Dead Radio Fm escrita por DeadTeam, Oyundine, Cargenih


Capítulo 4
Dead people, music and violence


Notas iniciais do capítulo

Heeey wazzup dude Cargenih na área Sou a terceira escritora e não, meu nome não é derivado de "Caterpih" (o pokémon...)
Esse capítulo foi ótimo de escrever, eu me diverti bastante. Por isso espero, desejo, imploro para que vocês gostem! E leiam ouvindo Jazz m/



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                Eu sempre gostei de Jazz.  Era algo que eu ouvia desde pequena, por isso, sempre estive acostumada a ouvir em casa, na escola ou até mesmo quando tomava banho. E por mais que em todos esses anos minha vida e meu jeito de ser tenham mudado drasticamente, meu amor por jazz não mudou. Minha mãe vivia dizendo que eu tinha os mesmos gostos de meu Avô, o que me deixava mais feliz em gostar de Jazz e talvez até de lutar usando espadas. Infelizmente, não pude aprender muito de ambos, afinal, o que uma garota que só tinha o futuro de dona de funerária poderia querer com Jazz ou saber usar uma espada? Bom, talvez os dois fossem mais uteis do que cuidar de uma funerária na situação em que eu me encontrava.

                - Woof! – E era assim que eu acordava todos os dias, sem exceção. Mesmo quando eu ainda era uma estudante normal, Hachiko sempre vinha me acordar. Desde que ela ainda era um filhote, ela nunca falhou em fazer isso. Era o meu despertador vivo.

                - Bom dia, Hachiko. – Disse. Minha voz, como sempre, nunca expressara sentimento algum. Ela era tão vazia quanto meus objetivos no momento. Eu não podia reclamar. Era assim que eu queria que ela fosse. Vazia e inexpressiva.

                -Woof! Bom dia Mika! – Mas agora não era somente Hachiko que vinha me acordar animada. Na noite passada, eu havia a encontrado. Estava tão perdida e perturbada quanto eu. Talvez eu tenha me identificado ou algo assim. Ela foi uma das únicas que conseguiu despertar um sentimento de pena ou de afeição que eu achava que já haviam morrido em mim.

                - Bom dia, Susumo. – Aquilo de certa forma me deixava mais tranqüila, embora o mundo fora daquela casa não fosse nada além de destruição, morte e violência. Por isso eu não fazia nem questão de abrir a janela, preferia ficar naquele escuro mesmo.

                Me levantei da cama enquanto tentava ajeitar meu cabelo com as mãos. Por minha sorte, ele não se embaraçava muito. E é claro que não podia me esquecer que teria de pentear os cabelos de Susumo também. Ao que parecia, ela não tinha os mesmos costumes que eu. Acordar em uma cama confortável, botar um uniforme de escola, tomar um café da manhã... De certa forma, eu achava que aquilo era muito anormal para ela. Talvez fosse, afinal, ela não sabia ler.

                Cheguei à cozinha e encontrei Daisuke já tomando o café da manhã. Provavelmente Hachiko passara primeiro no quarto dele.

                - Ah! Bom dia. – Foi o que ele disse a me ver aproximando da mesa onde ele tomava o café da manhã. Talvez tenha sido sorte ele ter entrado justo na minha casa. Se não fosse por isso, eu ainda estaria sentada no sofá, ouvindo Jazz e esperando a morte chegar. Seria um dia-a-dia bem chato, se me permite dizer.

                - Bom dia. – Peguei uma cadeira e me sentei em frente a ele. Devia ser muito ruim ter de compartilhar momentos assim com alguém como eu. Digamos... Eu não era uma pessoa divertida, tampouco gostava de falar. Os dias comigo seriam todos assim, silenciosos. Por minha parte, é claro.

                - Vamos, Hachiko! A Mika vai nos dar comida! – Susumo veio correndo até onde estávamos. Hachiko a seguiu, animada como sempre. Era normal que ela gostasse de mim por ter salvado a vida dela, mas achar que eu era quem fornecia tudo... Era um tanto exagerado. Nunca pensei que iria sentir pena dele, mas no momento era a única coisa que eu sentia por Daisuke. Pena. Bom, não é como se eu realmente me importasse.

                Susumo e Hachiko ficaram a me encarar enquanto eu comia. Aquilo com certeza era um tanto exagerado da parte de Susumo. Hachiko sempre fora assim.

