The Only Exception escrita por Andy


Capítulo 7
Coração despedaçado!


Notas iniciais do capítulo

Enquanto estiver lendo este capítulo, se encontrar alguma palavra japonesa ou alguma coisa marcada com asterisco (*), procure nas notas finais do capítulo.

Atenção: Este capítulo é um POV (Point Of View - "Ponto de Vista") de Suzuki Rika.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/83966/chapter/7

  Eu estava feliz. Pela primeira vez em muito tempo, minha alegria superava minha tristeza. Kyo era mais do que eu poderia sonhar, mais do que eu poderia pedir. Ele era o melhor amigo que eu tive em toda a minha vida e me entendia mais do que qualquer um jamais entenderia. Eu estava secretamente apaixonada por ele. Claro que eu não podia contar: jamais poderia me arriscar a perder a amizade dele, que era tudo para mim. Mesmo assim, era maravilhosa a sensação de amá-lo; e eu podia me permitir até sonhar que ele me amava também. Mas eu tinha consciência de que tudo aquilo era apenas um lindo sonho, afinal por que ele gostaria de mim, não? Só que sonhar não faz mal a ninguém, ne? Então eu seguia imaginando tê-lo ao meu lado, mais do que um amigo...

  Mas percebi que a expressão do Kyo mudara desde que descobrira meu segredo há alguns dias. Alguma emoção nova surgira em seu rosto, alguma coisa que eu não conseguia identificar o que era... Eu estava com muito medo: será que ele não gostava mais de mim agora? Será que ele iria me abandonar, assim como meu pai e, de certa forma, minha mãe – que só ficou comigo porque não tinha escolha? Pensar nisso doía. Eu não suportaria perder Kyon-kun também! Ele começara a curar meu coração, mas, se me deixasse, eu tinha certeza de que ele se partiria em milhões de pedacinhos, e desta vez não haveria mais cura... Definitivamente destruído. Não! Eu não podia pensar assim! Ele não me abandonaria, ne? Não! Kyo era diferente! Ele mesmo disse que não me achava um monstro! E eu preferia acreditar a continuar sofrendo daquela maneira.

  Mesmo assim, como explicar a súbita mudança de atitude dele? Ele parecia tenso, como se esperasse que alguma coisa ruim fosse acontecer a qualquer momento... Talvez fosse apenas coisa da minha cabeça! Sim, deve ser isso! Devia estar ficando paranoica, com esse complexo de abandono e tudo o mais!

  Naquele dia, como de costume, logo pela manhã minha mãe me encarava como se dissesse “Suma daqui, seu estorvo!”; eu não sabia o que era pior: ela me encarar daquela maneira ou me ignorar, fingindo que eu não existia. Querendo sair de casa e fugir daquele olhar, preparei correndo meu obento* e saí, mesmo sendo ainda cedo demais para ir à escola. Resolvi dar uma passada nas lojinhas perto de casa, mas encontrei quase todas fechadas. Para ser sincera, havia apenas uma padaria aberta. Sem ver outra opção, entrei lá a fim de comprar uns chicletes (ou, ao menos, foi essa a desculpa que dei a mim mesma para “enrolar” antes de ir para o metrô e pegar o trem que me levaria à escola). Antes de ir ao caixa e pedir os chicles, dei uma volta na padaria, olhando os bolos e salgados. Eu era a única cliente ali, e parecia que a mulher que atendia no caixa me olhava de um jeito que dizia “Se não vai comprar nada, saia daqui!”. Francamente será que todo mundo resolveu repentinamente me odiar e ficar me lançando esses olhares penetrantes? Se bem que, pensando melhor, devia ser apenas minha paranoia atacando de novo...

  De fato, quando, depois de resolver comprar um bolinho de chocolate para mim e um para o Kyo, eu decidi que já era hora de pagar e ir para o metrô, a atendente foi super simpática. Eu devia realmente estar imaginando coisas.

