Capítulo 10

O soco, a sala e a conversa estranha

Acordei naquela manhã como se não houvesse existido sonho algum. Ou melhor, pesadelo. Foi uma coisa que realmente não saia da minha cabeça, na verdade, foi o primeiro pesadelo que eu não esqueci. E como poderia? Jane Corchel curtindo um banho de sangue, que legal. O fato é que, mesmo com aquilo na cabeça, eu não deixaria que meu dia também fosse estranho.

- É só um pesadelo idiota. - Eu disse para mim mesma.

Peguei minhas coisas e fui chamar o táxi. Enquanto ia para a escola, senti uma coisa estranha comigo, com se algo me encomodasse. Novamente me convenci de que não era nada, afinal, o que poderia ser? Sofrer um acidente de carro? Acho que não. Quando cheguei, vi Hayley me esperando na entrada conversando, às escondidas (óbvio), com uma meninas. Não passara muito tempo desde que ela era uma novata aqui na escola, eu e ela já éramos amigas, e ela já havia se adaptado depois de algumas dicas que eu havia dado. O estranho é que ela encarou tudo tão rapidamente, que me supreendeu. O que demora anos, ela aprendeu em dias. E ela talvez tenha sido a primeira pessoa pelo qual eu tenha tido coragem de dirigir a palavra ou vice-versa. A verdade é que eu nunca tive ninguém para conversar, além dos meus avós. Já meus pais, eu nem lembro quando foi a última vez que falei com eles, afinal eu era praticamente um bebê ainda. Ela talvez tenha sido minha primeira amiga. Saí do táxi e fui falar com ela, me intrometendo um pouco na roda de conversa.

- Oi Hayley. - Disse sorrindo.

- Oi Jane. Essa é Sarah, ela estuda na nossa sala.

- Ah sim, eu sei. Sinto muito pelo seu nariz, a Srt.Michiko pega pesado.

Há mais ou menos duas semanas, a Srta.Michiko quebrou o nariz de Sarah, porque ela supostamente ficou encarando ela.

- Pois é, mas está tudo bem agora. Meu médico disse que dentro de uma semana ele vai voltar ao normal.

- Que bom então, não vai demorar muito.

O toque do sino ressoou pelo colégio inteiro.

- Temos que ir.

- Sim, vamos. Até mais. 

Ouvi Hayley dizer tchau ao fundo e então cada uma foi para um lado, como se nada tivesse acontecido. Entramos correndo, em direção aos armário e formamos a fila matinal. O sino tocava várias e várias vezes. E então, eu comecei a sentir raiva daquele som. Não só raiva, mas ódio também. Anos e anos ouvindo aquele sino de merda, o som ensurdecedor estourando meus ouvidos durante tanto tempo, estourando meus ouvidos. Meu braço perdeu o controle. O soco foi tão forte que amassou o metal da porta do armário, soltando um barulho estrondoso que toda a escola deve ter ouvido. Todos olharam para mim repentinamente e senti que meu rosot queimava de raiva.

- O que estão olhando?! - Gritei para todos. Eles olharam mais ainda.

De repente, voltei ao normal. Vi todos aqueles olhos olhando na minha direção e meu rosto passou a um vermelho rosado de tanta vergonha. O que tinha acabado de fazer?

- Jane... - Ouvi Hayley sussurrando e sendo interrompida por outra voz.

- Que diabos está acontecendo aqui?! - Gritou Mandy na entrada da escola. 

Bom, sou eu quem deveria perguntar.