Jasper
- Ela não me achou maravilhosa o suficiente no passado, para não se importar comigo por imensos anos. Cynthia sempre foi melhor que eu, pelo menos para ela e para o meu pai, Jasper. Cynthia sempre foi perfeita e eu não. E tu só estás a dizer estas coisas porque queres sexo! – Disse ela visivelmente desesperada. Sexo? Só porque quero sexo? Nunca pensei que a Alice pensasse isto de mim. Eu amava-a mais do que tudo. Desde que eu voltara e me tinha declarado a ela pela segunda vez, eu tinha sido um namorado exemplar, um marido exemplar e acima de tudo um pai exemplar que fazia de tudo para estar presenta na educação dos nossos filhos. Eu estava realmente furioso, porque eu tinha-me esforçado nestes últimos anos para tentar de alguma forma compensar a mágoa que provoquei nela e agora ela manda-me isto à cara. Saí da banheira ainda um pouco furioso e sequei-me lentamente. Não queria ver a Alice enquanto me encontrava assim, não queria dizer-lhe coisas que depois provavelmente me iria arrepender. Tentei acalmar-me enquanto secava. A fúria foi-se desvanecendo quando comecei a perceber o que tinha desencadeado isto tudo. Quando comecei a perceber como ela se estava a sentir. Ela estava a sentir-se frágil. De certa forma, ela era frágil, pelo menos para mim, mas nestes momentos, ela ainda aparentava mais e sabia que ela se sentia assim. Sem forças para enfrentar o que se estava a passar. Ela era uma pessoa cansada de sofrer e eu compreendia isso nela. A boa disposição dela que a acompanhava desde manhã, tinha desaparecido, desde o momento, em que a Evolet se tinha ido embora com a Cynthia. Até ao momento, não tinha percebido o que isso significava para a Alice, o quanto a magoava. Pensava que ela se encontrava triste, apenas por a mãe não estar presente, mas que isso iria passar. Vê-la neste estado ao fim do dia, fez com que eu percebesse que esta situação toda, fazia com que ela se lembrasse de como era desprezada pelos pais, de como se sentia inferior em relação à sua irmã Cynthia que sempre foi mimada por todos. Ver a mãe a sair da porta de nossa casa com a irmã, neste dia tão importante, fez com que ela se lembrasse do seu passado e de como se sentia no seu passado. Eu culpava-me, algumas vezes, por contribuir para que ela se sentisse assim algumas vezes. No passado, também a tinha rejeitado, exatamente duas vezes por duas mulheres que não valiam a pena. Eu sei o quanto a magoei e como ela se sentiu rejeitada quando isso aconteceu. E culpo-me todos os dias por isso, algo que podia ser evitado se eu não fosse tão imaturo. Era por isso que eu tentava, em cada dia do nosso casamento, compensar todas as falhas que eu cometi com ela no passado. Ela merecia ser feliz e ter felicidade no resto da sua vida.
Quando já estava totalmente calmo, saí da casa de banho com as minhas boxers vestidas e fui ver da Alice. A luz da mesa-de-cabeceira estava ligada o que me permitiu visualizar a Alice deitada na cama a chorar. Ela ainda não se tinha apercebido que eu tinha entrado no quarto. Reparei que ela tinha um pequeno livro velho nas suas mãos e ela apertava-o contra o peito, como se ele pudesse arrancar-lhe toda a tristeza do coração. Magoou-me ver a Alice assim, desta maneira. Há muito tempo que não a via sofrer como estava a sofrer neste momento e isso, magoava-me também e muito. Dirigi-me até à cama e deitei-me suavemente, ao seu lado, para não a assustar. Envolvi-a nos meus braços para ela me ter como apoio, mas ela começa a debater-se contra o meu abraço.
- Shh, Alice, sou eu! – Disse enquanto tentava que ela se acalmasse. – Está tudo bem, Lice. Shh! – Ela virou-se abruptamente para mim, visto que estava com as costas contra o meu peito, e abraçou-me fortemente, começando outra vez a chorar descontroladamente. Aconcheguei-ma mais a mim e deixei-a chorar contra o meu peito. Sabia que ela se sentia segura, aqui comigo. Acariciava-lhe os cabelos para ver se ela se acalmava um pouco.
