Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 92
Vida 6 capítulo 11




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O advogado do estúdio chegou a tempo de acompanhar o depoimento de Sarah Gamble. Um depoimento péssimo para Jansen, por mais isenta que Sarah tentasse ser. Ao final do depoimento, o delegado responsável pela apuração do assassinato de Jerod Trevor Padalecki pediu o indiciamento e a prisão preventiva de Jansen Robert Ackles.

Sarah deixou a delegacia e seguiu direto para a casa de Robert Singer. Erick Kripke e McG já estavam lá. Eles estavam ansiosos por ouvir de viva voz o que realmente acontecera. Ela tinha ligado para McG antes da chegada dos paramédicos na casa dos J’s, que era como McG costumava chamar os protagonistas da série.

Eles tinham que apresentar uma posição oficial a respeito dos fatos. Precisavam unificar o discurso. Ainda não explodira na mídia, mas era uma corrida contra o tempo. O emprego de todos da equipe estava por um fio.

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McG e Robert Singer concordavam que o primeiro sinal que Jansen estava diferente fora a agressão gratuita a Rick Speight Jr. Depois, a repentina paixão de Jansen por Dani Harris, tanto tempo depois de encerradas as gravações de Ten Inch Hero. Fossem verdadeiros os boatos que rolavam no estúdio, o clima entre os J’s não podia estar bom. Mesmo assim, não tinham conhecimento de nenhuma cena passional que tivesse rolado no estúdio. Se acontecera, fora entre as quatro paredes da casa deles.

Os dois também concordavam que Jansen tinha até surpreendido como ator nas últimas semanas. Interpretava com mais intensidade. Passava mais credibilidade. Estava mais verossímil no papel. Até McG, que sempre achara Jansen um ator medíocre e limitado, estava começando a reconsiderar essa impressão.

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McG tinha convocado Clif Kosterman para participar da reunião assim que tomara conhecimento do ocorrido. Clif estranhara o chamado, por vir de quem viera, mas, principalmente, por já ser tarde da noite. Entrou meio desconfiado. Tantos anos e ainda se sentia deslocado junto aos graúdos. Pensara ter vindo preparado para qualquer coisa. Não viera. Descobrir que Jan assassinara Jay caiu como uma bomba sobre sua cabeça. Não podia estar mais surpreso. Gostava dos dois. Nunca foram de estrelismos com ele. Nunca se sentiu tratado como empregado, mas como o colega ator que ele também era.

Jay estava morto. Era difícil assimilar a idéia. Os pensamentos de Clif vagaram para seus primeiros contatos com Jay. Clif estranhara de início, mas acabara se acostumando com o jeito não convencional de Jay. Jay e seus constrangedores beijos na sua careca. Na sua bochecha. A forma como puxava seus bigodes. Como apertava as gordurinhas na sua cintura. Jay era abusado. Muito abusado. Mas também era encantador. E agora ele estava morto. Assassinado por Jan. Pensou no quanto seria difícil contar para a esposa. Ela adorava o Jay. A coitada ia ficar arrasada quando soubesse. Droga. Não estava conseguindo segurar as lágrimas. Droga. Droga. Não queria chorar assim na frente dos chefões.

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Robert Singer parecia ter incorporado o tira mau dos interrogatórios de filmes policiais. Clif foi submetido a um implacável interrogatório sobre tudo que acontecera nas duas últimas semanas. Não, não havia presenciado nenhuma discussão entre os dois. Sim, notara um afastamento entre eles. Sim, percebera que Jan estava evitando ficar sozinho com Jay e que também evitava olhá-lo nos olhos. Clif se permitiu pensar que era fácil saber o porquê. Era muito difícil resistir àquele olhar. Sim, Jan passara a se deslocar usando o carro que comprara. Sim, era verdade que não tinha dormido em casa diversos dias da semana.

Clif contou do entusiasmo de Jansen e dos preparativos que fizera para receber Dani. Começando pela compra do carro. O pedido de dicas. Sim, também estranhara Jan não saber se deslocar pela cidade e não conhecer os lugares da moda. Afinal, ele já morava na cidade há três anos e, ainda que por motivos profissionais, tinha uma vida social intensa. Lembrou também que estranhara quando Jan aparentemente não reconhecera a própria casa, dois sábados antes.

