Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 14
Rompimento




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EDWARD

Eu precisava vê-la. Precisava ter um último vislumbre de sua face suave, de seu olhar profundo. Precisava sentir o amor por ela em mim mais uma vez.

A fúria que se debatia em meu âmago era intensa, despertando definitivamente o monstro, a muito adormecido.

Tive medo do que isso causaria em meu cerne, em meu íntimo. Medo de que eu não me lembrasse mais de como me sentia perto dela, de como o amor por ela havia me transformado em um novo ser, uma criatura mais branda, mais humana.

Eu tinha que olhar para Bella, deixar o sentimento terno me inundar mais uma vez. Esse era o antídoto para o furacão de ódio que começava a me modificar.

Corri com toda a velocidade que me era permitida pela minha natureza, parando apenas quando já estava dentro de seu quarto.

A visão que tive funcionou como eu imaginara.

A onda de ternura que me acometeu, afogou toda a raiva que me acompanhara no último dia, me permitindo sentir o amor por ela pulsar em cada centímetro do meu corpo.

Bella estava encolhida na velha cadeira de balanço, abraçada às suas próprias pernas, ressonando.

Olhei maravilhado para aquela figura, tão frágil, pequena e humana, percebendo o poder que ela tinha sobre meus instintos mais ferozes e animalescos. Ela era o único motivo para me manter o mais próximo possível da humanidade. Por ela eu havia permitido que o homem em mim dominasse o monstro.

Mais uma vez tive medo.

O monstro não seria mais dominado quando ela se afastasse. O homem não teria forças ou motivos para se manter de pé. Ele cederia, dando espaço para que o monstro voltasse.

Caminhei lentamente até ela e peguei-a no colo.

Enquanto a levava para a cama, observei em seu rosto as marcas das lágrimas já secas.

Bella havia chorado.

Tive certeza de que era eu o motivo.

Eu a havia magoado com a agressividade com que a tratara pela manhã. E eu sabia que me ferir a fazia sofrer, ainda que isso não significasse mais o que significara um dia. Ela apenas apiedava-se do meu sofrimento.

Eu sentia que ela não me amava mais como um dia havia amado. Eu sempre soube que isso poderia acontecer, mas tive esperanças contrárias. Ela era apenas humana afinal. Sujeita a todas as mudanças de sentimentos e personalidade a que qualquer humano é. Havia sido tolo em acreditar que seu amor por mim era tão agudo e extenso quanto o meu por ela.

No instante em que seu corpo tocou a superfície macia de tecido de cama, Bella abriu os olhos, aturdida, me fitando questionadora.

- Me perdoe... Não quis acordar você. – Falei constrangido por ela ter me visto ali.

Bella me olhava confusa, e nada disse.

Sabia que era uma surpresa para ela me ver em seu quarto, quando estava claro que ela pretendia romper o que havia entre nós dois.

- Sei que não me quer aqui... Mas eu não pude evitar. Peço que me perdoe por isso também. – Me desculpei pela invasão.

Me voltei em direção à janela para deixá-la sozinha, caminhando lentamente.

 - Não, espere! – Sua voz urgente soou como música aos meus ouvidos.

Virei e a olhei, quase não conseguindo disfarçar o sorriso de contentamento que se insinuou em meus lábios.

- Eu não estou chateada por você estar aqui. Eu... – Ela se interrompeu.

- Eu vim porque precisava te ver mais uma vez... – Expliquei sem conter a intensidade de meus sentimentos – Eu sei... Sei o que vai acontecer... Não simplesmente por Alice poder ver o futuro, até porque ela tem me evitado... Mas até mesmo isso me indica o ponto. – Falei mais para mim mesmo, soando melancólico – Eu sinto o que está por vir... E não vou fazer nada para dissuadi-la de sua decisão... Mas não pude evitar vir até aqui... – Minha voz quebrou até silenciar-se.

- Edward, eu queria que você tentasse entender, antes de qualquer coisa, que eu não gosto de magoar você da maneira como estou fazendo... Apenas quero ser honesta conosco, devo isso a você...

- Você não me deve nada, Bella. – Interrompi.

- Espere, me deixe falar – Pediu, levantando a mão – Eu quero que você conheça os fatos como eles realmente são. Eu preciso que me deixe explicar tudo.

