Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 94
Vida 6 capítulo 13




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Chad recobrou a consciência e a primeira coisa que sentiu foi o incômodo do respirador em sua boca e da injeção de soro com antibióticos na veia de seu braço direito. Ao tentar se erguer, sentiu uma dor localizada ao longo de toda a linha de pontos da sua garganta, onde esta foi tracionada. Resignado, voltou à posição original.

Estava vivo. VIVO. Mal podia acreditar. Lembrou do medo que sentira. Medo de morrer. A pior sensação de toda sua vida. Estava amarrado e amordaçado. Totalmente indefeso. Lembrou dos olhos frios de Jansen e da forma brusca como ele puxou sua cabeça para trás, expondo seu pescoço à lâmina afiada. Lembrou da lâmina sendo pressionada contra sua pele e da dor do corte. Jansen tentou matá-lo. Bem, ele também tentara matar Jansen. Tocara a campainha e o atacara. Também não lhe dera chance de defesa.

Como chegara àquele ponto? Tentar matar um homem. Diziam que era rebelde e indisciplinado. Mas nunca passara pela sua cabeça ferir ninguém. Muito menos matar. O que dera nele para vir de Washington decidido a matar Jansen. Vendo as coisas agora, não pareciam fazer nenhum sentido.

Não era certo o que Jansen fizera com Jay, mas também não justificava algo tão extremo. As pessoas se amam e um dia o amor acaba. É triste, mas é assim. A vida continua. Jay ia refazer sua vida, mesmo que sofresse por um tempo. Era assim com todo mundo. Ele não tinha nada de ter se intrometido. Talvez, se não tivesse se intrometido, Jay ainda estivesse vivo. Lágrimas começaram a escorrer pela sua face.

Da posição em que fora amarrado, não vira Jay ser esfaqueado. Somente escutara o diálogo entre Sarah Gamble e Jansen. Pelo menos o início. Enquanto os dois discutiam, se sentiu fraco pela perda de sangue e sua vista escureceu. Agora estava ali, numa cama de hospital. Vivo. Jay não tivera essa sorte. Jay estava morto. Jansen o matara.

Pensara ter ouvido Jay falando coisas horríveis. Não, não acontecera. Fora só um sonho ruim. Jay jamais diria qualquer coisa do tipo. Jay era seu amigo. Seu melhor amigo. Sentia-se cansado. Muito cansado. Fechou os olhos e voltou a adormecer.

.

.

Muitas horas depois, acordou ainda se sentindo meio tonto. Então, escutou uma voz feminina que, a princípio, ele não reconheceu, vinda de fora de seu campo visual.

– Chad? Você está bem?

‘– Dani?’ Chad tentou expressar sua surpresa em palavras, mas continuava com o respirador sobre a boca e a mera tentativa de falar fez com que sentisse fortes dores em toda região do pescoço.

– Não tente falar nada. O médico disse que ainda vai levar alguns dias até você poder pronunciar sons sem sentir dor. E mais um tempinho até estar falando normalmente. Mas, fique tranqüilo, não houve danos permanentes. Suas cordas vocais não foram afetadas.

A expressão de Chad ao segurar com força a mão de Dannielle era a de quem chegou à superfície em busca de ar. Seus olhos falavam por ele. Queria que ela falasse de Jay. Era mesmo verdade? Jay estava morto? O assassino já estava preso?

– Chad, tem mais alguém aqui comigo. Ele quer falar com você. Não tenha medo. Ele não vai lhe fazer mal.

– Oi, Chad.

Ao escutar àquela voz, Chad sente um curto-circuito no cérebro. O pavor o paralisa. JANSEN. Viera completar o serviço. Viera matá-lo. Como matara Jay. Chad tenta se afastar, mas é imobilizado contra a cama pelo peso do corpo de Jansen sobre o seu. Maldito assassino. Se ao menos pudesse gritar por socorro .. Se não estivesse se sentindo tão fraco ...

– Calma, Chad. Calma. Não vou fazer nada com você. As coisas que eu fiz... Eu não estava no controle dos meus atos. Acredite em mim. Por favor. Eu vou libertá-lo. Por favor, não tente nada. Não antes de me escutar. Ok? Promete? Eu vim conversar com você.

Jansen dá a volta na cama de forma a entrar no campo visual de Chad. Chad teria caído na gargalhada se não estivesse tão assustado. O que era aquilo? Os olhos absurdamente pintados, como os de um faraó egípcio. As costeletas exageradas, diretamente do visual do Priestley, de Ten Inch Hero. Vários falsos piercings: na boca, nariz, sobrancelha e orelha direita. O cabelo. Que cabelo era aquele? Os cabelos de Jansen eram curtos. Ele só podia estar de peruca. O tom cor de trigo não era muito diferente da cor natural do cabelo de Jansen, mas o corte parecia ter sido feito por um Edward Mãos de Tesoura com Mal de Parkinson. Picotado de forma absurdamente assimétrica, com diversas mechas azuis, uma mais longa caindo na cara. Parecia um personagem saído de um anime.

– Não é para ter medo de mim, mas também não precisa debochar. E lembre-se que você não pode rir.

E, voltando-se para Dani Harris:

– Dani, fique no corredor e não deixe ninguém entrar. Eu preciso conversar com o Chad.

