A Tia do Chouji escrita por miateixeira


Capítulo 5
O engano e a visão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/8320/chapter/5

Capítulo 5: O engano e a visão 

 

 

Ele se alegrou quando Chohiko lhe assinalou que queria ir embora. Ao menos teriam um tempo a sós enquanto voltassem para casa, mas novamente o silêncio pesado se instalou entre eles, diante do mar de coisas descobertas em si mesmos e um no outro.

 

"Talvez não fosse para ser mesmo...", ele pensou. "Talvez ela se interesse mais por homens atirados como o Kakashi... Mais cheios de coisas para contar... Aquelas histórias todas... As aventuras... Essa minha vida aqui não tem nada de atrativo mesmo..."

 

"Que burra! Claro que ele teria alguém!", ela considerou consigo mesma. "Ele é um homem maravilhoso, um homem competente... Lida com gente forte... Não se interessaria por uma professorinha caseira, de uma vila pequenininha e afastada, que pensa em família, em laços... Ele não iria querer laços assim! Que grande burra que eu sou!"

 

Com as mãos unidas às costas, Iruka caminhou pensativo, atormentado, enquanto Chohiko seguia ao lado dele, os braços envolvendo o próprio corpo, os pensamentos consternados, os olhos nas estrelas distantes. Diante da entrada da casa dos Akimichi, eles ficaram um tempo ainda calados, buscando palavras e criando coragem para se despedirem. Iruka não conseguia falar claramente o que pensava, nem o que sentia, perdendo-se em frases curtas e insignificantes sobre a boa noite que tiveram, sobre a falsa diversão que compartilharam, sobre o bem que sentiu em levá-la à rua. Chohiko sorriu triste para ele, e o rapaz sentiu o peito apertar. Queria dizer tanto mais, falar das coisas que estava sentindo, perguntar por ela, pelo sentimento dela. Mas sua boca se calou, atônita, quando a mulher se despediu, definitiva:

 

- Iruka-san...

 

Ele a olhou em expectativa.

 

- Eu quero lhe agradecer muito por esse tempo todo de atenção e gentileza. Você é um homem muito especial. Eu vou voltar para a Vila do Sol amanhã, minha licença acabou... Vou voltar para o trabalho. Não sei como lhe agradecer, como lhe dizer o quanto foi maravilhoso ter estado aqui com você... vocês - ela corrigiu sem graça, desviando os olhos para o chão.

 

O rapaz não conseguia falar nada. As palavras haviam se prendido na garganta, e nem todo ar que ele expelia conseguia desentalá-lo. Ele sentia um forte toque de melancolia e tristeza na voz dela, mas não conseguia se desconcentrar da própria incredulidade e assombro.

 

- Vai... embora...? - ele retrucou vagamente.

 

- Eu tenho que voltar ao trabalho... - Chohiko levantou os olhos para ele. Ela esperava ainda, no fundo do coração, que algo acontecesse, que ele reagisse de alguma forma negativa àquele afastamento, mas ela o viu simplesmente perder o pensamento distante.

 

- Ah, tá... - ele deixou escapar, meio perdido. - Então...

 

Mas ele não completou. Inclinou-se cortesmente, reverente, saudando-a, despedindo-se, e virou as costas, seguindo pela rua na penumbra. Chohiko puxou o ar com força, franzindo o cenho para segurar as lágrimas, mas a inutilidade dos gestos foi maior. Em silêncio mesmo as lágrimas vieram. Pesadas, grossas, ásperas.

 

Ela preferiu não entrar. Ficou ali na soleira, olhando o céu negro cintilando, ofuscado em meio à cortina de lágrima que embaçava a vista. De vez em quando, quando tanta dor lhe pesava nas pestanas, ela esfregava os olhos com as mãos e aproveitava para tapar a boca e os soluços que irrompiam aos borbotões da sua garganta.

 

Iruka seguiu apressado pela rua escura. Queria mesmo sumir na noite, torcendo dentro dele para que tudo que vivera até ali nos últimos dias fossem só imagens de um sonho confuso, sem nexo. Seu mundo seguro virara de cabeça para baixo. Ele temia as noites agora, que era quando ele mais rolava aflito, de um lado para outro em sua mente e em sua cama vazia. Angustiado, ele via que não estava mais sozinho. Dentro dele, em volta, impregnado em tudo dele havia agora aquela imagem tentadora, fazendo-o suar forte, gaguejar e ansiar o dia seguinte. "Ela vai embora", aquilo martelava seus pensamentos, e então ele parava os passos, estático nas sombras da rua, como se perdesse o sentido do que fazia e desconhecesse o rumo que tomava. Agora, algo muito frágil e sem importância o impulsionava a continuar seguindo para longe, a se afastar, mas ele nem sabia mais o que o guiava, tinha perdido aos poucos o contato com aquela realidade de sua vida regrada, certinha e sob seu domínio.

 

"Covarde!"

 

Aquela idéia brotou do nada e o rapaz arfou, estacando abrupto novamente.

 

"O que eu quero, de verdade?", ele se perguntava, aflito. E à sua mente, aos seus sentidos, só aquela imagem de mulher surgia, e o coração dele se aquecia saciado, fazendo-o fechar os olhos de prazer e contentamento. Então ele se viu voltando - e até sabia que poderia ser inútil essa volta -, mas aquilo falava mais forte dentro dele, e quando Iruka Umino viu, já estava correndo em direção à residência das borboletas no distrito leste.

 

Ela não o viu voltar apressado. Não o viu parar atônito e sério bem diante dela e do choro que ela derramava entre as mãos espalmadas. Ela não viu o coração dele se derretendo diante da imagem dela tão triste. Quando ela viu, ele já estava com as mãos no rosto dela, em volta dela toda, puxando-a para perto dele, junto ao peito, afagando e aninhando-a em seus braços.

 

- Chohiko-chan... O que foi? O que foi com você? Não chora! Fala para mim...

 

- Iruka... Iruka! - E ela o abraçou de volta.

 

- Chohiko-chan... Não vai embora... Fica comigo, Chohiko, fica...

 

Ela só soluçava, o rosto enfiado no peito dele, molhando-o. Aos poucos, ele foi encorajando-se e seu coração falou mais alto, assim como o desejo de tê-la com ele, e o medo de perdê-la. Sem se importar de estarem em público, mesmo que diante deles só as mariposas noturnas revoassem e as estrelas olhassem do céu, ele aos pouquinhos foi levando a boca ao encontro da dela, espalhando mimos carinhosos de beijos ligeiros e delicados pela face dela, até que sentiu sob a sua boca os lábios macios da mulher em seus braços. Com firmeza, ele a apertou mais e mais, e aprofundou suas sensações na quentura da boca de Chohiko, calando os restos dos soluços da moça, alisando carinhosamente a língua dela com a sua.

 

Na sala escura, recostado na poltrona, esperando o retorno da irmã em segurança, Chouza Akimichi sorriu para si mesmo, observando as silhuetas refletidas no washi da porta, dançando uma dança de calor e amor.

 

~*~*~*~*~*~

 

- EU SABIA, IRUKA-SENSEI!!! Agora a gente não vai mais viver por aí!! DATTEBAYO!!!!

 

Na sala de arquivamento do Centro de Comando de Konoha o homem sorriu feliz, olhando quieto e pensativo para o menino à sua frente.

 

Lá longe do centro da cidade, no distrito residencial leste, as borboletas estavam numa revoada só.



FIM

Obrigada por acompanharem! Espero que tenham gostado!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Tia do Chouji" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.