O mês e meio seguinte passou-se tranquilamente. A Maria não tinha estorvado mais, mas eu ainda não conseguia ir ao parque com o Jasper e as minhas princesinhas. Normalmente, elas iam brincar para o jardim, já que tinham um mini-parque em casa, mas não era a mesma coisa para elas. Já muitas vezes me pediram para ir mas eu arranjei sempre uma desculpa. O Jasper dizia que compreendia mas via que lhe custava negar-lhes ir ao parque. Além da Maria não ter estorvado, não significava que tinha desistido. Eu sabia que não. Ela não desistia até eu ir-me embora, ou então ela matar-me. Eu tinha a perfeita noção disso e era isso que me assustava. Eu não iria deixar o Jasper, simplesmente não conseguia. Por isso, estava à espera que ela fizesse algo. Eu não conseguia andar sozinha na rua. Raramente, saía sozinha, evitava ao máximo. O Jasper começou a perceber, eu sabia que sim mas não disse nada.
Já tinha chegado do trabalho há algum tempo e já tinha ido buscar as minhas princesinhas a casa da Esme. Hoje, o Jasper chegaria mais tarde. Tinha ido defender um caso no tribunal e isso demorava sempre. Dei banho à Liv e ajudei a Amber, depois fui fazer o jantar. Comemos as três e depois fomos ver televisão. Quando chegou à hora de elas irem dormir, fui deitá-las e depois voltei para a sala, para esperar pelo Jasper. Eu gostava de esperar sempre por ele. Ele acabou por chegar por volta das dez e meia. Ele não percebeu que eu estava na sala e foi em direcção à cozinha. Fui atrás dele e fiquei horrorizada com o que vi. Ele tinha uma das mãos com um corte enorme. Estava a sangrar imenso.
- Jasper… - Sussurrei. Ele virou-se para mim bruscamente.
- Alice! Pensava que estavas a dormir. – Disse ele. Percebia que ele estava com dores. Via-se pela expressão da cara dele.
- O que aconteceu, Jasper? – Perguntei a medo. Eu desconfiava do que tinha acontecido, mas não queria acreditar.
- É melhor sentar-te Alice. – Disse ele preocupado comigo.
- Foi a Maria, não foi? – Perguntei baixinho a medo, ao sentar-me na cadeira. Estava a olhar para as minhas mãos. Não queria que a expressão do rosto dele me respondesse. Não queria que aquilo fosse verdade.
- Alice… - Começou o Jasper segurando nas minhas mãos. – Não te vou mentir, mas quero que fiques calma. Está bem? – Afirmei com a cabeça. – Foi a Maria. Quando eu estava a sair do escritório, para vir para casa, ela apareceu-me à frente. Começou com a conversa que eu devia deixar-te porque ela é que era a minha alma gémea e eu ainda não tinha percebido isso. Eu comecei a passar-me e gritei com ela. Ela ficou com raiva e cortou-me. Seria pior se o segurança não tivesse aparecido. Temos vídeos contra ela, mas ela fugiu antes de a polícia chegar. – Concluiu ele. Não disse nada. E se o segurança não aparecesse? O que ela tinha feito ao Jasper? Ela estava cada vez mais louca. Ela já não tinha limites. – Alice, Alice! Shh! – Disse ele limpando as lágrimas que eu não tinha dado conta que caíram. – Eu não queria que tu ficasses assim. Está tudo bem, agora.
- E se o segurança não tivesse aparecido? O que é que ela tinha feito? – Perguntei meio desesperada.
- Alice, não vamos pensar nisso. O que interessa é que agora está tudo bem. Está bem? Acalma-te, por favor. Pensa no Will. – Disse ele realmente preocupado comigo. Tentei acalmar. Eu não podia prejudicar o Will, tinha de ser forte por ele. Quando já estava mais calma, o Jasper levou-me para o quarto e deitámo-nos. O corte dele já não estava a sangrar mas estava feio.
- Jasper, promete-me que amanhã vais ao hospital, tratar do corte. – Pedi.
