Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 52
vida 5 capítulo 1




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– Sam, deixa o laptop aí quietinho e vamos. Amanhã a gente trata disso. Eu quero ver gente viva. Dois banhos e parece que ainda estou cheirando a túmulo.

Sam olha para um pequeno despertador na mesa de cabeceira entre as duas camas de solteiro do quarto de motel. Exatamente 21:03.

– Porque esta insistência toda, Dean? Se for porque você está ansioso para perder a virgindade, eu digo que essa não é a maneira certa. Você não tem idade para freqüentar esse tipo de bar. Você fica aqui, dorme direitinho e, amanhã de manhã, a gente combina alguma coisa.

– Sam, porque está falando como se eu fosse um garoto?

Antes mesmo de completar a frase, Dean percebeu que algo estava muito errado. Sua voz perdera o característico tom rouco. Seu ângulo de visão estava diferente. Perdera pelo menos uns 15 cm de altura. Tinha os braços finos e as mãos delicadas. O corpo franzino, sem cicatrizes. Não tinha mais a tatuagem. O Trickster aprontara mais uma vez com ele.

O espelho do banheiro confirma o que já suspeitava. Voltara a ser um menino. Um pré-adolescente de 14-15 anos.

– Sam, eu posso estar parecendo um garoto de 14 anos, mas na verdade eu sou um homem de 29. Sou quatro anos mais velho que você. Eu é que sou o irmão mais velho.

Sam sente o coração apertar e seu olhar, ao mesmo tempo triste e amoroso, denuncia o que está sentindo. Pobre garoto. Sabia que ia ser difícil, mas parecia que ia ser ainda mais difícil que tinha imaginado.

– Ah, garoto. Eu imagino o que você está passando. Perder os pais de uma maneira tão horrível. Mas a negação não é melhor resposta. Você precisa deixar o sentimento de perda vir à tona. Chorar a morte deles. Sei o quanto é difícil chorar e se mostrar frágil na frente de estranhos, mas, numa situação como esta, não é nenhuma vergonha. Eu e meu irmão vamos sair, e você ..

– PERDER MEUS PAIS? Você e SEU IRMÃO? Do que você está falando, Sam? EU sou seu irmão.

Sam se aproxima, fica de joelhos na frente de Dean de forma a olhá-lo nos olhos, dá um sorriso triste e, então, o puxa para si e o abraça carinhosamente. Dean, confuso, abraça Sam com força, com muito medo do que vai escutar.

– Garoto, eu também ia adorar que você fosse meu irmão de verdade. A gente só se conhece há três dias, mas eu já gosto muito de você, irmãozinho. Você vai ser sempre um Winchester honorário. Eu prometo manter contato, mas você precisa voltar a ter uma vida normal. A ter um LAR, mesmo sendo um LAR ADOTIVO.

Dean usa as duas mãos para empurrar Sam para longe de si. Lágrimas escorrem do seu rosto e ele se sente invadido por sentimentos de mágoa e de raiva.

– Do que você está falando, Sam? Você vai me mandar para um orfanato? É isso? VAI ME ABANDONAR NUM ORFANATO?

Neste momento, a porta se abre e Adam entra no quarto. Mas não o mesmo Adam Milligan cujo corpo vira arder numa pira, umas poucas semanas antes. Não o irmão que nunca conhecera. Não o rapaz confuso de 18 anos, que, no final, se revelara como sendo o ghoul que o matara e personificara. Um homem feito, pelo menos 10 anos mais velho, expressão decidida e olhos frios. Olhos de caçador.

– Sam, eu disse que você estava fazendo tudo errado. Garoto, você NÃO PODE ficar conosco. Você teve uma pequena amostra da vida que vivemos. Dos lugares que freqüentamos. Das coisas que enfrentamos. Criaturas ainda piores que as que mataram seus pais. Não é vida para um garoto da sua idade. Eu falo com conhecimento de causa. Gostaria de poder ter dado a Sam, a oportunidade que você vai ter. A oportunidade de ter uma vida normal.

– Adam, eu SOU um Winchester. Eu SOU um adulto. Eu sou o irmão mais velho do Sam e seu meio-irmão, ou seria, se você ainda estivesse VIVO na realidade de onde venho. O Trickster é o responsável por isso. Esta é apenas mais uma realidade alternativa que ele criou para me torturar.

– O Trickster?

– É, o Trickster! Se nós nos conhecemos há apenas três dias como o Sam falou, como é possível que eu saiba da existência dele?

– É isso o que você vai nos contar agora.

Adam empunha uma faca de caça e avança na direção de um apavorado Dean, passando por cima de Sam, que permaneceu no chão, escutando em silêncio a discussão entre os dois.

– Adam, espera.

Dean desvia de Adam e se lança na direção da mesa de cabeceira, onde pega as chaves do Chevy Impala. Depois sai correndo pela porta entreaberta e não pára nem mesmo quando a toalha se solta da sua cintura. Entra no carro e sai com ele em disparada do estacionamento do motel. Adam ainda tenta alcançar o carro, mas já era tarde. O Impala já entrara na auto-estrada.

