By The Way escrita por Ducta


Capítulo 30
Time After Time


Notas iniciais do capítulo

time after time - Cyndi Lauper



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Percy chegara em casa no final da manhã, ainda tinha o rosto manchado de lágrimas secas, as mãos sujas e as roupas amassadas. Evitava pensar. Sabia o tamanho do erro que ele havia cometido. Trancou-se em seu quarto antes que a mãe aparecesse para fazer perguntas e ao olhar para sua cama, lembrou-se dela e mais uma vez chorou. Chorou abraçado ao travesseiro que ainda tinha o cheiro dela. Chorou ao lembrar-se que ela partiria hoje, chorou por a ter magoado e saber que ela não o perdoaria dessa vez. No fundo, ele não queria que ela fizesse isso, ele não merecia.

Acabou pegando no sono e acordou algumas horas mais tarde com o chamado de sua mãe para o almoço. Não quis comer. Ficou deitado por mais algum tempo e depois foi tomar banho. O resto da tarde se arrastou enquanto Percy estava sentado no parapeito da janela até que seu celular tocou.

- Não vou brigar com você apesar de você merecer uns bons sopapos. – Thalia disse evidentemente mal humorada.

- Obrigado. – Percy murmurou.

  - Ela saiu daqui tem quinze minutos.

- Pra onde?

- Ela trocou a passagem, vai embora mais cedo e não queria ninguém com ela.

- Droga. Obrigado. – Ele disse e desligou o telefone.

Levantou-se de um pulo, lavou o rosto e saiu de casa, mais uma vez com o carro do pai. Ao chegar à rodoviária olhou pro relógio em seu pulso. Três minutos para ela partir. Correu o mais rápido que pôde e sequer pediu desculpas quando derrubou um rapaz. Ao chegar à escada, a viu na plataforma. Ela era a próxima a embarcar e ele estava longe.

Percy começou chamar por Annabeth desesperadamente enquanto empurrava pessoas para abrir passagem.

Com uma última olhada para a plataforma, ela o viu. Seu coração atrasou uma batida.

- Annabeth... – Ele chamou em um último esforço enquanto arfava.

Ela podia ter simplesmente entrado no ônibus e o ignorado, mas ela não sabia ignorá-lo.

Annabeth caminhou até Percy na plataforma, novas lágrimas se formando em seus olhos. Ela segurou o rosto de Percy em suas mãos, os olhos chorosos se encontraram por um momento e, de repente, Annabeth pressionou seus lábios nos dele com força.

- Você vai voltar? – ele perguntou.

- Não. Eu não deveria nem ter vindo essa vez.

Percy a olhou e Annabeth viu a dor que suas palavras causaram nele.

- Porque você sempre estraga tudo? – Ela murmurou e lhe deu as costas.

- Eu te amo, Annabeth. – Percy disse em voz alta, mas ela não olhou pra trás. Era doloroso ouvir isso agora.

E ela não o olhou mais enquanto embarcava, enquanto sumia por trás dos vidros fumê do ônibus, não abriu a janela, nem acenou pra ele.

Lágrimas rolavam fora do controle de Percy. Ela estava indo embora e não voltaria. Momentaneamente pensou em ir atrás dela, mas não ia adiantar. Continuou observando enquanto o ônibus sumia no fim avenida levando-a embora, a tirando dele... Era difícil acreditar que amanhã ele não a veria e nem depois e depois e depois...

E assim os meses se passaram.

Annabeth precisou de Três longos meses para conseguir falar o nome de Percy sem ficar magoada. A raiva a muito já havia ido embora, mas ela não o queria ver outra vez. Não tão cedo. Ele causara mal a ela. Ele era totalmente o posto dela e essa história de “opostos se atraírem” ela concordava que era verdade, mas tão opostos assim jamais teriam um final feliz.

 Mike havia ligado pra ela semana passada para contar que Percy havia completado dois meses em uma clínica de reabilitação. Pelo o que Mike havia dito, a clínica era um sistema fechado e Percy só saía de lá para passar o final de semana com a mãe.

- ... E ele deixou um telefone e pediu pra mim te passar. – Mike disse receoso.

- Não quero. – Annabeth disse decidida.

Mike disse que ele e Thalia não haviam se falado mais, mas que ele sentia falta de sua pequena.

Depois dessa conversa, não se falaram mais.

