Lives escrita por Rella
Capítulo 3
As chamadas iniciaram.
- Dra. Peterson... SE dois... Dra. Peterson... Sala de Emergência dois...
- A Sra. Hunter está com náuseas.
- Temos um paciente com o braço fraturado.
- Ele reclama de dores no peito.
- Dra. Peterson! Dra. Peterson! - Alguém a chamou na recepção.
- Já vou!
Não posso entrar em pânico! Tenho que me controlar!
Ela entrou em pânico.
Sarah terminou de examinar a paciente que se encontrava com sessenta e poucos anos, e com resquícios de uma beleza antiga. Agora era gorda e tinha rugas.
- Vai ficar bem, Sra. Ford. A enfermeira logo virá com seus medicamentos.
Foi para a recepção.
- Doutora aqui está a ficha do paciente do 214. A família já está a caminho.
- Obrigada.
Pegou a ficha sem ao menos olhá-la. Não desviava a atenção das portas de vidro fumê.
O alvoroço ainda era grande e a polícia parecia não ser párea para a multidão.
- E isso vai até quando, hein? – Indagou Sarah.
- Espero que logo. Meu expediente termina em quinze minutos e eu não quero ser pisoteada.
Em quinze minutos? Quem me dera! Eu ainda tenho até às sete, se tiver sorte.
A caminho do quarto 214, engoliu seco ao passar os olhos sobre a ficha e constatar que Honey estava certa. Michael Jackson. Suas mãos tremeram por um instante. Entrou.
- Como ele está? – Perguntou para a enfermeira que se retirava.
- Bem e dormindo.
Alguns minutos depois ela ouviu a porta abrir.
- A família está em sua espera, Dra. Peterson.
Na recepção se encontrava um homem velho de pele escura e alto, tinha grandes óculos sobre o nariz largo, chapéu e alguns colares que lhe caiam sobre a roupa social. Uma senhora de estatura média, também negra, chorava sobre o peito deste. Ao lado estava outro, mais jovem, segurando as mãos de duas crianças na faixa dos doze. A garotinha tinha olhos grandes e verdes, marejados. Parecia ter medo da aproximação de Sarah.
Por que eles estão de máscaras?
Era uma questão sem resposta.
- Como está meu pai? – Indagou a menina, triste.
- Preciso ver Michael! – Exclamou a senhora.
- Por favor, acalmem-se. – Pediu a doutora.
- Como quer que tenhamos calma?! – Protestou o velho, ríspido.
- Entendo, mas... O paciente se encontra fora de perigo. Fizemos o que foi preciso e ele está no quarto. Bem.
- “Vó”, eu posso ir ver o papai? – Pediu a garota.
- Podemos ir vê-lo, doutora... doutora...- Tentava ler o nome.
- Dra. Peterson, senhora. – Respondeu. – Não posso liberar visitas no momento. Ele está dormindo e necessita de total repouso.
Doutora... Não deve passar de uma enfermeira que comprou o diploma, pensava Joseph, maldoso, consigo mesmo.
- O que houve com Michael?
- Sofreu uma parada cardíaca.
Houve um silêncio.
- E quando poderemos visitá-lo?
- Creio que pela manhã ele estará melhor. Venham pelas 10:00m.
Eram 17:46m quando Peterson subiu ao 214. Estava tonta de cansaço. Encontrou Jackson ainda em sono profundo. Esse não acorda hoje.
Abaixou a coberta azul até a sua cintura e aproximou o estetoscópio de seu peito.
Batimentos ritmados... Respiração normalizada...
Cobriu-o novamente um pouco abaixo dos ombros. Fitou-o.
Sua família esteve aqui, e seus filhos são lindos. Amanhã eles estarão aqui para vê-lo e você estará acordado. Não sabe o susto que me deu... Assustou muitas pessoas Sr. Jackson, muitas pessoas.
Tomou um banho, engoliu algo que encontrou na cozinha e arriou-se na cama. Uma hora depois o telefone chamou na mesinha-de-cabeceira. Sem abrir os olhos apenas o trouxe ao ouvido.
- Eu.
- Sarah?
- Eu. – Confirmou, sonolenta.
- Aconteceu algo? Te esperei no Atlantas...
Te esperei no Atlantas... Te esperei no Atlantas...
Pôs-se sentada subitamente, como se alguém a agarrasse pela camisa e a puxasse. Esquecera de Sam. A exaustão era tanta que só visualizava a cama em sua mente.
- Oh, Sam, me desculpe... Não tive um dia fácil.
- Compreendo... - Respondeu ele, triste.
- Estou tão embaraçada!