- Eu amo-te mais do que tudo, minha pequena. É verdade que eu adoro ter sexo contigo, com a minha esposa, mas mesmo se não tiver eu continuou a amar-te na mesma, continuou a amar todos os momentos que passamos juntos, porque todos eles são únicos, todos eles são especiais. Não duvides disso, Lice. Eu amo poder saber que vou passar o resto da minha vida contigo, e isso deixa-me muito feliz! – Disse quando ele se acalmou, beijando de seguida a sua testa carinhosamente. – Tenho a certeza que a Evolet continua a amar-te! Deixaste de amar a Amber quando a Liv nasceu? – Perguntei retoricamente. – Claro que não. Nem deixaste de amar as nossas princesinhas quando o Will chegou. Tu amas os três de igual forma, porque são os três teus filhos, três bocadinhos de ti. Amas os três tal como a Evolet ama as duas. São as duas filhas dela, são as duas, bocadinhos dela. O que aconteceu no passado não irá voltar a acontecer. A Evolet ama-te muito Alice. Não vais perde-la porque se ela se afastar de novo é louca porque não consegue ver a filha maravilhosa que tem. – Disse-lhe. Ela já não chorava, apenas largava alguns soluços. Continuei a acariciar-lhe os cabelos numa tentativa de a fazer dormir. Ela estava cansada emocionalmente, eu sabia disso. Não demorou muito para perceber que ela dormia. Saí da cama cuidadosamente para a não acordar e aconcheguei melhor os lençóis em volta dela. Deixei o pequeno livro nas mãos dela, devia significar algo e faze-la sentir melhor. Saí do quarto, visivelmente sem sono, depois desta noite conturbada. Fui ver se cada um dos meus filhos estavam bem e depois desci para a cozinha. Estava com fome, visto que já estava a amanhecer. O tempo tinha passado rápido. Preparei algo para comer e quando me ia sentar na mesa para começar a comer, a campainha tocou. Achei estranho a campainha tocar a esta hora da manhã. Deixei a comida em cima da mesa da cozinha e fui atender antes que a pessoa que estivesse do outro lado da porta decidisse tocar outra vez e acordar toda a gente desta casa. Ainda estava cedo e a Alice tinha acabado de adormecer. Queria que ela dormisse um pouco. Abri a porta o mais rápido que consegui e surpreendi-me por ver a Evolet do à entrada de minha casa. Ela estava visivelmente angustiada, simplesmente não sabia qual era a razão.
- Bom dia, Jasper. – Disse ela numa voz meio tremida.
- Bom dia, Evolet. – Disse. – Entre. – Pedi dando-lhe entrada.
- A Alice? – Perguntou ela preocupada.
- Está a dormir. Adormeceu há pouco tempo. – Respondi-lhe.
- Aconteceu algo, não foi? Sinto que ela não está bem, Jasper. – Explicou ela.
- Ela desesperou-se. Começou a pensar que agora, que a Cynthia voltou, não lhe irias dar mais atenção que já não a ias amar. – Expliquei-lhe. Vi nos olhos dela como ela se sentia culpada e angustiada. – O passado marcou-a muito Evolet. É difícil, para ela, afastar-se de algo que esteve presente a vida toda dela. Ela foi habituada a ser posta de lado a sua vida toda. Ela não sabia o que era ter uma mãe, mas desde que entraste na vida dela, ela tem vindo a descobrir isso e tem vindo a adorar. Quando a Cynthia apareceu e tu foste embora com ela, ela apenas sentiu medo de te perder. – Expliquei-lhe.
- A Cynthia também precisava de mim, Jasper. Elas são as duas minhas filhas e a Cynthia está a passar por um período difícil. Como sabes, ela não falava comigo desde que eu pedi o divórcio ao pai dela. Ela apoiava-se nele, ele é importante para ela, mas agora ela descobriu que estava grávida do seu marido e vou contar a novidade ao pai. Não sei o que deu nele mas ele enlouqueceu e chateou-se com ela. Até discutiram. Ela veio ter comigo. Consegui contornar a situação mas como já era tarde decidi não vir. Passei a noite angustiada a pensar nela, fiquei com medo que ela estivesse magoada comigo por ter ido embora num momento tão importante. Não consegui dormir nada, precisava de falar com a Alice, tive que vir agora, Jasper. Não aguentava mais.
-Eu percebo, Evolet. Penso que devam falar as duas, ela agora está a dormir. Deixa-a dormir um pouco, assim quando ela acordar fala com ela. É o melhor para as duas. – Disse-lhe. Ela apenas assentiu e sorriu. Subiu as escadas lentamente e foi para o pé da Alice. Sorri ao percebeu que a Evolet já tinha criado um laço materno com a Alice, assim como a Alice tem com cada um dos seus filhos, sentindo sempre quando um deles estás em perigo. Voltei para a cozinha para comer e fiquei à espera que tudo de resolvesse.