The Only Exception escrita por Andy


Capítulo 4
Assunto sério! Estude, Kyo!


Notas iniciais do capítulo

Enquanto estiver lendo este capítulo, se encontrar alguma palavra japonesa ou alguma coisa marcada com asterisco (*), procure nas notas finais do capítulo.



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  Quando acordei e fui tomar meu café-da-manhã, ninguém se atreveu a falar nada comigo, mas Tohru não parava de me olhar daquele jeito preocupado dela, o que estava começando a me dar nos nervos – quero dizer, não havia nada de errado comigo para ela ficar me olhando assim!

  Só quando já estávamos saindo para ir para a escola foi que ela resolveu falar comigo:

  – Ahnm... Kyo-kun, está tudo bem?

  Ai... Tava demorando...

  – Sim, eu estou ótimo. Por quê?

  – Nada...

  Depois disso, nem ela, nem Yuki disseram nada até chegarmos à escola. Eu fui logo para a sala guardar a minha mochila, e não demorou muito até Suzuki-san vir me cumprimentar; nós conversamos até que o sinal bateu, anunciando o início das aulas. Depois, almoçamos juntos de novo, e ela se despediu de mim novamente no final da aula. Toda vez que ela falava comigo, com aquele jeitinho doce dela, eu me sentia tão... Inexplicavelmente feliz! Era tão estranho! Eu não conseguia entender a mim mesmo!

  Os dias foram se passando, e a cada dia que se passava eu ficava mais próximo de Rika-chan (agora eu a chamo assim, depois dela tanto me pedir...). Eu me perguntava se devia contar o segredo da família a ela, ou não. Mas parecia que tanto Shigure quanto Hatori tinham esquecido essa história. Resolvi esquecer também, mas não deu muito certo...

  Era um domingo, e Hatori apareceu em nossa casa, trazendo com ele o Momiji (o coelho da lenda), que tratou de convencer logo a Tohru e o Yuki a brincarem com ele. Ele é sempre tão infantil... E é só dois anos mais novo que eu! Mas algo me diz que Hatori o pediu para fazer isso...

  – Ha-san!!! Que ótimo tê-lo em nossa humilde casa!! – Shigure falou daquele irritante jeito entusiasmado dele.

  – Obrigado, Shigure. – Hatori respondeu muito sério. Até hoje não me acostumei com a ideia de que esses dois são melhores amigos... Eles são total e completamente diferentes. Pensei nisso por um breve momento, até que o médico me chamou a atenção: – Kyo, eu vim para conversar com você.

  – Hnm...? Comigo? – eu não entendi. Já tinha me esquecido completamente a história da Rika-chan ter esbarrado em mim e tudo o mais. Demorei um pouco para compreender. – Ah... Sobre a Rika-chan?

  O Shigure não entendeu. Ele é tão lerdo...

  – Quem é essa? Sua amiga imaginária?

  Mas o Hatori, felizmente, entendeu.

  – Ah, então esse é o nome dela?

  – Quem é “ela”? – desta vez eu tinha certeza absoluta de que o Shigure estava se fazendo de idiota.

  – Aquela garota que esbarrou no Kyo no colégio. – Hatori, como sempre, foi calmo e aturou com paciência a palhaçada do Shigure. Estou começando a achar que entendo o porquê deles serem tão amigos. Hatori é o único que consegue ser tão paciente com o vira-lata metido a palhaço. Claro que tem o irmão do Yuki também, mas ele é quase tão maluco e tão metido a bobo-da-corte quando o Shigure, então...

  – Ah... A namorada dele! Tinha até esquecido!

  – Ela não é minha namorada!!! – eu estava prestes a voar nele, mas Hatori me impediu. Meu rosto queimava.

  – Tentem não brigar, vocês dois. – dizendo isso, lançou um olhar severo a mim – O assunto é sério.