                - Susumo... – Ao ouvir seu nome, os olhos de Susumo brilharam e seu rosto foi dominado por um enorme sorriso. E pensar que quando nos conhecemos, ela tentou me matar... Suspirei. – Você pode se sentar à mesa.

                - Sim! – E então ela se sentou. Mas não fez muita diferença, pois ao invés de começar a comer junto, como era para ela fazer, ela voltou a me olhar faminta. Como se esperasse que eu desse a comida a ela em uma tigelinha onde o nome dela estaria escrito. Suspirei novamente e voltei a olhar para Daisuke.  Ele ainda comia o café da manhã como se as coisas estivessem calmas. Não que eu pudesse dizer algo. Passamos um dia nessa casa como se as coisas estivessem calmas

                Precisávamos de um plano para ao menos sobreviver. Era questão de tempo até aquelas criaturas invadirem a casa de Daisuke. E talvez quando isso acontecesse, nós não estaríamos preparados. Iríamos morrer facilmente depois do que passamos e isso não seria interessante. Eu não estava a fim de virar um deles, muito menos ser mordida por aquelas bocas nojentas e fedorentas de cadáveres em estado de decomposição.

                - Daisuke, o que pretende fazer a partir de agora? – Perguntei, esperando uma resposta inteligente. Mas tudo que recebi de volta foi um olhar confuso e um tanto despreparado.

                -... Não sei. – Naquela hora senti uma enorme vontade de jogar o copo de café que estava em cima da mesa naquele ser. Ser uma pessoa controlada nessas horas ajudava e muito. – Há alguém que você queira ver se está bem?

                - Não. – Respondi de imediato, embora aquela pergunta tenha doído muito mais do que deveria. Não era pra esse tipo de coisa acontecer. Eu sabia que todos aqueles que eu tinha de importante estavam mortos, tudo aquilo que eu podia fazer era proteger Hachiko. Era isso que eu tinha em mente, desde o dia em que eu a conheci.

                - Bom, eu gostaria de checar uma pessoa. – Ele disse, voltando a tomar outro gole. Parecia ter se recuperado da minha pergunta. Diferente de mim, que ainda estava a me perguntar se realmente não havia alguém para checar se estava bem. – O nome dele é Albert.

                - Certo... – Naquele instante, eu o invejei. Tinha com quem se preocupar e talvez conseguíssemos salvar aquele homem. Ele salvaria alguém importante, diferente de mim. Mas se aquele homem morresse, ele seria como eu.

                - Você está bem? Sua voz está um tanto diferente. – Talvez minha voz tivesse falhado. Aquilo fora algo que eu não conseguira evitar. Mas o que ele disse só me fez perceber tudo aquilo que eu tinha feito pra chegar ali, embora eu não tivesse a intenção de compartilhar aquilo.

                - Ah! Dai-chan, você deixou a Mika triste! – Susumo se levantou rapidamente e apoiou as mãos na mesa, em um gesto indignado. Daisuke pareceu mais perdido que eu.

                - O que? Eu não...

                - Eu não estou triste. Minha voz é assim. – Me acalmei no instante que percebi que Daisuke ia se desculpar. Essa era a única coisa que eu não queria que acontecesse. Ouvir as palavras de desculpa de alguém mais perdido que você era humilhante.

                - Huh, certo... – Daisuke disse. Percebi que Susumo mandava um olhar um tanto rancoroso para o rapaz enquanto voltava a sentar. Aquilo era problemático.

                - Espero que você ao menos saiba onde esse Albert mora. – Tomei outro gole de café enquanto tentava controlar aquela tal crise que acabava de ter. Tinha que me lembrar que por mais que todos aqueles que eram especiais estivessem mortos, eu não estava sozinha. Tinha de fazer daquelas pessoas ali presentes minha nova família. Só assim eu iria sobreviver junto de alguém... E droga, como café era amargo.

                - Ah sim, ele mora bem perto daqui. Me encontrava com ele todo dia de manhã quando ia à escola. Espero que ele esteja bem. – Ele parecia preocupado ao se notar o tom de voz que usava.

