Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 22
Decisão




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EDWARD

- Filho, eu entendo que você ainda esteja magoado, mas... Ela é a mãe de sua filha... – Meu pai se adiantou, angustiado com o tempo que perdia com a espera pela minha resposta – Não tenho muito tempo Edward. Ou eu faço isso agora ou o coração dela vai parar antes mesmo que eu tenha tirado meu veneno.

A determinação me paralisara e eu não conseguia articular uma palavra sequer.

Mas meu pai tinha toda a razão, o tempo estava se esgotando, assim como as forças já precárias do coração de Bella.

Puxei a seringa de sua mão de maneira rudemente súbita e ignorei a expressão atordoada em seu rosto.

Antes que ele falasse mais alguma coisa, o veneno já estava colhido.

- Edward, filho... O que... – Ele murmurou confuso.

Eu não o ouvia mais realmente. Concentrei toda a minha atenção na imagem do pequenino rosto angelical que acabara de conhecer. Pensei em minha filha, no que eu faria para que ela fosse feliz e tentei esquecer que era a mulher que eu amava quem eu estava mordendo, que era o sangue terrivelmente doce e desejado de Bella que agora tocava minha língua, me chamando para uma aproximação mais profunda.

Com um golpe preciso, injetei meu veneno diretamente em seu coração, enquanto a mordia no vão do pescoço, resistindo bravamente ao apelo do monstro. Repeti o gesto nas dobras de seus cotovelos, em seus pulsos e tornozelos e nas dobras de seus joelhos.

Bella parecia não reagir.

Quando toda a área coberta pelas artérias estava atingida com meu veneno, observei o monitor cardíaco. O coração de Bella lentamente voltava ao ritmo normal.

Olhei para Carlisle, paralisado no exato lugar onde o deixei.

A compreensão brilhou em seu olhar e ele sorriu para meu ato.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Bella gritou.

Voltei meus olhos para ela, que tinha seu corpo arqueado na maca, como se fios o puxassem em direção ao teto.

- Começou. – Carlisle falou, aproximando-se de mim, pousando sua mão em meu ombro.

- Pai, eu preciso, não, eu exijo que você mantenha isso em segredo. – Falei urgente.

- Mas filho, todos vão notar a mudança...

- Não, não a transformação... Mas quem a transformou.

- Você não quer que ela saiba que foi você. – Carlisle afirmou astuto.

- Não somente ela... Todos. Principalmente Alice. Ela sofre do mesmo mal que eu. Não se contém em dar o que quer que Bella peça.

Ele suspirou, ponderando.

- Farei o que me pede. Direi a ela que eu mesmo a transformei.

- Obrigado, pai.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAH... AAAAAAH... AAAAAAAH... – Bella continuava a gritar.

- Vou levá-la para meu quarto. Na cama ela terá o mínimo de conforto.

- Você sabe que isso não vai adiantar muito agora, filho.

- Eu sei, mas...

Você precisa fazer alguma coisa. Eu entendo. Ele pensou.

Com o maior cuidado possível, carreguei-a até o quarto e à cama que, há tão pouco tempo, havia sido nossa.

Alice e eu alternávamos turnos para ficar ao lado de Bella.

Não fazia a menor diferença qual de nós dois estava lá, ela estava sempre inconsciente de nossa presença.

Depois de um dia e meio de tortura, ela às vezes gemia, às vezes gritava, e depois tinha uma fase incômoda de silêncio. Meu coração de pedra se contorcia desesperado com qualquer um desses sinais.

A dor dela era a minha.

Era estarrecedor vê-la passar por aquilo sem poder fazer alguma coisa que a proporcionasse algum alívio.

Evitei que a menina presenciasse a angústia da mãe. Tão nova, mas tão especial, com certeza entenderia tudo rapidamente.

Sim. A menina era “talentosa”.

Ainda no primeiro dia de vida nos surpreendeu com o dom magnífico e assustador que possui.

Com apenas um toque de sua mãozinha delicada ela nos dizia o que queria, o que via e o que compreendia do mundo. Ela era capaz de colocar em nossa cabeça, todos os seus pensamentos.

Os minúsculos olhos castanho-escuros, vivos e extremamente inteligentes captavam a essência das situações de uma maneira absurdamente clara e efetiva. Quanto mais conhecimento ela absorvia, mais rápido ela processava novas informações.

Crescia a olhos vistos.

