Dead Radio Fm escrita por DeadTeam, Oyundine, Cargenih


Capítulo 3
The loyalty for the dead


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sou a segunda escritora Oyundine! Nesse cap vou apresentar minha personagem, Susumo-chan!
Os dois primeiros caps foram feitos pelo Daisuke, e agora é minha vez! Espero que gostem.



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            Ser obrigada a matar pra conseguir comida, roupas lojas de gente honesta, dormir nas ruas tomando cuidado para não morrer. Nada disso, é diferente pra mim.

            Está certo, aquelas criaturas eram novas, porém, não eram muito diferente dos marginais que viviam por aqui. E é bem fácil se livrar deles... Só, esmagar seus miolos, ou que sobrou deles.

            Uma única coisa estava diferente. Meu sorriso... Não era mais o mesmo. Eu só conseguia sorrir, mesmo vivendo nas ruas. Por que sempre tive gente alegre a minha volta. Ver vendedores sorridentes, pais e filhos brincando no parque, namorados de mãos dadas... Tudo isso, é muito lindo. Eu me sentia feliz, por poder viver na rua e ver tudo àquilo de perto.

 Mas agora... Todas aquelas pessoas eram como mendigos esfarrapados. Os que não eram criaturas famintas estavam atrás de sexo ou dinheiro. Aquilo tudo era... Nojento.

            Eu comecei a dormir mal também, é difícil pegar no sono com todos aqueles gritos. Porém, até agora tudo andou dando certo. E eu ainda consigo comer como sempre ( o que não significa que seja bem) e alimentar meus amigos... Não sei o que seria de mim sem eles.

            - Olá! Aqui está o jantar de hoje!

            - Wof! Wof! – Inúmeros latidos me responderam, deixei um pouco do que havia pegado no chão e os três cães devoraram a comida alegres, abanando as suas caudas em seguida.

            - Pronto, pronto... Desculpem deixar vocês presos aqui... Mas a segurança em primeiro lugar nee? – Eu sorria afagando a cabeça de um dos cães que estavam ali eram três no total eu queria protegê-los de toda aquela bagunça. Eu estava cuidando deles desde sempre, eram minha família.

 E o triste de tudo aquilo, é que eu sabia que teria que deixá-los pra trás.  Cerrei os olhos e sentei-me ao lado deles, não queria deixá-los... Não mesmo, mas acontece que eles viveriam melhor sem mim. Eu atraia aquelas criaturas... Qualquer corte que eu fizesse, ou qualquer barulho. Mesmo sendo três animaizinhos levados eles conseguiam ser mais discretos que eu. Enfiei meu rosto entre meus joelhos, eu tinha que ser forte. Aquela parte da cidade estava infestada... Eu tinha sair dali.

Assim que começou a escurecer os três se aconchegaram no fundo do beco onde estávamos, dentro de algumas caixas que eu havia enchido de comida, eu planejava levar um pouco da mesma, porém, resolvi deixar tudo com eles. Eu era mesmo mole. Levantei-me, peguei o pedaço de ferro que estava usando já há alguns dias para me

defender.                                                      

            - Boa noite... Espero que sobrevivam... Desculpem. – Disse baixinho, saindo de fininho do beco. A noite... Havia chegado, e junto com ela os gritos.             

            - A-AAAAAAAAAAAH! – Um grito de mulher ecoou próximo de onde eu estava. Cerrei os punhos, eu tinha que me apressar se não acabaria igual a ela. Suspirei balançando a cabeça negativamente. Não dava mais pra confiar nem em humanos não infectados. Lixo.  Sai correndo segurando o ferro com força contra meu corpo, eu devia estar manchando minha blusa de sangue, mas não era hora pra pensar nisso. Eu mal sabia para onde ia... Para longe, só isso. E eu continuei correndo, uma das poucas vantagens de não ter sapatos é que seus pés não fazem barulho, eu podia correr sem ter medo de ser percebida pelas criaturas. O problema era que eu frequentemente pisava em um prego ou algum caco de vidro, e tinha que me apressar para fazer um curativo improvisado. A minha blusa branca velha era tudo que eu tinha.

