Forever Evil escrita por Blue Dammerung


Capítulo 3
Capítulo 2: Unexpected Visit


Notas iniciais do capítulo

"Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo.
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas.
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais riíduclo ainda."



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            O inverno só tinha mais alguns dias de duração. Riku já estava basicamente curado, e durante esse tempo que ficou com Roxas, percebeu todos os seus erros e as medidas que deveria tomar quando voltasse ao seu reino.

 

            Porém, aquela hora não era uma boa hora. Ultimamente o clima entre os dois tinha ficado mais pesado. Riku não queria, mas tinha que deixar Roxas, e o loiro, por mais que estivesse “acostumado”, não queria voltar a sua antiga solidão.

 

            Tinham se tornado tão bons amigos, inseparáveis, que já sabiam tudo um sobre o outro. Não importava se Riku era um príncipe do reino inimigo, mas sim que ele era uma boa pessoa, mesmo tendo alguns desentendimentos de vez em quando.

 

            E nem sequer nevava mais. Só o que restara do inverno fora o vento frio que ainda soprava. A floresta próxima a fazenda de Roxas parecia ter reganhado sua vida, tanto que assim que o sol raiava no horizonte, os pássaros começavam a cantar.

 

            Na manhã da partida do príncipe, Roxas acordou mais cedo. Saiu de casa sem fazer muito barulho e adentrou as árvores, levando um arco e flechas para caçar. Não estava muito confortável de conversar com o outro naquele momento, principalmente quando tinha quase certeza de que não voltaria a vê-lo.

 

            Agachou-se atrás de um arbusto frondoso, com os orbes azuis presos num cervo desavisado que calmamente bebia a água de um riacho. Por que Riku tinha que voltar logo naquele momento? Por que ele simplesmente não ficava? E daí se ele era um futuro rei? Foda-se, ele nem sequer gostava daquela vida!

 

            Roxas pegou uma flecha da aljava em suas costas e a pôs no arco, puxando a corda e mirando com cuidado. O que faria depois que Riku fosse embora? Ele não podia simplesmente esquecer, podia? No entanto, se Riku escolhesse mesmo partir, ele não poderia fazer nada. Não conseguiria atravessar a fronteira, e mesmo que conseguisse atravessá-la com sucesso, seria ridículo chegar no castelo dele e dizer “hey, eu sou o melhor amigo do príncipe!”, além de que, se ele fizesse isso, seria, provavelmente, morto.

 

            Mas estava pensando em ir atrás dele?! Estava mesmo questionando-se sobre atravessar a fronteira?! Por alguém com quem passara apenas um mês?! Estava ficando louco?! Riku era um príncipe! Ele não precisava de ninguém como um reles camponês, e nem como um amigo, afinal, ele teria dezenas de conselheiros em seu castelo! Não tinha lógica naquilo...

 

            “Mas... eu não quero ficar só novamente...”,Roxas pensou, soltando sem querer a corda e acertando um tronco de árvore ao invés do cervo que, assustado, saiu correndo dali. Estava pensando demais, eram sentimentos demais...

 

            O loiro se levantou, pegando a flecha e a colocando de volta na aljava. A verdade era que ele sabia que sentiria falta do amigo, mas o pior de tudo era ter a certeza de que ele não poderia fazer nada para impedir sua partida. Não teria como deixar sua fazenda, nem como atravessar a fronteira, nem perambular pelo outro reino sem ser morto... Não dava.

 

            E era esse sentimento de impotência que estragava tudo.

 

            Sentia-se inútil. Desde que sua mãe morrera, achara-se independente, que nunca precisaria de ninguém novamente. Mas não esperava que alguém viesse precisar dele. Não esperava que pudesse apreciar a presença de alguém tão queridamente. Não queria deixá-lo partir, mas era simples, ele não tinha escolha.

 

            Seus orbes azuis pousaram sobre o buraco que a flecha provocou no tronco da árvore. Parecia uma ferida, e até caía um pouco de seiva do buraco, como se fosse sangue da árvore.

 

            “Será que as árvores choram?”, Roxas pensou, passando a mão por cima do pequeno buraco e sujando-se um pouco com a seiva. Sentiu os olhos úmidos. “Porque acho que estou chorando agora...”.

 

            Por que chorar? Sentiria tanto sua falta assim? Por quê? Por que o destino lhe daria uma coisa que aprendera a adorar e agora a tiraria tão de repente? O destino, sempre tão cruel com ele...

