The Only Exception escrita por Andy


Capítulo 8
Verdadeira natureza


Notas iniciais do capítulo

Enquanto estiver lendo este capítulo, se encontrar alguma palavra japonesa ou alguma coisa marcada com asterisco (*), procure nas notas finais do capítulo.

Atenção: O capítulo anterior foi um POV de Suzuki Rika, mas neste aqui a narração volta a ser do Kyo.



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  Eu corria o mais rápido que podia, e mesmo assim parecia lento demais. O medo que tomava conta de mim era indescritível. Eu sabia o que Akito ia fazer e amaldiçoava a mim mesmo por ter permitido que Rika-chan me enganasse com aquela história de ir ajudar a mãe e principalmente por ter permitido que ela fosse até aquele lugar, onde eu sabia que aquele monstro do Akito iria convencê-la a abrir mão de suas memórias; onde eu sabia que ele a faria sofrer...

  Estava ofegante, correndo a toda velocidade, as formas à minha volta borradas pela velocidade. Não havia tempo para pegar um metrô, não podia parar para respirar, não podia nem sequer pensar em desacelerar um pouco. Enquanto corria com todas as minhas forças, xingava Shigure por ter contado ao chefe de nossa família, xingava a mim mesmo por ter permitido à Rika-chan se aproximar de mim, mesmo sabendo que eventualmente algo assim iria acontecer, xingava essa maldita família em que eu fui nascer... A fúria se mesclava ao pavor dentro de mim.

  Meu coração começou a bater ainda mais rápido quando avistei a casa do Akito: será que eu tinha chegado a tempo? Seria agora tarde demais? Não! Eu tinha que acreditar que tinha chegado a tempo! Subi as escadas em disparada e não parei para ver se a porta estava trancada ou não, simplesmente chutei-a com toda a força – se estivesse trancada, teria sido o suficiente para arrombá-la. A porta se escancarou à minha frente e, horrorizado, eu pude ver: Hatori já estava com uma das mãos na testa de Rika! Não! NÃO! Era tarde demais?

  Fiquei paralisado por um instante, observando a tenebrosa cena, até que concluí que, se suas memórias já tivessem sido apagadas, a garota agora estaria completamente desnorteada, sem entender o que estava fazendo ali; então ainda não estava acabado. Eu rosnei para o Hatori:

  – Afaste-se dela!! Agora!!!

  Para meu assombro, ele obedeceu, lançando-me um rápido sorriso. Então entendi: ele não queria fazer aquilo! Estivera “enrolando” de propósito, para que eu tivesse tempo de chegar ali! Arrependi-me no mesmo instante de tê-lo xingado tanto enquanto corria para aquele lugar. Mas eu não tinha tempo para parar e pedir desculpas naquele momento.

  Voei para cima do Akito e o agarrei pelo colarinho, erguendo-o um pouco da almofada onde estava sentado e encarando-o. Ele tinha um olhar de deboche e desafio. Minha raiva se tornou ainda maior, se é que isso era possível. Comecei a gritar com ele:

  – Seu idiota!!! Como você pôde???

  – Kyo, o que está fazendo?! – foi Rika quem gritou. Eu a ignorei.

  – Akito, você...! Como ousa...! O que você disse a ela, seu manipulador nojento??? – eu já tinha uma boa noção do que ele tinha dito, mas queria ver se ele teria a coragem de dizer ali, na minha cara.

  – Eu...? – ele perguntou, numa imitação fajuta de um tom de voz inocente – Só disse a ela a verdade!

  – Que verdade?! – eu o sacudi uma vez.

  – Ora... Disse-lhe que abrisse os olhos! Que você só a estava enganando! – ele deu um irritante sorrisinho sarcástico.

  Eu ergui a mão livre e, com vontade, dei um tapa na cara daquele idiota. Ele permaneceu com a cara virada, sem voltar a me encarar.

  – Kyo!!! – Rika chamou meu nome mais uma vez. Eu não podia acreditar que ela estivesse defendendo ele! Novamente, a ignorei.

  Voltei a gritar:

  – Akito você... Você me enoja... Seu... – tentei pensar numa palavra ruim o suficiente para descrevê-lo, mas só uma me veio em mente naquele momento: – Seu monstro! – cuspi a palavra, tornando-a um palavrão.

