Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 23
O despertar


Notas iniciais do capítulo

Existem frases neste cap que foram extraídas do livro "Amanhacer" e pertecem única e exclusivamente à nossa adorada Stephanie Meyer, eu apenas peguei emprestada... Esse cap foi complicado de escrever, mas espero que esteja bom e vocês gostem e aprovem.



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De dentro do breu eu não conseguia distinguir o que era real e o que era ilusão.

Minha mente estava povoada de coisas confusas, sensações, emoções, imagens e sons que me assaltavam a cada minuto que passava.

Os olhos angustiados de Jacob... O som abafado de passos sobre o mato seco... A voz sonora de Carlisle, aflita e imperativa... O cheiro inconfundível de Alice, doce e suave... Toques de mãos frias em minha pele, às vezes leve, às vezes firme, me movendo... E finalmente, a voz aveludada e agravante de Edward.

Este último som me prendeu entre a luz e a penumbra.

Eu tentava a todo custo abrir meus olhos, mas estava mergulhada muito fundo naquele mar de silêncio, não fazia idéia de como emergir.

Uma urgência familiar, que a muito tinha me abandonado, ressurgiu em reação àquela voz. No começo devagar, como um pequeno comichão na sola dos pés. Mas a cada momento se alastrava, se intensificava, até finalmente se tornar ainda mais forte do que um dia fora.

Como se fosse puxado de mim até ser completamente extirpado, senti todo o desejo, toda a ânsia, toda a paixão por Jacob esvair, deixando ainda mais espaço a ser conquistado pelo sentimento antigo e familiar por Edward.

Tentei ouvir. Talvez um choro, um resmungo infantil, alguma voz conhecida fazendo algum comentário sobre o bebê... Apenas silêncio.

Um silêncio esmagador e aterrorizante, que me fez crer que minha morte já me abraçava.

Então eu não conheceria minha criança.

Não saberia se era menino ou menina, não veria suas feições e viria a descobrir os pequenos detalhes que revelariam com quem se parecia mais... Não lhe daria um nome.

Meu coração murchou e perdeu uma batida, dolorido com a tristeza de não poder ao menos conhecer o meu bebê.

Mas eu não me arrependia de ter dado tudo, até mesmo minha própria vida para meu filho. Faria novamente se necessário fosse. A única coisa que eu queria, se eu tivesse direito a um último desejo, era saber se tinha nascido bem.

Me esforcei novamente para ouvir, para abrir os olhos, para me mexer, dar algum sinal para que me dessem notícias. Mas meu corpo já não reagia aos comandos do meu cérebro.

Me senti fortemente puxada para dentro de mim mesma, mergulhando ainda mais fundo naquela escuridão solitária.

Então senti meu pescoço ser perfurado. Uma onda quente envolveu imediatamente a área. Ao mesmo tempo, uma dor fina e aguda transpassou meu peito, envolvendo meu coração na mesma onda de calor. A sensação se repetiu em meus braços e pernas, até que uma queimação intolerável tomou conta de cada centímetro do meu corpo, me fazendo passar pela dor mais inexplicável e excruciante de toda minha vida.

Um som desesperado se fez ouvir. Estava ferindo meus tímpanos, tamanha a intensidade. Me debati internamente tentando compreender de onde vinha e sua causa. Demorou apenas mais alguns segundos para eu entender que aquilo era um grito. Um grito de dor e horror. E era em meu peito que ele se originava.

Nada mais me alcançava ali, no meu inferno particular.

A dor, ao invés de abrandar, se tornava ainda mais forte. O calor havia se transformado em fogo, e eu podia sentir cada centímetro de meu corpo arder e queimar naquele incêndio individual.

Não encontrei meus lábios ou o domínio sobre minha voz para pedir socorro.

Eu quero morrer! Gritei em minha mente. Alguém, por favor, me mate! Agora!

Nesse momento eu achei uma droga que Edward não pudesse ouvir meus pensamentos.

Por um instante fugaz me prendi a isto.

Se Edward estivesse por perto, se ele fosse capaz de entrar em minha mente, ele estaria se importando com meu sofrimento?

Provavelmente sim... Por sua generosidade, por seu desprendimento. Mas não por amor.

Ainda em meio àquela angústia sem igual, o rosto de Edward invadiu meu pensamento, ocupando todo o espaço que existia.

Com certeza, àquela altura de nossas vidas, depois de tudo que aconteceu, ele nutria alguma espécie de ódio por mim, e não estaria errado.

A dor por esta constatação somou-se à dor física que eu sentia, e a aflição se multiplicou.