  – Então eu vou fazer o Chá da Seriedade para bebermos durante a nossa conversa! – Shigure saiu e foi em direção à cozinha, meio que dançando.

  Hatori suspirou e disse apenas “Vamos esperar.”, antes de mergulhar em pensamentos, a testa vincada de preocupação. Aproveitei a deixa e me deixei viajar em pensamentos também. Será que ele tinha contado para o Akito, o chefe da família? Se tivesse, como ele teria reagido? Eles tentariam me proibir de me aproximar de Rika-chan? Fariam alguma coisa contra ela?

  Uns 10 min. depois, eu já estava completamente perdido em pensamentos quando Shigure chegou fazendo estardalhaço e me dando o maior susto.

  – Já não era sem tempo, Shigure. – foi o médico quem falou. – Sente-se, vamos falar sério agora.

  O outro obedeceu e se sentou, servindo chá ao Hatori e a si mesmo, fingindo que tinha me esquecido para tentar me irritar; mas eu estava nervoso demais para dar muita atenção a isso.

  – Então, Kyo... Presumo que você já conversou com a garota, já que se refere a ela pelo primeiro nome*. – o médico estava muito sério.

  – Sim, o nome dela é Suzuki Rika e ela está na mesma classe que eu. – eu respondi, temendo o que viria a seguir.

  – Hnm... E você descobriu mais alguma coisa?

  – Descobri que ela se considera do signo do gato, que ela adora, e também... – eu hesitei e olhei de esguelha para o Shigure - ...que nós temos muito em comum.

  Fiquei esperando uma piadinha do vira-lata sobre eu estar apaixonado e tudo o mais, mas ele não disse nada por uns instantes, até que me fez uma pergunta:

  – Como assim? – ele estava sério. Aquilo me surpreendeu. Será que o tal “Chá da Seriedade” tinha mesmo algum tipo de propriedade mágica? Incrédulo, encarei a chaleira sobre a mesinha de centro antes de responder.

  – Ahnm... Nós dois gostamos de altura, por exemplo. E peixe é o nosso prato preferido. Esse tipo de coisa, relacionada aos nossos gostos. Somos muito parecidos nesse aspecto.

  ­– Interessante... Será que a teoria do Livro da Família estava mesmo certa? – ele perguntou, olhando para o Hatori.

  – Eu estive pensando... E acreditava ser impossível, uma vez que o signo do gato “não existe”... – dizendo isso, me olhou com uma expressão que eu não consegui decifrar. – Porém, depois dessas informações acho que é verdade. Até porque não temos outras explicações para o que aconteceu...

  – Então teremos que aceitar a teoria. – Shigure concluiu, ainda muito sério.

  – Sim.

  – Mas... E... E o Akito? – eu perguntei, com medo da resposta.

  – Ele será informado, naturalmente. – Hatori disse como se fosse a única conclusão lógica.

  – Não podemos deixar de contar a ele? – eu disse, tentando sem muito sucesso não deixar minha voz suplicante. – Quero dizer... Ele não costuma reagir muito bem a esse tipo de coisa, não é?

  Sem me lembrar de evitar, eu olhei diretamente para a franja de Hatori, que cobria seu olho esquerdo. Há algum tempo atrás, uma garota da família Sohma se tornou assistente dele, mas ela não era uma dos 12 e acabou descobrindo o segredo, acidentalmente; porém, mesmo assim ela o amava muito e aceitou se casar com ele. Mas quando Hatori foi falar com o Akito para que o casamento pudesse se realizar, o chefe da família Sohma sem prévio aviso o atacou, deixando-o cego do olho esquerdo. Kana se sentiu muito culpada e acabou por adoecer, então, para livrá-la do sofrimento, o médico apagou a memória dela, e assim terminou o romance dos dois. Até hoje ele ainda sofre por isso, embora não admita.

