Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 93
Vida 6 capítulo 12




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Como não podia deixar de acontecer, a chegada de uma ambulância e a movimentação de policiais dentro e ao redor da casa dos atores chamara a atenção dos vizinhos. Para sorte de Dean, as casas daquele bairro eram amplas, muitas ocupavam toda uma quadra, e, portanto, o número de vizinhos era pequeno.

E, por serem gente de dinheiro, eram ciosos defensores de seu próprio direito à privacidade. Não queriam ver seu mundinho perfeito invadido pela mídia. Ninguém ali ia sair correndo para chamar a imprensa. Mas, quem resistiria a contar o ocorrido numa rede social?

Logo aquelas pequenas notas se espalhariam em ritmo exponencial e ganhariam o mundo.

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A capacidade de sedução da sereia reduzira a rejeição natural da vizinhança contra os atores estrangeiros vistos como intrusos naquela comunidade tradicional. Dez anos de carreira não os livravam, aos olhos dos vizinhos bem-nascidos, de serem incluídos no rol das celebridades instantâneas, vivendo seus quinze minutos de fama.

Os vizinhos homens não tinham dúvidas quanto ao significado de dois homens de posses morando juntos. E não viam com bons olhos aquela proximidade de suas famílias. Preocupavam-se por seus filhos adolescentes. Alguns, com razão.

Um sinal de alerta era quando passavam a acompanhar a série. Alerta vermelho quando deixavam de sair para assistir um capítulo inédito. Daí a buscarem se aproximar dos atores era um passo curto. Pelo menos, dois casos eram de conhecimento da vizinhança. Num deles, o garoto passara a assediar Jay Padalecki tão descaradamente que a família achou melhor despachá-lo para o outro lado do país.

As mulheres duvidavam da existência de um envolvimento amoroso entre os dois atores, contra todas as evidências. Não podia ser verdade. Homens como aqueles, exalando masculinidade. Quase todas passaram a acompanhar o seriado e, secretamente, suspiravam pelo estilo macho sensível de Sam e pelos músculos e pelo abdômen definido que o charmoso vizinho Jay exibia ao correr todas as manhãs, sempre tão simpático e atencioso com todos.

A sereia se mostrava simpático não só com os vizinhos endinheirados, mas, também com os empregados das casas vizinhas. Todos tinham uma história do quanto Jay era adorável, do quanto era alegre, do quanto era incapaz de fazer mal a quem quer que fosse. Jay era uma unanimidade. Mesmo quem tinha reservas, mudava depois de conhecê-lo. Todos gostavam dele.

Jansen era reservado e arredio e, portanto, não havia uma unanimidade quanto a ele na vizinhança. As opiniões se dividiam entre os que o achavam antipático e os que o achavam arrogante. Claro que havia os que o achavam antipático e arrogante.

Jansen somente virou unanimidade quando a morte de Jay Padalecki se tornou do conhecimento geral. Todos ficaram contra ele. Todos o julgaram culpado, mesmo sem conhecerem as circunstâncias do crime. Se aparecesse novamente ali, corria o risco de ser linchado.

As opiniões dos vizinhos seriam amplamente divulgadas pela mídia nas semanas seguintes e ajudariam a colocar toda a opinião pública contra Jansen.

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A manchete do jornal mais popular da cidade, o tablóide The Province estampava na primeira página a manchete antecipada pelo Trickster: Astro de Supernatural mata a facadas ator que interpreta seu irmão na série. Mais detalhes sobre o crime passional nas páginas centrais. O tablóide se alongava nos mexericos que dominaram a semana anterior e omitia completamente a participação de Chad Murray no caso.

O conservador The Vancouver Sun fora menos espalhafatoso no destaque ao crime, mas, ao lado de notícias sobre as eleições presidenciais norte-americanas e de mais um atentado a bomba no Iraque, estampava a foto em close de um sorridente Jay Padalecki abaixo da chamada Ator americano assassinado em Vancouver. A descrição do crime era fria, quase técnica. Mas as insinuações de crime passional apareciam nas entrelinhas.

Nas redações de publicações de todos os tipos e formatos, discutiam-se pautas que remetiam diretamente ao assunto mais quente do momento: o provável relacionamento homossexual entre dois atores mundialmente famosos que terminara em crime passional.

O assunto permitia todo o tipo de abordagem e prometia render por muito tempo. Era até bom que o assassino estivesse foragido. Garantia fatos novos até na ausência de fatos novos e uma abordagem diária. Quem sabe um reality da perseguição policial ou da vida de Jan Ackles atrás das grades?

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Antes mesmo da notícia aparecer na grande imprensa, o assassinato de Jared já incendiava o fandom do seriado, criando facções apaixonadas com posições radicalmente diferentes. Mesmo estas facções, logo se dividiriam e opiniões chocadas sobre o crime real se misturariam com fantasias alucinadas.

Todos eram fãs do seriado e dos atores, mas alguns gostavam mais de Dean / Jan e outros de Sam / Jay. E, agora, Jan era o assassino e Jay a sua vítima. Todos tinham sua própria explicação para o que acontecera e, para a esmagadora maioria, no centro de tudo estava Dani Harris. Pobre Dannielle, do nada passara a ser odiada pelos dois grupos. Como se tivesse sido ela, e não Jan, quem esfaqueou Jay.