Cinco quilômetros depois, o Impala sai da auto-estrada, pega uma pequena estrada de terra e entra numa pequena clareira arborizada. Estaciona num ponto de onde não pode ser visto por quem passa na estrada de terra.

Dean mantêm o motor ligado para manter a cabine aquecida. Afinal, estava no Oregon, onde as noites eram sempre geladas, e estava completamente pelado. Seus pensamentos estavam como num turbilhão.

Nesta realidade, pelo que entendera, Adam tomara o lugar que era seu na família Winchester. Sam parecia o mesmo de sempre. Ele, Dean, era um estranho que tivera os pais mortos por uma criatura sobrenatural. Mas, que tipo de criatura? Adam e a mãe foram mortos por ghouls. Será que estava vivendo uma variação da vida de Adam?

Duas ligeiras batidas no vidro do Impala fazem Dean entrar em pânico. Como explicar sua presença ali, nú em pêlo, num automóvel, sem ter a idade legal para dirigir um. Ao ver de quem se tratava, passa do pânico ao ódio.

– Trickster. Você!

– Oi, Dean. Ainda estou com o queixo dolorido. Você não foi nada legal comigo.

– Eu devia ter MATADO você quando tive a chance.

– E ainda estaria soterrado sob os escombros do motel. Mas isso é passado. Literalmente, aconteceu numa outra vida. Você tem problemas muito mais sérios agora.

– Quais problemas? Quero dizer, quais problemas além de ter virado um garoto de 14 anos que perdeu os pais e que pode acabar num orfanato.

– Não se preocupe quanto a isso, Dean. Sam e Adam não vão mandar você para um orfanato.

– Não?

– Não. Eles vão MATAR você.

– Adam agiu como eu teria agido. Eu não devia ter fugido assustado. Agi como um garoto. Eu vou voltar e explicar tudo. Eu vou conseguir convencê-los.

– Sam, e também Adam, embora ele tente disfarçar, se sentem emocionalmente muito ligados ao jovem órfão traumatizado. Mas, neste exato momento, estão seguindo pistas que vão levá-los ao corpo parcialmente devorado do infeliz Dean Milligan. Logo, vão chegar à conclusão que não foram só os pais do garoto que foram mortos por ghouls. Vão descobrir que foram enganados e que o ghoul que matou e devorou o menino está se fazendo passar por ele. Eles vão caçá-lo e matá-lo, mesmo que você se esconda no Inferno.

– Porque esse jogo doentio, Trickster? Porque não faz de uma vez o trabalho sujo você mesmo? Com seus poderes, você pode fazer qualquer coisa. Se quer me ver morto, me mate. Mas, deixe o Sam e o Adam de fora disso tudo.

– Não quero que morra, Dean. Muito pelo contrário. Assim como também não quero que pegue uma pneumonia.

O Trickster estala os dedos e Dean se vê completamente vestido, no estilo a que está acostumado, com botas no estilo militar, um pesado e confortável casaco e até óculos escuros, que ele tira e guarda no bolso.

– Então, o porquê disso tudo?

– Um dia você vai descobrir o porquê. Não hoje.

– Trickster, escute ..

O Trickster mais uma vez estala os dedos e desaparece no ar.

Uma voz zombeteira ecoa na mente de Dean Milligan.

– É bom se apressar, Dean. Ou vai acabar morrendo VIRGEM.


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Notas finais do capítulo

S&D tomaram conhecimento da existência do meio-irmão Adam Milligan no episódio 4x19 (Jump the Shark). No episódio, S&D interagem com o ghoul. Adam já estava morto antes mesmo de chegarem na cidade.
Essa fic, como informado em v0c1, se passa em algum momento entre os episódios 3x11 e 3x16, ou seja: após o segundo encontro com o Trickster, mas antes de Dean ir para o Inferno.
Pela cronologia da série, portanto, Dean não deveria reconhecer Adam. Diana, em vida 2, não o reconheceu.
da wikipédia:
O ghoul (do inglês, pronúncia pt: "gul") é um monstro folclórico associado com cemitérios e que consome carne humana, comumente classificado como morto-vivo. Na mitologia árabe (na língua árabe, literalmente, significa demônio), sua origem, é um monstro canibal que habita debaixo da terra e outros lugares desabitados. O nome de origem da criatura é الغول (ghūl), significando demônio. O ghoul é uma espécie de gênio diabólico árabe que muda de forma. Geralmente é traduzido para o português brasileiro como carniçal.
Da língua árabe, o termo الغول, "al-ghūl", significa "o ghoul". Ghoul então é o nome de um demônio habitante de desertos que assalta túmulos, bebe sangue, rouba moedas, come cadáveres e que assume a forma de sua última presa. A literatura popular mais antiga que faz referência ao ghoul é As Mil e Uma Noites.