                - Não se preocupe, ele deve estar. – Tentei incentivá-lo e de certa forma consolar o garoto. Aquilo só trouxe um olhar assustado da parte de Daisuke e um rosto admirado da parte de Susumo. Me perguntei o que tinha demais naquela frase que acabara de falar. – Mas antes de tirar conclusões, devemos nos preparar devidamente. – Me levantei e andei até a pia para deixar a xícara de café. Ainda havia um pouco dentro, aquela bebida era muito amarga. Algo devia ter mudado, pois eu adorava café.

                - Mika! Eu continuo com esse pedaço de cano? Ele me ajudou bastante, mas me parece um tanto velho... – Susumo veio até mim segurando um pedaço de cano entortado e completamente cheio de sangue. Parecia que logo ia começar a feder carniça.

                - Hum... Eu não acho que você tem muita opção por agora. – Olhei pra ela e me deparei com uma figura animada. Ela parecia muito feliz, mesmo na situação que se encontrava. Mesmo o nosso assunto sendo... Um pedaço de cano usado para matar monstros.

                - Ok. Se a Mika diz! – E saiu animada pra voltar a brincar com Hachiko. Aquilo foi surpreendente. Me perguntei que tipo de vida ela levava antes de tudo isso começar. O mesmo valia pra Daisuke. Na verdade muitas vezes me pegava pensando nesse tipo de assunto, por mais que eu insistisse em dizer: “Eu não me importo”.

                Comecei a andar até o quarto onde eu havia passado a noite. Minha maior preocupação era afirmar que estava com medo de, por algum motivo, aquelas criaturas arrombarem o portão da casa de Daisuke. Seria terrível, ainda porque se arrombassem, teriam de ser muitos. E isso sim seria algo difícil de combater, afinal, éramos somente três pessoas e um cachorro. Não é difícil de dizer que iríamos morrer nessa situação.

                Mas ao abrir a janela, eu pude respirar tranqüila. As criaturas não faziam nem idéia de nossa presença naquela casa. Era só não fazer barulho. A sorte era que o portão da casa de Daisuke era automático, assim não precisaríamos que alguém se arriscasse a abrir o portão. Também não precisaríamos arrombar com o veículo, o que daria uma vantagem caso precisássemos voltar para aquela casa.

                Deixei a janela aberta e peguei minha espada. Eu podia manusear ela sem problemas, embora ela fosse um tanto pesada. Ela havia sido deixada pelo meu avô, logo depois que ele morrera. Naquela época, eu não sabia que iria precisar dela, por isso a deixei no armário de meu quarto. Não imaginava que iria tirar ela de lá tão cedo. Quão errada eu estava. Agora eu vejo que ela é a coisa mais útil que eu tenho em mãos agora. Talvez meu avô soubesse disso e por isso me ensinou a usá-la... Mas era uma besteira pensar daquela maneira.

                Deixei a espada em cima da pequena mesa do quarto de Daisuke e fiquei a observar a paisagem. Havia várias árvores perto da casa de Daisuke. Era uma vista muito bonita, eu até poderia me atrasar na escola só por observar aquela paisagem, que, infelizmente, estava coberta de gente morta e violência. Talvez as coisas ficassem mais tranqüilas se eu colocasse uma música e fechasse os olhos, embora aquilo não fizesse esquecer a situação atual em que eu me encontrava. E mesmo se eu me esquecesse desse pensamento, tenho certeza de que voltaria a pensar dessa forma.

                Um tempo se passou até Susumo vir até mim carregando minha espada. Não sei dizer o que ela pensava pra fazer tantos favores pra mim, mas não posso dizer que não gostava da situação.

                - O Dai-chan já quer ir.

                - Ele já se preparou? – Disse, indo em direção a ela. De certo modo, ela parecia estar muito apreensiva.

                - Sim! A Hachiko vai também? – então eu notei o que a deixava preocupada: Hachiko. Ela era um cachorro, afinal de contas. E Susumo parecia amar esses animais com todo coração que tinha.

                - Sim. – a meu ver, ela pareceu se encolher. Mas não demorei a perceber que era somente uma impressão minha. Susumo não era e nunca seria tão frágil quanto aparentava.  – Não se preocupe você sabe que ela se vira melhor que nós.