            O bom do ferro que eu levava, era o seu tamanho. Eu podia cuidar das criaturas sem ter que chegar perto delas. Ser mordida não era opção.

            Estranho. Quanto mais eu corria, quanto mais longe eu ia... Mais criaturas eu via?! Droga, de onde elas estavam vindo? Já estava cansada de tanto correr e lutar. Sentei-me ao lado de um poste de luz quebrado e me encolhi bem, segurando o ferro com as duas mãos. Eu via criaturas passando perto de mim, via humanos gritando e se matando. Tudo aquilo era nojento, eu não me sentia na mesma cidade de antes. Eu também tinha um mau pressentimento, que aquelas criaturas não estavam só na cidade. Talvez... Não importasse onde eu fosse, sempre haveriam criaturas atrás de carne viva. Mesmo se isso fosse verdade, desistir não era opção... Mesmo que fosse só atrasar minha morte, eu morreria algum dia, com ou sem criaturas, então minha meta era apenas viver a maior quantidade de dias possíveis. Fiquei ainda mais encolhida ali, cerrei os olhos, estava ofegante... Eu acho que tinha corrido mais do que planejava, e ter que lidar com todos aqueles... Zumbis também não haviam ajudado. Levantei um pouco a cabeça, encarando o meio fio com a borda dos olhos. Não havia mais nada ali além de cadáveres... As criaturas pareciam estar perseguindo alguma outra coisa, eu devera ir ajudar?

            - Crianças! Corram o mais longe que conseguirem! – Ouvi uma voz adulta dizer ao longe, seguida de barulho de tiros e algumas criaturas que caíram no chão. Logo seguido de choros, eram crianças... Uma creche? Eu não conhecia essa parte da cidade para saber o que havia por ali, talvez uma escola... O grito do adulto soou alto o suficiente para atrair ainda mais criaturas, seguido de mais gritos agudos de crianças...  Agradeci por estar escuro e eu não conseguir ver muita coisa além de vultos se movendo em direção aos menores. Todo aquele cheiro de sangue e os choros atraíram muitas criaturas, mesmo estando cansada aproveitei pra fugir mais um pouco. Se eu não conseguira salvar nem minha família, como salvaria aquelas crianças? Eu sei que para eu estar viva agora, muita gente precisou se sacrificar para me salvar. O que não significa que eu faria o mesmo. Sou eternamente grata a essas pessoas que deram um pouco do nada que elas tinham para mim. Mesmo assim... Eu não tenho o coração grande a esse ponto. Sobrevivência do mais forte, assim que funciona a selva e a guerra não é? Eu não sei qual das duas aquela cidade havia se tornado, mas a regra era a mesma. Mate ou morra, não é? Não que eu tivesse matado as crianças, mas eu sei que poderia ter salvado duas vidas ali se desse a minha. Isso não aconteceria. Virei às costas para os gritos e voltei a correr na direção que ia antes. Precisava sair dali. 

            Acho que fiquei andando até o amanhecer, meu pé doía de tantos machucados e de tanto tempo correndo... Talvez arranjar sapatos não fosse má idéia, mas isso era o de menos. Nunca havia esmagado tantas coisas em uma noite só. Dado a um certo ponto eu já não pensava mais antes de dar um ataque na cabeça de qualquer coisa que se aproximasse, fosse zumbi, marginal, ou sobrevivente atrás de comida. Eu não tinha nada para oferecer a nenhum desses afinal. Nunca achei que saber pular, escalar e dar bom chutes seria tão útil. Antes isso só servia para roubar uma fruta ou outra e sair correndo dos vendedores. Agora, isso garantia minha vida. Ficava com pena daquelas pessoas que tinham uma vida fácil e não conseguiam nem correr alguns quilômetros. Quem eram os pobres pedindo comida na rua agora? Porcos.  Eu quase dividi um pouco de comida que tinha achado com uma mãe que carregava o filho, porém, seria um desperdício, ambos não durariam mais de um dia ali. Eu precisava daquilo mais que eles. Ela sabia disso, era egoísmo ir pedir comida pra quem quase morreu pra consegui-la.

