Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 15
Verdades e mentiras


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse cap à Anandabop.
"Você sabe o motivo!"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/83627/chapter/15

BELLA

Uma semana havia se passado desde o rompimento.

A dor estranhamente persistia.

Todas as noites eu chorava ate o cansaço pelo pranto dolorido me atingir.

Por várias vezes Renée esteve ao meu lado, tentando me convencer a voltar atrás. Mas meu sentimento por Jacob crescia na mesma medida que o sofrimento se dissipava, coincidentemente na mesma velocidade que minha gravidez avançava, me dando cada dia mais certeza de que havia agido certo.

Meu corpo estava ficando significativamente diferente. E eu já elaborava com Carlisle um motivo fajuto para fugir da minha família nos próximos dias. Eles não compreenderiam o nascimento de uma criança saudável depois de três meses de gravidez. Esse era o tempo que meu ex-sogro estimava ao total.

Resolvemos que ele alegaria uma doença congênita no bebê, muito rara, que precisava de cuidados especiais que só seriam possíveis em outro país. Então eu, supostamente, viajaria com ele até que o bebê nascesse. Na realidade, planejávamos que eu ficaria hospedada em sua casa, sob seus cuidados, até que, com a criança já nascida, constatássemos sua natureza dominante, e decidíssemos que rumo tomar.

Mas a parte do “hospedada” me incomodava muito. Não seria agradável conviver com o resultado de minhas últimas ações “dançando” na minha cara todos os dias.

Eu ainda não havia encontrado com o Jake.

Ele já sabia do rompimento, conversamos rapidamente por telefone dois dias depois, mas eu pedi a ele um tempo para assimilar tudo antes de tomarmos qualquer atitude.

Então, depois de sete dias me corroendo por dentro, finalmente decidi concluir o que havia começado.

Caminhei a passos largos para fora da loja, quase correndo para entrar em meu carro.

Os quase noventa quilômetros por hora que a pick-up atingia eram lentos demais para minha ansiedade.

Quando parei na frente da cabana, meu coração pulava, quase saltando para fora da minha boca.

Bati duas vezes, contendo a vontade de esmurrar a porta.

Billy atendeu.

- Oi Bella... – Falou com a voz de trovão, um largo sorriso enrugando as laterais do rosto rústico.

- Oi Billy, queria ver o Jake. – Disse, mal contendo a aflição em minha voz.

- Hum... Ele tá fazendo ronda... Só volta a noite.

A decepção era tamanha que não pude disfarçar minha cara de desgosto.

Billy sorriu compadecido e tocou minha mão.

- Não quer esperar aqui? Você pode me fazer um pouco de companhia.

Sorri largamente com seu gesto.

- Claro! Mas só se você me contar mais uma das velhas histórias quileute.

 

 

 

Passei toda a tarde conversando com Billy. Ele me contou algumas lendas intrigantes, mas uma em especial me deixou apreensiva. O imprinting. Algo que era inescapável e irresistível, como uma paixão desenfreada, ainda mais forte. Billy definia como algo mágico, mas também considerava a hipótese de ser fruto dos instintos de preservação da espécie. De alguma maneira, o lobo sofria o imprinting pela mulher mais apropriada a perpetuar o gene da transformação. Me perguntei se isso era regra aos quileutes que se transformavam ou se dependia de outros fatores. Mas quando Jacob chegou, toda a inquietude que a lenda me provocou se dissipou, dando espaço apenas para a ansiedade em estar naqueles braços.

Sua fisionomia cansada transformou-se ao me ver sentada em seu sofá.

- Bella! – Falou com a voz carregada de entusiasmo.

- Oi...

Ele praticamente me arrastou até a praia, onde tivemos uma longa e definitiva conversa. E tão logo quanto pude, estava envolta em seus braços, com seus lábios novamente nos meus.

Coloquei-o a par de tudo. Principalmente dos meus planos com Carlisle.

- Não acho uma boa idéia você ficar lá. – Falou claramente irritado – Você vai ficar num lugar que eu não tenho acesso, e estará na presença constante daquele, daquele...