                - Eu sei... Mesmo assim não é legal deixar outros companheiros só para sobreviver. – Naquela hora tive certeza de que ela havia feito isso várias vezes. Tive certeza que os “companheiros” que ela se referia eram animais, por mais que eu pensasse que ela não se importasse, ela no fundo se importava. Parecia uma criança e os cachorros pareciam seus amigos de infância em uma viagem de acampamento. Era muito diferente da situação atual, o que me surpreendia.

                - Hachiko virá. Custe o que custar. – Afirmei. Estava confiante até demais... Embora eu não fosse deixar a Hachiko para trás. Nunca.

                Na sala, encontrei Daisuke com o usual taco de baseball. Ele o segurava como se fosse atacar algo, o que não era a situação. Provavelmente estava checando as condições do bastão.

                - Ah, iremos com o carro. – Ele disse. Eu levantei o cenho e fiquei a encará-lo.

                - Não acha que chamará muita atenção? – Respondi, não entendendo a idéia do mesmo. De fato seria seguro enquanto estivéssemos dentro do carro, mas já que o homem morava perto, seria melhor chamar menos atenção possível.

                - Tenho certeza que mesmo se Albert não estiver vivo, ele terá suprimentos. Temos que levá-los de algum jeito. – Suspirei. Ele estava certo.

                Saímos de dentro da casa com o carro. Já havia algumas criaturas do lado de fora esperando para que saíssemos. Felizmente, nenhuma delas era capaz de nos atingir lá dentro. Isso me deixava completamente segura, embora somente ver aqueles seres repugnantes cobertos de sangue já me deixasse um pouco apreensiva.

                A casa do homem que Daisuke queria checar não era nem um pouco longe, mas ir a pé era completamente arriscado, considerando que queríamos levar suprimentos. Seria burrice sair com comida enlatada nos braços, sendo que tínhamos que esmagar a cabeça de umas e outras criaturas. Nós tínhamos um carro, afinal. Daisuke parecia calmo, como sempre no volante. Eu me perguntava como ele conseguia manter essa expressão, enquanto eu parecia ainda mais calma e indiferente. Mas era impossível que aquele cenário inteiro fosse deixar uma pessoa indiferente.

                - Que droga. – Resmungou Daisuke, que até então parecia tranqüilo.

                - Tsch. O que foi? – Perguntei, enquanto virava meu olhar para ele. A expressão de calma tinha sido substituída por uma furiosa. Ele pisava cada vez mais intensamente no acelerador, o que me preocupava um pouco. Seria ridículo morrer em um acidente de carro depois de sobreviver a tudo aquilo.

                - Nada. Estou resmungando sozinho. – Suspirei. Éramos companheiros agora. Esconder esse tipo de coisa não era nada... Interessante.

                - Ao menos diminua a velocidade, desse jeito vamos bater. – Ficou um tanto assustando quando eu disse aquilo, mas ele diminuiu logo diminuiu a velocidade. Ele não havia percebido. Estava tão tenso que não havia notado se iríamos bater ou não. Era o tipo de situação em que o motorista só percebe isso quando está a menos de 30 cm da parede ou de outro veículo.

                -... Desculpe. – Ele olhou para mim um tanto angustiado. Novamente, eu não sabia se era minha impressão ou se ele realmente estava um tanto nervoso. – Depois me ensine a manter a calma como você faz.

                - Vou cobrar por hora. – Daisuke riu e continuou a dirigir. Susumo havia novamente dormido ao lado de Hachiko no banco de trás. Eu realmente não sabia como ela fazia aquilo.

                Depois de muito ver aquele cenário e atropelar algumas criaturas com o máximo de violência possível, enfim chegamos à casa do tal homem. Era grande, suficiente para uma família inteira, embora parecesse ter algo a mais naquela casa. E realmente tinha.

                - A casa ta limpa! O cara deve estar vivo! – Susumo exclamou enquanto saía do carro. Não havia muitas criaturas por perto, mas mesmo assim era perigoso gritar daquele jeito. Daisuke, notando isso correu e tapou a boca da garota.

                - Mika, me cubra enquanto eu tento abrir o portão. – Daisuke soltou Susumo e foi até o portão segurando o cano de Susumo. Eles trocaram, pois ela iria precisar para dar cobertura. Ele só precisaria caso nossa cobertura falhasse, por isso, ficou com o cano.

                 Depois de ficar horas pensando, ele apertou a campainha. Naquela hora não pude pensar nada mais além de “idiota”. Se não tivesse ninguém dentro daquela casa, as coisas poderiam complicar.

