garganta estava se fechando, eu não conseguia respirar. Meu coração aos poucos perdia as batidas. Eu estava me tornando uma delas.

Mas uma dor um pouco menos intensa que atingiu meu pescoço me despertou do transe. Era uma dor gelada que me atingiu.

Ela voltou a ocorrer várias vezes.

A dor nas veias aos poucos foi parando. Senti a temperatura se normalizar. Meu corpo voltou a ter o mesmo peso. Minha vista voltou ao normal.

PDV ÉRICK

O cabelo dela voltou ao normal. Os olhos retomaram a cor preta e a pele o tom rosado.

Mas toda a parte onde o veneno tinha parado se tornou branca. Todo o lado esquerdo estava pálido e algumas veias azuis eram visíveis.

- Você está bem? – perguntei

Ela não respondeu. Desmaiou.

Olhei para Eduardo a procura de algum sinal bom em seus olhos. Como que se soubesse minha pergunta muda ele respondeu:

- Ela vai ficar bem. Bom trabalho, Érick.

Rany correu para Kaio que estava desmaiado e cheio de machucados. Agora tudo estava bem.

Pelo menos por enquanto.