- Eu vou, podes ficar descansada. Agora, vamos dormir. Já está tarde. – Disse ele aconchegando-me mais a ele. Eu não iria conseguir dormir. Tinha a perfeita consciência disso. Não ia preocupá-lo ainda mais. Ele estava cansado, não queria que ficasse acordado por minha causa. Fechei os olhos e tentei adormecer, mas como previsto, era impossível. O medo voltou. Sempre voltava quando a Maria fazia algo. Sabia quer era impossível por o medo de lado e dormir. Pelo menos tentei descansar o corpo, durante a noite, porque passei a noite toda em claro. Quando chegou a hora de me levantar, fui tomar um banho e vestir-me. Depois fui preparar o pequeno-almoço. Quando acabei, fui acordar o Jasper que ainda dormir.
- Jasper. – Chamei-o.
- Umhh…. – Resmungou ele ainda meio a dormir.
- Tens de acordar. – Disse dando-lhe um beijo nos lábios.
- É sempre bom, acordar assim. – Disse sorrindo, puxando-me mais para ele.
- Vá, já estás um pouco atrasado. Despacha-te que eu vou acordar as meninas. – Disse.
- Estás bem. – Acabou por dizer, levantando-se da cama.
Saí do quarto e fui até ao quarto da Amber. Ela ainda estava ferrada a dormir.
- Querida, tens de acordar. – Disse acariciando a sua bochecha.
- Mamã, mais um pouco. – Pediu ela sonolenta.
- Não dá, princesinha. Ainda tenho que ir acordar a Liv. – Disse beijando a sua testa. – Vai-te vestindo. Já preparei a tua roupa. Não adormeças de novo. – Disse sorrindo.
- Está bem, mamã.
Saí do quarto da Amber e fui até ao da Liv. Claro que ela já estava acordada. Normalmente, ela já estava acordada, mas ficava na cama à nossa espera. Abri os estores do quarto dela e depois fui ter com ela.
- Bom dia, meu amor. – Disse dando um beijo na sua bochecha rechonchuda.
- Bom dia, mamã. – Disse ela sorrindo. Adorava a sua boa disposição logo de manhã.
- Vamos vestir para depois irmos comer?
- Sim. Já ‘tou com fome. – Disse ela. Vesti-a e depois penteie o seu cabelo. O cabelo dela era muito mais fácil de pentear do que o da Amber. A Amber tinha muitos caracóis sendo possível apenas pentear o seu cabelo no banho. Já a Liv tinha um cabelo mais liso. Encaracolava apenas nas pontas o que lhe dava um ar muito fofo. Depois de acabar de a arranjar, fui até ao quarto da Amber com ela, ver se a Amber já estava pronta.
- Só me falta calçar, mamã. – Disse ela indo buscar os sapatos. Depois de estarmos as três prontas, fui até ao meu quarto ver se o Jasper já estava despachado, mas ele não estava lá. Já devia ter descido. Descemos as três e elas foram a correr em direcção da cozinha. Ouvi elas a darem os bons dias ao pai. Entrei na cozinha e sentei-me à mesa para beber um copo de leite. Não estava com grande fome. Depois de arrumar a cozinha, o Jasper foi-se embora com a Amber e eu fiquei à espera da Rose, com a Liv. Ela acabou por chegar uns minutos depois. Fomos primeiro a casa da Esme, pôr as crianças e depois fomos para a loja. A manhã na loja foi movimentada. E o cansaço estava a apoderar-se do meu corpo. Sentia os olhos a pesar e queria uma cama para dormir, mas continuei a trabalhar. Não podia deixar a Rose sozinha. À hora de almoço, fomos almoçar algo rápido e depois voltámos para a loja. Ela hoje estava mesmo movimentada. Comecei a não conseguir a prestar atenção ao que os clientes diziam e só bocejava. Quando tivemos um momento de descanso a Rose veio ter comigo, preocupada.
- O que se passa, Alice? – Perguntou ela muito preocupada.
- Estou cansada, apenas. – Respondi.
- Não é normal estares tão cansada se dormiste de noite. – Disse ela para mim. Não disse nada. Não sabia se havia de dizer que não tinha conseguido dormir de noite. – Alice, não dormiste de noite, pois não? – Perguntou ela. Neguei com a cabeça e baixei a cara. – O que aconteceu? – Perguntou ela, levantando-me a cabeça para olhar para ela.
- A Maria atacou o Jasper, ontem, quando estava a sair do trabalho.