            Cães, gatos até os ratos não eram assim. Eles vivem dando tudo de si para sobreviver, sem pedir nada a ninguém. Eu preferia ter nascido um cão, ou gato. Livres! Completamente, heh. Mesmo eu, que tenho mais liberdade que qualquer merda que se ache feliz, sei como os animais sofrem mais, porém, conseguem ser mais felizes. Eu já fico enjoada só de olhar um cara estuprando uma mulher na rua e pensar que sou da mesma espécie que tal depravado. Acabo ficando irritada e às vezes me irrito tanto que dou um trato nos dois, isso é cansativo... E gasta energia à toa.

            O sol já estava bem forte quando me sentei em um beco após revistar umas latas de lixo atrás de algo pra comer. Não achei nada, e meu estomago teimava em ficar roncando... Ri baixinho, era engraçado. Mesmo com todas aquelas criaturas e coisas ruins o sol continuava nascendo. Estranhamente, isso não me dava esperança nenhuma. O sol não era de nenhuma ajuda, só eu mesma. Alias, a noite haviam mais gritos para distrair os zumbis, e era mais fácil se camuflar nas sombras. Aquela luz toda só mostrava o quão feias as coisas estavam. Encarei o chão, gotas...  Eu estava chorando?! Levei as mãos ao rosto, estava úmido... Ri alto, por que eu estava chorando? Acumulo de stress? Suspirei, enfiei meu rosto entre meus joelhos e dormi sem sequer soltar o ferro que havia salvado minha vida inúmeras vezes. Eu estava realmente cansada. Não sei quantas horas eu cochilei... Acordei, sem sair daquela posição, quanto menos energia gastar melhor.

            Eu nunca gostei muito de dormir, sempre achei uma perda de tempo. E sempre eram horas de risco. Mas naquela situação, acordada ou dormindo eu estaria apenas á um passo da morte de qualquer jeito. Sonhos? Nunca sonhei, ou nunca me lembro deles pelo menos... Minha vida já é um sonho bom o suficiente. Ou era... Hm, ela não mudou muito. Eu só tenho que tomar mais cuidado, e tive que sair do lado dos meus amigos... Porém, aposto que tem gente por ai sofrendo mais. Cerrei meus lábios, estavam secos e rachados... Eu precisava beber alguma coisa. Será que eu acharia alguma coisa? Meus pensamentos foram cortados por outro ronco da minha barriga. Droga... Levantei-me aos poucos tentando acostumar meus olhos com o sol, olhei em volta. As coisas pareciam mais tranqüilas... Quer dizer, nada a vista alem de cadáveres. Hora de ir atrás de comida e água.

            Fiquei andando durante algum tempo, revistando lixo, e procurando algo pra beber. Será que eu deveria comer um daqueles cadáveres? Eles pareciam nojentos, mas era melhor que morrer de fome. Resolvi procurar um pouco mais antes de recorrer ao canibalismo, ser animal é tão mais fácil. Eles não têm noção de moral... Comer aquilo não os perturbaria. Queria tomar um banho... Mas a loja onde costumava usar o chuveiro já havia sido dominada por aquelas criaturas. Cheirei meu braço... Sangue, claro eu estava coberta dele. Eu devia ser um imã de zumbis. Precisava trocar de roupas. E me limpar, tinha sorte de não haver nenhuma por ali. Encarei a camisa que usava por baixo do macacão velho. Entortei a boca, aquilo mal uma blusa era, estava toda cheia de rasgos e sangue. Tirei-a levantando as alças do macacão jeans que eu usava. Deram-me essa blusa dizendo que meninas não deviam andar sem elas, mas eu não tinha seios nem nada do tipo. Usei aquele pedaço de pano para me limpar do excesso de sangue que havia ficado em minha pele e roupas. Depois me ocupei de tentar limpar o ferro que salvara minha vida tantas vezes. Ele estava bem amassado, aquelas coisas podiam ser bem violentas. Meu pé doía cada vez mais, e eu não tinha curativo decente... Desisti de limpar minha ‘arma’ e resolvi ir cuidar daquilo primeiro.

