Coloquei a cabeça no meu travesseiro e dormi instantaneamente, pois depois do jantar e da cantoria, não havia ninguém que estivesse cansado. Os sonhos não me vieram com facilidade, muito pelo contrário, demorei a ver imagens. O mesmo menino de cabelo areia, um tal de Luke, estava de pé em um monte. Abaixo dele, o tártaro e sua escuridão. “Subam meus aliados, subam e se unam a mim” a voz grave não combinava com rosto do menino. Aquilo me provocou uma onda de medo e pavor tão grande, que comecei a tremer. Vozes da escuridão rodopiavam e de lá saíam todas coisas possíveis. “Ora, se não é a pequena Heroína, venha se juntar a nós” ele olhou para mim, os olhos cheios de cobiça. “Acorde” as vozes me diziam, mas o olhar hipnótico me prendia ali. Tão calmos, serenos, distantes e brilhantes, que me faziam ficar ali, parada, enquanto ele andava para perto de mim.

Bati com a cabeça no abajur móvel que tinha prendido no beliche de cima “Que droga!” sussurrei e me levantei da cama. Peguei minhas pantufas e cambaleei até um pequeno frigobar que nós tínhamos. Peguei uma caixa de primeiros socorros e uma daquelas bolsas térmicas no freezer e me sentei num pequeno banquinho. Abri a caixa em busca de um espelho, para ver se estava tudo bem com a minha testa, mas por incrível que pareça, aquilo abriu um talho na minha testa, bem no canto esquerdo. Peguei uma gaze e fiz um pequeno curativo, enquanto pressionava a testa com a bolsa térmica. Para você ter uma idéia, nossa caixa de primeiros socorros era totalmente diferente da de qualquer um. Não porque ela tenha itens mágicos, mas itens, que na nossa compreensão são de primeiros socorros. Base, corretivo, pó, blush, lápis, batom, espelho, gaze, delineador, esmalte e iluminador não faltavam ali, todos de marcas famosas e caras. Pra caber isso tudo nós tínhamos uma caixa que Hermes nos deu que era pequena por fora, mas enorme por dentro. Era só pensar na cor, marca e ou tom que ele aparecia na sua mão, ali, pronto para usar.

Deviam ser umas três da manhã quando alguém bateu na porta. Corri para abrir e me surpreendi com a figura que estava ali com um sorriso “Annabeth, que devo a honra?” sorri e tirei a bolsa térmica da minha testa. “Só passei para ver como você está. Percy me contou sobre o sonho” ela abriu um sorriso mas logo depois começou a pensar “Sabe que devemos falar com Quíron assim que possível” “Sei, eu acabei de ter outro sonho” e contei para ela. Ela me fitou boquiaberta, piscando freneticamente “Nós precisamos falar com ele agora” ela me puxou com bolsa térmica e tudo. Chegamos até o chalé de Percy e Annabeth nem deu a chance dela se explicar, só o arrastou, de pijama e tudo mais até a casa grande, onde nós batemos até que Quíron viesse nos atender. “Annabeth...” ele começou a dizer, mas ela o interrompeu explicando a situação. Ele só conseguiu dizer uns ‘hm’ e uns ‘ah’ e depois nós olhou de cima a baixo. “Annabeth, seu entusiasmo acordou meus melhores campistas. Eles vão ficar exaustos” ele olhou para o machucado na minha testa e a bolsa térmica e os calções de Percy e abriu um sorriso, nos colocando para dentro e nos acomodando no sofá.

“Quer ajuda?” Percy se ofereceu para pressionar a bolsa térmica na minha testa enquanto eu estava deitada no colo dele. “Obrigada” abri um sorriso, ele sorriu também “Ela nunca vai mudar não é?” sussurrei e revirei os olhos e ele balançou a cabeça negativamente. Ouvi os passos afobados de Annabeth na escada e me endireitei no sofá, agora só com a cabeça no ombro dele. “A profecia é a seguinte” ela disse e tropeçou no degrau da escada se levantando em segundos.

O mar na Terra revelará

Tudo que tocas ouro virará

Medos antigos revelarão

As portas do destino e a escolha

em vão salvará um herói

descoberto então sozinho fracassa.

Annabeth estava mais branca que um pedaço de mármore. “Pelo menos temos a primeira pista. Só que o tempo já está se esgotando” ela olhou para Quíron e de repente alguém entra na casa grande: Apolo. “Hey heróis, Quíron” ele olhou para mim e piscou. “Então, os seus parentes me mandaram para ajudar vocês. Parece que eu lhes devia um favor” ele abriu um sorriso e depois nos deu as instruções, nós tínhamos duas horas para nos preparar e pegaríamos carona com ele para o lugar da profecia: Egito.