A Tia do Chouji escrita por miateixeira


Capítulo 2
A persistência e o constrangimento




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Capítulo 2: A persistência e o constrangimento 

 

 

Na casa espaçosa de Chouji, o cheiro delicioso da comida se espalhava pelo ar, e Naruto se perdeu embalado em pensamentos, largado no sofá macio, vendo a varanda e os canteiros floridos cobertos de borboletas multicores. Em sua mente tão acostumada ao pouco, aquela cena - o cenário todo, as sensações, a situação - era um paraíso de prazer e plenitude que ele jamais pensou ter o direito de usufruir.

 

O riso suave da mulher na cozinha o despertou dos devaneios, e o garoto seguiu para lá, atrás do amigo já refestelado no banco do canto, beliscando porçõezinhas da comida fumegante.

 

- Vem, Naruto! Prova! Não é ramen, mas você vai gostar! - o amigo o convidou.

 

Naruto riu para a mulher, satisfeito com a acolhida que recebera no lar dos Akimichi, e se encarapitou no banco vazio perto da bancada. Chohiko Akimichi tinha o sorriso mais quente e doce que ele já lembrara ter visto em alguém, mas os olhos negros dela refletiam uma tristeza indefinida, como se estivessem prestes a se derramarem em lágrimas a qualquer momento. O garoto sentia um leve aperto no peito toda vez que a mulher o olhava e, a cada porção diferente de comida e aperitivo que ela colocava diante dos dois, ele e Chouji se olhavam como a se confirmar mutuamente da validade do plano deles. Chohiko os tratou com carinho e atenção o tempo todo, conversou com eles sobre os mais diversos assuntos, riu com eles, contou casos. No final do dia, esparramados sobre os sofás na sala, enquanto a mulher olhava, absorta, as estrelas da varanda, Naruto acompanhava embevecido o findar de seu dia perfeito de família. Quase perfeito.

 

- Faltou o Iruka-sensei...

 

- O quê? - Chouji perguntou distraído.

 

- Faltou o Iruka-sensei pra esse dia ser perfeito.

 

Chouji olhou do Naruto para a tia na varanda, e Chohiko acompanhou o olhar, voltando para dentro, interessada no que tanto eles olhavam nela.

 

- O que foi? - ela quis saber.

 

- Oba-san, arrumamos um encontro pra você.

 

A mulher perdeu a cor, e os dois perceberam algo de anormal, deixando os sorrisos leves morrerem aos poucos nos lábios.

 

- Como é que é...? - ela insistiu, atônita.

 

- Nós arrumamos um encontro... Um encontro pra você... O nosso sensei da academia... Ele vai... - Chouji se calou, assustado.

 

- Ele é um cara legal, Chohiko oba-san! - Naruto consertou, aflito, correndo os olhos arregalados da mulher para o companheiro de empreitada. - Iruka-sensei... Ele é o melhor homem que eu conheci! Ele é muito legal! Vai sair com você... Ele aceitou...

 

A coragem e a empolgação foram sumindo rapidamente dos rostos deles à medida em que viam a mulher passar do pálido absoluto ao vermelho escarlate, e os olhos dela, antes límpidos e cintilantes, se tornarem densos e tempestuosos enquanto ela crispava a boca e semicerrava o olhar, num sinal claro de problemas. Chouza, que dormia recostado na poltrona, depois da lauta refeição, acordou assustado com o grito de incredulidade da irmã.

 

- O QUÊ????

 

~*~*~*~*~*~

 

Iruka olhava as expressões dos meninos com rapidez e atenção, tentando sincronizar os pensamentos ao que os dois diziam, ou tentavam dizer.

 

- Não se preocupe, sensei! Ela vai acabar cedendo! A gente vai consertar tudo e você vai ver: tudo vai ficar certo!

 

Até onde Iruka entendera, eles estavam ali a mando de Chouza Akimichi. Foram se retratar com ele sobre as "trapalhadas" que arrumaram. A irmã esbravejara e se enfurecera, constrangera-se e o pressionara a fazer os meninos desfazerem aquele plano absurdo.