 

            Seus joelhos cederam e ele caiu no chão, em frente a árvore, mas com a mão ainda sobre o buraco no tronco. Por que tanta dor? Por que sofrer tanto? Já não bastava perder os pais, ter os amigos longe e agora deixar ir o mais novo e melhor deles? Não entendia... Simplesmente não entendia...

 

            Levou uma das mãos aos olhos, limpando as poucas lágrimas que atreveram-se a cair. Eram poucas, mas realmente tinha chorado, coisa que só fizera quando sua mãe morrera. Refletindo, não havia nada que pudesse fazer, a não ser esquecer, o que também era ruim...

 

            Ouviu um barulho e virou o rosto, encontrando o cervo de alguns instantes antes. O animal se aproximou novamente para beber água, mas antes levantou o olhar e caminhou até Roxas calmamente. O cervo bateu sua cabeça no ombro do outro, não com raiva, mas apenas como se fosse para o loiro se levantar.

 

            Qualquer um estranharia o comportamento do bicho, mas Roxas tinha jeito com animais de uma forma quase que mágica. Eles se assustavam, naturalmente, mas depois se tornavam dóceis perto dele. Não era a toa que, sozinho, conseguia cuidar, e muito bem, de um inteiro rebanho de cabras.

 

            -Tenho que ir, não é?-Falou, dirigindo-se ao cervo, mas sem se mexer. -Não posso evitar, por mais que eu queira... Me pergunto se ele ficará bem.

 

            O cervo levantou a cabeça e bateu os cascos no chão, indo até o riacho beber um pouco de água para depois sair dali, deixando o loiro só.

 

            -Odeio despedidas...

 

            Relutante, Roxas se levantou e saiu dali, esquecendo o fato de que não tinha matado nada para comer mais tarde.

 

            Quando chegou em casa, surpreendeu-se ao achar o outro sentado a mesa, com uma caneca nas mãos e olhar distante, ainda de pijamas. Ele não parecia muito mais feliz que Roxas.

 

            -Acordou faz muito tempo?-O loiro perguntou, deixando o arco e as flechas na dispensa e jogando o casaco sobre em algum lugar da sala, sem se importar.

 

            -Não. Até vi você sair. -Ele respondeu, bebendo uns goles do que parecia ser leite de cabra puro e gelado. Não havia se dado ao trabalho de sequer ferver o leite, fosse por preguiça ou por simplesmente não querer.

 

            -Espero que você não tenha acordado por minha culpa. Tentei fazer o máximo de silêncio que pude.

 

            -Não, não foi você. Não tinha dormido muito bem, de qualquer forma.

 

            -Pesadelos?

 

            -Alguns, nada muito grande. Dormiu bem?

 

            “Mal preguei os olhos”, pensou em responder, mas na última hora mudou de idéia. Seria mais doloroso se admitisse que já sentia falta da presença do outro.

 

            -Dormi sim.

 

            -Hmpf.

 

            Um silêncio pesado pairou no ar novamente. Aquilo vinha acontecendo com tanta freqüência que mexia com os nervos de Roxas.

 

            -Me vou daqui a duas horas, Roxas. Preciso aproveitar enquanto é manhã. -Riku falou de repente, tomando mais um gole na caneca.

 

            O loiro temia escutar aquilo. Era como receber uma péssima notícia que você já esperava, mas se recusava a aceitar. A questão por detrás de tudo era: Por quê?

 

            -Por que você não vai só à noite? Não é mais... Fácil de passar pela fronteira?-Roxas perguntou, caminhando até a janela e olhando pelo vidro. Algo pesava em seu peito.

 

            -Não sei você, mas eu não consigo ver no escuro. Não precisa se preocupar comigo, vou ficar bem.

 

            Outro silêncio pairou. Roxas não tinha certeza se aquilo que o outro dissera era verdade, mas queria acreditar. Sua mão pousou na superfície gelada da janela, e ele soltou, quase sem pensar:

 

            -Você pode ficar aqui se quiser... Viveríamos juntos. Cuidaríamos da fazenda, caçaríamos na floresta e tomaríamos leite com sementes de cacau toda noite... Eu poderia até construir uma outra cama, para que não precisássemos dormir juntos...

 

            Riku levantou o rosto e olhou a silhueta do loiro mostrando-lhe as costas.Queria muito aceitar seu pedido, só Deus sabe o quanto, mas não conseguiria. Tinha refletido sobre o que teria de fazer, e não poderia desistir de voltar ao seu reino agora.