Chad volta a ficar inquieto. Não confiava em Jansen. Nunca confiara nele.

– Chad, eu não matei Jerod Padalecki. Aquele não era Jerod Padalecki. Eu SEI que não era. E, no seu íntimo, você também sabe. Está descartando o que sua intuição lhe diz por que seu lado racional acredita que é uma hipótese absurda. Afinal, fisicamente, a criatura era idêntica ao Jay que você conheceu.

Chad queria poder gritar. Voltar a chamá-lo de cínico. O que Jansen pretendia com esse papo absurdo? Passar por desequilibrado? Alegar insanidade temporária? É assim que ele pensa em se safar do crime que cometeu?

– Chad, você escutou a criatura me induzindo a matar você. Me fazendo acreditar que matar você seria prova de amizade por ela. Escutou, não escutou? Confesse para você mesmo que escutou.

Chad tenta balançar a cabeça numa negativa vigorosa, mas a dor ao mover o pescoço o impede. Novamente lágrimas queimam os olhos azuis de Chad. Mas a dor que sentia não era física. Era a dor de ser confrontado com a verdade que vinha tentando esconder de si mesmo. Dean percebe que a raiva vai dando lugar à dúvida.

– Chad, você acha possível que Jay, o seu melhor amigo, brincasse assim com a sua vida, que instigasse alguém a matá-lo? Que não fizesse nada para tentar impedir? Ele queria até que eu matasse a Dani. Está lembrado? Esse era o Jay que você conheceu?

Chad sentia sua mente dando um nó. O que era mais difícil de acreditar? Que não era Jay e que um monstro estava se passando por ele. Ou que era Jay e Jay era um monstro capaz desejar a morte dos próprios amigos.

– Pense em sua própria reação. Você chegou na casa de Jansen disposto a matá-lo. Matá-lo porque Jansen estava traindo o Jay com a Dani. Você estava sendo você mesmo naquele momento? É o que voltaria a fazer se tivesse escolha?

Dean percebe que suas palavras tinham abalado profundamente Chad. Os olhos de Chad revelam toda a sua perplexidade quanto a seus próprios atos. Suas certezas de momentos atrás, agora pareciam afundar num terreno pantanoso. Tudo o que fizera e sofrera agora parecia sujo e viscoso.

– Estamos nós dois aqui, frente a frente. Você ainda acredita que eu tenha matado Jay. Matado. Algo muito mais sério do que uma simples traição amorosa. Digamos que isso seja verdade. Que eu tenha realmente matado Jay. Você deseja me ver morto? Tentaria transformar esse desejo em realidade? Responda a você mesmo se ainda seria capaz de me matar, sendo que agora por um motivo justificável? Seria, Chad?

Chad queria dizer que sim, que queria matar Jansen para vingar o amigo. Mas, não seria verdade. Não era capaz de matar ninguém. Não apoiava a pena de morte. O que aconteceu, então? Como chegara tão perto de se tornar um assassino?

– Chad, você, como eu, foi manipulado pela criatura. Aquele não era Jay. A criatura está morta, mas talvez Jay ainda esteja vivo. Eu preciso da sua ajuda para descobrir o que aconteceu com ele. É a única forma de inocentar Jansen Ackles, mas é também é a única esperança de salvar Jerod Padalecki, o seu melhor amigo, caso ele ainda esteja vivo. Vai me ajudar a encontrá-lo?

Vozes no corredor fazem com que Dean se cale e se ponha em alerta.

– Só um minutinho, policial. Só vou ver se está acordado.

Dannielle entreabriu a porta, de forma a ter certeza que Dean escutasse a palavra POLICIAL. Ao mesmo tempo, bloqueava com seu corpo a visão que os policiais tinham do interior do quarto.

Dean gelou. Dissera o que precisava dizer, não tinha certeza se fora o suficiente para convencer Chad. Quanto tempo se precisa para convencer uma pessoa que aquele que ele pensa ser seu melhor amigo é, na verdade, um monstro mitológico, que manipula as pessoas jogando com suas emoções, exigindo delas sempre novas e maiores provas de amor? Quanto tempo para confiar, quando essa pessoa sabe que você, além de ter assassinado este melhor amigo, já o tinha quase matado um pouco antes? Se a resposta para ambas as perguntas for menos de quinze minutos, então Dean teve tempo de sobra.

.

Estavam no terceiro andar, as janelas estavam trancadas por causa do frio e não havia outra saída do quarto. A alternativa de acabar preso após os policiais derrubarem a porta do banheiro da suíte era por demais humilhante. Teria que arriscar. Rezar para que a mente de Chad se iluminasse e ele lhe desse ao menos o benefício da dúvida.

– Chad, estes senhores são policiais. Eles sabem que ainda não pode falar, mas querem saber se você tem alguma pista que os leve a Jansen Ackles.

– Sr. Murray, o senhor tem alguma idéia onde podemos encontrar o Sr. Jansen Ackles, o principal suspeito de ter assassinado o Sr. Jerod Padalecki e que, até onde sabemos, tentou matar o senhor?

Parado a menos dois metros dos policiais, que o olham com estranheza, Dean esboça um sorriso nervoso.


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Notas finais do capítulo

04.05.2011
Conheça Boaz Priestley em Ten Inch Hero
http://www.youtube.com/watch?v=0uNCj56PxPI&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=q7l7hsnu7vw