 

- Não se preocupe, sensei. Ela só tá com vergonha, mas vai passar e você vai conseguir levar ela pra passear! Não desiste, heim? Você me prometeu!

 

- Mas Naruto... A mulher mesmo não está querendo...!

 

- Sensei! Você me prometeu! Você é um homem, e um homem honra sua palavra! Você mesmo me ensinou isso!

 

Iruka se afundou na cadeira atrás da escrivaninha, arriando o corpo e fechando os olhos, encoberto por uma argumentação cansada e sem propósito, ele via. Naruto não desistiria.

 

~*~*~*~*~*~

 

- Não e não!! Definitivamente NÃO! Como vocês podem me pedir isso??

 

- Mas Chohiko oba-san, por favor... - Naruto argumentava com olhos lacrimosos, acompanhado de um Chouji tão cínico quanto. - O Iruka-sensei é tão sozinho! Ele precisa tanto de alguém assim como você, carinhosa e que se preocupa com as pessoas!

 

- É, oba-san - Chouji emendou -, ele sofre muito de solidão!

 

A mulher os olhava abismada, incrédula. Há dias que eles a importunavam sistematicamente com aquele assunto, a ponto inclusive dela realmente começar a acreditar na veracidade das informações que os dois plantavam paulatinamente em sua imaginação. À noite, já deitada em seu quarto, olhando as estrelas pela janela envidraçada, Chohiko tecia imagens mentais sobre o tal pobrezinho professor solitário e carente, e seu coração se apertava por estar se negando daquela forma tão egoísta a aceitá-lo, como amigo que fosse, no círculo tão caloroso que aquela família proporcionava.

 

~*~*~*~*~*~

 

- Se eu aceitar... SE... Como faço pra desfazer a impressão de que eu o recusei da primeira vez? Porque ele não vai acreditar agora que eu mudei de idéia à toa, vai...? - ela argumentou com os meninos à mesa do almoço, enquanto os servia generosamente com porções de legumes.

 

Naruto olhava o prato cheio à sua frente. Junto ao montante dos legumes variados, suculentos e perfumosos, seus olhos se derretiam com a visão escandalosamente atraente da carne em postas graúdas e cozidas em molho terroso, brilhante e espesso. Sua boca se enchia de saliva e ele resfolegava ligeiramente, antevendo o gosto.

 

- Assim, ó... - ele falou com um sorriso matreiro nos lábios.

 

Chohiko o olhou curiosa, esperando mais esclarecimentos. Ele ria, olhando dela para Chouji. Naruto apontou a comida.

 

- Assim, ó... Ninguém resiste à sua comida! O Iruka-sensei é um largado, oba-san, um solto na vida... Não tem ninguém por ele, que se preocupe e cuide dele...

 

A mulher revirou os olhos, imaginando. "É um bebê... Aposto..."

 

- Faz algo gostoso pra ele, oba-san - Naruto falou, sorrindo. - Eu levo. Ele vai gostar, eu sei.

 

~*~*~*~*~*~

 

- Para mim?? - A curiosidade do homem havia sido aguçada de todas as formas. A começar pelo cheiro maravilhoso que ele sentiu vindo desde o corredor, passando pelo grito estridente do menino jinchuuriki berrando seu nome e convergindo a atenção de todos sobre eles. Agora isso: um presente. Era um presente endereçado a ele. Iruka olhava o bolo perfumado, embalado em toalhinhas de renda delicada, denotando o esmero e a boa vontade preparada para agradá-lo. "Ahrrr... E agora...?", pensou consigo. Já havia prometido ao Naruto, e fugir daquela promessa estava se tornando muito difícil. "Agora isso..."

 

- Ela tá esperando, sensei. Você vai levar ela pra passear?

 

- Ela está esperando onde? Aqui??

 

- Não, sensei! Ela tá na casa dela! Você é quem tem que ir lá chamar ela... - Naruto impacientou-se.