                - Dai-chan, você não acha que essa campainha fez barulho demais? – Susumo perguntou se aproximando do portão. O que ela dizia fazia sentido, mas... Se não houvesse ninguém naquela casa, iríamos simplesmente ir embora... Eu acho.

                - Bom você não esperava que eu tentasse destruir esse portão com um pedaço de cano ensangüentado, esperava? – Respondeu ironicamente. Aquilo obviamente atrairia atenção de qualquer coisa que estivesse naquela cidade.

                - Humph! – Susumo resmungou e voltou a cobrir a guarda. Daisuke realmente ia esperar que alguém o viesse atender.

                Antes que pudéssemos ver se realmente estava vindo alguém de dentro da casa, pudemos perceber uma coisa de imediato: as criaturas haviam notado nossa presença ali em frente. E em breve, estariam chegando perto de nós. As coisas começaram a ficar mais intensas a partir do momento em que elas começaram se aproximando de Hachiko. Por sorte, ela não estava a latir. Susumo segurava o taco de baseball preparada para atacar. Parecia um cachorro rosnando. Mas aquilo era o de menos, naquela hora eu já havia desembainhado minha espada. Eu sabia usar ela suficientemente para matar aquelas criaturas.

                Fiquei parada enquanto elas não estavam tão próximas. Se eu corresse até lá, provavelmente iria acabar cercada. Por isso, fiquei na retaguarda enquanto Susumo cuidava de uma grande parte. Eu não iria deixar ela ir muito adentro, de qualquer jeito. Quando uma delas se aproximou de mim, eu sabia que tinha de desferir um golpe na cabeça já um tanto aberta da criatura. Sabia que aquilo seria necessário pra sobreviver e sabia que não queria morrer. Mas naquela hora, eu só podia pensar em uma coisa: Na cena que aconteceu quando essa “infecção” chegou até minha casa... E com certeza, não era uma das melhores. Na verdade, essa é uma história que nem valeria à pena contar. Essa situação não foi o motivo pelo meu primeiro contato com violência. Mas mesmo assim, as coisas não estavam simples pra mim. Eu não matava como Susumo fazia. Eu não me acostumava tão bem como Daisuke e provavelmente, eu não sabia me virar tão bem como Hachiko.

                Mas uma coisa eu fazia melhor que qualquer um deles. E isso era fingir que conseguia fazer tudo isso melhor do que ninguém. Eu tinha de tirar beneficio daquilo uma hora ou outra. E talvez fosse até mais divertido assim! É claro que depois de muito tempo fingindo, isso acabaria se tornando uma qualidade minha. Esconder as fraquezas nem sempre é tão ruim.

                Foi assim que pela primeira vez perante aquela situação ridícula, eu pude abrir um sorriso. Sim! Aquelas criaturas não sentiam medo! Por que eu deveria sentir? E se elas não têm medo de matar... Eu também não deveria ter. Para sobreviver dali em diante, somente pensando assim.

                Exato! Foi dessa forma que eu consegui me divertir um pouco. Cortar cabeças de seres que uma vez já foram humanos não era tão ruim assim! O que custa um pouco de diversão ao realizar uma pequena vingança? Vidas? Não me faça rir.

                A sensação de sangue voando em minha roupa preta, o impacto da lamina sobre o pescoço daquelas criaturas nojentas, a adrenalina correndo por minhas veias... Era tudo tão diferente. Eu podia cortar o que eu quisesse, pois nada de ruim aconteceria. Eu não seria presa, a polícia estava morta. Eu não seria considerada uma ameaça a sociedade, pois esta também estava morta. Tratamentos, médicos estavam mortos, hospitais... Essa cidade estava morta. Tudo, tudo estava morto! Eu só seria uma sobrevivente. Eu podia fazer o que eu quisesse com aqueles corpos nojentos e eu não seria nada mais que isso! A lei do mais forte finalmente havia sido colocada da forma certa na sociedade. E isso era extremo.

                - Mika! – Susumo gritou apontando para o portão. Um homem loiro, aparentemente estrangeiro apareceu com as chaves da casa. A primeira coisa que disse ao nos ver foi:

                - Daisuke! Você está vivo, garoto! – O homem rapidamente abriu o portão para que entrássemos. E entramos antes que pudéssemos ser devorados vivos por criaturas como aquelas.

