A Tia do Chouji escrita por miateixeira


Capítulo 4
A sedução e o engano




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 Capítulo 4: A sedução e o engano 

 

 

Eles não tiveram oportunidade de estarem a sós novamente por vários dias, e quando dividiam o mesmo ambiente seus olhares se procuravam, dançando entre a surpresa e a expectativa. Para o observador Chouza Akimichi aquilo não passou despercebido:

 

- Imouto-chan... - ele sondou a irmã na cozinha, deixando Iruka conversando com os meninos na sala. - O que está acontecendo entre você e o Iruka-san?

 

Chohiko se surpreendeu.

 

- Nada, nii-san, nada! Eu... E-eu... Não aconteceu nada entre nós!

 

- Está nervosa por que, imouto-chan?

 

- Nii! Pára! Você me deixa envergonhada com isso! Se ele ouve a gente falando assim, vai pensar que eu quero prendê-lo!

 

- E...? - ele insistiu, sério.

 

- Nii, pára! Ele é amigo da gente! Vai ficar chateado com isso! Depois ele não volta mais aqui... - Ela se entristeceu.

 

- Eu não acho. Não acho que ele vai se aborrecer com isso. Muito menos vai querer sumir...

 

Ela o olhou com os olhos arregalados de surpresa, as bochechas coradas.

 

- Você acha, nii-san?

 

Chouza sorriu para a mulher sem respondê-la e voltou para a sala.

 

Depois da refeição, Iruka esperou a distração dos meninos com Chouza, conversando animados sobre os feitos deles em suas missões, e então procurou por Chohiko na cozinha:

 

- Posso lhe ajudar, Chohiko-chan? - Ele estava parado perto da porta, mãos unidas atrás do corpo e no rosto o sorriso mais bonito que ela já vira dividindo espaço com pudor e constrangimento.

 

O coração da mulher se agitou e ela o olhou sobressaltada, corando visivelmente e mordendo o lábio inferior. Sem encará-lo diretamente, Chohiko ofereceu a ele um pano para que secasse a louça do jantar. Os dois ficaram calados por muito tempo, presos na tarefa, lado a lado diante da pia. Os braços se roçavam de vez em quando, furtivos, um sentindo o calor do corpo do outro.

 

- Chohiko-chan - ele quebrou o silêncio suavemente, sussurrando o nome dela -, Quer dar uma volta comigo pela vila?

 

O coração dela estava aos pulos. A custo ela conseguiu liberar o nó na garganta e sussurrar de volta:

 

- Quero...

 

Quando os dois saíram porta afora, Naruto e Chouji se entreolharam risonhos, num cumprimento subentendido.

 

Pelas ruas iluminadas de Konoha, homem e mulher caminharam lado a lado, perdidos numa "distração" planejada, presos, atentos a cada gesto e em cada respiração mais descompassada um do outro. Em suas mentes, mil planos se explicavam, mil sonhos, e no peito o desejo de se inteirarem um do outro explodia. Eles maquinavam as palavras, construíam argumentos dentro de si, ensaiavam mentalmente tudo: o tom da voz, o sorriso necessário, o contato que trocariam... Mas o que na prática se estendia diante deles eram uma timidez confusa, um constrangimento desajeitado, tentativas e recuos. Vez em quando seus corpos se esbarravam nessa caminhada e eles tentavam prolongar o contato, direcionando os passos e reforçando a eventualidade, o acaso da coisa.

 

Chohiko olhava as vitrines, admirava a beleza da vila, e Iruka tecia as palavras dentro de si, procurando as melhores, as que mais fariam jus a ele e aos próprios dotes. A cada olhar mais demorado dela para uma vitrine ou cartaz, ele logo se adiantava:

 

- Quer entrar, Chohiko-chan? Aqui servem os melhores dangos... Quer experimentar?

 

Ela sorria para ele e declinava o convite, geralmente com gestos delicados, outras vezes com escusas rápidas:

 

- Não, não... Obrigada, Iruka-san - dizia ela ligeira, estendendo a ele, ao peito dele, suas mãos espalmadas, como a contê-lo e agradecê-lo.

 

Secretamente, os dois se deliciavam com aqueles contatos, mas já haviam percorrido boa parte da vila e nada de encontrarem um ponto forte o suficiente para tirá-los daquele estágio sôfrego de excitação e constrangimento. Conforme Chohiko cortava, sem perceber, os avanços premeditados dele, de entrosamento e tentativas de gentileza, Iruka ia se amofinando aos poucos, desconcertado e confuso, imaginando-a insatisfeita com sua companhia, entediada e aborrecida. Para ele, a moça não estava satisfeita em tê-lo e acompanhá-lo, e tudo começou a ruir quando ela manifestou claramente o que pretendia:

 

- Eu gosto muito de conversar... De conhecer as pessoas...