  Então eu saí da padaria e andei bem calmamente até o metrô, já que estava com tempo sobrando. Graças a isso, não tive que esperar o trem por muito tempo e logo já estava na escola. Como era de se esperar, estava vazia, a não ser por alguns professores que chegaram cedo a fim de terminar de corrigir provas ou coisa parecida. Deixei as minhas coisas na sala e saí para guardar alguns livros no armário e pegar os das matérias daquele dia.

  Cheguei ao meu armário, coloquei a senha e o abri; imediatamente, notei o envelope elegante que havia sobre as minhas coisas. Parecia um daqueles convites de formaturas. Perguntei-me qual era o sentido daquilo – em geral a escola respeitava a privacidade dos alunos e não invadia os armários. Desconfiada, peguei o envelope e o virei para ver o nome do remetente e me surpreendi. Numa caligrafia caprichada, estava escrito “Souma Akito – Chefe da Família Souma”. O chefe da família do Kyo? O que ele queria? Aliás, como conseguiu deixar aquilo ali, dentro do meu armário?

  Fiquei olhando para o envelope por pelo menos 2min, até que me decidi que apenas observá-lo não ia me trazer resposta alguma. Eu o abri e tirei a carta, que estava escrita com a mesma caligrafia perfeita. Curiosa, comecei a ler:

  Suzuki Rika-san,

  Sei que deve estar se perguntando o porquê de eu estar lhe enviando esta carta. Primeiramente, peço-lhe desculpas pelo inconveniente. Serei breve e irei direto ao ponto: fui informado de que a Srtª descobriu o segredo de nossa família. E isso muito me preocupa. Como chefe da Família, é minha responsabilidade, mais do que de qualquer outro membro, garantir que esse segredo não se espalhe.

  Portanto, gostaria conversar com a Srtª sobre o assunto. Por favor, compareça à Casa Principal da Família Souma para tomar um chá comigo hoje após as aulas. Não se preocupe, será apenas uma conversa.

  Desculpe-me, mas gostaria também de lhe pedir que não contasse ao Kyo. Ele iria querer vir com a Srtª, e esta deverá ser uma conversa particular. Espero que compreenda.

  Estarei aguardando ansiosamente que eu possa conhecer a Srtª pessoalmente.

  Atenciosamente, Souma Akito – Chefe da Família Souma.    

  Reli a carta, franzindo a testa para o papel em minhas mãos. Alguma coisa me incomodava: eu sentia que havia algo muito errado ali. Imaginei que tivesse algo a ver com o fato de que ele me pedia para não contar ao Kyo, mas os argumentos eram válidos. Era natural que o Kyon-kun fosse querer visitar a família se eu fosse à Casa Principal, contudo a conversa devia ser particular. Sim, isso fazia sentido. Então por que eu tinha aquela sensação incômoda de que algo estava errado? Ah, sim! Esqueci que sou paranoica.

  Olhei dentro do envelope e vi que havia um cartão com o endereço da Casa Principal da Família Souma. Ficava um tanto longe da escola, mas era só pegar o metrô – isso que é o bom desta cidade, não importa aonde você quer ir, é só pegar o metrô. Decidi que eu iria e guardei o cartão na minha maleta.

  Não percebi que tanto tempo se passara e, quando dei por mim, as pessoas já estavam chegando e abriam seus armários, enquanto o corredor se enchia à minha volta. Voltei para a sala e encontrei Kyon-kun, Tohru-san e aquele rato nojento – literalmente – do Yuki. Fiquei conversando com o Kyo até que o sinal bateu e as aulas começaram.

   Eu estava ansiosa – a visita ao chefe da família Souma não saía da minha cabeça –, então as aulas pareceram se passar muito devagar. Eu tentava prestar atenção à aula de Inglês, enquanto escrevia na margem de meu caderno “You are my only exception...”, frase que criei para o Kyon-kun, porque ele era a única exceção, a única pessoa no mundo que me fazia acreditar que o amor realmente existia. E os minutos pareciam se arrastar, a aula durava tempo demais.