                Uma vez dentro da casa daquele homem, as coisas pareciam ter ficado mais calmas, embora conseguíssemos ouvir perfeitamente o som daquelas criaturas se debatendo em frente ao portão. Por sorte, nosso carro estava intacto. As coisas estavam bem limpas ali dentro, diferentes de mim, de Susumo, de Daisuke e até de Hachiko.

                Havia suprimentos o bastante para alguns meses ali dentro. Mas o homem estava sozinho. Isso pareceu intrigar Daisuke.

                - Obrigado por nos deixar entrar. – Daisuke agradeceu o homem. Ele estava um tanto ofegante. Aquilo havia sido realmente... Emocionante.

                - É tão bom ver que ainda há pessoas vivas! Aproveitem para se limpar aqui.  – O homem falou. Olhou para mim e para Susumo e abriu um largo sorriso. Ele era realmente gentil – E quem são vocês?

                - Sou Susumo! – Ela abriu um enorme sorriso e se agarrou à Hachiko novamente. Hachiko somente soltou seu usual “woof!”. – E essa aqui é a Hachiko.

                - Ela também é parte do grupo? – O homem riu novamente. – Me chamem de Albert. Eu e as árvores de cerejeiras somos os principais culpados por grande parte dos acidentes de bicicleta desse garoto aqui. – Botou a mão na cabeça de Daisuke, bagunçando-o.

                - Sou Iwashita Mika. – Ajeitei meus óculos que estavam um tanto fora do lugar devido todo aquele alvoroço do lado de fora. Eles também estavam sujos de sangue, mas se eu tentasse limpar na minha roupa, as coisas ficariam ainda pior.

                - Fico impressionado que vocês tenham sobrevivido a tudo isso! Se bem que você parecia estar se divertindo lá fora, jovem. – E ele olhou para mim novamente. Na hora me senti um tanto incomodada. Ele havia visto?! Ou será que só estava brincando comigo? Isso sim era embaraçoso.

                - Não seja tolo, eu fiz isso para sobreviver. – Ajeitei meus óculos novamente. Não que precisassem ser ajeitados, mas para quem usa óculos, isso se torna uma ação um tanto nervosa. Você acostuma a ajeitar os óculos toda vez que fica meio embaraçado. (Mesmo quando você aparentemente não esta usando)

                - Certo. Por que não se trocam ou se limpam no quarto de minha filha? Tenho certeza que as roupas dela irão caber em vocês duas sem problema. O quarto dela é o da esquerda, no segundo andar. – Sorriu novamente e deixou que nós nos guiássemos até lá. Antes de subir as escadas, como Susumo havia feito, pude ouvir a conversa dos dois.

                - Albert, onde estão sua mulher e sua filha? – Daisuke perguntou olhando em volta. Antes que minha visão fosse coberta pela parede, pude ver a expressão do homem. Seus olhos estavam angustiados e pareciam mergulhados em raiva ao ouvir a tal pergunta. Logo pude notar: Ele havia passado pelas mesmas coisas que eu, sendo obrigado a fazer igualmente como eu havia feito.

                - Ah... Bom. Elas já não estão mais aqui. – Ele respondeu. Foi tudo que eu pude ouvir até subir as escadas e entrar no quarto. Naquela hora, eu me identifiquei com ele.

                Entrei no quarto de sua filha. Era um quarto normal de uma jovem estudante. Havia alguns pôsteres de cantores famosos colados na parede e algumas fotos penduradas. Havia uma foto dos três (Albert, sua esposa e a própria filha) ao lado de sua cama. Eram realmente estrangeiros e sua filha era realmente muito bonita. Devia ser bem popular na escola onde estudava, afinal, tinha cabelos loiros como ouro e olhos azuis como o mar. Não parecia ser mais velha que eu. A mulher dele também era muito bonita. Eles pareciam ser uma família feliz, o que me deixava pensativa se era realmente certo me divertir naquela situação.

                Mesmo se não fosse, era o melhor que eu podia fazer.

                - Mika, esse homem é realmente bonzinho, não é? – Susumo sorriu para mim enquanto pegava um macacão de dentro do armário. Já havia se despido completamente, revelando seu corpo de criança.