            Sentei-me novamente e arranquei o pedaço de pano que estava usando como curativo. Droga, aquilo estava mesmo feio. Se eu não desse um jeito logo iria infeccionar o que seria uma grande dor de cabeça. Eu dependia completamente dos meus pés ali, correr, pular... Claro que a força nos braços e um bom pedaço de cano ajudaram muito também, mas o caso era que eu precisava lavar aquilo, antes que eu acabasse cheia de larvas como aquele bando de gente morta no chão.

            - Woof! Woof! – Virei o rosto, não era um latido familiar, mas mesmo assim era um cachorro! Tinha cara de lobo, porém, era pequeno e bobão de mais para ser um. Abri um largo sorriso e afaguei a cabeça do mesmo.

            - Olá bonitão! O que faz sozinho aqui? – Eu perguntava alegre, ele apenas me olhou de lado. Era um cão inteligente... Sentia saudades dos que antes eu chamava de família... Estariam bem? Lancei meus olhos em direção a uma figura preta que aparecia atrás do cachorro, uma garota? Subi meus olhos, era... Toda limpinha, não parecia estar solta por ai.

            - Ele é seu? – Eu perguntei desfazendo o sorriso era bom de mais pra ser verdade, aquela garota devia estar se aproveitando do cachorro para conseguir comida ou algo assim. Alem do que, ela estava vestida inteira de preto, cor que nunca foi a minha favorita. Ela não respondeu apenas continuou me observando, notei que ela passou os olhos pelos meus pés e logo depois pelo ferro cheio de sangue. Segurei o ferro com mais força, ela tinha uma espada em mãos... Mas estava intacta, ou ela se limpava muito bem ou não matava muita coisa á algum tempo. Levantei-me um tanto cambaleante devido à fome a dor nos pés. O Cachorro apenas olhava a cena com a cabeça virada, ofegante como todo bom cachorro. Arrastei o ferro no chão um pouco para trás, a garota não reagiu. Um... Ela era tapada ou o que? Levantei o ferro com força em direção a mesma, não ligava se ela queria dinheiro ou só me matar não iria conseguir nenhum dos dois. Porém, pela primeira vez em muito tempo falhei completamente em um ataque, a garota rapidamente se defendeu com a espada.

           - Água. - Ela disse apenas, levantei uma sobrancelha. Água? Eu estava visivelmente sem nada para comer ou beber ali o que ela queria de mim? Afastei o ferro da mesma, jogando o braço para trás. Será que...?

            - Woof! Woof! – O cachorro se levantou e latiu animado. Indo até a tal garota que apenas fez um carinho no topo da cabeça do mesmo. Então ele era mesmo dela, mas o que ela queria dizer com água? Não parecia que iria chover tão cedo... Ela saiu do beco onde eu estava, porém, o cachorro ficou ali. Sentei ao lado do mesmo confusa.

            - Nee, se sua dona não voltar eu levo você comigo. – Disse me apoiando no animal, que apenas latiu alegre. Dei um sorriso, ele sabia que a dona iria voltar. E realmente não demorou muito para a menina voltar, porém, dessa vez em vez da katana ela tinha em mãos uma garrafa de água e um pão. Ela estendeu ambas as coisas em minha direção.

