By The Way escrita por Ducta


Capítulo 31
Head Over Heels


Notas iniciais do capítulo

Head Over Heels - Tears for Fears



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Ver Ashley ser levada para o necrotério não foi uma das coisas mais agradáveis que Percy já viu. Parecia tão surreal aquilo que ele não conseguiu chorar, mas doía tentar enfiar na cabeça que Ashley morrera. E ele tinha tanto pra falar pra ela...

Ele passou as mãos pelo cabelo, os despenteando, levemente desesperado. Então sentiu alguém tocar seu ombro. Era o irmão mais velho de Ashley, Embry.

- Obrigado por vir. – Ele disse.

Percy respondeu com um aceno de cabeça.

- Ela deixou um recado pra você. – Embry disse e tirou uma folha do bolso da jaqueta.

Percy pegou o papel receoso.

- A letra é do meu pai, mas foi ela quem ditou.

- Obrigado.

- Bom, eu... – E sem dizer mais nada, Embry se foi.

Percy sentou-se no banco mais próximo e abriu o papel rapidamente, antes que suas mãos começassem a tremer.

Nosso bebê é o mais lindo do mundo. Desculpe-me por ter mentido

Era tudo o que dizia. E finalmente Percy chorou.

Colocou a carta no bolso da calça e caminhou lentamente até o berçário. Engoliu seco ao chegar ao vidro, mas encarou o interior do cômodo e procurou, mas não viu o nome da Ashley. Assim como não viu a enfermeira se aproximar.

- Qual o nome da mãe?

Percy sobressaltou-se.

- Ah, Ashley Malk.

- Ah está ali no...

- Não. Deixa. Eu não estou pronto pra ver.

- Desculpa, mas você é o que do bebê?

- Hã... O pai... Eu acho.

- Ah, volte quando se sentir pronto para vê-lo.

- O problema é que se eu der as costas agora provavelmente não o verei nunca mais.

A enfermeira apenas o encarou.

- Se quiser ver, seu bebê é o que está na terceira incubadora.

- Incubadora?

- Nasceu bem, mas nasceu cedo.

Percy engoliu seco.

Quando a tal enfermeira se afastou, Percy respirou fundo e encarou a tal incubadora.

Lá estava o bebê, deitado, sonolento. Estava com uma fralda que escondia metade de suas perninhas. As mãozinhas eram tão mínimas... O bebê era todo mínimo e isso fez Percy sorrir. Só então se deu conta de que não sabia se era menino ou menina e não sabia se queria saber.

Forçou-se a ir embora pouco tempo depois, concordando mentalmente com o que Ashley dissera: aquele bebê, mesmo de longe, era o mais lindo do mundo.

 

Annabeth mal conseguiu dormir aquela noite e apenas voltou ao hospital para dizer que não poderia fazer aquilo.

E por um infeliz erro do destino, Annabeth saiu do hospital ao mesmo que tempo que Percy entrou, mas por portas diferentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

Dois anos depois...

 

 

Não havia muito que a avó de Annabeth morrera, mas agora ela era maior de idade, já podia cuidar de si mesma.

Desde a morte de Ashley que ela não voltara a Miami, tão pouco falara com alguém de lá. Nem mesmo Sally a ligava mais.

Ela havia já terminado o colegial e hoje levara Thalia ao aeroporto, pois a amiga iria sozinha para Berlin enquanto ela faria seu curso de pedagogia em uma faculdade local.

- Divirta-se por nós duas lá. – Annabeth disse chorosa dando um último abraço na amiga.

- Você vai ficar bem? – Thalia perguntou também chorosa, segurando o rosto da amiga em suas mãos.

- Impossível ficar bem sem você, mas eu vou tentar. – Annabeth prometeu com um sorriso.

- Quando eu sair da faculdade, eu cuido da Leah pra você ir ok?

Annabeth riu.

- Você sabe que se eu fosse para Berlin, levaria Leah comigo.

- Eu sei.

A última despedida foi difícil, porque Annabeth não podia negar que queria muito estar indo com Thalia.

 

 

Ao chegar em casa, o telefone tocou, gritou para Nico que havia ficado em casa com Leah, que atenderia.

- Annie? – Percy chamou e o sangue de Annabeth gelou. Havia tanto tempo que ela não ouvia a voz dele, que por mais que ela achasse que ainda se lembrava. A voz já não era mais a mesma, pelo menos não pra ela.

- Percy. – Ela murmurou.

- Porque você nunca retornou minhas ligações?

- Você nunca me ligou.

- Eu liguei sim. Seu namorado nunca disse?

- Não.

- Mas eu liguei.

- Desculpe.

- Hm, deixa pra lá. Como você está?

- Bem e você?

- Mal.

- Mal?

- Estou cansado.

- Do quê?

- De viver sem você.

Annabeth suspirou pesadamente.

- Você ainda não parou de pensar em mim?

- Nem um dia sequer.

- Percy...

- Eu posso ir aí te ver?

Annabeth hesitou.

- E seu tratamento?

- Acabou. E deu tudo certo.

Annabeth sorriu.

- Isso é bom. Eu fico muito feliz!

