Make Me Wanna Die escrita por Aphroditte Glabes
O rapaz fez algo com as mãos e um turbilhão de água voou e bateu contra o pássaro. Ele grasnou raivoso e sumiu em fumaça preta. Caralho, o que ta acontecendo aqui? Com um susto, a armação do duto cedeu e eu cai no chão, com um grito. O garoto correu até mim e me ajudou a levantar. Olhando mais de perto, ele era atraente. Tinha cabelos negros desgrenhados e olhos verdes como o oceano.
-Você está bem?
Tossindo, eu respondi:
-Acho, acho que sim! Aquilo era mesmo o que eu pensei?
-Depende do que você pensou! – ele disse relutante.
-Aquele lance da mitologia grega, Ethon... o corvo de Prometeu...
Ele estremeceu, mas estendeu a mão.
-Lucas Ross.
-Julie Olivier.
Ele assentiu.
-É, eu sei. Preciso que venha comigo.
-Perai, nem te conheço direito Lucas.
Ele revirou os olhos.
-Vamos para sua casa então, sua mãe vai escutar.
-O que... – fui dizendo, mas ele me puxou pela mão até uma moto, onde eu sei entender subi na garupa. Um ronco indicou que ela estava ligada, e acelerando nós saímos derrapando do pátio da biblioteca.
-Depois você vai me contar o que ta acontecendo! – gritei no ouvido dele.
-Sim – ele berrou de volta.
Em dez minutos chegamos em casa, escancarei a porta e gritei:
-Charity, Brad. Onde estão vocês?
-Julie? – perguntou Charity, correndo na minha direção. Eu abracei-a e perguntei:
-Onde está Brad?
-No quarto dele com uma garota...
Revirei os olhos enquanto vi pelo canto do olho Lucas sorrir. Fui até o quarto dele e nem bati na porta, entrei de uma vez e vi uma cena que não gostaria de ver. Brad deitado sobre uma garota na cama. Ai... que nojo.
-Brad – eu disse censurando-o.
Ele se levantou e a garota loira também, com olhos de culpa.
-O que foi Julie?
-Temos que ir, agora.
-Ir aonde?
-Não sei exatamente – admiti.
Ele bufou.
-Vamos - eu disse – Pegue logo suas coisas que eu ajudo a Charity.
-Mas...
-Tem haver com papai – eu disse, contrariada.
Ele ficou pálido de repente.
-Ok.
Enquanto Brad dispensava a garota e arrumava suas coisas eu peguei o telefone e liguei para mamãe.
-Mãe – eu disse – Tem um cara que quer falar com você.
Passei o telefone para Lucas.
[i]-Acampamento [/i]– ele disse –[i] Sim senhora (...) vou cuidar (...) Pode deixar (...) Com certeza!
Dito isso, ele desligou o telefone deu a mim.
-Temos que ir. Agora.
-Sim, estou indo... Charity – gritei o nome dela. Ela não respondeu.
Fui até o seu quarto e ela estava sentada na cama, abraçando suas pernas, chorando.
-Char – eu disse – Arrume suas coisas. Agora.
-O que? – ela disse entre lagrimas – Por que?
-Não sei, vamos arrume suas coisas!
Deixei ela pegando seus pertences quando fui no meu quarto. Peguei várias roupas, meu MP4, celular e algumas fotos. Corri para a sala, onde Brad e Charity já estavam prontos com Lucas.
-Como vamos para lá? – perguntei nervosa – Espere, onde é esse lá?
Ele deu um sorriso torto.
-Long Island.
Fala sério. Eu iria retrucar quando algo quebrou a janela da sala. Charity gritou desesperada e Brad a levou para baixo da mesa. Eu tapei meu rosto com as mãos e Lucas sacou uma espada. Caralho, esse troço deve ser afiado. O que quebrara a janela era um leão enorme, dourado com os pelos cintilando com a luz do sol.
-Julie, pegue – gritou Lucas jogando uma caneta pra mim. Peguei-a no ar e sem querer a tampa caiu. Com um grito abafado, percebi que a caneta virara uma espada.
O leão rodeava Lucas, que dava leves estocadas no nariz e olhos dele. Irritando-o. Quando o leão me deu as costas, tentei fincar-lhe a espada no traseiro mas ele me deu uma patada, fazendo-me voar e bater contra a parede. Senti algo quente escorrer por meu rosto e notei que era sangue. Eu sempre disse para mamãe que devíamos tirar aquele quadro de vidro da parede, mas ela não me escutava. Nunca. Cai no chão, arquejando.
-Julie, vá para baixo da mesa – gritou Lucas enquanto eu me arrastava pelo chão até a mesa, onde Brad abraçava Charity que estava choramingando. Quando me viu, ela gritou com uma dor que não era sua.
-Char – eu murmurei – Não... não grite. Brad, cuide dela...
Então, desmaiei.
