Make Me Wanna Die escrita por Aphroditte Glabes


Capítulo 1
Capítulo 1 - Um Monstro Quer Um Livro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/85670/chapter/1

Revirei-me na cama. Os lençóis estavam encharcados com o meu suor e eu sentia as tábuas por baixo do fino colchão. Abri os olhos lentamente, mas não havia luz para cega-los. Era noite, uma noite escura e sombria sem lua no céu. A noite que eu mais gostava no mês, quando podia esgueirar-me pelo quintal sem me preocupar se alguém me veria.

Suspirei profundamente e sai da cama, não ligando para quão frio o chão estava. Fui caminhando até a cozinha, para pegar um copo d’agua. Não era a primeira vez que eu não conseguia dormir e fazia alguns passeios noturnos.

Enquanto bebia a água, pensei o que eu sabia sobre meu pai. Nada de mais, apenas o que minha mãe dissera. Que eu era fisicamente parecida com ele e psicologicamente também. Que eu era muito orgulhosa, apenas queria aceitar a minha opinião e ficava raivosa com qualquer besteira. Se eu sou ruim, imagina meu pai.

O mais silenciosamente possível, eu girei a chave da porta e sai por ela ainda com o copo na mão. Eu tive certeza assim que vi o céu que seria um dia chuvoso. Odeio quando chove em Wyomissing. Sentei no degrau da nossa varanda e fiquei ouvindo os grilos grilharem no meio das gramas.

O vento que vinha da montanha onde morávamos era puro, mas tinha um cheiro esquisito. Eu não saberia dizer exatamente o que é, mas tinha cheiro de animais mortos. Ai, nojo.

-Observando as estrelas? – ouvi a voz de um rapaz perguntar. Levantei-me de repente, deixando o copo de água cair na grama sem quebrar, felizmente. A voz não vinha de lugar algum. Poderia vir da minha cabeça.

-Estou ficando maluca?

-Não, não está – riu a voz, rouca.

Sentei novamente na varanda, abraçando minhas pernas e escondendo meu rosto nos joelhos, quase em posição fetal.

-Não se preocupe, apenas volte para casa!

-O que?

-Ouça-me. É perigoso aí fora a noite, volte, volte para sua casa.

A voz agora era estranhamente fria. Corri para dentro de casa, trancando a porta. Pus o copo sobre a mesa e voltei para meu quarto, onde passei a noite em claro.

 

                                                      •  •  •

 

-Vamos, levante – disse mamãe adentrando em meu quarto e pegando meu perfume emprestado, de novo. Revirei-me na cama, eu não queria sair de lá mesmo não tendo conseguido dormir.

-Ah mãe, eu não quero ir para o trabalho hoje!

Ela me encarou, com uma sobrancelha levantada.

-E por que?

-Não consegui pregar o olho – eu disse me espreguiçando na cama – Fiquei a noite inteira acordada.

-Isso que dá dormir a tarde toda – ela retrucou sentando na minha cama – Filha, por favor, não faça isso comigo.

Sentei na cama, irritada.

-Fazer o que mãe? O que eu faço com você? Eu alguma vez fiz algo que te envergonhou na frente das outras pessoas?

Ela respirou profundamente, com os olhos fechados e respondeu:

-Não é isso. Vá para ao trabalho, amanhã nos falamos melhor.

-Amanhã – murmurei – Sempre amanhã, e nós nunca nos falamos.

-Um dia você vai entender!

Dito isso, ela saiu do quarto com seus sapatos pretos de salto crepitando no chão de madeira. Com um: ARGH, levantei-me e troquei de roupa. Uma pena que a escola tenha uniforme, odeio aquelas calças cinzas de jeans e a blusa verde. Na moral, isso ta fora de moda, absolutamente.

Quando passei pela porta da minha irmã, dei um soco na porta.

-Acorda Charity – gritei.

Charity só tem nove anos e ainda estuda a tarde, mas sempre quer ver seus desenhos animados de manhã. Quando cheguei na cozinha liguei a TV no canal de notícias e aumentei um pouco o volume. Charity chegou na cozinha, os cabelos loiros rebeldes estavam amarrados em uma trança que mamãe fazia todas as noites e seus olhos azuis estavam vermelhos de sono. Ela sentou na sua cadeira enquanto eu colocava na sua frente um copo de suco de laranja fresco e seu cereal.

Sentei ao lado dela, sem comer nada. Ela me lançava olhares indagadores.

-Julie – sua vozinha fina estava rouca – Por que você e mamãe discutem tanto?

Gelei. Ela nos ouvira discutir ontem a noite?

-Ahn – comecei a gaguejar – Na verdade, eu... eu não sei Char.

Ela pulou da cadeira e sentou no chão, com as pernas cruzadas assim como os braços.

-O que está fazendo? – perguntei sem tirar os olhos da TV, enquanto passavam a noticia de m homem de meia idade que tinha tantos explosivos em sua casa que tiveram que chamar o esquadrão anti-bombas no condado de Clark, em Las Vegas.

-Não saio daqui, enquanto não me dizer porque brigam tanto!

Suspirei. Aquela menininha me tirava do sério. Sentei ao lado dela.

-Entenda uma coisa, Charity. Mamãe e eu brigamos por varias razoes, mas principalmente por causa de... papai.

-O que?

-Sim, ela não me diz quem ele é.

-Mas...

-Charity, vamos encerrar o assunto por ai, okay?

Ela me olhou irritada, mas assentiu.

