Ao chegar ao hotel – completamente molhada, porém sorridente – Annabeth encontrou Nico sentado no carpete incentivando Leah a dar alguns passos, coisa que eles faziam muito ultimamente.

- Já vi que a conversa foi boa. – Nico disse pegando Leah em seu segundo passo consecutivo.

- Foi sim. – Annabeth se sentando ao lado do rapaz. – Foi melhor do que eu esperava! – Ela continuou e deslizou os dedos pelos lábios.

- E... – Nico incentivou.

- Ele quer conhecer a Leah. – Annabeth disse com um sorriso.

- Isso é bom.

- Acho que sim.

- Quando?

- Hoje.

- Porque você parece tão apreensiva?

- Não sei. E você, porque parece tão distante?

- Não estou distante.

Annabeth apenas o olhou. Ela conhecia Nico bem demais e sabia que alguma coisa o estava incomodando, mas Nico nunca conversava abertamente sobre nada.

- O que vocês fizeram enquanto eu estive fora? – Annabeth retomou, pegando a filha dos braços de Nico.

- Ficamos passeando pelo hotel, só.

O assunto vagou até temas mais leves, até que Annabeth achou melhor começar a se arrumar.

Eram quase sete horas quando ela saiu de casa. Nico se ofereceu para levá-la, mas ela sabia pra onde pra ir.

- O que você vai fazer enquanto estivermos fora? – Ela perguntou enquanto Nico puxava mais pra cima o zíper de seu casaco.

- Você fala como se fossem passar dias fora.

- É que eu nunca te deixei sozinho em três anos.

- Eu sei me cuidar. Tem TV aqui. – Nico disse sorrindo de canto.

- Se cuida então.  – A garota disse e beijou a testa de Nico.

Ele retribuiu com um sorriso não tão confiante e se curvou ligeiramente para compartilhar um beijo de esquimó com Leah que estava no colo da mãe.

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Depois de ter deixado Annabeth na porta do hotel, Percy passou no supermercado e comprou ingredientes para fazer macarrão com queijo e vinho, além de suco, papinhas, copos de plástico e alguns brinquedos para Leah. Esses últimos com a ajuda de uma senhora que o encontrara perdido pela ala infantil do mercado.

Percy sentia-se duplamente ansioso. Iria conhecer sua filha e quanto a isso não sabia o que pensar. Tentou pensar em várias coisas pra dizer quando vê-la e depois de algum tempo, teve de lembrar a si mesmo que ela tinha apenas um ano e meio. E ainda tinha Annabeth. Ele não sabia o que iria fazer quando abrisse a porta para ela. Depois do beijo daquela tarde, ele não sabia se eles tinham retomado o relacionamento, não sabia se era apenas coisa do momento. Evitou pensar, convenceu a si mesmo de apenas agir, ser espontâneo.

Conseguiu aliviar seu nervosismo com esses pensamentos, mas de nada eles adiantaram quando ele abriu a porta e lá estavam elas.

Annabeth agora estava mais parecida com o que ele se lembrava; Jeans, all star e moletom.

Leah estava com uma grossa meia branca por baixo do vestido rosa e do casaco, uma boneca de pano nas pequenas mãos, um sorriso com apenas alguns dentes que chegavam até seus grandes olhos verdes que se constratavam perfeitamente com sua pele branca. De fato, ela era o bebê mais lindo do mundo.

Sua respiração descompassou momentaneamente, mas logo ele sorriu abobado.

- Ela é linda. – Percy disse de repente.

- Por isso que eu sempre achei ela mais parecida com você do que com a Ashley. – Annabeth disse sorrindo.

Percy enrubesceu levemente.

- Hm, entra! – Percy disse voltando a si e percebendo que continuavam na porta.

Annabeth adentrou observando a pequena e cômoda sala, deixando os olhos vagarem pelo corredor iluminado por uma luz fraca enquanto um cheiro bom de macarrão com queijo invadia suas narinas.

- Apartamento legal. – Ela disse colocando Leah, que já estava inquieta, no chão.

- Obrigado. – Percy disse com um sorriso, olhando para Annabeth.

- Macarrão com queijo? – Annabeth perguntou sorrindo.

- Tentei.

Annabeth olhou para baixo, procurando por Leah e se surpreendeu ao encontrá-la sentada em um canto da sala rodeada de peças de montar, ursinhos e bonecas. Sua boca se abriu ligeiramente, mas ela a fechou logo.

- Você comprou brinquedos pra ela?

- Porque toda essa surpresa? Eu sou o pai dela. – Percy disse sorrindo enquanto encarava Annabeth.

- Wow. Que progresso.

Percy riu.

- Então papai, vai lá e a pegue no colo.

- Quê?! – Percy disse surpreso. – Não, Annabeth...

