By The Way escrita por Ducta


Capítulo 32
Kiss Me


Notas iniciais do capítulo

Kiss Me - Sixpence None the Richer



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Percy estava parado na frente do Prius que seu pai havia lhe dado, procurando a chave. Annabeth apressou o passo e conseguiu alcançá-lo quando ele abriu a porta carro.

- Percy. – Ela chamou tocando seu ombro direito.

Ao reconhecer aquela voz, Percy sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas ele as conteve e virou para encará-la. E lá estava ela, tão mudada, tão crescida... Mas apesar de tudo, ele ainda conseguia achar sua pequena marrenta dentro daqueles olhos, que hoje estavam tão nublados quando o céu acima deles.

Eles se olharam por um longo momento, o silêncio ao redor só era quebrado pelo farfalhar das árvores e pelos trovões que atravessavam o céu.

Annabeth colocou as mãos no bolso do sobretudo e suspirou pra tomar coragem. Seu coração estava acelerado, a garganta seca.

- Ér... Nós podemos conversar? – Ela perguntou em voz baixa, sem olhar em seus olhos.

Percy não achou a voz então apenas assentiu e indicou o carro com a cabeça.

Enquanto dava a volta no carro, Annabeth desejou apenas correr, se esconder e chorar. Durante várias vezes imaginara o reencontro deles, mas nunca pesou que seria tão doloroso assim.

Dentro do carro, eles trocaram um olhar rápido, mas logo desviaram.

Percy ainda sentia aquele nó apertando em sua garganta, queria dizer a ela que tudo estava errado agora, queria dizer que nunca parou de pensar nela um segundo sequer, mas sua voz estava sendo impedida por aquele nó que doía cada vez mais e pela sua mente receosa.

Tentou se concentrar no que ela queria falar com ele, mas apenas conversas em que ele sofreria no final vinham a sua cabeça.

Percy guiava o carro por ruas que Annabeth ainda se lembrava, mas ela não sabia pra onde ele estava indo e também não conseguiu perguntar.

Percy sentia seu coração despedaçar, nunca imaginara que seria tão difícil lidar com aquilo.

O caminho até a lanchonete que eles costumavam ir foi silencioso e incômodo.

Ambos agora sentiam que várias coisas entre eles haviam mudado. Eles sempre ficavam por longos momentos em silêncio, mas nunca doeu tanto.

Talvez a dor fosse a distância ou até mesmo saudade, mas aquilo também não parecia certo. Eles deveriam ter seguido suas vidas um sem o outro, não deveriam? E porque foi tão difícil? E por que Annabeth sempre estava nos pensamentos de Percy e vice-versa? Aquilo não parecia certo...

Talvez fosse por ironia do destino que o garçom os levou até aquela mesa que eles se sentaram mais de três anos atrás, fazendo ambos lembrar aquela tarde de verão.

 Percy pediu um café forte e Annabeth pediu um chá de camomila. E quando as bebidas chegaram, Percy sentiu que deveria falar alguma coisa.

- Hm... Você... Você está linda. – Ele disse de um fôlego.

Annabeth esboçou um sorriso.

- Você também.

Percy sorriu timidamente, mas logo ficou sério outra vez.

- Você devia estar lá no cemitério com o Mike.

- Eu sei, mas eu já não posso fazer nada pelo meu pai.

Percy assentiu e bebericou um gole de seu café.

- Acho que eu nunca te agradeci, não é?

- Por quê?

Percy tirou duas folhas dobradas do bolso da jaqueta e as deslizou pela mesa até alcançarem sua mão pousada no tampo da mesa.

Annabeth abriu a primeira folha. Era a cópia de seu certificado de conclusão do tratamento. A garota sorriu ainda olhando o papel.

- Fiz essa cópia pra você. – Percy disse simplesmente.

- Obrigada. – Ela murmurou e abriu a segunda folha.

Era uma lista.

- Quem isso?

- Lembra da carta que eu te escrevi que você não respondeu? – Annabeth corou levemente. – Aí está a lista.

1 – Você me mostrou que, apesar dos pesares, a vida vale à pena.

2 – Você me deu motivos para viver.

3 – Você me fez ver o quanto eu era um péssimo filho.

4 – Você me fez ver o quanto eu era ruim pra mim mesmo.

5 – Você me fez querer ser uma pessoa melhor. Eu lutei por isso.

6 – Por você eu me fiz ver que não precisava de drogas, nem de bebidas e de cigarro.