- Jake... – O interrompi – Edward é o pai desse bebê. Ele tem todo direito de participar disso. Eu não quero ir pra lá, muito mais por causa do desconforto que, com certeza causarei, mas também por que quero que fiquemos juntos, logo. Mas o fato é que não tenho para onde ir, e não posso ficar em casa mais tempo. Meus pais já estão estranhando o crescimento desenfreado dessa barriga.

- Você pode ficar comigo. Billy sabe de tudo e não se importa em ajudar. Já conversei com ele sobre isso.

- Existem dois problemas nesse caso... Meu pai pode aparecer a qualquer momento em sua casa. Ele e Billy são muito amigos, e ele não entenderia uma rejeição por parte do seu pai. Além disso... Carlisle não poderá ir até lá... Lembra? O tratado.

O semblante de Jacob se iluminou com a compreensão.

- Sim... Mas que droga! – Esbravejou – Eu não quero você lá... Eu entendo que o pai pode e deve participar disso tudo, mas... Eu quero você ao meu lado. Não quero mais me afastar de você nem por um segundo. – Falou me abraçando pela cintura.

- Eu sei Jake... – Disse afagando seu rosto – Mas o que podemos fazer? Eu não posso ficar em casa, nem na sua casa... E não tenho outro lugar para ir.

- Eu não gosto disso... Quando vai ser a mudança?

- Pensamos que daqui a três ou quatro dias seria o suficiente para explicar tudo a Charlie e Renée e, supostamente, organizar a viagem.

- Bella, precisamos encontrar uma alternativa.

- Calma. Vai dar tudo certo, você vai ver. – Falei enquanto me içava até seus lábios.

 

 

No dia seguinte a solução surgiu.

Jacob me falou que iríamos ficar numa cabana, na margem quileute do rio, que pertencia ao Sam. Ele não a usava há anos, e não se importou em cedê-la ao Jake, apesar de ter deixado claro que não concordava com nada daquilo.

Ficou acertado entre eles, que o Carlisle, e somente ele, teria permissão para ir apenas até lá sempre que fosse necessário, mas sempre na presença do Jacob e de mais alguém do bando.

Carlisle, por sua vez, autorizou Jacob a ir até a mansão no caso de uma emergência.

Quatro dias e muitas lágrimas depois, eu me despedia de minha família, enquanto Carlisle me aguardava no carro, na frente de minha casa. Nós sustentamos a história de doença congênita, então eu supostamente estava indo para a Europa acompanhada pelo meu médico. Obviamente minha família não tirou uma só nota de dólar do bolso, já que meu ex-sogro justificou o pagamento de tudo com sua obrigação de avô, recusando-se a receber qualquer valor dos meus pais. Mas não estávamos gastando dinheiro na verdade, então eu não me incomodei muito em aceitar essa parte do plano.

Quando chegamos à casa, Alice e Edward estavam na porta, nos esperando.

Não pude encontrar os olhos de Edward pois tive medo do que veria neles. Medo de enxergar a raiva e o desprezo por mim, mais do que a dor que eu teria causado.

Não me afastei muito do carro. Apenas esperei que Carlisle me levasse para o limite da fronteira, onde Jacob estaria me esperando do outro lado.

Alice se aproximou.

- Carlisle me contou para onde vai... Não seria melhor você ficar aqui, perto de nós, onde estaremos ao alcance no caso de qualquer problema? – Perguntou com a voz triste.

- Alice... Você sabe o que estou fazendo. Estou seguindo o que meu coração quer... – Pausei, notando o súbito desaparecimento de Edward – Eu vou ficar com o Jake. Mas não estarei longe e Carlisle terá livre acesso a mim.

- Mas eu não. Isso não é justo.

- Me desculpe, mas é assim que vai ser agora. – Continuei com o tom suave, pegando sua mão – Depois que essa criança nascer, eu poderei vir aqui com maior freqüência. Será só por mais um mês e meio, mais ou menos... Logo poderemos estar juntas mais vezes.

Alice me abraçou apertado, quase me machucando, como se quisesse me impedir de ir embora.

Carlisle já estava ao meu lado, o semblante sério, esperando.

- Eu preciso ir... Me deixe ir Alice... – Falei com a voz amargurada, sentindo a dor da despedida se fazer presente em meus olhos, acumulando lágrimas.