 

            -Não posso, Roxas.

 

            -E por que não?-O loiro perguntou rapidamente, com uma voz um pouco mais hostil.

 

            -Vou me tornar rei um dia. Não posso abandonar dezenas de milhares de pessoas por puro luxo.

 

            -Você já fez isso, não fez? Não fugiu de casa?

 

            -Mas isso foi um erro meu que pretendo corrigir. Olhe, Roxas...

 

            -Você nem gosta daquela vida! Você está muito melhor aqui, comigo, do que com aqueles parasitas que eu tenho certeza de que você também acha que são!-O loiro exclamou, mas ainda de costas para o outro. Mantinha as mãos fechadas em punho com tanta força que quase estavam brancas.

 

            -Eu sei que são, e é por isso que vou voltar. Aquela nação precisa de um rei para se manter estável, senão...

 

            -Você é um rei, não é?!-Roxas exclamou, virando-se de repente e indo até Riku, ficando de joelhos ao seu lado, no chão. -Me faça um servo, escravo, qualquer coisa, contanto que eu possa ir com você!

 

            O príncipe empalideceu. Ele próprio não queria deixar aquela casa, mas Roxas precisava tanto assim dele? Ele se sentia tão só assim? Por um momento sentiu tanta pena que quase mudou de idéia, mas logo voltou ao normal.

 

            -Eles o matariam se o vissem lá. Ainda sou um príncipe, então, por enquanto, os regentes governam. Até que eu atinja a maioridade, de nada vale meu título. Desculpe.

 

            O príncipe pôs uma das mãos sobre a cabeça do loiro e a deixou ali, enquanto Roxas absorvia as palavras. Então ele iria mesmo embora? Tudo voltaria a ser como antes? Aquilo era como provar do mais doce néctar só para depois, imediatamente, ser proibido de voltar a prová-lo. Era simplesmente cruel.

 

            O que faria agora? Não poderia insistir, não mais. Ele sabia que de nada adiantaria, embora em seu âmago implorasse para que ele fizesse Riku ficar. Porque Riku era seu melhor amigo, e tinha afastado, com sua presença basicamente forçada, uma solidão que nem o próprio loiro sabia que tinha.

 

            Uma solidão que adquirira desde que sua mãe tinha morrido. Uma solidão que logo começou a encarar como independência. Se tornara auto-suficiente, e apesar de ser bastante jovem, não precisava de ninguém, e nem queria precisar.

 

            Era um pouco orgulhoso, tinha que admitir. Mas não com Riku. Sentia-se tão bem em sua presença que deixava a máscara do orgulho cair, coisa que nem Axel tinha feito. Então agora tinha que se conformar a voltar a vesti-la, e também a se acostumar com a tal solidão.

 

            Até atreveu-se a pensar que seria melhor se Riku não houvesse aparecido, ou então que aquele maldito dragão tivesse caído em algum outro lugar, e não “bem ao lado” da sua casa, mas logo se bateu mentalmente por pensar tal coisa.

 

            -Então... Você não vai ficar? E nem me deixa ir?-O loiro falou roucamente.

 

            -Sinto muito. -Riku falou, engolindo em seco. Estava usando grande parte de sua força de vontade para negar aquilo.

 

            Roxas levantou o olhar, deixando que a mão do outro caísse de sua cabeça, e se levantou. Tinha um olhar destemido no rosto, tanto que surpreendeu Riku um pouco.

 

            -Mas eu vou mesmo assim. Não me importa se vou ser caçado como um animal, eu quero ir. -Falou, mantendo a voz firme.

 

            Riku se levantou da cadeira, empurrando a mesa e sem querer derrubando a caneca, fazendo-a quebrar-se em vários pedaços. De jeito nenhum permitiria que Roxas se arriscasse daquele jeito, principalmente por sua causa, o que era uma burrice maior ainda.

 

            -Por que quer ir tanto? Eu já disse que vou ficar bem! Eu sou o príncipe deles, então o único perigo é atravessar a fronteira. Depois disso, estarei a salvo, não precisa se preocupar! Eu sei que você não quer ficar só, mas você também precisa entender que eu não quero que você morra!

 

            Roxas encontrou os orbes verdes do outro e engoliu em seco. Então ele sabia de toda aquela solidão... E até se importava com ele... Mas mesmo assim, teria de desobedecer Riku.

 

            -Não me importa. -Falou, batendo o pé no chão.