Havia algo muito estranho acontecendo com Jansen. Nisso, todos concordavam. Drogas, talvez.

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Foi a vez de Sarah contar aos presentes, com o máximo de detalhes, o que presenciara na casa, inclusive com detalhes que omitira da polícia.

– Lembro nitidamente. Parece até que estou revendo a cena neste momento. Jan, com a faca suja de sangue na mão dizendo ‘– Não é o verdadeiro Jay. É um tipo de monstro.’

– Jan surtou. Incorporou Dean Winchester. Não sei se por ação de alguma droga ou de um medicamento tarja preta, mas ele só pode ter tido um surto psicótico. Não pode ter sido por ciúmes, afinal era o Jan quem estava dando motivos para isso.

– Concordaria com você se a história envolvesse apenas a Dani Harris. Mas a presença de Chad Murray bagunça todo o quadro. Jay e Chad sempre foram muito ligados.

– Jay deve ter confrontado Jan ao encontrar Chad amarrado. Talvez até sendo torturado.

– Por um lado justifica a morte de Jay. Jay é muito maior e mais forte que Jan e pode ter achado que conseguiria desarmá-lo ou mesmo que Jan não tentaria ferí-lo.

– Sim, mas porque Jan faria algo tão despropositado como torturar Chad? Ciúmes?

– Jan com ciúmes do Chad? Com toda a fama de pegador do Chad?

– Jay também surpreendeu todo mundo quando foi morar com o Jan.

– O Chad e a Dani trabalham juntos há anos. E se estivesse rolando algo entre os dois? O Chad pode ter vindo tirar satisfações do Jan.

– Essa versão é bem mais coerente. Não livra a cara do Jan, mas salva a reputação do Jay.

– A Dani vai depor. E, se o Chad sobreviver, ele vai poder esclarecer tudo. Portanto, nada de espalharmos versões tiradas de conjecturas.

– Jan cortou a garganta do Chad. Ele parecia mal quando foi levado pela ambulância. Alguém aqui teve alguma notícia dele?

– Não, nada ainda. Sarah, para qual hospital ele foi levado?

Vancouver General Hospital, creio.

– Alguém precisa acompanhar de perto a situação de Chad Murray. Deus queira que não tenhamos que lidar com mais uma morte.

– Pessoal! Alguém tem que dar a notícia às famílias de Jansen e Jerod. Eles não podem ficar sabendo de algo tão terrível pelo noticiário da TV.

– Mais essa. Alguém aqui tem os telefones das famílias?

– Eu tenho, mas não aqui. Em casa.

– Então, Clif, peça à sua esposa os números. Temos que ligar o quanto antes. E também para a família de Chad.

– Agora o mais importante. Deixar claro que tudo que aconteceu foi no âmbito da vida privada dos dois, sem qualquer relação com o estúdio, as gravações ou com qualquer outro aspecto da vida profissional deles. Ninguém do estúdio fará qualquer declaração a respeito do crime. Somente Sarah, na condição de testemunha, e, assim mesmo, somente para a polícia e em juízo. Nenhuma declaração de nenhum tipo para a imprensa. E isso inclui você, Sarah.

– Precisamos redigir uma nota garantindo nosso total e irrestrito apoio às investigações policiais e repudiando os atos de que foram vítimas Jerod Padalecki e Chad Murray. Mas evitando ao máximo qualquer menção direta a Jansen Ackles.

– Sim, nada de mencionar o nome de Jansen Ackles. Nem mesmo para defendê-lo.

– Quase não abriu a boca, Erick.

– Estava pensando no destino da série. Buscando alguma saída. Desde que soube que Jan assassinou Jay venho quebrando a cabeça para buscar uma saída. Uma forma de dar pelo menos um fecho na temporada. Uma mudança de foco, uma reviravolta, sei lá. Cheguei aqui achando que seria muito difícil reverter a situação a nosso favor, mas, escutando vocês, vejo que me enganei. Não será DIFÍCIL, será IMPOSSÍVEL. Acabou. SUPERNATURAL ACABOU.


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Notas finais do capítulo

24.04.2011