Alice me soltou, claramente consternada, e ficou parada lá, a expressão derrotada, enquanto eu caminhava para dentro da floresta com Carlisle em meu encalço.

 

 

 

 

 

 

EDWARD

Depois de cinco dias de isolamento, Alice apareceu para me resgatar de mim mesmo.

Eu havia ficado completamente parado no penhasco, desde que tinha decidido não voltar para casa depois do rompimento.

Ela apenas me abraçou e me deixou ver dentro de sua mente, os rostos preocupados de nossos pais e irmãos.

Deixei que ela me guiasse de volta.

Me sentia alheio a tudo, como se eu não estivesse realmente ali. E mesmo depois de chegar em casa encontrando a todos, inclusive Rosalie e Emmet que tinham voltado por causa do casamento, o mundo parecia ter parado de girar, e meus sentidos simplesmente não funcionavam.

Eu mal ouvia a mente deles, a não ser quando prestava muita atenção, o que só aconteceu quando Carlisle voltou do último exame de Bella.

O rosto na mente do meu pai me pregou uma peça. Parecia fatigado e triste. Mas isso era o que eu queria enxergar. Bella estaria muito feliz nos braços do lobisomem, já que fora por ele que desfez nosso compromisso.

Mas não foi esse o fato que realmente me incomodou.

Carlisle havia planejado a vinda de Bella para cá, até que o bebê nascesse. E isso, apesar de não me permitir esperança, havia me contentado. Ao menos ela estaria por perto.

Mas alguns dias depois Bella teve outra idéia. E essa nova idéia estraçalhou o que ainda restava de mim.

Ela iria morar com o Black.

 

 

 

 

O dia da suposta viagem para a Europa chegou rápido demais, mas minha noção de tempo e espaço, ou qualquer outra coisa que precisasse de um mínimo de raciocínio, estava inativa, então minhas impressões podiam ser desconsideradas.

Eu girava o anel de minha mãe entre meus dedos, prostrado em um dos degraus da escada da frente.

Pude sentir Alice me observando, mas não escutei sua mente. Agora eu não conseguia mais controlar meu dom como fazia antes, parecia que eu havia sido tragado pelo estado de inércia em que me encontrava agora. Verdadeiramente semi-morto.

Alice caminhou hesitante até mim, sentando-se ao meu lado.

Me concentrei nela.

Não gosto de vê-lo assim... Pensou.

- Eu estou bem, Alice.

- Você me ouviu? – Perguntou surpresa.

- Posso te ouvir se prestar atenção... – Falei monótono.

Então o Jazz tem razão... A tristeza o leva a bloquear nossas mentes.

- Não bloqueio vocês deliberadamente. Apenas... – Soltei um suspiro pesado.

- Está alheio demais para ver ou ouvir qualquer coisa ao seu redor... – Alice completou – Eu sei.

Então eu vi a visão de Alice.

- Eles estão chegando. – Falou.

Me levantei de súbito, me preparando para sair dali.

Alice me segurou pelo pulso.

- Eu não quero que ela me veja... Não nesse estado.

- Então controle-se. Você sabe fingir como ninguém.

- Eu não preciso estar aqui, Alice. – Falei exasperado.

- Não... Mas quer. – Disse dando de ombros – Quem sabe se, ao te ver...

- Pare! – A interrompi – Eu me recuso a ter qualquer tipo de esperança.

- Tudo bem, me desculpe. – Alice murmurou, soltando meu braço.

Mas eu permaneci ali com ela, ridiculamente esperando.

Quando Bella saiu do carro de Carlisle, sua cabeça baixa não me permitiu encontrar seu olhar.

Ela permaneceu ao lado do veículo enquanto Alice se aproximava.

- Carlisle me contou para onde vai... Não seria melhor você ficar aqui, perto de nós, onde estaremos ao alcance no caso de qualquer problema? – Perguntou minha irmã, o tom amargurado.

- Alice... Você sabe o que estou fazendo. Estou seguindo o que meu coração quer...

Antes mesmo que ela pronunciasse a última palavra eu me virei e sai dali.

Eu não podia ouvir mais nada.

Então apenas voltei ao penhasco, o mais rápido que me foi possível, me mantendo distante o suficiente da verdade que eu não conseguia aceitar.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sem mais delongas... Bom final de semana a todos!