O estado de saúde da avó de Annabeth piorou quando novembro chegou, a garota mal saía de casa por causa do estado debilitado da avó, apenas ia pra escola. E foi em um desses dias que ela desceu para pegar o xarope da avó e viu uma única carta embaixo da porta. Era de Percy.

Ela suspirou e abriu a carta.

30 dias até o Natal e tudo que eu sei é que eu não estou realmente pronto pra esquecer esse último ano, eu tenho tanto pra mostrar.

Mais um mês e tudo que eu preciso é um sinal de que você pensa em mim. Se não pensar, então, por favor, apenas diga isso porque tudo que eu faço, é pensar em você. E isso está me desgastando, está me cansando. Esse feriado, nada mais é do que caras feias pra mim, mas eu tenho um presente pra você. Estou fazendo uma lista de todas as coisas que você fez na minha vida e eu mandarei pra você, então você vai ver por que eu amo você.  

Quem ia pensar que alguém como eu podia se apaixonar tão facilmente? Eu sei que você sabe que eu sei o que eu quero. Eu sei que não posso ter, mas pense nisso. Eu sei que parece loucura, baby, mas tudo que eu faço é pensar em você...

Eu queria te pedir desculpa por aquela noite, é só isso que eu posso fazer. Olha, eu não quero uma segunda chance com você porque eu sei que não mereço, mas eu quero te ver de novo, quero falar com você. Eu preciso saber como você está.

Vem passar o Natal comigo?”

 

Annabeth conseguiu chegar ao final da carta sem chorar, mas por dentro, seu coração parecia se despedaçar. Ela dobrou a carta e colocou no bolso da jeans, não responderia por que sabia que não conseguiria encará-lo novamente. Se o fizesse, provavelmente ruiria.

 

Percy esperou duas semanas pela resposta e quando teve certeza que ela não viria, sentiu-se mal outra vez, tão mal quanto naquela noite que ainda martelava sua mente algumas vezes.

Ela provavelmente estava seguindo a vida sem ele enquanto ele ainda tentava não pensar nela 24 horas por dias.

Grover desculpara Percy e agora eles eram amigos de novo, seu pai mandara uma carta através de Sally, pedindo desculpas e em termos técnicos, tudo ficou bem.

 

Enfim, o Natal chegou.

Não que tenha sido o mais feliz da vida de Annabeth, mas Thalia a convenceu de ficar com Nico di Ângelo, um rapaz de pele alva, olhos e cabelos negros, alto e muito bonito. Afinal, Thalia estava coberta de razão e ela tinha que seguir sua vida.

 

Percy também estava seguindo sua vida também. Dois dias antes do Natal, Grover o apresentara a uma prima sua Candy, que naquela noite fria de dezembro se tornara a primeira garota na vida do “novo Percy”.

 

Depois dos feriados, Annabeth ligou para Sally e acabou confessando a ela tudo o que tinha feito a respeito do caso de Kevin. Sally chorou e disse que não sabia como agradecer.

-... Apenas me ligue uma semana antes do julgamento final ok? – Annabeth disse sorrindo.

- Ok.

- Não deve faltar muito, meu “tio” disse que era no máximo um ou dois anos.

 

Mas elas não precisaram esperar tanto tempo.

No final de março, John dissera a Annabeth que estava feito. Dois dias depois, Sally ligou para avisá-la.

Alice, a mãe de Thalia, disse que ela poderia ir a Miami que ela cuidaria de sua avó. Annabeth faltara aquela sexta-feira na escola e foi. E mesmo tendo saído na hora certa, Annabeth só chegou ao tribunal uma hora e meia depois do começo do julgamento graças a um pneu furado no meio da estrada.

Sentou-se no último banco e dali podia ver Percy de mãos dadas com Sally, Kevin mais a frente com John e ambos pareciam confiantes.

Ao final de três horas de julgamento, Kevin foi declarado livre de todas as acusações e Annabeth sorriu ao ver a alegria da pequena família quando se abraçaram mutuamente, lágrimas já rolando e tudo.

Annabeth pensou em ir cumprimentá-los, mas desistiu ao ver uma garota de cabelos castanhos, abraçar e trocar vários selinhos com Percy.

Suspirou e saiu do local antes que ele a visse.

Não podia deixar de sentir aquela sensação de missão cumprida. Apesar de ter roubado documentos, mentido e ocultado o crime, Kevin estava livre. Percy estava na reabilitação, Sally estava feliz. Todos eles estavam.