            -... Pra mim? – Ela apenas Fez que sim com a cabeça. Abri um largo sorriso e peguei o pão dando uma enorme mordida no mesmo, seguidos de largos goles de água. Como era bom... Ingerir alguma coisa depois de tanto tempo sem comer ou beber. A garota de preto apenas se agachou na ponta dos pés com certa distancia e ficou me assistindo comer. Devorei tudo tão rapidamente que quase mordi meu dedo ao invés do pedaço de pão que já havia acabo. Tomei o que sobrara da garrafinha de água, e voltei meu olhar sorridente para a menina que antes eu tentara em vão machucar.

            - Muito obrigada! Você salvou minha vida! – Eu disse abrindo ainda mais o sorriso. Ela apenas me encarava do mesmo jeito indiferente de sempre.

            - Woof! Woof! – O cachorro latia animado lambendo meu rosto, ri alto afagando o mesmo. Era um bom cachorro. – Como ele se chama?

            - Ela se chama Hachiko. – Respondeu a menina ainda me olhando por trás do par de óculos que usava, eu sorri novamente me virei na direção da cadela.

            - Ah... Quem é a linda Hachiko?! – Eu perguntei rindo e recebi mais lambidas na cara. A menina se levantou e saiu do beco, eu ri baixinho e dei alguns tapinhas de leve em Hachiko para que seguisse sua dona. Porém tudo que a cadela fez foi se sentar do meu lado e ficar ali, olhei confusa para o animal. Ele não iria com a dona? Seria deixado pra trás... Eu não conseguiria cuidar dele. De certa forma me senti um tanto abandonada também, quer dizer aquela garota havia salvado minha vida... Eu devia ter ido agradecer melhor ou algo assim. Dados poucos minutos a menina voltou, olhando indignada para o cão. Abri um sorriso ao ver que ela havia voltado, voltei-me para Hachiko.

            -Viu? Pelo menos uma de nós tem salvação. – Eu disse, e recebi mais lambidas no rosto, era uma cadela muito amável. Ri alto, afagando a mesma. A menina seguia olhando para a cadela que não saia do meu lado. Eu apenas sorri um tanto sem jeito, a tal garota parecia irritada, mas... Eu não podia fazer nada.

            - Hachiko! Aqui. – Disse a menina com um tom firme na voz, o animal se virou em direção a mesma e apenas a olhou com a língua para fora. Eu sentia que aquela cadela estava rindo muito e não consegui evitar rir junto. Hachiko me deu mais lambidas latindo alto e animadamente. A tal garota apenas pareceu ficar ainda mais irritada. Ela assoviou algumas vezes e deu alguns passos para longe, olhando fixamente para Hachiko. Eu levei as duas mãos até a boca, tinha que segurar o riso... Mas era engraçado poxa! Era mesmo uma cadela amável, não queria sair de perto de mim.

            - Hm... Se quiser eu posso cuidar de-

            - Calada. – Retrucou a menina de preto nem me deixando terminar a frase, sem desviar o olhar do animal que pelo o que eu entendi ela esperava inutilmente que a seguisse.

            - Woof! – Hachiko latiu, levantando-se com o rabo abanando, sorri ainda agachada fazendo um carinho na cadela e esperando que seguisse sua dona, porém, ela apenas mordeu meu macacão e me puxou de leve. Ri alto, era uma menina brincalhona! Me distrai por algum tempo brincando com a mesma me esqueci que a tal garota queria ir embora e levar sua cadela junto. Parei de rir e brincar com Hachiko e me calei um tanto culpada, sentia que devia obedecer tal garota... Quer dizer, ela tinha me salvado afinal.