- Obrigado, mas não mude assunto.

Annabeth pensou em Nico e Leah no andar de cima, pensou em tudo o que ela passara e em tudo o que fizera para esquecê-lo. Não queria imaginar o que se passaria na cabeça de Percy quando ela contasse de Leah. Leah... Tão pequena, tão sua...

- Acho melhor não. – Annabeth disse e desligou o telefone.

Subiu a escada rapidamente, disposta a perguntar a Nico porque nunca passara as ligações de Percy, mas não o fez porque encontrara Nico e Leah no banheiro. E a coisa mais hilária que Annabeth já vira nos últimos meses fora Nico tentar dar banho na pequena.

- Você podia parar de rir e vir aqui me ajudar não podia? – Nico perguntou sentindo a presença de Annabeth à suas costas.

 

 

Percy estava sentado no “seu” píer novamente, era fim de tarde. Mais um fim de tarde sem ela.

Perguntou-se, assim como várias vezes antes, porque o destino fora tão cruel em arrancá-la de sua vida daquele jeito e porque fora mais cruel ainda por não deixá-lo esquecê-la.

Com um suspiro pesado e doloroso, ele levantou e voltou pra casa.

Há alguns meses Percy havia saído da casa dos pais e mesmo morando em um lugar que Annabeth nunca esteve, cada pedaço de seu apartamento o lembrava os momentos que tivera com ela.

Enquanto fritava ovos – que era a única coisa em sua geladeira -, seus olhos caíram até seu pulso e lá estava, a pulseira de Annabeth. Um pouco desbotada sob a pele bronzeada do rapaz. Isso o fez sorrir, ele já a usava havia tanto tempo que raramente se lembrava dela em seu pulso.

Percy sentou-se na varanda do seu quarto onde tinha vista pro mar, com o prato nas mãos. E quando uma onda quebrou ao longe, ele lembrou-se de todas as conversas que teve com Annabeth. Olhou pra sua cama e sentiu falta do cheiro de morango dos seus cabelos, da sua pele macia, do jeito que ela sorria...

Pensou em ligá-la outra vez, mas ela ainda fugia dele e nem ao menos parara para explicar o porque.

 

 

E mais uma vez os meses se arrastaram tediosos e chatos.

 

 

 

Era janeiro outra vez, frio e chuvoso como costumava ser.

Exatamente na metade do mês Annabeth recebeu uma ligação inesperada de Mike. O irmão chorava muito e mal conseguia dizer uma palavra completa, pois era interrompido pelos próprios soluços, mas acabou por dizer a frase que fez Annabeth soltar o telefone e gritar, assustando Nico e acordando Leah no andar de cima.

- Ele morreu Annie. Nosso pai morreu.

Annabeth estava sentada no carpete, abraçada aos joelhos e chorava compulsivamente, agora totalmente em silêncio, Nico estava ao seu lado acariciando seus cabelos enquanto Leah deslizava a pequena mão pela perna da garota.

Três dias depois eles estavam em Miami.

 

A chuva havia dado uma pausa essa manhã, mas o céu ainda estava cinza e o vento açoitava o rosto de Percy sem dó.

Ao entrar no cemitério ele logo encontrou Mike e Annabeth, abraçados chorando. Annabeth estava mais alta, talvez fosse pela bota de couro que usava, a jeans escura oculta pelo sobre-tudo jeans, seus cabelos já não eram cacheados, caíam lisos pelas costas da garota.

Manteve-se longe reparando pela primeira vez no rapaz de cabelos escuros que tinha uma garotinha nos braços. A pequena tinha cabelos tão negros e lisos quanto o do rapaz e eles lhe caíam até os ombros apesar da criança não parece ter mais de dois anos. Ele não podia ver seu rosto, mas a pele alva da criança estava protegida por um casaco de inverno cor de rosa que combinavam com sua sapatilha.

Percy deu um passo em direção a Mike e Annabeth quando a criança gritou pela mãe. O que surpreendeu Percy e o fez congelar no lugar, foi Annabeth ter atendido ao chamado.

Então era isso. O destino jogara mais essa na cara de Percy. Enquanto ele ansiara e desejava a ver novamente, ela já tinha uma filha, para provar que já não pensava nele. Talvez nem se lembrasse daquele verão que fora a salvação e a destruição da vida de Percy.

Ele não agüentaria olhar para o namorado de Annabeth, nem para a filha deles, muito menos para ela.

Deu as costas e quando o fez, o vento trouxe até Annabeth um cheiro que nunca havia saído de sua memória, um cheiro inconfundível para ela, o cheiro de mar que apenas Percy tinha. Olhou para trás a tempo de ver um rapaz alto, que puxava a jaqueta para mais perto do corpo enquanto seus cabelos eram tirados do lugar pelo vento violento.

Se aproximou rapidamente de Nico e disse em um sussurro:

- Era o Percy.

- Vai atrás dele. – Nico disse. – Eu sei o quanto você precisa fazer isso.

- Mas e...

- Eu e a Leah ficaremos bem.

Annabeth sorriu e correu atrás de Percy.

 


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