  – Mesmo assim, ele tem de saber. – disse, erguendo a mão e colocando-a sobre a franja. – Desculpe, Kyo. – acrescentou ao ver minha expressão de indignação. Ele, mais do que todos, devia me entender.

 

  Depois que Hatori foi embora (e levando com ele o irritante do Momiji), meu ânimo não podia estar pior. Eu subi para o telhado e, olhando sem ver as estrelas, fiquei pensando no que eu faria. Será que Akito iria querer me ver? Iria me proibir de falar com a Rika-chan? Pensando nisso, acabei por adormecer, ali em cima mesmo, no telhado.

  No dia seguinte, meu corpo todo doía – essa é a consequência de se dormir num telhado. Mas eu mal percebi; a única coisa em que eu pensava era se Hatori já teria contado para Akito, e, principalmente, qual teria sido a reação dele – imaginei que não devia ter sido das melhores.

  Eu voltara a brigar com Yuki, com mais vontade do que nunca, pois estava de péssimo humor. Quase nos atrasamos de novo, mas por sorte o trem demorou um pouco mais para chegar hoje, e nós conseguimos chegar, minutos antes dele.

  Quando chegamos à escola, Rika-chan veio me receber, sorrindo. Eu ainda estava muito mal, então não retribui o sorriso. Ela percebeu na hora que havia algo errado comigo.

  – Kyon-kun, o que foi?

  – Nada. – me apressei a dizer.

  – Não adianta tentar mentir pra mim. Eu sei que você não está bem. O que foi? – ela insistiu, num tom meio irritado, mas ainda doce.

  – Só... Problemas de família. – dizendo isso, abaixei a cabeça, desanimado. Minha família é mesmo muito problemática...

  – Ah... Não fica assim. – ela começou a acariciar meus cabelos carinhosamente. Aquilo já bastou para me animar.

  – Arigatou, Rika-chan. – eu sorri para ela. E, embora não pudesse deixar de pensar que aquela seria a nossa última semana juntos, resolvi que não iria ficar me deprimindo, pois não queria preocupá-la.

  Mergulhado em pensamentos, não vi o tempo passar, e quando dei por mim já era hora da saída. Peguei minha mochila e comecei a guardar minhas coisas, quando Rika-chan veio até mim; parei tudo o que estava fazendo e olhei para ela.

  – Ahnm... Kyon-kun...? – ela parecia de repente ter ficado tímida.

  – Hnm?

  – Você lembra que a gente tem uma prova de Matemática no sábado, ne? – percebi que ela começava a ficar corada.

  – Sim. – Não!

  – Então... Será que você podia me ajudar? Eu não entendi nada da matéria... – ela fez uma linda carinha suplicante – Mas eu tenho certeza de que você entendeu, é tão inteligente... Por favor...

  – Er... Claro. – o que diabos eu estou dizendo? Não entendi nada. Aliás, nem sei que matéria estamos estudando. Por que eu disse que sabia? Por quê? Fiquei maluco? Eu me fazia essas perguntas; mas naquele instante ela sorriu para mim. Entendi o porquê.

  – Quando, então?

  – Sexta-feira depois da aula, pode ser? – isso me daria tempo para estudar.

  – Ahnm... Tudo bem se for na sua casa? Minha mãe não gosta...  – ela hesitou – ...de visitas.

  – Não tem problema, pode ser na minha casa. – acho que eu não devia ter dito isso, não posso simplesmente levar uma garota lá. Yuki e Shigure se transformariam se por acidente esbarrassem nela. Mas não sei o que deu em mim para concordar com aquilo; era sempre assim quando estava com ela: eu agia por impulso, sem pensar, tudo o que queria era vê-la sorrir. Aff... Que meloso! Talvez Tohru tenha razão em se preocupar...

  – Kyo, anda logo com isso! Temos que ir para casa! – Alguém gritou. Adivinha quem era? Yuki!