  Ele então voltou a me encarar, o formato de minha mão impresso em vermelho em seu rosto.

  – Monstro? Eu? Você é o último que poderia dizer isso para mim! – de repente, uma expressão nova surgiu em seu rosto; ele deixara a máscara cair e o Akito psicopata que eu conhecia finalmente apareceu. – Falando nisso... Ela diz que o ama, não é? – e deu uma risada, a qual soou bem maligna. – Mas ela te conhece de verdade? Ela já viu o que você é na realidade?

  Antes que eu pudesse processar o que ele havia dito, antes que eu pudesse reagir às suas palavras, ele segurou com firmeza a pulseira de contas pretas e brancas que estava em meu pulso e puxou, arrancando-a de meu braço.

  Eu imediatamente o larguei, e me afastei dele, minha fúria se transformando em pânico. A minha metamorfose já começava. Minha camisa se rasgou enquanto eu lentamente me transformava naquela coisa medonha: um monstro verde-oliva escuro, de olhos roxos e dentes afiados, com patas enormes. Aquilo que eu realmente era: um monstro. Quando tirava minha pulseira, o verdadeiro Kyo surgia – o gato do Juunishii*, condenado a ser um monstro, amaldiçoado por toda a eternidade.

  – Não olhe para mim!!! – eu gritei para Rika, minha voz estranha e em dois tons diferentes, como se duas vozes (a minha e a do monstro) falassem ao mesmo tempo. Nem preciso dizer que foi inútil. A garota olhou para mim, e eu vi a expressão em seu rosto: meio de choque, meio de nojo. Ela começou a assumir um leve tom esverdeado, como se estivesse enjoada; era provável que estivesse mesmo, eu sou horrível.

  Sem pensar duas vezes, eu me virei e desatei a correr, fugindo daquilo. Fugindo da dor. Sim, porque eu sabia que era o que me esperava: dor, sofrimento. Porque agora estava acabado. Rika-chan não ia querer mais chegar perto de mim – talvez até pedisse a Hatori que apagasse a memória dela naquele exato momento... E eu não iria impedir. Não mais. Agora não tinha importância: seria escolher o jeito que ia querer perdê-la. E acho que eu preferia mesmo que sua memória fosse apagada, porque aí não teria de suportar o olhar dela depois...

  Ocultando-me entre as árvores que existiam em abundância por ali e nas sombras, corri para casa. Chegando lá, usei uma árvore como apoio e pulei pela janela de meu quarto, a qual eu aprendera a deixar aberta sempre que saía, para caso aquilo voltasse a acontecer. Pousando com um baque surdo no assoalho, corri para a cômoda e arranquei a primeira gaveta pequena com minha enorme pata. Atirei-a em cima da cama e, desesperadamente e quebrando algumas coisas, finalmente encontrei meu bracelete reserva. Coloquei-o em meu pulso e esperei; nada aconteceu. Eu sabia o porquê: eu tinha que me acalmar para poder voltar à forma humana. Como se fosse possível.

  A vontade que eu tinha era a de simplesmente fugir e deixar tudo para trás. Mas eu sabia, por experiência, que isso não era a solução. Claro que era difícil raciocinar direito quando eu estava sofrendo tanto e a dor era quase insuportável. Eu sentia um impulso enorme de pular por aquela janela e correr para as montanhas, como já havia feito antes uma vez; porém me controlei. Eu tinha que permanecer ali, naquela casa, naquela cidade. Não tinha para onde fugir e sabia que partir não resolveria nada.

  Eu tinha que me acalmar de alguma forma, para deixar de ser... Ou melhor, deixar de aparentar ser aquela criatura monstruosa – porque infelizmente não havia como eu deixar de ser aquilo. Quando eu estava irritado, gostava de subir para o telhado à noite e ficar lá, observando a lua e as estrelas: a serenidade e o silêncio da noite me deixavam mais calmo... Muitas vezes eu chegava a dormir lá em cima. Então pulei a janela e me lancei para a tranquilidade da noite. Usando a mesma árvore que tinha usado como apoio para pular a janela, subi para o telhado e me deitei, olhando as estrelas e tentando não pensar.