Eu não tinha noção de há quanto tempo eu estava passando por aquilo. Sabia que já tinham passado alguns muitos momentos desde que aquele incêndio no meu corpo começara, mas parecia que era só o começo, e eu temi o que ainda faltava passar para que chegasse ao fim.

Vozes difusas às vezes me alcançavam com clareza, mas logo em seguida, a dor me tragava e levava de volta ao desespero do vazio.

Em um dado momento, um dos poucos em que consegui me concentrar no que pudesse ouvir, uma voz absolutamente incógnita interagia com aquela que era a mais perfeita das vozes.

- Como ela está? – Perguntou a desconhecida.

- Acredito que o pior ainda está para chegar... Suas últimas horas. – A voz de Edward me alcançou, amarga...

Últimas horas... Então eu estava morrendo? Aquele era meu último momento?

- Sim... Eu me lembro bem delas. Será que ela já nos ouve?

- Não tenho certeza. Ela estava inconsciente...

A voz de Edward foi sumindo até estar fora de meu alcance, enquanto eu era sugada para meu próprio desespero em compreender o que acontecia, a dor pungente me dilacerando.

Lutei fortemente contra o torpor, me esforçando para chegar à superfície e conseguir algum esclarecimento.

Me debati por algum tempo contra o peso opressivo da agonia que me prendia na escuridão.

Tentei ouvir mais uma vez.

Apenas silêncio e uma respiração ansiosa.

A dor era difícil de ser ignorada. Mais uma vez me tragou.

Eu agora já contava os segundos, usando a concentração no tempo como distração para a agonia que enfrentava.

Ouvi com clareza quando passos curtos e leves apressaram-se pelo assoalho, trazendo o suave perfume de frésias, baunilha e rosas.

Alice.

Não foi tão difícil me concentrar em sua voz desta vez.

- Edward, eu vi... – Falou esbaforida – Meia hora.

Como em reação ao seu comentário, todo meu corpo se contraiu e pulsou, lutando contra a dor que se agravou até o limite da lucidez.

Tentei contar novamente, desesperada por me afastar, um pouco que fosse, daquela expiação.

Um grito rasgou minha garganta e escapou por meus lábios sonoramente.

Como que para escapar de meu próprio corpo, me deixei cegar pelo breu.

Mas nem mesmo o vazio do nada era capaz de me afastar da minha pira.

O fogo se alastrou ainda mais, ardendo furioso.

Começou a se contrair, como se caminhasse em direção ao seu ápice.

Afastou-se de meus membros lentamente, os deixando livres da dor, e foi concentrando-se no centro de meu corpo, ganhando força.

O som retumbante de minha pulsação ensurdecia meus ouvidos.

Conclui que era chegada a hora...

O fim próximo me angustiou. Eu não teria uma chance de me despedir... Nem de conhecer aquela criança que gerei com amor e desespero... Não revelaria ao Edward a dor do arrependimento que sentia intensa...

Como um cavalo veloz e galopante, o fogo tomou a direção do meu órgão vital. Atacou meu coração com fúria e parecia que o arrasaria em segundos.

Meu peito vibrou com os batimentos frenéticos que eu quase não conseguia acompanhar.

Senti meu corpo arquear-se para cima e cair no macio que agora eu sentia em baixo de mim.

Com a clareza de um cristal, ouvi a voz de Alice.

- Agora.

Em seu movimento convulso, meu coração perdeu uma batida.

Desacelerou.

Perdeu duas batidas.

Cinco segundos sem qualquer movimento.

E em seu derradeiro suspiro, bateu uma única e última vez.

Esperei que a escuridão me tomasse novamente. Eu estava morta.

Surpreendentemente meu corpo reagiu como se a muito eu dormisse e precisasse desesperadamente acordar.

Num movimento reflexo, eu abri os olhos para a penumbra, e uma luz preencheu minha visão. Olhos muito negros e brilhantes, mas muito familiares, me fitavam com dor e angústia.

Eu estava viva.

De alguma maneira incrível, eu havia sido salva no último segundo.

Mas havia a dor que restara da revelação. A descoberta amarga que fiz enquanto estava presa nos grilhões do vazio que quase me levara.

Naquele momento compreendi o quanto eu havia errado.

Tudo que eu havia feito fora uma imensa confusão. Num momento de insanidade que eu não compreendia, me deixei levar e segui o caminho errado.

Eu havia preterido o homem que eu amava em favor de outro por quem apenas sentia uma imensa ternura.

Edward esperava pacientemente que eu falasse algo, mas minha garganta, que estava estranhamente seca, em brasa, estava travada.