 

Ele engoliu em seco e em sua mente tudo ficou claro: não era ele quem ela queria. O desejo dela estava em conhecer mais pessoas. Ele, Iruka, não era bom o suficiente.

 

"Suficiente" expressava bem o tamanho da decepção que se abateu sobre ele. Mais envergonhado do que nunca, ele seguiu calado para o centro da vila, com a mulher ao seu lado aparentando constrangimento e surpresa. Havia um lugar certo para onde ele poderia levá-la e satisfazê-la: o barzinho mais movimentado na rua mais movimentada do centro mais movimentado da cidade. Era o ponto de encontro dos companheiros, onde os ninjas seus colegas desfrutavam da companhia uns dos outros descontraidamente, e dividiam espaço, amistosos, com os civis de Konoha.

 

Iruka buscou a mesa mais ao centro, onde havia lugares vazios junto aos companheiros de trabalho do Centro de Comando, apresentou-a a todos com o sorriso mais fingido de que dispunha para esconder a chateação, e mais que nunca engoliu o aborrecimento de vê-la rodeada e recebida com tanto empenho pelos outros homens em volta. Ele a olhava de soslaio; simpática, gentil, atenciosa com todos, empenhada em responder a cada questionamento que lhe faziam sobre sua vida, seus gostos, sua família e planos.

 

Sempre sorrindo, Chohiko viu suas expectativas desmoronarem. Aquele homem calado, doce e atencioso esvaía-se diante dela como fumaça. Ele a tocara de maneira cálida antes, acariciara seu corpo e coração, e ela sentira novamente o fluxo quente e revigorante do sangue apaixonado circulando em suas veias, desde que se prendera hipnotizada naquele sorriso meigo dele, naquela carinha envergonhada e tímida que ele lhe dirigia, sorrateiro, sempre que olhava para ela.

 

Ela viera doída da Vila do Sol, em busca de luz para seu coração mergulhado em tristeza, fosse ela qual fosse, viesse de onde viesse: novos ares, novos sonhos, novos céus. Não imaginara que essa luz viria de um novo sentimento revolvendo-a por dentro assim, com aquela intensidade. Deixara a decepção para trás, voltara a acreditar em tudo, só com as sensações maravilhosas que estava sentindo novamente desde que conhecera aquele rapaz carinhoso e meigo e que cheirava a homem, e que fazia suas pernas tremerem quando ele a olhava sorrindo e quando ele a tocava com aquelas mãos quentes dele.

 

Quando ele a tocou na festa de aniversário de Konoha e a envolveu nos braços, Chohiko se sentiu dele, já, e em sua idéia sobre o amor, ela seria dele para sempre, se ele assim quisesse. Depois de toda a expectativa, quando Iruka a chamou para sair, ela imaginou que estariam juntos mesmo. Mas aquele suceder contínuo de tentativas que ele fazia para não estar a sós com ela a surpreendeu e amofinou. Envergonhada, ela se sentiu tola, iludida em suas próprias expectativas.

 

"Claro... É coisa do Chouji e do Naruto... De novo. Ele não está interessado em mim de verdade... Só é um homem gentil..."

 

Ela o observou caminhar, mãos unidas às costas, buscando em volta, no ambiente da rua, desculpas e pretextos para não estar sozinho com ela. Ele lhe ofereceu doces, restaurantes, cinema. Mesmo quando ela insinuara, através de tantas negativas, que não queria nada além de estar com ele, nem assim ele mudou de idéia. Os planos dele ficaram claros a ela quando Chohiko expôs abertamente que gostaria da companhia, de conversar, de estar com ele e conhecê-lo. Ela o viu se constranger violentamente e, mais que nunca, a mulher se envergonhou de sua ousadia. Empalidecendo ligeiramente, ela se viu guiada até o centro movimentado de Konoha e mergulhada no meio de uma multidão de sorrisos, conversas entrecruzadas, assuntos e histórias alheias e paralelas ao que tanto ela desejava conhecer. Sentado à sua frente naquela mesa de bar, o homem gentil com quem ela tanto queria estar olhava a tudo alheio, talvez aliviado, com um sorriso estranho e diferente daquele que ela ilusoriamente acreditou ser de satisfação por ela.  

 

Um bom tempo eles transcorreram ali, entre tantos, mas Chohiko estava já muito inclinada a deixar tudo para voltar à casa dos Akimichi. Sua licença já expiara na Vila do Sol e o motivo que a prendia ali em Konoha dera mostras claras de que não compartilhava do mesmo desejo. Ainda tentou captar nele algum interesse que fosse, algo que servisse de sustento para sua expectativa, algo que pudesse servir de ponto para ela esperar sentimentos vindos dele, mas suas esperanças desmoronaram de vez com a chegada festiva de um casal de ninjas, deixando Iruka desacorçoado e mais distante ainda. Eles seguiram para a mesa central onde Chohiko e Iruka se encontravam, e onde um grande grupo se reunia agora.