A idéia de crime passional se generalizara. Os fãs haviam passado a semana escutando notícias sobre o romance entre Jan e Dani Harris. E, mesmo antes do final trágico, a maioria já torcia o nariz para ela, uma intrusa no mundo perfeito que os fãs criaram para Jan & Jay, fosse como amigos, fosse como amantes.

Poucos eram os que mantinham o equilíbrio e defendiam uma investigação isenta e a aplicação da lei ao final do rito jurídico.

Havia os fãs apaixonados de Jay Padalecki. Estes passaram a dirigir um ódio mortal a Jan. Ele era o culpado. Ele criara o problema. Queriam ver Jansen preso e condenado à morte na cadeira elétrica. Depois de ser espancado e estuprado na cadeia, naturalmente.

Os fãs de Jan Ackles pareciam achar que as leis não deviam se aplicar a ele. Não aceitavam a hipótese de que fosse preso. Negavam o crime. Havia até quem começasse a não distinguir mais entre realidade e fantasia e defendesse Jan com argumentos esdrúxulos, aventando que talvez Jan tenha agido em legítima defesa depois que Jay o atacara possuído por um demônio. Ou mesmo que Jan matara não Jay, mas uma criatura sobrenatural que o estava personificando.

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Os seguranças do estúdio haviam sido instruídos a não permitir a entrada de absolutamente ninguém estranho ao estúdio, mesmo que acompanhado de um funcionário. A idéia era barrar a entrada da imprensa no estúdio até que todos escutassem diretamente dos produtores o que era e o que não era verdade sobre o que saíra publicado nos jornais. Os seguranças também deviam intervir sempre que a imprensa tentasse forçar a barra para entrevistar quem entrasse ou saísse.

O burburinho era grande no galpão onde era filmado o seriado. McG optara por falar tendo como fundo o cenário do quarto de motel, um cenário presente em praticamente todos os episódios. Era um lugar onde a presença de Jan e Jay era quase palpável. McG e Robert Singer eram diretores, especialistas em manipular emoções. Precisavam extrair da equipe o compromisso de preservarem ao máximo o estúdio do escândalo que a imprensa ia fazer de tudo para alimentar. Iam explorar até o medo que todos tinham que o seriado fosse descontinuado.

– Amigos, infelizmente o que vocês escutaram é verdade. É verdade que Jay Padalecki está morto. É verdade que ele foi assassinado em casa com uma facada no peito. É verdade que Jan Ackles foi indiciado como o principal suspeito e está foragido. Estamos todos perplexos. Vocês devem estar se perguntando também sobre o destino da série e dos empregos de todos. Quanto a isso, não temos uma resposta ainda.

O burburinho voltou ainda maior. Jay era muito querido. Muitos choravam.

– Nós todos convivemos aqui mesmo com Jan e Jay. Acho que nunca passou pela cabeça de ninguém que algo assim pudesse acontecer. O que estamos pedindo é que ninguém se apresse em tirar conclusões e, principalmente, que ninguém se apresse a dividir suas opiniões com a imprensa. Vamos esperar o resultado das investigações.

– O enterro deve ser no fim da tarde, depois do corpo ser liberado. Hoje não há clima para mais nada. Estão todos dispensados. Por favor, nada de contatos com a imprensa. Isso vale para todos. Lembrem-se que ninguém aqui ganha nada alimentando esse escândalo. Só torna mais incerto o destino da série.

Os comentários e o clima eram de revolta contra Jan. Pelo que fizera a Jay. Pelo que fizera com todos. Pela forma como ferrara com tudo. Todos seriam afetados pela paralisação das gravações. Tinham contas a pagar e um futuro incerto pela frente. Jan não enfiara uma faca apenas no peito de Jay, enfiara uma faca no peito de cada um deles.

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McG achava que dava para seguir em frente com outros atores. O tema não era o sobrenatural? Porque os irmãos não podiam acordar e descobrir que estavam com outra aparência? Ia propor essa solução a Kripke. Já tinha até os nomes em mente: Paul Wesley para Dean e Hayden Christensen para Sam.

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Dean acompanhou de longe o enterro da criatura, disfarçado no meio da multidão de fãs e curiosos. Estava um fim de tarde frio e chuvoso, e o grosso casaco com capuz o ajudou a passar desapercebido. Não viera pela criatura. Sabia que, se não tivesse sido detida, mais cedo ou mais tarde ela daria cabo de Jan Ackles. E que não pararia nele. Viera pela família de Jay Padalecki e lhe doeu ver o sofrimento deles. Gostaria de poder aproximar-se dos pais de Jay e garantir-lhes que traria seu filho de volta, mas a verdade é que duvidava que Jerod ainda estivesse vivo.


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Notas finais do capítulo

30.04.2011
Qual seria sua reação se isso acontecesse na vida real: um lance mal explicado que terminasse com Jensen matando Jared?