Era terça-feira e, como sempre, o barulho dos carros me acordou. Claro que eu era acostumada a isso quando morava em Phenix, mas existe uma grande diferença entre acordar com o barulho de ‘um’ carro passando pela porta de sua casa e acordar com o barulho de ‘cem’ carros passando e te atazanando.

“Mas isso não é Phenix Bella. E muito menos Forks. Aqui é Nova York, a cidade que não dorme.” Pensei.

“Bem, mas eu durmo, droga.” Já sei que não vou mais conseguir dormir, então me levanto, quase caindo com a quantidade de roupas que estou usando.

“Quem manda vir parar em um lugar tão frio...” De novo minha mente conversa comigo.

“Quem iria gostar daqui eram os Cullens...” A dor veio, como em todas as outras vezes. Mas dessa vez eu não caí no chão, não gritei e nem chorei. Apenas agüentei.

Não choro a muito tempo. Nem me lembro a ultima vez que chorei... Eu prometi para mim mesma que iria ser forte. Não por mim, mas por todos que eu amo.

Prometi que não iria mais demonstrar nenhum tipo de sentimento, nem por Ed-Edward, nem por minha ‘doença’.

Ah, minha doença...

Aquela que está levando minha vida aos poucos. Que está me sugando para a morte.

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Depois de colocar outra roupa e fazer minha higiene pessoal, já escuto barulhos lá embaixo.

Sei que são meus pais antes mesmo de escutar a gargalhada estrondosa de Renee.

 Eles são felizes. Eu diria até que mais que quando foram casados da primeira vez.

Charlie faz Renee rir e a mima de todos os modos.

Agora não vejo nenhum dos meus pais sem um sorriso no rosto, excerto, é claro, quando eles me vêem.

Sempre estão sorrindo um para o outro, mas quando apareço no raio de visão deles seus sorrisos se apagam, é como se isso fosse automático para eles, me vêem e ‘puum’, transformam seus olhares alegres e apaixonados em olhares de tristeza, pena e dor.

Venho tendo que conviver com esses olhares, sempre que eu apareço, desde que descobrimos que eu estou doente, a dois anos atrás. E é por isso que eu já me sinto com vontade de ir pra longe assim que chego perto deles.

Entro na grande cozinha da nossa nova casa, que ainda está um pouco desarrumada por causa da mudança, e me sento na pequena banqueta perto do balcão. Fico observando os meus pais, ainda de costas e conversando.

Bem na hora que Charlie ia beijar Renee, minha mãe me vê, logo sai dos braços do meu pai e vem em minha direção.

Como eu já adivinhava, a alegria e os sorrisos, foram substituídos por aqueles olhares que eu odeio. Isso faz com que eu sinta que vou morrer hoje. Claro que isso pode mesmo acontecer mas, custava eles fingirem que eu estou bem. Custava eles continuarem com os sorrisos de alegria, só pra me animar um pouco.

Não que eu me importe, pra mim, de morrer hoje e morrer em seis meses eu não vejo a mínima diferença.

Seria uma diferença bem grande se eu pudesse reencontrá-lo antes de morrer...

Ah, não gosto de ficar pensando nisso, mas é como se a lembrança dele viesse em minha mente sempre que não estou muito concentrada em alguma coisa. E nesse momento, eu não estou, e nem quero ficar concentrada nos olhares de pena que são dirigidos a mim.

“Bella, querida. Ainda é tão cedo! Porque já está de pé?” Minha mãe, como sempre, quer que eu fique noite e dia presa em cima de uma cama. ‘Para descansar bastante’ ela diz.

Nossa! Eu vou descansar pra sempre a qualquer momento, e ela ainda quer que eu descanse nos últimos segundos que me restam também!!

“Eu to sem sono mãe. E também quero acabar de arrumar meu quarto logo, pra depois ir conhecer um pouco da cidade” Eu disse. Mas, percebendo o olhar já tão preocupado dos meus pais, eu acrescentei: “Hey, gente. Já conversamos sobre isso lembram? Hum, vocês disseram que iam me deixar livre, desde que eu tomasse todos os remédios e obedecesse o médico!” Vi o olhar que eles fizeram quando eu mencionei os remédios, conseqüentemente mencionando minha ‘doença’. Mas mesmo assim disse: “vocês vão querer que eu pare de tomar os remédios e desista desse novo tratamento?”

Eles se entreolharam com os mesmos olhares de dor.

Pela primeira vez nessa manhã meu pai falou:

“Não Bells...” Ele ainda me chamava assim, como Jacob.

Me lembrei do meu melhor amigo e, como tantas outras vezes, senti saudades. Ainda não superei a mudança. Eu gostava de Forks, eu havia aprendido a gostar. Lá eu tinha amigos: Angela, Jacob... E lá eu tinha a lembrança, muito mais forte do que a que eu tenho aqui. A lembrança dele, o que eu prezava muito. Porque só por meio da lembrança eu podia saber que ele, um dia, existiu.

Fui tirada de meus pensamentos pela voz do meu pai, continuando:

“Não queremos que você pare com nada. Só nos preocupamos com você!” Depois de se aproximar de mim mais um pouco, ele falou: “E se alguma coisa te acontecer quando não estamos perto para ajudar? Como acha que vamos nos sentir?” Ele falava e me olhava como se estivesse suplicando.

Mas o que esses dois tinham na cabeça? Eu já não estava mais agüentando isso!

Afinal, quem é que vai morrer? Eu ou eles?

Na verdade, eu queria até esquecer que isso iria acontecer. Eu queria fingir que nada está acontecendo com o meu corpo. Queria me fazer acreditar que esse cansaço que venho sentindo nos últimos dias, é só conseqüente da mudança de Forks pra cá.

Mas, não era. Eu ia morrer. E esse dia estava cada vez mais perto.

Mas, mesmo assim...

Será que dava para eles pararem de me lembrar isso?!

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