7 – Você me ensinou a encarar meus problemas ao invés de me esconder deles.

8 – Você me fez ver quem eu realmente era e lutou por mim quando ninguém mais quis.

9 – E por último e talvez o mais importante, você, mesmo a contragosto que eu sei, me fez te amar.

 

Ao final do bilhete, algumas lágrimas rolaram silenciosas pelo rosto de Annabeth, ela as limpou consciente de que Percy a observava.

- Eu não sei o que dizer.

- Não precisa dizer nada. Eu que tenho que te agradecer. – Percy disse decidido.

Annabeth sorriu ainda chorosa.

E mais uma vez eles caíram em silêncio, esse foi o mais longo, mas o clima ainda não havia melhorado entre eles.

- Sua filha parece ser linda. – Percy disse quebrando o silêncio.

- Você viu minha filha? – Annabeth perguntou preocupada.

- Só de costas. – Percy disse franzindo o cenho.

Annabeth suspirou aliviada.

- Ela deve parecer seu namorado, não? – Percy perguntou doído.

Annabeth mordeu o lábio.

- Essa é uma das coisas que eu tenho pra te falar.

Percy franziu o cenho.

- O Nico não é meu namorado. Nosso relacionamento nunca passou de um beijo, três anos atrás. E desde que a Leah nasceu ele me ajudou a cuidar dela. E ele só está morando comigo porque ele brigou com os pais e saiu de casa, então eu o chamei lá pra casa porque, desde que minha avó morreu,  eu estava morando sozinha e sou medrosa, então...

- Ah... – Percy fez, mas não sabia se sentia-se aliviado. – Então quem é o pai dela?

Annabeth tirou uma folha do bolso interno do casaco e o entregou a Percy.

Ao abri-lo, Percy viu que era uma certidão de nascimento.

Ela alegava que Leah Justine Jackson Chase era filha de Annabeth Jennifer Chase e Perseu Anthony Jackson.

A respiração de Percy se desigualou e uma ruga de dúvida, curiosidade e confusão se formou em sua testa.

- Como assim? – Ele perguntou por fim.

- Lembra da carta da Ashley?

- Sim.

Annabeth a retirou do mesmo bolso do casaco e a entregou.

Você tem todo o direito de recusar, mas eu queria que você ficasse com meu bebê caso Percy não mude de idéia. Sei que nunca fomos íntimas, mas você foi a única em que eu pude confiar e sabe, eu sinto que posso fazer isso.

Se você aceitar, eu já conversei com meu pai e eu quero que você a registre como sua.

- Mas o Embry me disse que você não aceitou.

- Sim, mas ele me ligou e disse que dariam ela pra adoção e depois de conversar com minha avó, eu vi que não seria aquilo que Ashley queria pra filha dela e vi também que era o certo a fazer, então eu voltei pra buscá-la.

Percy sentiu o coração acelerar, suas mãos tremeram e ele começou a suar frio. Até foi atrás de seu bebê alguns dias depois, mas não o achou mais e Embry havia dito que não sabia onde ela estava.

- Então, a Leah é...

- Sua filha.

- Nossa filha. – Percy disse de um fôlego, sua boca estava entreaberta e ele não tinha reação.

Annabeth sentia-se aliviada por ter finalmente contado a verdade, na verdade sempre temeu a reação de Percy por não saber se ele havia acreditado em Ashley. Mas Annabeth sempre soube que Ashley não mentira, não pelos grandes olhos verdes de Leah, mas por seu jeito. Segundo os conceitos de Annabeth, ela era teimosa como Percy, tinha o nariz igual o dele, assim como os lábios cheios e o mesmo jeito de sorrir, mas do resto, era delicada como Ashley. Mas ela ainda tinha uma dúvida...

- Percy, trava o maxilar, por favor? – Annabeth pediu sorrindo.

- Por quê? – Ele perguntou estranhando o pedido.

- Quero ver uma coisa.

Ainda estranhando o pedido, Percy o fez. Annabeth avaliou.

- Não, não é de você. Será que a Ashley travava o maxilar?

- Quê?

- A Leah, tem um jeito de travar o maxilar e eu queria saber de quem é essa mania.

Percy riu estridente.

- Do que você está rindo?

- Você que tem mania de travar o maxilar, Annie! – Percy disse ainda rindo.

Annabeth surpreendeu-se, travar o maxilar era quase uma mania imperceptível pra ela que ela nem se lembrava que a tinha.