  Depois da aula de Inglês, foi a vez da chatice de Álgebra. Eu simplesmente detesto Matemática e, portanto, sabia que essa aula seria ainda mais longa que a anterior. Suspirei. Por que estudar isso? Uma calculadora resolve todas essas contas para você! Hello-o! Estamos no século XXI! Eu me perguntava se valia a pena discutir essa questão com o diretor, quando o professor chamou a atenção da classe. Inicialmente, não liguei muito para isso, mas depois ele começou a chamar nomes e eu olhei para ele, apurando os ouvidos. Por um momento, pensei que fosse a lista de pessoas que estava de recuperação (na qual o meu nome sempre aparecia); porém, prestando mais atenção, percebi que ele na verdade estava entregando as avaliações corrigidas. Meu coração começou a bater mais rápido, e um nó se formou em minha garganta: essa era a prova para a qual Kyon-kun me ajudara a estudar! Eu não podia decepcioná-lo! Eu achava que tinha me saído bem, mas isso não queria dizer nada: justamente quando as coisas pareciam fazer sentido é que eu normalmente estava errada. Já estava quase tendo um ataque sentada em meu lugar quando o professor chamou:

  – Souma Yuki! – e sorriu.

  O ratinho nojento levantou-se e, tão calmo que chegava a ser irritante, foi até a frente pegar a prova e retribuiu o sorriso do professor. Eu sabia que logo em seguida seria a minha vez. Mesmo assim, praticamente entrei em desespero quando o professor chamou:

  – Suzuki Rika! – ele não sorria, mas pelo menos não estava de cara amarrada como eu esperava. Parecia tranquilo, o que me deu alguma esperança.

  Eu me levantei e, andando tão dura que parecia um robô, dirigi-me à frente da sala para pegar a minha sentença de morte – era o que eu sempre sentia quando ia receber uma prova de Álgebra. Me atrapalhei no caminho, tropeçando em mim mesma, e por pouco não caí. As pessoas riram e isso me fez corar; eu desejava sumir. Quando cheguei lá, o professor estendeu-me a prova e murmurou, baixo demais para que alguém além de mim pudesse ouvir:

  – Parabéns Suzuki-san.

  Ele falou realmente muito baixo, portanto achei que tivesse entendido errado, mas não podia ficar ali parada olhando para a cara dele, então peguei o tenebroso papel em suas mãos, dobrei-o ao meio sem olhar a nota e, prestando atenção para não tropeçar de novo, voltei ao meu lugar. Quando me sentei, fiquei encarando a avaliação em minhas mãos, com medo demais para abri-la. Passaram-se mais ou menos uns dois minutos até que eu me movesse e, com as mãos trêmulas, desdobrasse a folha.

  Tive que tampar a boca com as mãos para reprimir um grito. Não podia acreditar no que meus olhos viam. Várias vezes, olhei o nome escrito no alto da folha, só para ter certeza de que aquela prova era minha mesmo. Nunca em toda a minha vida eu tirara uma nota tão alta! Noventa e oito! Quase não conseguia me conter de tanta felicidade. Então me lembrei de quem havia me ajudado a conquistar aquilo. Procurei por ele e seu olhar encontrou o meu; ele sorria – um sorriso tão lindo que eu prendi a respiração por um instante, antes de retribuir. Eu estava simplesmente radiante!

  A euforia de ter tirado a maior nota da história da minha vida escolar, na matéria que eu mais odiava, varreu completamente a minha ansiedade e esqueci por completo a visita ao chefe da família de Kyo. Mas isso tampouco fez as outras aulas passarem mais rápido para mim porque agora eu mal podia esperar para falar com Kyon-kun. Então, quando o sinal para o almoço tocou, eu poderia até sair cantando “Aleluia” por aí, mas me contive. Ao invés disso, corri para ele, que me esperava sorrindo.

  – Kyon-kun!! – sorri para ele também.

– E aí, como foi?

  – Tirei noventa e oito! E você? – eu falava rápido demais, devido à empolgação, mas ele não se importou.