O desespero tomou conta de mim mais uma vez, e tive medo que isso fizesse o monstro me dominar novamente.

Levantei as mãos com as palmas viradas para ela, fechando os olhos e meneando a cabeça negativamente.

- Por favor, não agora... Não ainda. – Pedi com a voz fraca – Tudo que te peço é que me dê um dia, só mais um dia...   

Para que eu ao menos tente controlar essa fúria que está querendo emergir em reação ao que irá fazer. Completei em pensamento.

- Que diferença fará um dia, Edward? – Ela me perguntou com a voz suave – Minha decisão não vai mudar.

Sim. Ela estava mesmo decidida, como eu havia temido.

Minhas mãos caíram ao longo do meu corpo, manifestando minha renúncia.

Respirei fundo e voltei meu rosto para a janela.

Nada poderia demovê-la de sua vontade. Eu sabia disso. Mas ainda assim, a esperança de que ela mudasse de idéia no último minuto, teimava em me perturbar.

O monstro rosnou, a raiva começando a inundar meus sentidos.

Controlei-o com o pouco de força que ainda tinha.

- Você tem razão... Que diferença fará?

O silêncio que se fez era tão denso que poderia ser cortado com uma faca.

Me permiti olhar para Bella. Seu rosto tinha a capacidade de desestabilizar o poder do monstro. Ela me olhava receosa. Instantaneamente fui tomado pela benevolência que sua figura me provocava.

Caminhei até sua cama, me sentando em sua frente. Fitei-a com dificuldade, o pesar era esmagador.

- Faça o que tem que fazer...

Esperei, refreando a fúria e a dor cuidadosamente.

Bella estava calada, o olhar vago, como se enxergasse além de mim. Imaginei que estaria organizando suas idéias antes de começar a falar.

Ela respirou fundo e abriu a boca devagar.

- Eu não... – Pausou evidentemente desconfortável, os olhos vagando de um lado para outro, nunca encontrando meu olhar – Eu não posso mais fazer isso... Eu... Nós... – Soltou uma lufada de ar e falou de uma só vez – Eu não posso mais me casar com você.

Há alguns dias eu imaginava o que iria ouvir e o que isso me provocaria... Mas a realidade foi, um milhão de vezes, mais dolorosa do que eu previra.

Minha garganta ficou instantaneamente seca, assim como meus olhos.

O monstro se debateu impaciente, desejando explodir e liberar toda sua cólera.

Mantive, a muito custo, meu semblante sereno, uma máscara de tranqüilidade para esconder o tormento que me consumia.

Tentei falar, mas não encontrei minha voz.

Bella esperou, o olhar temeroso, talvez esperando uma reação agressiva.

Falei com falsa calma.

- Bella... Por quê? – Perguntei.

Pude perceber que o desespero fora mal disfarçado. Estava muito claro em meu tom.

- Eu... Me perdoe. – Disse ainda sem me olhar – Eu errei quando voltei. Me enganei com meus sentimentos. Eu não sei por que, eu só... Eu só não... – Pausou, parecendo buscar as palavras –... O amo mais. – Finalizou.

Desviei meus olhos de seu rosto. Não podia mais olhar para ela. A dor era desconcertante, sufocante, insuportável. E eu tinha certeza que era evidente em meu olhar.

- Não da maneira como amava antes, quero dizer... – Se apressou a falar, provavelmente sentindo compaixão por mim – Eu ainda o amo, mas de uma maneira diferente... Apenas... Sinto que meus sentimentos por Jacob... – Pausou, talvez testando meu equilíbrio antes de terminar a frase – Sinto que ainda tenho sentimentos por ele e...

Levantei uma de minhas mãos em sua frente, interrompendo-a. Mirei a outra em meu colo. Um ponto fixo me faria manter a concentração para não explodir novamente como havia feito de manhã.

Eu não suportaria ouvi-la dizer que o amava, e que por isso, estava me deixando.

Em alguns segundos pensei em cada palavra que falaria a seguir, seguindo meticulosamente a sequência de frases, elaborada para encerrar de vez o assunto, me permitindo sair dali o mais rápido que fosse possível, e não deixando escapar o meu verdadeiro sentimento em relação a tudo aquilo.

