Lives escrita por Rella
Capítulo 4
- Sim, Honey, eu conversei com ele.
- E então? – Indagou ela. Enrolou o garfo no macarrão e levou a boca.
- Disse que só se recorda de momentos antes da última dose, e foi o tal Dr. Murray quem a deu. Michael deve ter apagado ou ter dado início aos sintomas da parada. É impossível se lembrar.
- Continua, o que mais ele falou?
- Ah, não muito. Ele tomou mesmo outros medicamentos antes do Propofol. E isso me enraivece tanto! Como que aquele médico ainda injeta aquela droga? Ele queria o quê? Matar Michael Jackson? Porém foi ele quem pediu, mas de qualquer forma o “Dr. Murray” quem deveria ter tido a voz ativa, ele era o profissional no momento, ele quem devia dar as ordens. Onde já se viu? Um paciente mandar num médico? – Bufou. – Veja! Perdi até a fome só de pensar nisso tudo!
- É minha amiga... Enquanto nos matamos para estar aqui e permanecermos, parece que tem gente que compra o diploma e ainda sai ganhando.
- Oh, nem me fale...
Sarah emburrou-se e se pôs a brincar com a comida. O estômago estava embrulhado enquanto algo parecia querer sair de sua garganta. Jackson consumia seus pensamentos. Um longo silêncio as tomou. Honey interrompeu-o.
- Sarah! Sarah! Veja quem está vindo para cá! Esses olhos fulminantes dele me fuzilam!
- Sam. O que tem?
- Se ele não fosse interessado em você, eu já teria partido pra cima. Que gato!
- Já disse que somos apenas amigos, Honey.
- Mas podem ser muito mais, ele quer.
- Aonde você vai?
- Vou deixar os pombinhos a sós. Tira essa cara de morto-vivo e dá um sorriso! Um homem desse não é pra qualquer uma e ainda está em falta. Aproveita! E me conta tudo depois.
Quem colocou na cabeça dessa criatura que eu quero homem? Oh, Deus...
- Oh, não, Honey, fique!
- Deixe disso, Sarah! E eu nunca me perdoaria se estragasse um momento desses.
Peterson se ajeitou na cadeira e esfregou o rosto para se despertar de vez. Sam chegou pondo a bandeja sobre a mesa.
- Posso?
- Ah, oi, Sam. Pode, pode sim.
- Honey ainda volta ou...
- Ela já voltou à ativa.
- Oh, sim. E como foi a sua manhã? Pacientes chatos?
- Os de sempre. Que não dizem nem “Obrigado” e nem xingam.
Sam a fitava. Estava atento em seus movimentos, até os mais sutis.
- Algum problema, Sarah?
- Nenhum. Nada.
Ele tocou sua mão com o talher que ainda remexia a comida. Sarah o olhou nos olhos claros encontrando a sua imagem. Sentiu-se péssima em ver seus olhos marejados, entristecidos.
- Se quiser conversar... Se eu puder ajudar...
Ela soltou o garfo e trouxe a mão branca ao colo. Ficara gélida. Recolheu a bandeja e se levantou.
- Está tudo bem, Sam. Acredite, tudo bem.
Está decidido, vou ajudar o Rei do Pop.
- Sente-se e abra a camisa, por favor.
Olhou para o botão da camisa de finas listras azul claro ao tocá-lo, e voltou-se à Sarah. Abaixou o olhar, triste.
- Quero apenas ver se está tudo bem, Sr. Jackson.
- Eu já lhe disse que sim. Estou ótimo!
- Mas preciso examinar. Prometo que não irá demorar e logo poderá ir pra casa.
- Não é esse o problema, é que...
Um sorriso tímido contornou a face de Peterson, que colocando o estetoscópio sobre a cama de lençóis claros estudou-o por um instante.
- Já sei o que se passa. Sei que sofre de Vitiligo, Sr. Jackson. Eu precisei rasgar sua camisa para salvá-lo! – Enfatizou. – Garanto que sou uma profissional, não precisa se preocupar.
Ele esboçou uma expressão mais branda, pareceu ter se aliviado. Libertou os primeiros botões da camisa. Sarah afastou o tecido de seu peito revelando a descoloração. Examinou-o.
- Tudo certo! – Sorriu. – Pode abotoar.
- Ótimo!
- Estou lhe dando alta, Sr. Jackson, mas ainda quero que venha ao hospital por essa semana. E repouse, não é bom arriscar qualquer atividade física por enquanto.
- Impossível! – Ressaltou. – Tenho ensaios e minha turnê inicia na próxima semana. Já estou de malas prontas.
- Aconselho que as desfaça.
- Não posso. – Disse quase num sussurro.
- Não está em condições de realizá-la, Sr. Jackson. Está arriscando a sua saúde. Como médica eu devo lhe avisar.
- Nessa altura isso é impensável! Tenho cinqüenta shows que necessito fazer, por motivos particulares e porque eu nunca decepcionaria meus fãs. Eles estão por minha espera. Eu prometi.
- Tenho certeza que eles o preferem vivo e com saúde, que morto num caixão.
Jackson tomou um ar perplexo. Sarah tomou consciência do que disse e tentou se explicar.
- Desculpe. Não queria ser desagradável. Eu... eu... quis dizer que o senhor não deve se expor dessa forma, está se arriscando. Me preocupo com meus pacientes, e com o senhor não seria diferente. Desculpe novamente, não tive a intenção de ser rude.
- Não posso mentir e dizer que não fiquei surpreso. Ninguém nunca foi tão sincero, assim dessa forma... Entende? – Ele suspirou, passou os olhos sobre a sala branca. – Então acha que estou morrendo, Dra. Peterson? – Indagou, atento, descrente.
- Não foi isso o que eu disse...
- Mas foi o que insinuou.
- Veja bem, o coquetel de medicamentos encontrados em seus exames realmente me preocupou. São fortíssimos! E o que me deixou incrédula foi o Propofol. Não sei como seu médico o conseguiu. Ele é de uso restrito. - Fez uma pausa. Respirou. – Acho que deve denunciar o Dr. Murray por Negligência Médica.
Ele estava atento a tudo que ela dizia. Mudo, mas atento. Incrédulo no que ouvia.
- Foi uma completa irresponsabilidade por parte dele ao lhe liberar a droga. O senhor poderia estar morto se não tivesse chegado a tempo no hospital. Se não o denunciar eu mesma farei isso. Não posso deixar ele solto, com licença médica. Essa falta de responsabilidade pode prejudicar outras pessoas, ou até matá-las.
- Espere um pouco. – Ele fez uma pausa, absorvendo a informação. - Você quer denunciar o meu médico? É isso o que eu entendi?
- Exatamente..
- Entendo que se preocupe com seus pacientes, comigo... Mas isso não lhe dá o direito de se intrometer na minha vida particular, de denunciar o meu médico! Veja... Ah, esqueça! – Desistiu. – Sabe me informar se meu motorista e minha família estão na minha espera?
- Estão na recepção. Quer que eu os chame?
Michael passou as mãos sobre a camisa a fim de eliminar qualquer amasso. Pegou das mãos de Peterson o resultado de seus exames.
- Obrigado por tudo, doutora. Já fez o bastante por mim. Passe bem.
Sarah o viu abrir a porta e sumir no corredor. Ela sentou na beirada da cama ainda aquecida pelo corpo dele. Sem sucesso, pensou. Respirou fundo, levantou-se, ajeitou a veste e chamou uma enfermeira para trocar a roupa de cama.
O que eu estava tentando fazer? Quem sou eu para ajudar Michael Jackson?
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