  Mas eu tinha dificuldade em me controlar, em controlar a fúria, a tristeza e o medo que tomavam conta de mim. Os pensamentos que eu tentava evitar vinham a todo o momento me importunar, e eu continuava querendo desesperadamente fugir deles, me livrar daquilo. Assim como Rika tinha feito uma vez, eu me sentei e pus as mãos sobre a cabeça, como se tentasse me proteger de algo que fosse cair em cima de mim a qualquer momento. Fiquei assim por algum tempo, tentando organizar minha mente e refrear o impulso de gritar.

  Eu não a ouvi chegando. Quando ergui a cabeça ela estava ali, parada em pé, me olhando com aqueles olhos verdes brilhantes. Assim que percebi sua presença, eu me levantei, e me virei, já me preparando para pular direto para o chão e fugir para as montanhas – aquilo podia não resolver nada, mas era melhor do que ficar ali, melhor do que ter de suportar aquela dor. De repente, uma mão se fechou em meu pulso, mantendo-me ali; fiquei imóvel.

  – Por que você está fugindo de mim, Kyo? – pela voz dela, parecia que estava chorando pouco antes.

  Eu não respondi. Não estava entendendo mais nada! Ela é quem devia estar fugindo de mim! Porque ela não queria que eu fosse embora dali???

  – Kyo, por favor...

  Não sei bem o porquê, mas aquilo me irritou. Eu me virei para ela e, puxando o meu braço para me libertar, gritei em minha voz dual:

  – Qual é o seu problema???

  Então seus olhos fosforescentes se encheram de lágrimas e ela respondeu numa voz baixa e chorosa:

  – Não quero que você vá...

  Senti minha irritação crescer ainda mais. Por que ela estava chorando? Por que queria que eu permanecesse ali? Já não estava ruim o bastante? Já não provocara dor o suficiente???

  – Por quê? Olhe para mim! Eu sou um monstro! Você não está com medo de mim???

  – Isso não faz de você um monstro. – ela usou exatamente as mesmas palavras que eu usei quando descobri o que ela era e isso fez minha fúria diminuir por um instante; mas depois a raiva voltou em dobro: aquelas palavras não se aplicavam a mim.

  – Como não??? Rika, preste atenção, está é a minha verdadeira forma! É isso o que eu sou!!!

  – Não importa para mim que essa seja sua verdadeira forma! Kyo, para mim o que importa de verdade é o seu interior, a sua verdadeira natureza! – ela também aumentou o tom de voz, mas ainda não estava gritando como eu.

  – Verdadeira natureza? – eu ainda podia sentir a raiva fluindo dentro de mim e ela não me deixava pensar com clareza. Não estava entendendo o que Rika queria dizer.

  – Sim! O que importa para mim é que, mesmo agora, você ainda é aquele garoto que eu conheci! Você ainda é o Kyo! Não importa a aparência que tenha! O que importa é que, por dentro, você ainda continua sendo o mesmo! O Kyo que eu amo! – ela chorava agora em seu desespero para me convencer a ficar ali.

  Ouvi-la dizendo que me amava fez minha raiva e minha angústia praticamente sumirem. E então elas foram substituídas pela culpa: apesar de ter me visto daquele jeito, mesmo que devesse estar com medo e nojo de mim, apesar de isso não fazer sentido, ela parecia ainda gostar de mim. E eu estava a fazendo chorar. Senti nojo de mim mesmo por causa disso. Minha raiva desapareceu de vez.

  – Rika... Não chore... – ao dizer isso, lentamente voltei para a forma humana.

  – Só se você for ficar!

  – Não vou a lugar nenhum. – prometi.

  Então, para meu espanto, ela pulou em cima de mim, derrubando-me e abraçando-me. E eu que achei que ela nunca mais ia querer chegar perto de mim!

  – Seu bobo! – ela resmungou, escondendo o rosto em meu peito.

  Eu ri. Sentia-me tão estranhamente feliz!

  – Só você mesmo Rika...

  Ela riu comigo e eu ainda mal podia acreditar que era verdade. Eu não a havia perdido!

  Depois daquilo, ficamos sentados no telhado, conversando. Devia ser tarde da noite, mas nenhum de nós se importava com aquilo e a conversa continuava, ininterrupta. Até que chegou um ponto em que não tínhamos mais assunto e o silêncio reinou; mas não era um silêncio do tipo que constrange, era bom... Uma leve brisa soprava e o silêncio entre nós se arrastava. Fechei meus olhos, sentindo o vento no rosto.