 

            -Mas importa a mim! Fique aqui. Prometo que voltaremos a nos encontrar um dia.

 

            -Como?! Você é um príncipe! Não entra em contato nem com os plebeus do seu povo, imagine comigo, um plebeu do outro reino!

 

            -VOCÊ NÃO VAI E PRONTO!

 

            -VOCÊ NÃO PODE ME IMPEDIR!-Roxas gritou em resposta ao grito de Riku, porém, sabendo que daquele jeito acabaria perdendo a disputa, o príncipe, xingando-se mentalmente por aquilo, deu uma joelhada no estômago do outro, fazendo-o ir ao chão.

 

            Antes que Roxas percebesse, ele estava sendo carregado em cima do ombro do outro, e antes que pudesse reclamar, foi jogado sobre a cama, em seu quarto. Caiu com força no colchão, mas antes que se levantasse, Riku fechou a porta e trancou-a por fora, impedindo o loiro de sair.

 

            -Me tire daqui!-Roxas gritou, batendo na porta com os punhos e chegando até a chutá-la, mas de pouco adiantaria, uma vez que, além de trancar, Riku também tinha posto uma cadeira na porta, o que a tornava bem mais difícil de abrir.

 

            -Você não vai, e esse é o seu veredicto final, Roxas. Espero que um dia entenda porque eu fiz isso. -O príncipe falou, vestindo, por cima do pijama, o casaco que o loiro tinha jogado no chão ao chegar em casa.

 

            -SEU IDIOTA! ME TIRE DAQUI!-Roxas continuou a gritar e a esmurrar a porta, já sentindo suas mãos doerem.

 

            -Não.

 

            -POIS TUDO BEM! MORRA! VÁ ATÉ A FRONTEIRA E MORRA! TOMARA QUE OS SOLDADOS TE MATEM E VOCÊ VIRE COMIDA PROS VERMES! SEU MALDITO!

 

            -Eu sei que você não quer dizer isso.

 

            -EU DIGO O QUE EU QUERO DIZER! NÃO PRECISO DE VOCÊ! SEMPRE ME VIREI SOZINHO, E AGORA NÃO É DIFERENTE! ANDE LOGO, VÁ! NUNCA MAIS APAREÇA AQUI, SEU DESGRAÇADO!

 

            Riku foi até a dispensa e pegou algumas frutas e outras comidas para levar durante a viagem. Pegou também um saco que serviria como mochila e pôs somente seu elmo nela. O resto Roxas poderia vender para ganhar algum dinheiro, coisa que o príncipe tinha certeza que faria de tão irritado que o loiro deveria estar.

 

            Roxas ainda estava esmurrando a porta quando se deu conta da presença da janela no quarto. Correu até a mesma, pulando sobre a cama, e tentou abri-la, mas sem sucesso. Olhou mais fundo no vidro e conseguiu ver sinais de desgaste e ferrugem. Ótimo, a janela estava emperrada.

 

            -GRRRR! RIKU! SEU MALDITO! ME TIRE DAQUI! VOU MORRER DE FOME! A JANELA NÃO ABRE!

 

            -Não, senão você vai me seguir. Eu pretendia partir só daqui a uma hora, mas já como você pretende vir atrás de mim, quanto mais cedo eu ir, melhor.-O príncipe falou, terminado de arrumar suas coisas para sair.

 

 

            -VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO! TOMARA QUE VOCÊ MORRA MESMO! E SE VOCÊ, POR UMA INFELICIDADE, SOBREVIVER, NUNCA MAIS VOLTE AQUI, OUVIU?! NUNCA MAIS QUERO VER ESSA SUA CARA! SEU MALDITO! IDIOTA! IMBECIL! BURRO! TAPADO! RETARDADO MENTAL! DESGRAÇADO! BASTARDO!

 

            E Roxas continuou xingando o outro sem parar, até que ouviu o som da porta se abrindo. No mesmo momento, parou. Ele já tinha saído de casa. Já tinha ido embora.

 

            -Riku?-Roxas chamou, fazendo silêncio como se esperasse ouvir a voz do outro, mas a verdade era que o príncipe já estava saindo da fazenda. -Riku? Você já foi?

 

            Sem receber resposta alguma, o loiro teve a confirmação de que, mais uma vez, estava só.