Uma encenação, interpretada pelo melhor ator que eu poderia ser.

Comecei com a verdade.

- Não precisa se explicar... O amor não é um sentimento que possa ser esclarecido. – Falei fingindo placidez – Ele apenas chega sem que percebamos e invade nosso coração. Quando vemos já está instalado. Impossível de ser ignorado ou esquecido... Aconteceu assim comigo... Por você.  

Ainda mirava minhas mãos, enquanto sentia o rastro de fogo que as palavras, extremamente verdadeiras, deixaram ao queimar minha garganta em sua passagem.

Levantei meu rosto em sua direção, e a olhei nos olhos, preparado para a farsa.

- Eu consigo compreender isso. – Menti – Eu entendo como se sente agora, tentando encontrar o motivo, as razões que fizeram seu amor por mim acabar. Mas explicações não são necessárias. – Enfatizei – Você me deu o que pedi, um motivo, e eu acredito que ele é forte o suficiente para que eu não questione sua decisão. – Minha voz soava resignada, mas por dentro eu queimava violentamente.

- Edward, me deixe explicar... – Pediu com o tom choroso – Meu amor por você não acabou... Apenas não é mais forte o suficiente... Para reprimir o que sinto por Jacob. – falou a última frase com um fio de voz, claramente constrangida.

Sufoquei a impaciência e a aflição que me acometiam, me mantendo no limite do controle, segurando o ar sereno.

- Eu entendo Bella, e aceito sua decisão.  – Persisti no embuste – E acredito que não precisamos prosseguir com essa conversa. Tudo já está mais do que esclarecido. – Disse me levantando.

- Mas eu não... – Bella recomeçou a falar.

 - Quero que saiba que estarei aqui sempre... Por nosso filho... E por você também, se precisar de mim... – Cortei-a, parado já com as mãos no batente da janela – E por favor, não se detenha em me procurar se isso acontecer. Você faz parte da família agora, é mãe do meu filho. Eu farei tudo que estiver ao meu alcance para que você esteja sempre bem e segura.

Senti que ela se levantava e andava em minha direção.

Meu corpo estremeceu em resposta à sua aproximação.

Ela pousou uma mão em meu ombro.

- Me perdoe... – Sua voz era embargada.

Me virei de frente para ela e tomei sua mão.

- Não tenho do que, Bella...

- Eu estou ferindo você... Posso ver isso. Me sinto horrível por fazer você sofrer. – Disse mirando o chão.

Segurei seu queixo e o elevei com a mão trêmula, sentindo o calor de seu rosto penetrar em minha pele, me fazendo arder por dentro.

- Você está fazendo o que acredita que precisa. O fato de não se sentir da mesma forma por mim não é um crime. Essa é a sua opção. Está fazendo uma escolha e eu a respeito. – Consegui dizer tudo sem fraquejar. – Afinal não há mais nada que eu possa fazer.

- Mas eu preciso te falar uma coisa... Algo que fiz que...

- Shhhh! – Calei-a com um dedo em seus lábios.

Senti uma corrente elétrica atravessar minha mão e correr por meu braço até o meu peito, se espalhando com rapidez por todo meu corpo.

Contive o impulso de beijá-la. Ela não me pertencia mais.

- Você não precisa me relatar mais nada além do que já me contou. Você não me ama mais, e me falou a razão de ser do fato. Isso é tudo que eu preciso saber. – Disse, me afastando.

Bella me olhou apreensiva, mas pareceu entender e aceitar meu pedido implícito, para que o assunto se encerrasse.

Deu dois passos para trás, segurando uma mão na outra. Baixou os olhos para elas, enrugando a testa.

Segui seu olhar e percebi o que ela fitava.

Bella retirou lentamente o anel do dedo, enquanto eu observava atônito.

Ela estendeu a mão para mim, com o anel em sua palma.

- Bella... – Falei num sussurro – Ele é seu! Eu lhe dei ele... Foi um presente.

- Eu não posso mais usar... – Disse com a voz contida, mirando o chão – Estamos nos separando, e esse anel... Era de sua mãe. Você me deu ele como um símbolo do seu desejo de casar comigo. Isso acabou. Então não é certo que eu o tenha.

- Mas eu quero que você o guarde... Como uma lembrança, que seja, do que vivemos.