 - Não acredito que você já passou manias pra ela!

- O quê? Eu sou a mãe, ela tinha que ter alguma coisa minha! – Annabeth disse sorrindo.

Eles se olharam por mais um longo momento, dessa vez amos sorriam. Mas o logo os sorrisos sumiram, substituídos por semblantes sérios, que escondiam várias coisas.

Percy começou a dialogar consigo mesmo. Ela estava ali, na sua frente! Ele já havia feito, estava pronta. “Mostre a ela!” – ele ordenou-se.

Engoliu seco e começou a cantar em voz baixa:

- Your voice was the soundtrack of my summer. Do you know you're unlike any other?

You'll always be my thunder, and I said: your eyes are the brightest of all the colors, I don't wanna ever love another. You'll always be my thunder, so bring on the rain and bring on the thunder…

(Sua voz foi a trilha sonora do meu verão. Você sabe que você é diferente das outras? Você sempre será meu trovão, e eu digo: seus olhos são os mais brilhantes de todas as cores. Eu não quero amar mais ninguém. Você sempre será meu trovão, então traga a chuva e traga o trovão.)

 

- Que lindo. – Annabeth disse admirada. – Que música é essa?

- Thunder. – Percy disse simplesmente. – Eu escrevi no outono logo que você foi embora.

- Wow. Não sabia que você era compositor. – Ela disse surpresa.

- Nem eu. Descobri depois que você foi embora.

Annabeth enrubesceu outra vez.

- Você pode me mostrar?

Percy sorriu.

- Posso, mas você vai ter que ir ao meu apartamento, porque eu preciso do meu violão.

- Ok então.

- Hm, agora ou mais tarde?

- Mais tarde. E eu levo a Leah, assim ela vê se o pai canta bem ou não.

Percy riu pelo nariz. Era estranho ouvir que ele era pai, mas ele se sentia eufórico em conhecer a pequena.

- Mas e aí, que você tem feito da vida? – Annabeth perguntou cruzando os braços a frente do corpo.

- Hm, desde que eu saí da clínica eu estou trabalhando em um escritório e fazendo faculdade de Contabilidade. Saí de casa, financiei um apartamento e estou vivendo.

- Wow. – Annabeth fez outra vez. – Eu estou realmente surpresa e feliz por você, Percy!

Percy sorriu.

- Achei que você ficaria.

Annabeth ainda sorria, o encarando.

- E você? – Percy perguntou.

- Bom, desde que a Leah “nasceu” eu cancelei minha matrícula em Berlin e a Thalia acabou indo sozinha. Minha avó morreu pouco antes disso e, como eu já disse, o Nico veio morar comigo. Eu trabalho de manhã em uma loja no shopping, fico à tarde com a Leah pro Nico trabalhar e a noite eu faço faculdade de pedagogia.

- Hm. Pedagogia? – Percy perguntou sarcástico.

- Ciências Contábeis? – Annabeth rebateu no mesmo tom.

Os dois riram.

- Acabamos nos surpreendo bastante não foi? – Annabeth disse.

- Acho que nossas vidas tomaram rumos muito diferentes.

- Será que ajudou?

Annabeth abriu a boca para responder, mas foi interrompida por um trovão e logo em seguida uma chuva forte começou a cair, fazendo as poucas pessoas que estavam na rua correrem.

Com uma idéia repentina, Annabeth tirou as botas e o sobretudo, ignorando o tremor que passou por seu corpo.

- Que você está fazendo? – Percy perguntou.

- Vem.  – Ela disse já de pé, estendendo a mão pra ele.

Percy tirou a jaqueta e aceitou a mão de Annabeth. Juntos correram em direção à chuva sob os olhares curioso dos outros clientes da lanchonete, bem como os dos garçons.

Annabeth parou de frente a Percy e começou a cantar

- And when it rains on this side of town it touches everything. Just say it again and mean it. We don't miss a thing...

Percy sorriu e se perdeu nos olhos de Annabeth. Eles estavam mais claros agora.

- Percy? – ela chamou.

Ele saiu de seu transe.

- Me beija?


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Notas finais do capítulo

"Thunder" é uma música do Boys Like Girls, mas vamos fingir que foi o Percy que compôs, porque eu não tenho criatividade pra compor músicas, é.
E esse ia ser o último capítulo, lógico que ia ter mais coisas, mas eu to evitando o final .-.