 

            Subitamente infeliz e sem a raiva para preencher-lhe, Roxas recuou até a cama e se deitou nela, abraçando os joelhos e ficando em posição fetal. Sozinho novamente, hã? Quem sabe não fosse tão ruim... Tinha que pensar positivo, certo? Ou não? Sentiria-se melhor caso se entregasse logo a tristeza em seu peito e começasse a chorar?

 

            Apenas fechou os olhos. Roxas sabia que, independente ou não da partida de Riku, as cabras amanhã teriam fome, e com a chegada da primavera, teria duplo trabalho com a horta. O dia amanheceria, quer ele estivesse triste, quer se sentisse alegre.

 

            Sabia disso, mas naquele momento, apenas queria esquecer o assunto e permanecer ali, esperando o fim do dia chegar, apesar de que isso ainda fosse demorar várias horas.

 

            Manteve os olhos fechados e, depois de umas duas horas, adormeceu. Não teve sonhos nem pesadelos, e tão pouco acordou mais descansado. Pelo contrário, parecia mais abatido.

 

            Resumiu-se que até o entardecer do outro dia, Roxas ficou preso em seu quarto. Foi só no anoitecer que finalmente conseguiu quebrar a janela de tanto bater nela, e apesar de ter acabado se cortando, conseguiu passar por ela, atravessar a casa e voltar a entrar nela, tirando a cadeira apoiada na porta que impedia a mesma de abrir e finalmente resolvendo todo aquele problema.

 

            Roxas sabia que se fosse atrás de Riku naquele exato momento, dificilmente o encontraria. Não sabia se ele ainda estava vivo, nem se estava bem, e nem se já tinha atravessado a fronteira, o que piorava as coisas mais ainda. Claro que queria ir atrás dele, mas Roxas jamais tinha se afastado daquela região, e com uma probabilidade tão pequena de encontrar o príncipe, não valia a pena.

 

            O melhor mesmo a fazer seria esquecer o ocorrido e guardar Riku na memória como apenas um amigo que conheceu uma vez num lugar. Sim, seria o melhor a fazer, mesmo que doesse um pouco.

 

 

            Roxas passou o restante daquele dia (ou noite) em casa, arrumando o estrago por causa da discussão do dia anterior e cuidando de seu ferimento por ter quebrado a janela. Foi dormir cedo e, mais uma vez, não teve sonhos.

 

            Na manhã seguinte retomou a rotina de cuidar da fazenda. As cabras já começavam o ritual de acasalamento, os pássaros não paravam de cantar e as hortas serviam frutas e legumes com êxito. Por isso que a primavera era a estação preferida do loiro. Não que isso ajudasse a mudar seu humor, que estava meio imutável ultimamente, sempre frio, sempre olhando tudo com descaso.

 

            Cuidar da fazenda tinha virado apenas cuidar da fazenda. Ele nem sequer conversava mais com as plantas e com os animais, mas o próprio loiro mal parecia notar isso.

 

            Naquele mesmo dia, ao entrar em casa para se preparar para dormir, ele notou o restante da armadura que Riku deixara ali. Pensando, deveria valer umas boas moedas de ouro, e embora não pertencesse a ele, Roxas tinha certeza de o príncipe a deixara propositalmente ali. Então por que não aceitar o presente? Ele estava precisando de dinheiro, de qualquer forma.

 

            Tanto que no outro dia ele foi até a cidade e vendeu a armadura, ganhando uma boa grana e comprando umas coisas a mais para a casa e até alguns pães especiais, sementes e o melhor de tudo: Doces diretos da padaria.

 

            E assim passou-se mais um mês de pura rotina.

 

            Para aqueles que não sabem, neste universo alternativo, cada mês tem trinta dias completos, e as estações, ao invés de serem formadas por três meses, duravam apenas um. Ou seja, durante um ano, que tinha doze meses, tinha quatro invernos, quatro primaveras, quatro verões e quatro outonos.

 

            Chegou o verão, e tão logo quando chegou, ele se foi.

 

            Roxas já não fazia mais tanta questão de sentir-se ou não só. Tinha se acostumado novamente, embora de vez em quando ainda admitisse sentir falta da presença do príncipe.

 

            A rotina tinha diminuído o peso em seu peito, e ele frequentemente ia a Twilight Town, fosse para ver os festivais ou por não ter mais nada do que fazer na fazenda. Sim, tinha saído à procura de outras presenças que não fosse a do príncipe, e até encontrara algumas femininas, mas nenhuma que lhe interessasse.