– When I was younger I saw

My daddy cry in curse at the wind...

          He broke his own heart and I’ve saw

     As he’s tried to reassemble it.

  Abri meus olhos. No pouco tempo em que eu estive com eles fechados, Rika-chan se levantara e começara a cantar, de costas para mim. Eu não entendi. O que ela estava fazendo? Quero dizer, é um pouco estranho uma pessoa começar a cantar de repente...

  Contudo, não pude deixar de notar como era linda a voz dela. Parecia um anjo cantando. Sim, era isso o que ela era para mim: um anjo em minha vida. Tentei prestar atenção no que a letra da música dizia, e embora eu não fosse lá essas coisas em inglês, consegui entender mais ou menos... Ela estava falando do pai dela... Dizia que ele havia partido o próprio coração, ou algo do tipo.

– And my momma swore she would

Never let herself forget.

And that was the day I’ve promised

I never sing of love, if it does not exist.

  Ela ainda estava de costas para mim. Prestando atenção, consegui traduzir mais ou menos. Ela falava que a mãe dela jamais se deixaria esquecer o que o pai dela fez, e que naquele dia ela tinha jurado jamais cantar sobre amor, se ele não existia. Eu ainda não entendia. Por que ela começara a cantar de repente?

– But darling...

You are the only exception

You are the only exception

You are the only exception

You are the only exception

  Eu devo ter entendido errado. Ela disse “Querido, você é a única exceção”? Ela estava cantando para mim? Não, eu devo ter entendido errado... Deve ser apenas uma música qualquer que ela ouvira por aí e resolvera cantar, sem motivo algum, apenas por cantar.

– Maybe I know somewhere deep in my soul
That love never lasts
And we've got to find other ways
To make it alone or keep a straight face...

  Ela agora dizia que talvez sempre soubesse que o amor nunca durava e que as pessoas tinham de encontrar outras maneiras de serem felizes sozinhas... Eu ainda tinha dúvidas: será que aquilo era para mim mesmo?

– And I've always lived like this
Keeping a comfortable, distance
And up until now I swore to myself
That I'm content with loneliness,
Because none of it was ever worth the risk...

But you are the only exception
But you are the only exception
But you are the only exception
But you are the only exception

  Eu me levantei. De alguma forma, depois de ouvir essa última parte, eu entendi que aquilo era sim para mim. Ela estava dizendo que até aquele momento ela jurava para si mesma que estava feliz com a solidão, porque nada valia o risco, mas que eu era sua única exceção. O único que ela amou.

  Não sei o que deu em mim, só sei que um momento depois eu estava atrás dela, abraçando sua cintura. Então ela se virou para mim e começou a perguntar: “Kyo, o qu...”, porém foi só o que pôde dizer, pois eu a calei, selando seus lábios com um beijo. No início, ela pareceu se assustar, mas logo em seguida retribuiu.

  Eu sabia que não estava acabado. Sabia que, se quisesse ter Rika-chan como minha namorada, teria de enfrentar o Akito – e não seria fácil. Mas naquele momento eu decidi que, não importava o que acontecesse, eu iria lutar por ela, por aquele amor... Porque valia o risco.


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Notas finais do capítulo

Nota de tradução:

*"Junishii" é o grupo dos doze animais/signos do zodíaco.

Importante: Na fanfic, a música teria sido composta pela própria Rika; mas na realidade essa música pertence a uma de minhas bandas preferidas, Paramore! NÃO FUI EU QUEM A ESCREVEU!

E finalmente o tão esperado beijo de Kyo e Rika! *---*
Gostaram deste capítulo? Espero que sim!
Ah! Se você está se perguntando "Quando a fanfic virou uma songfic?"... Bom, na verdade desde o começo eu estava tentando encaixar a música na história, porque foi uma de minhas fontes de inspiração. XD
O nome da fanfic, inclusive, é o mesmo que o da música.
Espero que tenha ficado legal! i.i"
Por favor, comentem me dizendo o que acharam!
Obrigada por lerem! =D

SakuraHime

P.S.: Ah, sim! Eu sei que neste capítulo há algumas coisas que não condizem com o mangá de Fruits Basket, mas é que na época em que eu estava escrevendo esta fanfic eu ainda não tinha nem começado a ler o mangá, então... Desculpem-me, fãs! >.<"