-Clube do livro? – perguntou Brad entrando na cozinha apenas com a cueca samba-canção ilustrada com a bandeira do Brasil.

-Brad – eu disse – Coloque uma roupa. Sua irmã aqui tem nove anos, sabia?

-Cale a boca Julie, só porque é a mais velha não quer dizer que tem que mandar em nós!

-Cale a boca você!

-Julie – choramingou Charity e eu a abracei – Vamos, você quer ver seus desenhos na sua cama?

-Quero – ela disse ávida.

                                                             •  •  •

 

-Tudo certo? – perguntei enquanto girava a antena da TV, para pegar o canal de desenhos dela.

-Sim – ela exclamou batendo palmas.

-Tudo bem – eu disse indo até sua cama, beijando-lhe a testa – Tenho que ir agora, okay? Se comporte!

Enquanto ela assentia, eu fui novamente até a cozinha e encontrei Brad, agora vestido, fazendo seu omelete matinal.

-Você que vai limpar depois!

Ele deu de ombros e lançou-me um olhar assim: ¬¬’ com o canto dos olhos verdes.

-Eu sei!

Ele sentou ao meu lado da mesa, e pos um omelete em meu prato.

-Obrigada – murmurei, ele não respondeu.

Com uma mão no queixo fiquei remexendo o omelete e as vezes engolindo uns pedaços, tirando isso eu ficava olhando para o nada.

-O que aconteceu, Julie?

-Nada – resmunguei.

-Aconteceu alguma coisa sim, eu te conheço. O que foi? Foi aquele garoto que fica lhe incomodando, o Erich?

-Claro que não – eu disse indignada, Erich era um dos meus únicos amigos na escola.

-Me diga, o que aconteceu?

-Nada Brad. Nada aconteceu, okay?

-Qualé, Julie. Não tente dar uma de adulta para cima de mim, você tem dezesseis anos e é só dois anos mais velha que eu...

-Tchau – eu o cortei enquanto pegava minha bolsa para ir ao meu trabalho, já que estudo a noite.

-Tchau.

Fui até o ponto de ônibus e fiquei esperado por quinze minutos até o certo chegar. No ônibus fiquei sentada no banco da janela, vendo a paisagem durante meia hora até que cheguei na biblioteca publica da Wyomissing, onde eu trabalho como estagiária.

                                                       •  •  •

 

-Atrasada – disse a Sra. Waitenberg quando abri a porta da biblioteca depressa.

-Desculpe!

-Não importa, novos livros. Você vai registra-los.

Enquanto eu fazia o meu trabalho, um homem baixo de aparência andrógina apareceu na porta da biblioteca. Continuei registrando os livros no computador, quando ele parou na minha frente.

-Deseja alguma coisa? – perguntei, e ele me respondeu ríspido:

-Onde está?

-Desculpe senhor, onde está o que?

-Você sabe – ele rosnou.

Sua aparência começou a mudar. Seus olhos castanhos não estavam mais tão convidativos, ficaram vermelhos e como os de um corvo. Empurrei a cadeira para trás, com a ponta dos pés. Penas negras começaram a brotar de todas as partes do corpo dele e de repente eu me via encarando um corvo gigante, que batia o bico incansavelmente.

-Senhora Waitenberg? – perguntei com o canto da boca – Senhora Waitenberg?

O corvo grasnou e lançou o bico na minha direção. Pulei no chão, e me choquei com a lata de lixo, que caiu derrubando os restos do café da manhã de estudantes.

-Eca, nojo...

Quando ia me levantar, o corvo usou o bico para lançar o computador para o lado, onde caiu com um estrondo e com pequenos choques de energia, apagou. Levantei de vez e comecei a correr pelas estantes, o vento passava veloz por mim quando passei pela seção de mitologia. Atrás de mim, o corvo derrubou uma estante e livros voaram na minha direção. Senti algo em meus pés e escorreguei, batendo com o queixo no chão.

Zonza, fui me arrastando até os livros para tentar achar algo para me apoiar. As paginas de um livro sobre mitologia grega passaram velozes, e caíram sobre um ser mitológico:

 

 Ethon, o Corvo. Ethon foi é um corvo filho de Tífon com Equidna. Zeus o mandava toda noite ao monte Cáucaso para devorar o fígado de Prometeu, que a cada noite se reconstituia. O único jeito que poderia faze-lo desaparecer por algum tempo, é engana-lo e banha-lo em agua salgada, uma técnica que quando podia, Prometeu a usava.

Ah, fala sério. Um ser mitologico, tá me zuando? E onde eu ia achar agua salgada? Agora fudeu. Pulei por cima das estantes e continuei correndo, abri a porta da cozinha e a tranquei, desesperada abri a porta do banheiro. Tranquei-a tambem. Subi em cima do vaso sanitário e abri o tubo de ventilação. Ouvi o corvo destruir a porta da cozinha, peguei impulso e entrei na ventilação. Merda, agora que to fudida de verdade. Fechei a abertura e comecei a me arrastar pelo cano. Por uma abertura pude ver o corvo destruindo a cozinha atras de mim, em um surto de raiva destruiu a porta do banheiro feminino onde eu estava escondida antes.

Ficou farejando o ar, a minha procura. Deu um grito agudo e fincou o bico na ventilação, alguns centimetros atras de meus pés. Gritei. Ele deu um grasno satisfeito e bicou onde estaria meu peito, mas grasnou de dor antes que pudesse faze-lo. Na porta da cozinha, estava um rapaz.

                                                  •  •  •

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Make Me Wanna Die" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.