            - Hachiko... – A menina dizia parecendo um tanto impaciente, o animal, porém, ignorava os pedidos da dona e seguia tentando brincar comigo. Como uma boa menina, eu me sentei de joelhos e fiquei apenas a encarar o chão. Não queria levar bronca. Ficamos um tempo naquilo, ouvindo apenas os latinos incessantes e alegres da cadela. Eu me sentia grata tanto por Hachiko quanto pela garota que me salvara, porém, o que eu podia fazer ali...?

            - Você, qual seu nome? – Subi meus olhos em direção a menina de preto, ela tinha as mãos apoiadas na cintura e o cenho franzido. Abri um largo sorriso ao ouvir a palavra da mesma dirigida para mim.

            - Susumo! – Eu disse rindo alto, eu não tinha sobrenome ou coisa do tipo. E eu mesma tinha me dado nome quando era menor, ele certamente combinava comigo. A menina levantou um sobrancelha e lançou outro olhar pra Hachiko como ainda quisesse ir embora, porém, novamente a cadela apenas latiu e lambeu meu rosto. Eu ri baixinho e mantive meus olhos presos na figura da garota a minha frente.

            - Eu sou Iwashita Mika, venha. – Ela disse saindo do beco. Fiquei um tanto confusa, ela estava me pedindo para ir com ela certo? Abri ainda mais meu sorriso e me levantei pegando o ferro que ainda estava jogado ao meu lado, fui atrás da mesma andando com a borda dos pés para não machucá-los ainda mais. Assim que eu comecei a me mover Hachiko começou a latir animada e foi até a menina quase pulando enquanto latia. Quando saí do beco dei de cara com um carro enorme! A garota abriu a porta do banco de trás e ficou me encarando, olhei para baixo e notei que Hachiko fazia o mesmo. Sorri animada e entrei na camionete seguida pela cadela, olhei em volta, havia comida por todos os lados! Assim que a garota se sentou no banco do acompanhante, um garoto que estava atrás do volante se virou confuso para ela.

            - Vamos ficar com ela. – Disse Mika ajeitando os óculos e mantendo o olhar para frente, o garoto olhou surpreso assustado na minha direção. Abri um sorriso enorme.

            - Woof! – Concordei junto com Hachiko, rindo alto em seguida.

            - ... Cachorro? – O menino perguntou para si mesmo visivelmente confuso, eu só consegui rir mais alto ainda. Não tinha entendido direito, mas acho que iam me levar com eles. O que era bom, tinham acabado de salvar minha vida. Apoiei o ferro no chão do carro, notei que o tal cara notou que eu estava “levemente” suja de sangue.  Ele coçou a nuca e ficou pensando alguns instantes até falar.

            - Sou Daisuke Yuudai... Espero que possamos nos dar bem. – Ele disse franzido o cenho ao olhar para meus pés que eu me apressei em esconder. Sorrindo em seguida.

            - Sou Susumo! – Disse levantando um braço e rindo ainda mais em seguida. Aquele garoto parecia assustado com alguma coisa, eu tinha certeza que pra estar vivo ele tinha que ter se livrado de mais de um ou dois zumbis. Será que eu conseguia assustar ainda mais?  Fiz um bico pensando. – E tenho certeza que vou me dar bem com o Yuu-chan e com a Mi-chan! Vocês salvaram minha vida!

            - Woof! – Completou Hachiko abanando a cauda, eu tinha certeza que se tivesse uma ela também estaria frenética. Mika ignorou meu comentário e continuou com o rosto apoiado em uma das mãos esperando que Daisuke se lembrasse que ele era o motorista. O garoto por sua vez apenas levantou uma sobrancelha, parecia ter demorado para entender o que eu havia dito. Ele suspirou balançando a cabeça negativamente e voltando seu olhar para frente, ligando o automóvel novamente e dando a partida. Eu estava radiante, nunca poderia agradecer tanto a uma pessoa! Graças a Mika eu estava salva... Meus pés ainda doíam, mesmo assim a sede e a fome haviam passado. E agora eu não precisava mais andar por ai.