- O que ela lhe fez?
- Cortou-lhe a mão e se o segurança não tivesse aparecido, seria pior.
- O Jasper não sabe que tu não dormiste de noite, pois não?
- Não, eu não o quero preocupar. Ele já tem coisas suficientes para se preocupar.
- Alice, ele está sempre preocupado contigo. Tens de lhe dizer. Ele vai ajudar-te, mas não podes passar noites sem dormir, principalmente agora, que estás grávida de seis meses e meio. Precisas de cuidar de ti e do Will. – Disse ela.
- Eu sei. Eu tentei dormir, mas não consegui.
- Alice, queres que eu te leve a casa para dormires?
- Não, não quero ficar sozinha em casa. – Disse com um pouco de pânico presente na voz. Ela olhou preocupada para mim.
- Então, vai ali para o sofá do escritório, dormir um pouco, Alice. Tu estás cansadíssima. Quando for para irmos, eu acordo-te.
- E vais ficar sozinha a tomar conta da loja?
- Eu desenrasco-me. – Disse ela. – Agora, vá, vai para o escritório. Fui até ao escritório e ela seguiu-me para ter a certeza que eu me deitava. Deitei-me no sofá e ela tapou-me com uma manta que existia no escritório. Eu estava mesmo exausta. Mal fechei os olhos, adormeci.
- Alice… - Ouvi a Rose chamar-me. – Alice, temos que ir. – Disse ela. Esfreguei os olhos para afastar o sono e levantei-me. – Não te queria acordar, mas temos mesmo que ir. – Continuou ela.
- Não faz mal. – Disse. Fomos até ao carro dela e ela dirigiu até casa da Esme. Depois, a Rose, levou-me a mim e às minhas princesinhas a casa. O Ray e a Amy também vinham. Ela deu-lhes de lanchar e depois disse para eles irem brincar lá para fora.
- Alice, vai dormir. Eu tomo conta deles.
- Não precisas de ficar. – Disse-lhe.
- Preciso. Vou ficar aqui, até o Jasper chegar e nada de resmungar. Agora, para cima.
Subi as escadas e dirigi-me até ao quarto. Vesti algo mais confortável e depois deitei-me na cama. Acabei por adormecer num instante. Voltei a acordar por volta das sete com barulho na parte de baixo da casa. Ainda estava sonolenta mas decidi levantar-me, visto que estava com fome.
- Desculpa, Alice. Disse para eles não fazerem barulho, mas estão divertidos. – Explicou a Rose que estava na cozinha a beber café.
- Não faz mal, também estou com fome. – Disse sorrindo um pouco. Preparei algo para comer e depois comi satisfatoriamente. Passados uns minutos, a Rose acabou por ir embora, o Jasper já tinha chegado. Deitei-me no sofá e fiquei a ver televisão. Ele estava lá fora a brincar com as meninas. Já estava quase a dormir outra vez, quando ele viu-me no sofá.
- Alice. – Chamou ele.
- Olá. – Disse sorrindo um pouco.
- A Rose contou-me. – Explicou ele acariciando a minha bochecha. – Podias ter-me acordado.
- Não te queria preocupar. Precisavas de descansar.
- Tu também precisas. – Contrapôs ele.
- Eu não sabia que ia ficar tão cansada. – Disse-lhe.
- Da próxima vez, acordas-me.
- Sim.
- Promete.
- Está bem, eu prometo. – Respondi com um sorriso fraco.
- Assim, está melhor. – Disse ele beijando os meus lábios com ternura. – Vais tomar conta delas, enquanto eu faço o jantar?
- Claro. Deixa só levantar-me. – Disse levantando-me um bocadinho a custo. – Como está a tua mão? – Perguntei.
- Está melhor. Já fui ao hospital tratar dela. Eles coseram o corte. – Explicou ele.
- Ainda bem. – Disse beijando a mão dele carinhosamente. Fui ter com as minhas princesinhas, enquanto o Jasper foi para a cozinha preparar o jantar. Fiquei a divertir-me com elas até irmos comer e depois de comer, ajudei o Jasper a arrumar a cozinha e depois fui para a cama. Ainda estava cansada e esta noite o cansaço venceu o medo e acabei por adormecer.