Carlisle não encontrara ainda uma explicação para seu crescimento acelerado, e apesar de sabermos que sua natureza em muitos aspectos se assimilava à nossa, o medo de sua perda prematura nos assolava.

Apenas para ficar com ela eu saia do lado de Bella.

A pequenina, ainda sem nome, geralmente ficava com Rosalie, que se apegara rapidamente a ela de uma maneira inexplicavelmente intensa e verdadeira. Por causa dela, a mente de Rose já não era mais tão negativa quanto à Bella. Ela até fora olhá-la no final do segundo dia para ter certeza de que estava tudo bem.

Zaniala permanecera.

Esme e Alice compensaram a minha ausência e contaram-lhe toda a nossa história, inclusive a minha com Bella, fazendo-a compreender como havíamos chegado naquele ponto.

Naquela manhã, quando ela entrou em meu quarto, seu olhar era suave, ao contrário do brilho acusatório que eu imaginei que estaria lá.

- Posso entrar? – Ela perguntou baixo.

- Sim... – Respondi levantando meus olhos do rosto de Bella, surpreso.

- Como ela está?

- Acredito que o pior ainda está para chegar... Suas últimas horas.

- Sim... Eu me lembro bem delas. Será que ela já nos ouve?

- Não tenho certeza. Ela estava inconsciente quando eu... Quando Carlisle agiu. Alice e eu já chamamos por ela algumas vezes, mas nenhum sinal de que ela possa estar ciente de nossa presença ainda.

- Você está bem?

- Sim. – Respondi automaticamente, desviando o olhar.

- Edward... Olhe para mim, por favor.

O tom de voz que ela usara me impediu de não obedecer ao seu pedido.

O som causou uma estranha onda de sinceridade em mim. Eu precisava falar a verdade a ela. Era o que eu queria fazer, apesar de ter certeza que esse desejo era descabido.

Ao encontrar seu olhar, me senti preso e indefeso.

- Você está bem? – Ela repetiu a pergunta.

- Não. – Falei, incapaz de segurar as palavras em minha boca – Me sinto culpado por ela estar assim. Eu a engravidei, em primeiro lugar, e essa gravidez a colocou no estado crítico que chegou aqui. E eu a transformei. Fiz isso para salva-la, para permitir à minha filha ter uma mãe, mas fiz também por mim, porque ainda a amo e não suportaria viver num mundo onde ela não existisse.

Expirei fundo, como se acordasse de um transe, surpreso e indignado por ter falado absolutamente tudo que ia a minha mente sem hesitar um segundo sequer.

E então a compreensão me inundou.

- Desculpe... – Ela disse – Eu precisava saber como você estava de verdade, porque, não entendo o motivo, me importo muito com você. Eu não gosto de usar meu... Poder de persuasão assim, mas eu realmente queria entender como você se sentia.

- Esse... É o seu dom? – Perguntei perplexo.

- Sim. Um deles. Eu consigo fazer com que a pessoa fale exatamente tudo que quero saber, sem rodeios ou subterfúgios. Mas eu juro, não uso isso indiscriminadamente. Somente quando acredito ser necessário.

Ainda tentei argumentar, apesar de não me sentir ofendido de maneira alguma, mas o momento não era o melhor para descobertas.

- Acredito que seja melhor conversarmos sobre isso depois. – Ela falou, notando minha hesitação – Este não é o melhor momento. Agora você precisa se concentrar nela. Logo ela acordará.

Assenti com a cabeça, ainda tonto com as novas informações e a surpresa por sua atitude desprendida.

Zaniala deixou o quarto depois de me enviar um sorriso sereno.

Quando a noite caiu, Alice entrou no quarto como um furacão.

- Edward, eu vi... – Falou esbaforida – Meia hora.

Como que em reação à frase de minha irmã, Bella se contorceu na cama, soltando o mais alto e torturado grito.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Corri até a cama, me ajoelhando ao seu lado.

- Shh, Bella... Vai passar... Eu juro que vai passar... Logo vai estar terminado.

Os vinte e oito minutos seguintes foram os mais dolorosos.

Enquanto eu me debatia internamente com o dilema de estar ou não ali quando ela acordasse, Bella agonizava.

De repente seu corpo arqueou-se e bateu de volta na cama.

- Agora. – Alice falou.

Seu coração enfurecido perdeu uma batida, depois duas, e então bateu uma única e última vez.

Segurei a respiração inconscientemente.

Bella abriu os olhos e olhou diretamente nos meus, aturdindo-me com o brilho carmim.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo...



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