            - Vamos parar em algum lugar para limpar a Susumo. Preciso fazer uns curativos nela. – Disse Mika com seu mesmo tom de voz de sempre, Daisuke suspirou novamente fazendo um aceno positivo com a cabeça e virando na esquina logo ali. Grudei meus olhos na janela. Era a primeira vez que eu andava de carro, mesmo eu sempre vendo eles passando pela rua. Não haviam muitas criaturas por ali, então podíamos avançar sem muito problema. Não tinha idéia de onde estávamos indo, eu não conhecia aquela parte da cidade... Era composta só por casas razoavelmente chiques, nah... Não sei se eram chiques ou não. Para mim eram um sonho inalcançável, na realidade até um barraco seria algo inalcançável pra mim. Sempre vivi na rua, e não consigo imaginar isso de outro jeito. Os balanços que o carro fazia me deixaram enjoada e com sono, resolvi dormir para não vomitar no carro de Mika, ela ficaria irritada certo?  

            Acordei rindo de leve com lambidas de Hachiko no meu rosto, espreguicei-me coçando os olhos de leve. Demorei alguns segundos para conseguir acostumar meus olhos com a luz. Dei um largo bocejo enquanto observava, o carro parecia estar dentro de uma garagem ou coisa assim. Mika e o tal de Daisuke pareciam me esperar do lado de fora do carro, desci tomando cuidado para pisar com a lateral dos pés e não me machucar ainda mais. Mika lançou um olhar para meus pés e voltou os olhos para mim, sem aparente mudança na expressão. Ela era tão legal! Virei-me para o menino que parecia procurar algo em uma mochila. Ele tirou um molho de chaves e ficou procurando uma especifica até abrir a porta que parecia ligar a garagem ao resto da casa.

            - Onde estamos? – Perguntei coçando o rosto ainda um tanto sonolenta, o moreno se virou alguns instantes para mim enquanto abria a porta.

            - Essa é minha casa, viemos fazer uns curativos em você e pegar alguns suprimentos. – Ele explicou passando pela porta. Mika deixou a espada que carregava apoiada no carro, cruzou os braços e também andou até a porta sempre seguida por Hachiko.

            - Vou te limpar também, você esta fedendo. – Ela disse e fez um sinal para que eu a seguisse .  Abri um largo sorriso e a segui animadamente, ainda andando com a parte de dentro do pé. Ela parou em um corredor e notou que Daisuke parecia procurar algumas coisas, ela foi até ele e o ficou observando por alguns instantes. Eu me mantive ao lado de Hachiko, esperando pacientemente. Ele parecia um tanto nervoso...

            - Onde fica o banheiro? – Ela perguntou ignorando o que o mesmo fazia, abri um leve sorriso Mika era tão maneira! Ele levantou o olhar um tanto confuso, até lançar os olhos na minha direção. Balançou a cabeça positivamente apontando o final do corredor.

            - Logo ali. – Ele respondeu. Mika fez um sinal positivo com a cabeça e outro com a mão para que eu a seguisse novamente. Sorri para o menino e segui Mika junto a Hachiko. Sentia-me nas nuvens e eu devia tudo isso a Mika! Fui cantarolando até entrar no cômodo branco. Era... Enorme! Quer dizer, maior que qualquer banheiro que eu já tenha ido em toda minha vida. E limpo! Não haviam rachaduras nem baratas.... Havia até uma banheira! Sorri alegre ao notar que Mika abria a torneira e que a banheira começava a encher. Sentei-me contente sobre a tampa do vazo, Mika me lançou o mesmo olhar de sempre, franzindo de leve o cenho. Ela suspirou nervosa saindo do banheiro. Eu esperei algum tempo... A banheira estava enchendo, hehe. Ela voltou com uma caixa branca com uma grande cruz vermelha na mesma. Apoiou a tal caixa no chão e fechou a torneira. Fez um sinal para que eu entrasse na água enquanto parecia procurar algo na tal caixa. Apressei-me em tirar o macacão que usava e entrar na água. Era tão quentinha! Nunca havia sonhado em tomar um banho de espuma... Me afundei até o nariz na água e fiquei a soprando a espuma alegre, lancei os olhos para Mika que se sentava a borda da banheira. Ela passou os olhos pelo meu cabelo e entortou os lábios... Realmente, meus cabelos eram horríveis, sujos e uma bagunça. Os de Mika eram tão limpos! Ela pegou um pote que havia ali ao lado e jogou o conteúdo do mesmo sobre suas mãos, passando-as em minha cabeça em seguida. Parecia ser algum tipo de sabonete ou algo assim, tinha um cheiro bom. Acho que adormeci ali, por que quando me dei por mim novamente Mika me entregava uma toalha. Levantei-me cambaleante e me enrolei na mesma.