 

            Durante esses sessenta dias sem Riku, a única coisa que permanecera imutável foi a falta de sonhos. Desde que o príncipe se fora, Roxas não tinha mais conseguido sonhar. Não conseguia nem ter aqueles sonhos bestas que você nem se lembra depois, mas pelo menos tem a certeza que sonhou. Bem, ele não tinha mais esse luxo.

 

            Mais outro mês passou e chegou o outono.

 

 

            Roxas estava limpando o pequeno galpão onde as cabras ficavam a noite quando ouviu uma espécie de chamado vindo da entrada da fazenda, que era aquele “arco” quase caindo, de madeira.

 

            Vestindo apenas uma calça grossa e carregando uma pá sobre o ombro (para que não tivesse que remover todas aquelas fezes com as mãos), ele saiu do galpão e olhou em direção ao arco, cobrindo o rosto com uma das mãos por causa do sol.

 

            Uma silhueta estava bem na entrada, montada num cavalo aparentemente impaciente. O loiro se aproximou, curioso por saber quem tinha vindo lhe visitar. O cavaleiro desceu do animal e caminhou em direção ao outro, parando a poucos metros.

 

            Era um rapaz, um pouco mais velho que ele pela aparência, com uma estatura alta e corpo esguio. Seus cabelos eram estranhos, de um loiro mais escuro, tendo um corte que Roxas nunca tinha visto na vida. O cavaleiro sorria animadamente.

 

            -Quem é você?-Roxas perguntou, colocando a pá no chão e olhando o outro nos olhos, que por sua vez exibiam um tom de azul esverdeado.

 

            -Suponho que você seja Roxas, certo? Não vai me convidar para entrar em sua... Fazenda?-O cavaleiro falou, observando a propriedade, mas sem querer ser mal-educado.

 

            -Não conheço você, então como espera que eu o convide para entrar na minha própria casa?

 

            -Hum... É, você tem razão, mas acho que gostaria de ouvir o que eu tenho a dizer. É sobre um certo príncipe.

 

            Roxas engoliu em seco e piscou os olhos um pouco mais. Riku?! Já fazia tanto tempo que não tinha notícias dele que imaginou que já tivesse se tornado rei. Mas... Se aquele cara estava ali para somente dizer algo sobre Riku, ele devia ter passado pela fronteira e tudo o mais... O que significava que era algo importante... Mas, o que seria tão importante? Uma vez que Riku nem deveria mais manter ligações com Roxas?

 

            O loiro assentiu e se postou de lado, estendendo um braço em direção ao interior da propriedade e permitindo que o cavaleiro entrasse e ele, puxando seu cavalo, adentrou a fazenda e amarrou seu animal próximo ao galpão.

 

            Logo ambos estavam na cozinha de Roxas. O loiro esquentava leite de cabra para beber enquanto o outro olhava, meio estupefato, para tudo ao seu redor. Não parecia ser muito acostumado às coisas mais simples da vida.

 

            Quando o leite ficou numa boa temperatura, Roxas pôs a bebida em canecas e se sentou a mesa, servindo também o “convidado”.

 

            -O que você tem para me dizer?-Perguntou o fazendeiro, sério demais para tomar sequer uma golada em sua caneca.

 

 

            -Bem, como manda a etiqueta, devo me apresentar. Meu nome é Demyx. Sou de The Kingdom e sirvo diretamente a Riku, tanto como “amigo” como servo mesmo. Meu objetivo em vir aqui foi somente lhe transmitir um pedido de Riku e, se você aceitar, devo escoltá-lo até seu destino em total segurança, mas não se preocupe, sou um profissional competente.-O cavaleiro falou, rindo da sua própria piada.

 

            -Pedido? Do que está falando?

 

            -Ah, sim. Riku perguntou se você não aceitaria em deixar essa sua mini-fazenda para morar com ele no castelo, uma vez que em menos de duas semanas, ele se tornará rei.

 

 


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Notas finais do capítulo

Bem, aqui está mais um chap pra vocês, meus queridos leitores, e mais uma citação daquele que virou meu poema favorito *¬*
Enfim, espero que tenham gostado, e mesmo se não tiverem gostado, vocês podem mandar uma review dizendo em quê eu preciso melhorar, pois é claro que eu aceito críticas (construtivas, veja bem).
Espero também que vocês não estejam sentindo falta do Axel... Porque não sei se ele vai aparecer no próximo chap... Ou no próximo... Ou no próximo...
Enfim, deixem reviews, Okay? *.*
KISSES!



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