- Não se preocupe, Sarah. Estou sabendo que salvou uma vida hoje! Fico orgulhoso. Meus parabéns! Nos vemos amanhã?
- Bom dia Sam!
Ela abaixou o olhar, tímida.
- Olá, Sarah! – Respondeu Sam, jovial.
- Você está bem melhor hoje! – Sorriu, acanhada.
Suas maçãs tomaram um leve tom rosado.
- O mesmo para você.
- Posso?
A gola do jaleco de Sam estava torta. Sarah ajeitou e deslizou os dedos para alisá-la. Ele a fitava. Peterson ficou corada e deu um sorriso de canto ao se afastar.
- Obrigado.
As portas do elevador se abriram e ele se foi. Era o começo de mais um longo dia.
Jackson ainda dormia quando adentrou ao quarto. Parece que não dorme há anos!
Examinou-o.
- Tudo certo, Sr. Jackson. – Murmurou.
Trouxeram o desjejum balanceado: torradas, suco de laranja e uma maçã.
- Obrigada, Dorothi. Deixe naquela mesinha, por favor.
Agora vejamos os resultados de seus exames, Sr. Jackson.
Antes que percorresse as folhas de letras pequenas, foi interrompida ao avisarem que a família de seu paciente havia chegado.
Eles entraram e Sarah saiu para que ficassem à vontade. Logo depois voltou se deparando com um ar mais alegre. Jackson e as crianças sorriam. A menina partia as torradas ao meio e dava na boca do pai que ria de suas caretices. O menino não sossegava os avós com as curiosidades sobre alguns aparelhos que estavam no quarto.
Antes que percebessem a sua presença, admirou a cena por um instante no vão da porta. Sentiu algo quente no peito, uma sensação gostosa, de intensa alegria. Pareciam ser uma família feliz.
Mas onde está a mãe desses garotos? Será que não pôde vir?
Sarah limpou a garganta antes de tomar a voz. Todos se voltaram para ela. A menina se pronunciou:
- Foi ela quem não nos deixou vê-lo ontem, papai! – Acusou.
Peterson ficou parada olhando o dedinho da menina apontá-la.
- Tenho certeza que ela não fez por mal querida.- Ele olhou para a médica, e então virou-se à garota. – E não aponte mais para as pessoas, Paris. Isso é feio! – Advertiu, dócil.
- Desculpe, papai.
- Sem problema, querida. – Deu-lhe um beijinho.
- Paris? Bonito nome. – Elogiou Sarah.
Aproximou-se de Jackson e estendeu a mão. Ele apertou.
- Sou a Dra. Sarah Peterson, Sr. Jackson.
- Prazer.
- Como se sente?
- Descansado. Bem.
- Ótimo! Gostaria de lhe falar Sr. Jackson, logo após que eu falar com os senhores. – Olhou para o velho e a senhora. – Vamos para fora, por favor. – Pediu.
- Ele sofre de algum problema? Especificamente: estresse ou insônia?
Ela esperou alguma resposta. Nada.
- Estou com os resultados de alguns exames e conclui que há excesso de substâncias que não deveriam haver. E são compostos pelos seguintes medicamentos: Demerol, Midazolam, Lorazepam e o que mais me impressionou: Propofol.
Esperou novamente alguma reação.
- Bem...b- Tomou a voz a senhora. – Meu filho tem dificuldade para dormir há um bom tempo, e que ainda piorou com os preparativos para a nova turnê. Ele anda sempre cansado, quase não se alimenta... Emagreceu até!
Um súbito silêncio tomou a todos por alguns segundos. Logo Peterson continuou:
- Propofol é um medicamento perigoso se não for usado corretamente. Serve como anestésico em cirurgias e é liberado somente para hospitais. Uso restrito a hospitais! Hospitais!
Ela parecia estar furiosa.
- Deve ser injetado por um profissional, de preferência um anestesista. Vocês estão me entendendo? Por um profissional que passou dias a finco estudando livros enormes e anos abrindo corpos apenas para enfim conseguir uma licença e exercer medicina! – Parou e respirou. – Agora me digam, onde ele conseguiu o medicamento?
Michael Jackson queria tentar suicídio? É isso? Não sei como ele sobreviveu com esse monte de drogas no corpo!
- Bem, Dra. Peterson, nosso filho contratou um médico particular. Ele é bem conceituado, possui seu próprio consultório, um em Nevada e outro em Houston... Oh, como se chama mesmo Joe? – Deu um tapinha no braço do velho.
- Conrad Murray. – Respondeu ele, áspero.
- Isso! – Continuou ela. – Murray também o acompanhará durante a turnê.
Só se ele quiser morrer! Esse médico é louco?
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