  – Eu tirei cem. – ele respondeu num tom brincalhão, mostrando a língua para mim.

  – Ah! Seu chato!

  Ele riu e eu o abracei, rindo também. Ah! Fazia tanto tempo que eu não ria! Pareceu-me muito estranho – e maravilhoso, ao mesmo tempo.

  – Obrigada, Kyo-kun! Se não fosse por você, eu jamais teria conseguido! – e, abaixando a voz, de forma que ela agora não era mais que um sussurro – Ainda bem que eu sou a única que pode te abraçar...

  Ele retribuiu o abraço, acariciando os meus cabelos, e eu pude ouvir o sorriso em sua voz quando propôs:

  – Ei, vamos sair hoje depois da aula para comemorar! O que acha?

  Eu estava prestes a concordar alegremente, a dizer “Claro! Vamos, por que não?”, mas de repente me lembrei do compromisso já esquecido. Fiquei meio desapontada: eu queria muito ir com Kyon-kun! Mas, refletindo um pouco, consegui juntar toda a minha força de vontade e recusar o convite.

  – Desculpa... Eu... Já tenho outro compromisso... – não consegui ser tão convincente quanto queria. Era difícil mentir para ele, ainda mais quando eu realmente queria aceitar!

  – Ah... – pude ver a decepção em seu rosto. – Vai fazer o quê? – Ai! Ele tinha que perguntar???

  – Ahnm... Vou ter que... Que... Ajudar minha mãe no trabalho. – eu tinha pensado demais, e fiquei com medo de que isso me denunciasse.

  Ele me olhou desconfiado por um instante, mas logo a desconfiança em sua expressão foi substituída por fúria:

  – Ela ainda te pede para fazer isso? Francamente, quem ela pensa que é? – ele tinha a voz carregada de raiva. – Eu vou lá falar com ela!

  – Obrigada, Kyon-kun, é muito fofo de sua parte, mas não precisa se preocupar, eu estou bem. Outro dia nós saímos juntos, está bem? – eu falei com a maior meiguice que consegui reunir. Não foi difícil, eu tinha verdadeiramente achado muito fofo.

  – Tudo bem, se é assim que você quer... – aliviada, vi sua expressão se atenuar. – Vamos, então?

  Juntos, nós fomos almoçar no terraço do prédio 1, como costumávamos fazer desde o dia em que nos conhecemos. Conversamos alegremente, centralizando o assunto em nossas notas impressionantes – ou melhor, minha nota impressionante; para ele, aquilo devia ser normal – e, como sempre, o intervalo passou rápido demais. Voltei para a classe não me sentindo preparada para aturar o resto das aulas.

  Fiquei apenas rabiscando em meu caderno, sem prestar muita atenção ao que o professor dizia, só me animando novamente no segundo e no terceiro intervalos*, que eu passei com Kyon-kun. A preocupação com meu “compromisso” após a aula agora voltara e eu estava inquieta. Mal pude acreditar quando enfim o último sinal bateu. Despedi-me do Kyo e fingi que precisava comprar algumas coisas para minha mãe na papelaria perto do colégio, para não ser obrigada a acompanhá-lo até o metrô, pois temia que pudesse deduzir para onde eu iria, vendo em qual estação eu iria descer. “Enrolei” na papelaria até que resolvi que já devia ser seguro e fui até a estação de metrô para pegar o próximo trem, em direção à Casa Principal da Família Souma.

  Quando cheguei ao endereço, inicialmente achei que tivesse me enganado, contudo, ao conferir no cartão, vi que era ali mesmo. O lugar era enorme! Parecia uma cidade! Kyo nunca me dissera antes que a família era rica! Talvez não quisesse chamar atenção para isso... De qualquer forma, aquele não era o melhor momento para questionar isso. Um tanto nervosa, cruzei o portão, que estava aberto, e andei um pouco; havia alguém esperando por mim. Era um homem alto, o qual parecia tranquilo e possuía uma estranha elegância. Só achei um pouco estranha a maneira como ele deixava a franja cobrindo o olho esquerdo, mas isso era o de menos.