 

Depois que o menino partiu, Iruka ficou perdido em pensamentos, olhando as árvores se agitarem com o vento na pequena praça ao lado do Centro de Comando. O aroma adocicado e frugal do bolo invadia suas narinas, reportando-o a um passado distante, de infância, enterrado melancolicamente em suas memórias. Sem perceber, ele pegou um pedaço e o comeu, fechando os olhos com aquele prazer a tanto tempo esquecido.

 

~*~*~*~*~*~

 

- Tá linda, oba-san. Ele vai gostar.

 

Chouji estava preocupado com a agitação dela, receoso de se havia feito bem, ele e Naruto, insistindo naquela história. Antes, ele não havia realmente considerado a possibilidade daquilo tudo se converter num desastre e a mulher ficar mais triste e infeliz do que já estava. Quando ela soube pelo Naruto que Iruka-sensei finalmente iria chamá-la para sair, Chohiko se agitou de uma forma que Chouji não imaginou. Preocupada, aflita, insegura, tensa. A mulher se transformara num poço de emoções mutantes que ele não estava conseguindo acompanhar. A idéia de um fracasso começou a se infiltrar na mente dele.

 

Chohiko mudara inúmeras vezes de roupa, consultara o espelho vezes mais sem conta, mudara o penteado. O garoto tentava acalmá-la, mas a cada palavra dele, ela se lembrava que estava esperando muito da situação e se afligia mais. Era só um encontro pelos garotos, ela se dizia. Era por eles, para agradá-los e tranqüilizá-los, e para ajudar o pobre do rapaz abandonado na vida. "Então... por que é que eu estou nervosa...? Por que é que eu estou me arrumando toda??" Então, novamente ela desmanchava o penteado, limpava a maquiagem, despia-se de toda e qualquer sedução. Tudo para tornar, com os minutos passando, a se arrumar novamente e retornar ao ciclo de horrores da alma feminina.

 

~*~*~*~*~*~

 

Iruka tocou a sineta da entrada treze minutos atrasado. Fora o tempo que ele gastara andando de um lado para o outro na praça próxima, indo e vindo, sem certeza dentro dele do que realmente deveria fazer.

 

Não estava buscando envolvimento algum com ninguém, muito menos com uma mulher desconhecida, arranjada pelas mentes confusas e imaturas de dois garotos atrapalhados. Não pretendia se machucar e muito menos machucar a "dona lá", mas ele estava temeroso de que isso acabasse sendo inevitável. Só o riso e os olhares jocosos dos colegas de trabalho - de Tsunade-sama, Shizune-senpai e os outros tantos ninjas que por culpa da língua comprida e sem controle do Naruto acabaram por se inteirar da coisa toda -, já previam mau tempo para qualquer tentativa de um bom relacionamento.

 

Ele esfregou as mãos nas pernas das calças para enxugar o suor frio assim que a figura grandalhona de Chouza Akimichi deu passagem para que entrasse porta adentro. Na sala, Chouji esperava com um sorriso nervoso.

 

Chouza indicou a poltrona para que o outro se sentasse e se sentou à frente dele, observando-o sério, analisando. A ele intrigava o fato de Iruka Umino e Chohiko mudarem de idéia e resolverem tentar um relacionamento, depois daqueles dias tempestuosos que tiveram.

 

Quando ela chegou à sala, Iruka estava tenso. Tenso demais. Ele se afligia em limpar o suor do rosto com as mãos e as mãos nas calças. Em meio ao turbilhão de pensamentos e sensações que fluíam do seu corpo e alma, ele se surpreendeu com a mulher parada em pé ao seu lado. Levantando-se rápido, ele não sabia o que fazer, mal olhando-a. Chohiko o cumprimentou, inclinando-se profundamente em sinal de respeito, mas Iruka não conseguia reagir direito. Depois de um tempo relativamente longo demais é que ele retribuiu o cumprimento, indicando a porta da rua com a mão num indício de que gostaria de sair logo.

 

Chohiko franziu a testa, consternando-se do estado do rapaz que dava mostras claras de inabilidade com as mulheres. Antes de sair, ela deu um olhar pesaroso a Chouji.  

Continua... 


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