- Qual é Percy, você não pode dizer que ela é pequena e quebrável. – Annabeth disse sorrindo, se divertindo com o pânico de Percy.

- E se ela me estranhar?

- Tenta pelo menos, se ela estranhar, eu tiro ela de você.

Percy suspirou e se aproximou da garotinha. Annabeth, que ainda sorria, cruzou os braços à frente do corpo e continuou olhando.

Percy sentia-se nervoso, mas perdeu o medo quando a pequena esticou o olhar até o seu.

Ele estendeu os braços e rapidamente Leah se esticou até estar ao alcance das mãos do pai.

Annabeth sorriu ao ver a felicidade estampada no rosto de Percy quando ele se levantou com a filha no colo.

Leah agora brincava de puxar os cabelos de Percy, gargalhando com as caretas que o pai fazia.

- Leah, diz assim: papai. – Annabeth disse se aproximando deles.

- Tatai – A pequena repetiu olhando a mãe.

- Agora você fala com ela e aos poucos ela se aprende que você é o pai dela. – Annabeth disse.

Percy assentiu ainda olhando abobado para a filha.

Depois do jantar, Percy levou as duas para um pequeno tour pelo apartamento. Mas acabaram ficando no quarto porque Leah se mostrou sonolenta e logo se instalou na cama grande e macia de Percy.

- Estou começando a achar que ela gosta de cama de homens. – Annabeth disse quando viu a pequena já adormecida.

- Como assim? – Percy perguntou olhando na mesma direção.

- Eu só a vi dormir rápido desse jeito na cama do Nico.

Percy sorriu sem humor. Agora parecia estranho ouvir que outro cara convivera com Annabeth e com sua filha mais tempo do que ele e incomodava saber que esse desconhecido conhecia melhor as manias de sua pequena melhor que ele.

- É sério, quando ela está na minha cama ela só quer saber de brincar.

- Talvez ela gostou do cheiro do meu amaciante.

Annabeth sorriu.

- Talvez.

E assim, um longo momento de silêncio se seguiu e só quando seus olhos se encontraram, Annabeth lembrou o propósito da visita.

- Você disse que ia cantar pra mim. – Ela disse.

- É eu disse. – Percy disse se levantando.

Ele pegou o violão no guarda-roupa e a chamou com um aceno de cabeça.

Foram para a varanda da sala, onde dava pra ver a noite nublada e sem estrelas e ouvir, ao longe, as ondas quebrando no mar revolto.

- Lembrando que essa música foi escrita uma semana depois de você ter ido embora. – Percy disse sem olhá-la.

Annabeth continuou a fitá-lo.

(http://www.youtube.com/watch?v=RHJiGqHbgzI)

E aquela talvez fosse a música mais linda que Annabeth já tivesse ouvido. Não pelo fato de ser sobre ela e sim porque Percy sentiu sua falta, arrependeu-se e mudou por ela. Annabeth agora tinha grossas lágrimas caindo por seus olhos, porque o peso dos erros estava em seus ombros.  

- Porque você está chorando? – Percy perguntou assustado, colocando o violão de lado.

- Eu não deveria ter ido embora daquele jeito, eu...

- Você estava com raiva de mim e com razão. Se foi melhor pra você ter ido, eu não consigo me sentir mal.

- Mas você sofreu.

- E você mais ainda. – Percy disse passando o polegar pela maçã do rosto da garota, tirando algumas lágrimas que escorriam por ali. – O errado aqui sou eu, não se culpe por nada que aconteceu, Annie.

- Mas eu também não devia ter ido embora, não devia ter escondido a Leah. Eu errei demais.

- Não diz isso. Você fez o que achou certo, então é isso que importa.

- Mas não foi certo. – Annabeth rebateu chorosa, levantando olhar até os olhos de Percy.

- Para de chorar. Não gosto de te ver assim. – Percy lamentou.

- Eu te amo tanto. – Annabeth disse.

- Não mais do que eu te amo.

E pela segunda vez aquele dia eles se beijaram. Esse beijo foi mais calmo do que o anterior, mas com a mesma sede. Ambos sentiam que a vontade que tinham um pelo outro talvez nunca acabasse. Percy sentia que não podia viver sem ela. Arriscava-se até a dizer que tinha descoberto o sentido da vida, pelo menos o da sua, e era ela, Annabeth.

Annabeth tinha que admitir que sentira a falta de Percy mais do que muita coisa no mundo, ela precisava dele em todos os sentidos imagináveis. Ela o amava com toda a sua alma.

Percy quebrou o beijo com uma certeza em sua mente.

Pegou o rosto de Annabeth nas mãos e sustentou seu olhar.

- Annabeth Jennifer Chase quer casar comigo?