  – Boa noite, Suzuki-san. Seja bem-vinda à Casa Principal da Família Souma! Prazer em conhecê-la, sou Souma Hatori, médico da família. – ele deu um leve sorriso educado.

  – Boa noite. O prazer é meu, Hatori-san. – eu o cumprimentei com uma reverência.

  – Venha, Akito está à sua espera. – com uma elegância surpreendente, ele se virou. Engolindo em seco, eu o segui.

  Por dentro, o lugar era ainda mais impressionante: o jardim belíssimo era super bem cuidado e as casas, muito lindas. Sim as casas – embora chamassem de Casa Principal, lá era na verdade um conjunto de casas, seria melhor chamá-la de Vila Principal, ou algo assim. Perguntei-me porque Kyon-kun não morava ali com os outros Souma.

  Quando dei por mim, Hatori-san tinha me levado à maior e mais bela das casas que havia ali, localizada bem no centro da pequena cidade. Tirando os sapatos, nós entramos. Meu coração batia mais rápido, e eu suava frio; estava muito nervosa. Na verdade, nervosa não seria bem a palavra: eu não entendia muito bem o motivo, mas estava assustada, como se minha intuição dissesse que algo de ruim estava por vir.

  Nós subimos as escadas e entramos pela porta à nossa esquerda, que dava para uma sala bem grande. O cômodo, grande demais para a pouca quantidade de lâmpadas que possuía, estava meio mal iluminado; porém, para meu grande alívio, havia claridade o suficiente para que minha verdadeira forma não aparecesse. Eu ainda me perguntava como faria para ir embora dali depois, mas isso era o de menos, eu daria um jeito (já estava acostumada a fugir na noite sem ser vista).

  Ao fundo da sala, havia um vulto – alguém estava virado de costas para nós. Ele pareceu nos ouvir, porque se virou lentamente quando nos aproximamos. Lembrava um pouco o Yuki, exceto pelos cabelos negros e olhos igualmente escuros. Hatori-san fez uma reverência:

  – Boa noite, Akito. Aqui está garota Suzuki.

  Eu também me curvei, meio tarde demais:

  – Prazer em conhecê-lo, Akito-san. Sou Suzuki Rika. – eu falei rápido demais, atropelando as palavras, devido ao nervosismo.

  – Muito prazer, Suzuki-san. Sou o chefe da família, Souma Akito. – havia uma arrogância em sua voz, que me assustou. Será que ele estava bravo comigo? – Sentem-se, por favor. – ele gesticulou para duas almofadas à frente da qual ele próprio se sentou. Hatori e eu obedecemos. – Desculpe-me pelo incômodo. – ele disse, se referindo a mim, sua voz se tornando agradável de repente.

  – Não, imagine, não tem problema... 

  – Não quero tomar muito de seu tempo, então serei breve e objetivo. Eu soube que você descobriu o segredo de nossa família, certo?

  – S-Sim, é verdade. – eu gaguejei, meu medo se intensificando.

  – Hnm... Sabe que isso é um problema, não é?

  – E-Eu prometo, nunca vou contar esse segredo para ninguém! E-Ele irá comigo para o túmulo! – mais uma vez, falei rápido demais, atropelando as palavras. Meu coração batia disparado.

  – Sim, eu acredito em você.

  Eu pisquei, arregalando os olhos para ele; foi muito fácil. Meus olhos se estreitaram: foi fácil demais, algo estava errado.

  – Mas não é esse o problema... – eu fiquei olhando para ele, sem entender. Se não era esse o problema, qual seria? – O verdadeiro problema é... Kyo me disse que não pretende ficar com você por muito mais tempo.

  – O... O quê? – eu pensei ter entendido errado o que ele disse. Não queria acreditar.