- Não posso Edward... Eu não o mereço. Nem o anel... Nem  a você. – Determinou me olhando nos olhos.

Eu não pude e não quis falar mais. Não queria implorar. A consternação já estava transbordando por meus olhos. Eu precisava sair dali antes que agisse de uma maneira da qual me arrependeria. Estendi a mão e peguei o anel.

Segurei-o com força, cerrando os dedos em sua volta. Tive de me lembrar que era um metal frágil e que quebraria facilmente se eu transferisse toda a raiva que sentia para ele.

Era um símbolo do tempo que a tive para mim, do que me foi permitido viver com ela. Eu não queria perdê-lo.

Não voltei meu olhar na direção de Bella.

Apenas enfiei o anel no bolso e saltei para fora de seu quarto, tomando o caminho de volta para casa.

Duas frases martelavam em minha mente sem cessar.

“Eu só não... O amo mais...”

“... Isso acabou.”

Acabou.

 

 

 

 

BELLA

As palavras doeram ao sair. “Eu não posso mais me casar com você”

E ao afirmar que não o amava mais, meu estômago se contorceu desagradavelmente. Senti como se tivesse atravessado um ponto sem volta. Estava feito.

Eu pude perceber o que aquelas palavras haviam causado nele.

Apesar de Edward ter mantido o semblante sereno durante toda a conversa, eu era capaz de enxergar em seus olhos toda a dor e fúria que estava provocando.

Mas ele não questionou o motivo, e pareceu aceitar resignado, minha decisão. E isso deveria ter feito eu me sentir aliviada. Mas a apreensão me dominou quando ele falou que respeitava minha escolha.

Eu tentei contar a ele o acontecido entre mim e Jacob, não queria que ficasse nada pendente, nenhum segredo, nenhuma mentira, mas ele não permitiu. Queria esclarecer meus sentimentos contraditórios e confusos, fazê-lo entender que o amor que eu sentia por ele não deixara de existir, apenas estava transformado, alterado, mas ele não me deixou explicar. Estava claramente impaciente e atormentado. E eu lhe pedi perdão por toda essa dor que eu sabia que estava causando, mas Edward, mais uma vez tomou a atitude mais generosa e me absolveu de toda a culpa que eu merecia e sentia, com suas palavras cheias de compreensão.

Apenas quando ele me tocou pelo que seria, acreditei, a última vez, percebi que eu me sentia mais do que simplesmente culpada. Seus dedos em meu queixo, e depois em meus lábios, mandaram correntes elétricas desconcertantes, que confundiram ainda mais a minha cabeça e meus sentimentos.

Então veio a etapa mais difícil.

O anel simbolizava tudo que tínhamos vivido, tudo que havíamos enfrentado para chegar até aquele ponto quando ele me pediu em casamento. Devolvê-lo representava, para mim, como se eu estivesse apagando toda aquela história de amor. Foi doloroso. Mas eu não poderia permanecer com ele, não era certo.

Edward foi embora sem olhar para trás.

Acreditei, por tudo que estava sentindo por Jacob, que a leve tristeza que me tomava passaria rapidamente.

Mas no momento em que ele saltou da janela, a mágoa veio violenta, me surpreendendo.

Passei todo o resto da noite em claro, confusa com o pranto dolorido e incessante que me assaltou depois de sua partida.

O sol surgiu por entre as nuvens, revelando com seu brilho dourado, o dia azul e amarelo que começava. Um dia atípico e encantador. Mas meus olhos embaçados não viram beleza, apenas gravaram a fogo a imagem em minha mente. O primeiro dia do resto da minha vida... Sem Edward.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Bom pessoal, estou postando os caps que já estavam prontos... Sendo 100% sincera, estou tão pra baixo com a repercussão da fic, que não estou conseguindo evoluir os caps que ainda estão inacabados. Considerando que tenho tudo pronto até o cap 16, é provavel que depois dele vcs fiquem sem a fic por um tempinho. Claro que não vou deixar ela inacabada. Eu assumi um compromisso e vou cumprir da melhor maneira que me for possivel... Mas desde que minhas emoções estão abalando a continuidade da história, peço desculpas desde já pela provavel demora nos proximos posts.
Beijos a todos.

Maloa estivallet



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