Era um sábado a tarde, não tão quente quanto o último que ela passara ali, mas estava agradável. Ela passou na casa de seu pai onde ficou até o começo da noite e eles a convenceram a pernoitar lá já que no domingo a noite ela iria embora.

Depois do jantar, Annabeth foi até o clube. Chegou a tempo de ver uma ambulância deixar o local.

- Que aconteceu? – Ela perguntou a uma garota que estava ao seu lado.

- Ashley teve hemorragia outra vez.

Ashley... Annabeth mal se lembrara dela, ela já devia estar no sétimo mês, segundo suas contas rápidas.

- Outra vez?

- A gravidez dela é de risco, ela já teve três ou quatro hemorragias.

Annabeth sabia que não era de sua conta, mas ela acabou se encaminhando para o hospital. Como não sabia o nome completo de Ashley, perguntou sobre a garota com hemorragia e a localizou facilmente no setor de emergência.

Ela esperou até que os pais de Ashley apareceram no hospital, então ela se levantou e ficou encostada em uma parede fazendo de tudo para não ser notada.

Em torno de duas horas se passaram até que um médico apareceu, mas Annabeth não conseguiu ouvir o que ele disse, apenas assustou-se ao ver os pais de Ashley começarem a chorar.

Vinte minutos depois, a mãe de Ashley saiu do corredor e Annabeth achou seguro se aproximar.

- Ah, desculpa, mas como a Ashley está?

- Você é amiga dela?

- É... Um pouquinho.

Mais lágrimas rolaram dos olhos do pai de Ashley e ele precisou de cinco minutos para se recuperar.

- Ela não passa dessa noite.

Annabeth ficou sem reação, tamanha foi sua surpresa.

- O bebê está bem, mas eles não conseguiram estancar a hemorragia então...

“Ela vai sangrar até morrer” – Annabeth completou mentalmente e sentiu um nó se formar em sua garganta.

- Você quer falar com ela?

- Q-Quero, só me deixa fazer uma ligação primeiro.

Annabeth voltou até aquele lugar na parede e ligou para a casa de seu pai.

- Mike, liga pro Percy. Avisa que a Ashley está no hospital e que ela vai morrer ainda hoje.

E desligou antes que Mike pedisse explicações.

Enquanto caminhava até o quarto que Ashley estava com o pai da garota ao seu lado, Annabeth sentiu medo. Não sabia exatamente do que, mas ela estava com medo e suas mãos confessavam isso enquanto tremiam.

Ashley estava ligada a alguns tubos, a cor já havia sumido de seu rosto e o dreno em seu abdômen mostrava o sangue esvaindo-se do corpo agora frágil da garota. Annabeth teve vontade de gritar e sair correndo, mas não fez quando Ashley deu um sorriso fraco para ela.

- Oi. – Annabeth murmurou.

- Annabeth, eu não tenho muito tempo, só me diz que eu posso confiar em você, por favor.

- P-pode, claro.

- O meu bebê é do Percy sim. Eu menti pras minhas amigas porque eu queria me fazer de malvada, mas eu me arrependi. – Ela fez uma pausa para umedecer os lábios enquanto respirava fracamente. – Sei que deve estar difícil de acreditar em mim, mas porque eu continuaria mentindo sendo que vou morrer daqui a pouco?

Nem Annabeth soube o porque, mas ela acreditava em Ashley. Não por seu estado físico, mas por causa do fraco brilho em seus olhos azuis.

- Eu acredito em você.

- Obrigada. Você pode chamar meu pai, por favor? Preciso que ele escreva uma carta pra mim.

- Ok. E... Eu pedi pro Percy vir.

- Obrigada. – Ashley murmurou outra vez com aquele sorriso fraco.

Annabeth tentou sorrir antes de dar as costas.

Dezessete minutos se passaram e nada de Percy aparecer.

O pai de Ashley mais uma vez saiu do quarto da garota, com uma folha na mão.

- Annabeth?

- Sim.

- Bem, isso é pra você. – ele disse entregando a folha à garota.

- Que é isso?

- Vá pra casa, leia com calma e esteja aqui amanhã de manhã, por favor, pra me dizer sua decisão.

Annabeth assentiu curiosa por saber o que estava escrito naquele papel.

Exatos dez minutos passaram da hora que Annabeth saiu do hospital até a hora que Percy entrou. Mas ele chegou tarde demais, Ashley morrera havia menos de um minuto.

 


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Notas finais do capítulo

Chorei a morte da Ash "/