O que eu poderia fazer agora para reconquistar o verdadeiro amor da minha vida, aquele que eu havia deixado pra trás sem nem pensar nas conseqüências? Ele me perdoaria? Será que eu conseguiria viver sem ele se ele não o fizesse?

A estranha urgência que um dia existiu entre nós, voltara mais forte do que nunca fora antes. Ainda mais forte do que naquele primeiro momento em que ouvi sua voz aflita em meio à escuridão que me cegava. E eu compreendi que nunca tinha deixado de amá-lo, de desejá-lo. Estava apenas iludida, por algum motivo que não conseguia compreender naquele momento.

Todo o meu corpo estava ciente de sua presença e reagia violentamente a isso, liberando cargas elétricas por toda minha extensão, mesmo que nós nem nos tocássemos. Minha mão direita estremeceu levemente querendo afagar-lhe a face, mas eu a segurei onde estava.

Procurei por meu coração que deveria estar audivelmente acelerado, me denunciando. Percebi que ele não estava ali. Eu não o ouvia... Ou mesmo sentia. Pisque os olhos duas vezes e entendi que meu corpo estava diferente.

Lembrei então do fogo, da dor, do ritmo acelerado ao extremo que meu coração alcançara segundos antes, a pouco de bater pela última vez.

Percebi que apesar da escuridão daquele quarto, eu podia enxergar cada pequeno pedaço de toda a sua extensão, muito mais claramente. Ouvia também tudo que se passava ao meu redor, e um pouco mais distante... O pio alto das corujas no alto das bétulas e o farfalhar de suas folhas em reação ao vento ao seu redor... O próprio vento uivando violentamente pela janela fazendo o vidro silvar finamente... A musicalidade da correnteza do rio ao lado da propriedade, soando acordes diferentes aonde tocava nas rochas... A voz de Rosalie no andar de baixo, cantarolando uma cantiga desconhecida... Seus passos circulares no piso de madeira, silvando baixo... Batidas curtas e rápidas, como... Como asas de uma borboleta, acompanhada por uma respiração aceleradamente ritmada. O suspiro irritado de... Emmet? Sim... Era ele... Impaciente talvez.

Também podia ouvir a voz serena de Carlisle, que dizia a Esme e Jasper que eu finalmente acordara, que todos deviam acompanhá-lo até o andar superior.

Novos cheiros me invadiram, cheiros até então desconhecidos.

Os que me eram familiar eu denominei em minha mente em fração de segundos.

Grama fresca, rosas, frésias, mel, lilás e sol... Terra úmida, baunilha, madeira, sândalo... Os cheiros tinham gosto e eu inalei curiosa o ar, para testar aquele sabor.

Meus pulmões reagiram com indiferença ao influxo. Não senti alívio ao inspirar, mas senti prazer em fazer isso, porque o ar trazia os novos odores, e com eles, o sabor inesperado da mistura desconhecida.

Tudo isso aconteceu em um mero e único minuto, enquanto meu olhar, ainda preso ao de Edward, tentava decifrar sua estranha expressão.

Eu podia vê-lo claramente agora.

Cada singelo e discreto traço do seu rosto perfeito. Cada mínima linha de sua íris negra que, apesar de tão escura, estava clara e vívida para mim. O semblante rígido, uma emoção oculta que eu não alcançava.

A luz suave da lua, que penetrava por alguma das janelas, iluminava fracamente seu rosto, mas ele brilhava delicado, mais lindo do que eu jamais supunha.

Minha visão estava completamente precisa, e nada, nem mesmo os grãos de poeira que rodopiavam no espaço entre eu e Edward, escapava ao meu olhar.

Percebi que podia enxergar tudo ao meu redor, ainda que meus olhos não tivessem se movido um milímetro sequer para longe daquele rosto glorioso desde que despertei. Minha visão periférica era melhor agora, do que minha visão como um todo já fora um dia.

O entendimento inundou minha mente.

E então eu compreendi que eu não era mais a frágil e humana Bella.

Todos aqueles novos e aguçados sentidos... Todo aquele espectro novo em volta de mim... A ansiedade patente de todos à minha volta... Seus olhares surpresos e ao mesmo tempo aliviados...

Acontecera.

O motivo ainda me era desconhecido, mas eu sentia a verdade daquele acontecimento.

Observei o reflexo do reconhecimento no rosto de Edward.

Agora eu era como ele.

Eu era uma vampira.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, essa semana será dificil postar outro cap, pois estou na reta final de uns estudos que estou fazendo e preciso de total concentração neles.
Prometo que assim que terminar, o que levará pelo menos três semanas, postarei dois caps, para compensar vcs...
Um beijão a todas.



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