  – Eu já vou!!! – gritei, irritado. Depois me virei para a Rika, bem em tempo de vê-la lançando um olhar mortal para o Yuki. Achei estranho, aquilo não combinava com o jeito sempre doce dela. Dava medo. – Bom, Rika-chan... Eu tenho que ir.

  – Ah... Então até amanhã, Kyon-kun. E... Obrigada. – dizendo isso, ela me abraçou. Eu achei a sensação muito estranha, porque só a Kagura (o javali da lenda, é uma garota maluca que diz que me ama e depois me bate) tinha me abraçado até hoje, mas era diferente, porque agora eu estava gostando. Demorei um pouco, mas retribuí o abraço.

  Depois que ela me soltou, eu me virei para ver a reação de Yuki e Tohru: ele simplesmente olhava perplexo, ela parecia prestes a gritar. Me deu vontade de rir da cara deles, mas Rika-chan acharia muito estranho, então eu me controlei, apenas dando um sorriso torto para Tohru, enquanto me dirigia a eles.

  Quando já tínhamos saído da escola, e ninguém estava perto o suficiente para nos ouvir, Yuki me olhou pasmo e perguntou:

  – O que foi aquilo?

  – Inveja? – eu sorri sarcasticamente para ele.

  – Não seja ridículo. – ele replicou. – Só não entendi. Ela é nossa prima de segundo grau ou alguma coisa do gênero?

  – Ela não é uma Sohma. É... Uma exceção.

  – Uma exceção? – foi Tohru quem repetiu.

  – É... Ela simplesmente esbarrou em mim, e eu percebi. – eu disse simplesmente, mas percebi que havia a necessidade de melhores explicações quando os dois me olharam com cara de quem ainda não estava entendendo nada, e completei: – Fui falar com o Shigure, e nós fomos até o Hatori, que olhou no Livro da Família e descobriu que um ancestral tinha feito uma teoria de que se alguém possuísse uma grande influência do seu signo, características marcantes dele e do animal, e acabasse encontrando o membro dos 12 que correspondesse ao seu signo e o abraçasse, ele não se transformaria.

  – Nossa, mas é praticamente impossível! – o ratinho nojento concluiu.

  – Eu sei. – resmunguei. – Mas vocês terão a oportunidade de conhecê-la logo, ela irá lá em casa estudar comigo na sexta-feira.

  – Você ficou doido??? Provavelmente é só você que não se transforma quando ela esbarra em você! Mas eu e o Shigure também moramos lá, lembra??? – eu sabia que o que ele dizia era óbvio, porém não pude deixar de me irritar com o jeito com que ele falava comigo.

  – Ah! Não me diga o que fazer!

  E discutimos todo o caminho de casa; quando finalmente chegamos, eu me tranquei em meu quarto para evitar ter que ouvir o Shigure também e enfiei a cara nos livros: eu tinha menos de uma semana para aprender a matéria e poder ajudar Rika-chan. Eu faria isso... por ela.


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Notas finais do capítulo

Nota:

*Caso alguém não tenha entendido a suposição do Hatori... No Japão, a forma como se chama uma pessoa indica respeito e/ou a sua posição com relação a ela. Então, além dos sufixos “-chan”, “-san” e outros, que expressam a posição de uma pessoa com relação a outra – amigo, conhecido, superior, discípulo, mestre e etc. –, chamar uma pessoa pelo sobrenome indica respeito e/ou pouca afinidade, enquanto chamar uma pessoa pelo primeiro nome significa amizade e mais afinidade. Resumidamente é isso.


Eis o quarto capítulo da fanfic! Espero que estejam gostando (apesar dele ainda estar pequeno demais... - É, eu nunca estou satisfeita e.e")! ^-^
Adoraria se comentassem este capítulo também, me dizendo o que acharam. No próximo, Rika irá à casa de Kyo e finalmente conhecerá os outros Sohma! O que acontecerá? Não percam! =D

Obrigada por lerem!
SakuraHime