  – Desculpe-me por dizer isso assim dessa maneira, mas é essa a verdade. Eu e ele andamos conversando, e ele me disse que está deixando de gostar de você. Disse que descobriu que você não era exatamente o que ele imaginava, ou algo assim...

  Enquanto escutava aquelas palavras, senti um nó se formando em minha garganta e uma pontada de dor em meu peito. O que ele dizia fazia todo o sentido. Kyo tinha descoberto meu segredo... Descobriu que eu era um monstro e não me queria mais... Isso fazia todo o sentido. Era o que eu mais temia.

  – M-Mas... H-hoje mesmo ele me chamou para sair... – eu ainda me recusava a acreditar.

  – Oh, verdade? – Akito-san não parecia realmente muito surpreso. – É, ele me disse que estava esperando uma oportunidade para te dispensar... Talvez tenha cansado de esperar e resolveu criar a oportunidade... – assombrada, vi que o que ele dizia agora também fazia sentido. Tinha sido a oportunidade perfeita para me convidar a sair e depois... Depois... Eu não conseguia completar o raciocínio, doía demais. Eu abaixei a cabeça, olhando para meus joelhos, tentando controlar a imensa vontade de chorar que tomava conta de mim. Como não respondi nada, Akito-san continuou: – Eu sei, eu sei... Dói... Mas nós podemos fazer isso passar.

  Eu ergui a cabeça e olhei para ele.

  – Como...? – minha voz saiu chorosa.

  – Hatori é o médico de nossa família e uma de suas especialidades é apagar memórias. Entende, quando alguém acidentalmente descobre nosso segredo... Eu não pediria a ele que fizesse isso com você se Kyo fosse te levar a sério e quisesse ficar com você, mas...

  Eu não conseguia responder. Havia um enorme nó em minha garganta e parecia que minha voz tinha sumido. Percebendo isso, ele continuou:

  – Mas, se você concordar, nós poderemos apagar de sua memória tudo a respeito do Kyo. Isso irá fazer com que sua dor passe e você não precisará mais sofrer tanto... E será mais fácil para ele também. O que você acha? – ele falou isso num tom paternal. Sentia pena de mim, eu percebia isso.

  Refleti sobre a oferta por um instante. Eu acreditava no que Akito-san estava dizendo, porque tudo fazia sentido: Kyo-kun estava mesmo agindo diferente desde que descobrira meu segredo. Por outro lado, eu não queria me esquecer de tudo... Mas a dor era insuportável. Eu não queria, não podia passar por aquilo de novo! Ser abandonada por quem eu mais amo... Não, não conseguiria conviver com isso. Por mais que não quisesse, eu teria de abrir mão de minhas memórias. Para o meu próprio bem...

  Minha decisão estava tomada.

  – E-Eu aceito, Akito-san... – consegui, com esforço, pronunciar essas palavras.

  – Eu sinto muito, Suzuki-san... – ele estava sendo sincero, eu tinha certeza. Então, se virou para o médico. – Hatori...

  Hatori-san assentiu. Eu fechei meus olhos, deixando finalmente que uma lágrima escorresse. Senti uma mão tocar minha testa, o médico devia estar se preparando para apagar minhas lembranças. Mentalmente, sussurrei uma última vez: “Kyo, eu te amo...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nota:

*Rika diz que eles tinham três intervalos, certo? Parece muito, ne? Mas é que, pelo o que eu pude observar nos animes que assisti, parece que as escolas japonesas começam de manhã cedo e vão até as 18h, aproximadamente. Então eu calculei que três intervalos seria até pouco, mas preferi deixar assim mesmo.

Nota de tradução:

*obento: acho que a maioria das pessoas já sabe, mas um "obento" é uma espécie de almoço individual que os japoneses costumam levar para o colégio ou para o trabalho.


E eis aqui o Capítulo Sete, desta vez com uma narrativa diferente. Esperam que tenham gostado de conhecer o modo de pensar da Rika.
Enfim, o que acharam do capítulo, de um modo geral? Por favor, comentem! *--*"

Obrigada por lerem!
SakuraHime