• • •
Acordei ao que parecia um tempo depois. Eu estava deitada em uma cama com um grosso colchão e com finos cobertos. Me levantei, de repente, e olhei para os lados. O lugar era velho, com armários de remédios espalhados pelas paredes. A luz da lua passava pelas cortinas de pano simples e penetrava no recinto. Meio tonta, levantei-me e notei que me trocaram as roupas. Se foi um garoto ele deve ser um tarado. Pus o sapato que estava ao lado da cama e fui caminhando até a porta.
Ela se abriu facilmente, e quando pude eu caminhei até os jardins. Era como um acampamento. Vários chalés formando um retângulo, um lago de canoagem, estábulos, uma casa grande e eu parecia ter saído da enfermaria.
-Tudo bem com você? – ouvi uma voz perguntar pelas minhas costas.
Me virei, e vi Lucas.
-Não lembro do que aconteceu, deve ter sido um pesadelo... – estremeci.
-Não foi. Do que você se lembra?
-Um... um leão na minha casa – eu dei um risinho – Devo estar ficando louca... ele me jogou na parede e eu me machuquei... Depois não lembro de nada.
-Não está ficando louca. Foi o leão de Neméia.
-Fala sério – eu o cortei com cara de tacho – E onde estou agora? Num hospício?
-Não – ele disse com delicadeza – Acampamento Meio-Sangue, Long Island.
Ta me zoando?
-O que? – perguntei, meio chocada.
-Exatamente. Você dormiu por quatorze horas seguidas depois que desmaiou. Nós a trouxemos para cá com seus irmãos. Eles estão no chalé de Hermes, porque o pai de vocês ainda não os reclamou... E isso é raro!
-Como assim... raro?
-Bem, um irmão meu... Percy Jackson, também filho de Poseidon fez os deuses prometerem que reclamariam seus filhos quando completasse treze anos...
-E esse Peter Johnson....
-Percy Jackson.
-Isso, ele ainda ta vivo ou já morreu?
-Ainda ta vivo, ainda no acampamento. Ele é o professor de equitação nos pégasos...
-Pégasos?
-É – ele riu. Sua risada era gostosa. Dava vontade de rir junto – Ele tem quase sessenta anos agora.
-Velho? – arrisquei.
-Sim, o coroa.
Começamos a rir. Eu comecei a me sentir tonta, então sentei no chão olhando o céu no horizonte que estava começando a nascer.
-Quem você acha que é meu pai?
-Bem – ele disse, desconfortável – Depende de vários fatores. Você gosta de voar?
-Não, tenho medo de altura.
-Gosta de água?
-Não sei nadar.
-Gosta de medicina ou vinhos?
-Ver corpos abertos? Não obrigada. E vinho? Nunca tomei, tem um cheiro horrível.
-Isso descarta Zeus, Poseidon, Apolo e Dionísio... eu acho – ele disse.
-Certo, continue.
-Gosta de fogo?
-Ui, eu não. Por que eu iria querer me queimar?
-Por nada. Ahn, gosta de ver pessoas mortas?
-Não, me dá um arrepio.
-Gosta de cartas, essas coisas?
-Não, prefiro falar pessoalmente.
-Gosta de arquitetura?
-Não.
-Gostaria de morar no campo?
-Eu não – respondi. Lembrei que isso descartava Hefesto, Hades, Hermes, Atena e Demeter. Faltava mais algum?
-Gosta de coisas românticas?
-Odeio! – descartou Afrodite – Mas perai, se minha mãe está viva porque ta me perguntando sobre as deusas?
-Sua mão pode ser sua mãe adotiva.
-Duvido...
-Gosta de guerra?
-Para ver pessoas feridas? Nãããão.
Ele me encarou por um instante.
-Não tenho a mínima idéia de quem pode ser seu pai!
-Novidade – murmurei.
Ficamos em silencio por alguns minutos. Eu brincava com as gramas, arrancando-as enquanto Lucas olhava para o horizonte.
-Seus irmãos são diferentes de você!
-Claro que sim – eu disse ironicamente.
-Não, não é isso que quero dizer. Charity tem cabelos claros e olhos azuis, Brad tem cabelos pretos e olhos verdes e você tem os cabelos pretos também e olhos castanhos.
-E...?
-Se seus irmãos não tivessem entrado aqui eu diria que eles não são meio-sangues.
-Ainda não estou entendendo.
-Estou dizendo... – ele pausou – Que talvez seus irmãos sejam apenas meio-irmaos, apenas por parte de mãe...
-O que? – arquejei – Está chamando a minha mãe...
-Não estou chamando de nada – ele disse levantando as mãos – Apenas dando atenção a um fato.
Respirei profundamente para me acalmar... Aquele cara estava pensando que minha mãe era uma prostituta do Olimpo. Ah, caralho. Agora estou com raiva. O que ele pensa que é? Melhor, quem ele pensa que é? Só porque é filinho de Poseidon acha que pode mandar em tudo...
-Sabe de um coisa, vou dormir – eu disse me levantando e caminhando de volta para a enfermaria, que estava silenciosa como antes. Vazia. Fui até a cama onde eu estava deitada antes e apaguei novamente.
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