            - Sente-se ali. – Ela disse apontando o vazo. Sentei-me novamente sobre a tampa do mesmo, meus pés ardiam um pouco devido ao sabão, mas estavam mais limpos... Eu esperava. Mika usou uma toalha que tinha em mãos para secar meus pés e tirar o que havia sobrado de sangue do mesmo. Usou depois um algodão com alguma coisa que ardia muito, porém, se Mika estava fazendo devia ser bom, por isso mantive-me quieta afinal, graças a ela tudo iria melhorar. Mika terminou colocando algumas bandagens ali. Assim que terminou os curativos ela tirou uma tesoura da caixa branca.

            - Vire-se. – Ela disse com o mesmo tom indiferente de sempre, animadamente me virei ficando de costas para a mesma. Como eu imaginava ela cortou alguns palmos do meu cabelo... Ele era incrivelmente grande e mesmo depois dela tendo o cortado ainda passava minhas coxas. Mika não fez nenhum corte, apenas tirou os nós impossíveis de pentear e as pontas que segundo o olhar dela estavam um lixo. Assim que me virei novamente para a mesma abri um largo sorriso. Mika era realmente uma menina muito boa! Eu devia minha vida a ela... Alem do que ela está sempre tão séria e legal! Ela se levantou saindo do cômodo, Hachiko entrou logo em seguida abanando a cauda, eu estiquei as pernas e mostrei a cadela os curativos nos meus pés.

            -  A Mika é mesmo boazinha nee? – Eu disse sorrindo ainda mais, Hachiko se aproximou de mim lambendo meu rosto.

            - Woof! – Ela concordou. Dando um pulo alegre, ri junto com Hachiko quando uma camiseta preta voou em minha direção segurei a mesma, olhando-a confusa. Subi os olhos para Mika que estava parada na porta, é mesmo... Mika só parecia usar roupas pretas. Por que seria? Esperei ela e Hachiko se afastarem para colocar a blusa e por cima novamente meu macacão. Fui andando na ponta dos pés até uma espécie de cozinha onde Daisuke e Mika estavam sentados em um aparente silencio.

            - Ouah?! Essa é a mesma de antes? – Ele perguntou um tanto surpreso, eu abri um largo sorriso. Agora eu estava limpa, alimentada e curada! Graças a Mika. Não disse nada e fui até o lado de Hachiko, me sentando no chão ao lado da mesma e a acariciando de leve. Quase caindo no sono novamente.

            - Eu só limpei ela. – Respondeu Mika tomando um gole de algo que havia dentro da xícara a sua frente. Eu abri um largo sorriso e fechei os olhos bocejando estava cançada...

            - Ei Mika, quantos animais você já teve? – Perguntou o menino.

            - Só a Susumo e a Hachiko. – Ela respondeu, seguindo de outra pausa para tomar outro gole da xícara. Aumentei meu sorriso agarrando-me forte na Hachiko antes de realmente cair no sono.

            -............hu?

The loyalty for the dead – Chapter 3 end.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por lerem! Comentem por favor ♥



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