                - Sim. A propósito, use uma camiseta por baixo disso. – Novamente ela sorriu e pegou uma camiseta branca. Depois disso, ela saiu de frente do mesmo para que eu pudesse escolher uma roupa pra mim. Não havia muitas opções de meu gosto, afinal, aquela garota só usava roupas coloridas. Optei pela saia mais leve e longa que ela tinha (que por um acaso não chegava ao joelho.) e uma camiseta preta e simples. De certo modo, era bem apertada. Por outro lado, em Susumo, as roupas ficavam largas.

                - Susumo, como está o seu pé? – Fui em direção a ela, que parecia ter problemas para colocar a roupa. Quando eu perguntei isso, ela sentou-se na cama e levantou o pé em minha direção.

                - Ainda dói um pouco, mas está bem melhor graças à Mika! – E ela sorriu novamente. Parecia querer repor os sorrisos que eu não conseguia dar. Mas talvez tenha sido impressão minha novamente.

                - Hum... Pra não piorar, acho que você deve usar um sapato.

                - Eles não fazem muito barulho? – Perguntou, com um rosto ingênuo.

                - Sua saúde é mais importante. Se tiver de amputar seu pé por conta de uma infecção, não vai ser nada interessante. – Nessa hora, sua cara se contorceu em medo, aparentemente. Ela ficava a me encarar com aquele rosto enigmático e eu me perguntava: “Por que eu não consigo rir disso?” – Mas por enquanto vamos apenas descer e perguntar se Albert tem algo que possa ajudar.

                Descemos as escadas e encontramos Albert e Daisuke conversando novamente. Dessas vez o assunto não era tão mórbido quanto o outro, por isso os dois estavam a rir ignorando o que acontecia do lado de fora.

                - Ah, vocês já terminaram? – Albert disse, com o mesmo sorriso no rosto. – Tenho uma coisa para mostrar a vocês. – Ele se levantou antes que pudéssemos perguntar e nos fez um gesto para que o seguíssemos. Como fomos pedidos, nós os seguimos até um quarto escondido no meio da bagunça que aquelas comidas enlatadas faziam. A porta estava com teias de aranha para todo lado, parecia não ter sido aberta faz um bom tempo, o que fazia pensar que o que havia lá dentro deveria ser esquecido.

                Albert pegou uma chave dentre o molho que estava em suas mãos e procurou a que deveria abrir aquela porta. Foi quando nós nos deparamos com algo que nunca pensávamos que iríamos ver tão cedo.

                - Sabem usar uma dessas, crianças? – Albert sorriu novamente, ligando a luz do pequeno quarto. Havia armas lá dentro. Armas de quase todos os tipos, desde pistolas até granadas. Aparentemente, grande parte delas era proibida no Japão, por isso, a existência daquele homem começou a se tornar misteriosa. – Bom, se não sabem, acho que o grande Albert terá de ensiná-los. Só peço que não perguntem nada, hehe.

                Naquela hora, Susumo ficou encantada e Daisuke impressionado. Não sei dizer qual era minha expressão atual. Indiferente, talvez? De qualquer jeito, eu não estava indiferente. Tanto eu quanto Daisuke parecíamos nunca ter visto armas na vida. De fato, acho que armas como aquelas não eram normais de serem vistas por aí, ou pessoas carregando como se fosse uma bolsa. Nós iríamos precisar daquilo. Albert sabia disso. Por isso nos mostrou.

                - Ah, só tem uma condição para que eu deixe vocês, crianças, usarem essas armas. – Sua expressão ficou séria ao olhar para nós três novamente. Não podia ser uma condição absurda, pois absurda era nossa situação atual. – Como eu sou um adulto, terei de me responsabilizar por vocês agora. Sei que não será algo difícil, pois vi como vocês estavam reagindo à situação lá fora. Mas, infelizmente (ou felizmente para as belas damas)... Irei acompanhá-los a partir de agora. – E ele voltou com o mesmo sorriso no rosto. Um sorriso um tanto forçado, que além de expressar tudo que um sorriso deve, ainda havia uma impressão sarcástica.

                De fato, aquele homem era enigmático. E precisávamos dele para sobreviver.

                Capítulo 4 – Fim.


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Notas finais do capítulo

Pois é, é isso aí. Espero que tenham gostado. Se sim, review pl0x! ♥