 

Chohiko reconheceu o sensei de Naruto, o ninja mascarado de cabelos brancos, mas não conhecia a moça, uma kunoichi - ela soube depois -, responsável por uma das fases do exame de graduação ninja.

 

- Ah! Kakashi! Anko! Até que enfim chegaram! - Genma os recebeu com satisfação.

 

- Eu tive um contratempo... Precisei parar para...

 

- Ah, tá, já sabemos, já sabemos... - alguns interromperam, zombeteiros, o discurso do rapaz e emendaram:

 

- Você ajudou uma velhinha - disse um.

 

- Não, não! Ele estava salvando uma criancinha que se afogava! - consertou o outro.

 

Chohiko não pode deixar de rir, olhando a cara sonsa do homem, desavergonhadamente cínico e sério, como se estivesse coberto pela mais pura verdade. Ela se lembrara das reclamações de Naruto a cerca do comportamento do sensei dele e o achou muito engraçado.

 

Mas a atenção dela foi distraída para a mulher que chegara com Kakashi Hatake e que suavemente arrastara uma cadeira, sentando-se ao lado de Iruka Umino. Chohiko percebeu a tensão entre eles, as trocas de olhares, o jeito como os braços dos dois se tocavam e como eles sorriam um para o outro. Imediatamente, ela virou o rosto para o outro lado e apertou as sobrancelhas, tonta e ligeiramente arfante, descrente da estupidez de que se sentia dona naquela hora por não ter sequer pensado na hipótese daquele homem já ter alguém a quem dar seu afeto e interesse. Chohiko teria cavado um buraco com as próprias mãos no chão do bar se isso fosse capaz de absorver a vergonha, a decepção e o choque que ela estava sentindo naquele momento. Mas aquilo era inútil, ela sabia. Era uma mulher extremamente sensata e já antevia a inutilidade de se abalar. Manteve o sorriso e a cortesia com todos, conversou com Kakashi sobre as crianças do time dele, falou e ouviu sobre Naruto - de quem passara a gostar como gostava do Chouji -, riu dos galanteios descarados do homem, não levando-o a sério, sinceramente. Portou-se bem, ela achou de si mesma, naquela situação. Por dentro, lá bem fundo, tinha vontade de gritar. E de se bater, e bater nele: Iruka Umino. "Merda! Merda! Burra!" Ela teceu seus planos de retorno à Vila do Sol, enquanto sorria de volta, desconcertada, a todos que lhe buscavam interação. 

 

Iruka sentia a perna de Anko pressionando a sua por baixo da mesa, em movimentos lascivos e provocativos, enquanto ela, propositalmente, fazia questão de esfregar o corpo, braços, olhares e sorrisos sobre ele, apesar de tudo que já haviam combinado. Anko sabia que ele não seria mais dela, sabia que não havia nada entre eles que se afinasse, aliás, nunca houvera. Iruka sabia também que ele fora só uma grande diversão para ela, tão acostumada com jogos perigosos de poder e dominação, ensinados pelo Sannin das Cobras. Ele tinha consciência de que não era um homem de arroubos violentos, ou um guerreiro dominante. Era um homem simples, de sentimentos constantes, fixos, e definitivamente, Anko Mitarashi não se encaixava nesse perfil dele de escolha. Os dois tentaram, mais de uma vez até, mas eles sabiam que não eram peças que combinavam. O problema era que Anko gostava muito do jogo de "gato e rato", gostava da perseguição e da sensação de vê-lo acuado, constrangido, como se isso fizesse dele indefeso. Iruka era só gentil. Mas aquilo estava lhe cansando, já. Quando ela chegou com Kakashi, ele sentiu um certo alívio. Todos os homens da vila tinham medo dele, do ninja Copiador, do encanto que ele exercia sobre as mulheres, talvez aquela máscara, o jeito relaxado e moleque dele... Mas ao lado de Anko talvez ele não significasse perigo, e Chohiko estivesse livre do interesse dele, mas diferentemente de seus planos e desejos, os dois se separaram, e Iruka viu, desanimado, Kakashi Hatake se instalar do outro lado da mesa, junto ao grupo de mulheres animadas, perto de Chohiko sorridente e feliz.

 

Por baixo da mesa, a mão de Anko se insinuou sobre sua coxa, subindo segura atrás de diversão. Imediatamente ele a parou, olhando para a mulher e sorrindo ligeiro. Ela sorriu largo para ele de volta, semi-serrando os olhos, sedutora. O rapaz engoliu em seco, enrubescendo violentamente, e seus olhos correram sobre Chohiko, temendo que ela percebesse algo do que acontecia entre ele e Anko, mas ele via meio feliz, meio triste que ela não percebera nada... atenta que estava aos gracejos do ninja mascarado. Para Iruka, a noite se estendia dolorosa e atribuladamente desanimadora.


Continua...


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