Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 53
vida 5 capítulo 2




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– É ele mesmo, não é, Adam?

Adam vai ao encontro do irmão mais novo e o abraça. Se ao menos imaginasse o que iriam encontrar naquele descampado, teria dado um jeito de manter Sam afastado para poupá-lo daquela visão horrenda. Sabia o quanto Sam se envolvera com o garoto. Vê-lo reduzido a uma massa sangrenta e a fragmentos de ossos era demais, mesmo para quem estava acostumado a enfrentar monstros.

Dissera pouco antes que havia criaturas ainda piores, mas poucas criaturas eram tão desprezíveis quanto ghouls. O mundo seria um lugar melhor quando tivesse exterminado o último deles.

Sam tinha prometido a si mesmo que não iria chorar e mais uma vez tinha falhado em cumprir a promessa. Ghuls absorviam as memórias ao devorar a carne. Ele não chegara realmente a conhecer Dean Milligan, somente o monstro que duplicara sua aparência. Mas se o original fosse a metade do que a cópia aparentara ser, ainda assim seria um garoto muito especial. Alguém que não merecia aquele destino horrível.

Sam sentira uma identificação tão forte com o garoto, que chegara a ficar assustado. Sabia que o certo era colocar o garoto a salvo e que isso significava mantê-lo afastado deles próprios e de seu estilo de vida heterodoxo. Mas, em seu íntimo, queria mantê-lo junto de si, para protegê-lo e compensá-lo por suas perdas. Se não estivesse seguro quanto à própria identidade sexual, acharia que tinha se apaixonado pelo garoto.

– Sam, nós vamos atrás daquele ghoul e vamos matá-lo.

– Não, Adam. EU vou atrás daquele ghoul e EU vou matá-lo. Quando lembro que abracei a criatura ..

– Ele também me enganou, Sam. Eu também acreditei que era um garoto traumatizado pela morte dos pais e carente de atenção. Acreditei que tivesse mesmo se apegado a nós, como os irmãos que sempre quisera ter. Acreditei no seu desejo de nos ter como parte de sua família adotiva. Monstro. Manipulando nossos sentimentos.

– Tivemos sorte. Ele podia ter nos matado. Demos chances para que acontecesse.

– Talvez quisesse que o levássemos para o serviço social, mesmo fazendo todo um teatrinho em contrário. Imagine o banquete que teria a disposição.

– Mas porque mencionar o Trickster? Como tomou conhecimento dele?

– O Trickster matou patifes de forma que suas mortes soassem como uma ironia ou uma brincadeira de mau gosto do destino. As mortes em La Grande não se ajustam a esse padrão. O laptop. O ghoul pode ter xeretado os arquivos.

– É possível. Mas e esta história de você estar morto na realidade de onde veio?

– Pelo que sabemos agora, me parece uma ameaça. A criatura pretendia me matar em primeiro lugar. É, Sam. Pelo jeito, ele realmente gostou mais de você.

– Conseguiu me manipular melhor, você quer dizer.

– Ele não sabe que já descobrimos o que ele realmente é. Pode tentar voltar com alguma história para nos enrolar.

– Não vou dar à criatura uma nova chance de se aproximar. Assim que o vir, meto uma bala no meio daqueles olhos verdes traiçoeiros.

– Acho que nós dois estamos precisando de uma bebida forte. E ficamos sem o Impala. Que tal uma corridinha na beira de estrada até o barzinho que fica a uns três quilômetros daqui.

– A volta é que são elas. Estou pensando em encher a cara. Estou PRECISANDO encher a cara.

– Tudo bem, mano. Eu estou aqui para segurar a barra. Se for necessário, carrego você no colo na volta.

– Obrigado, Adam. Você é mesmo o melhor irmão do mundo. Não trocaria você por nenhum outro.


O Hot Machine Bar era exatamente como os dois suspeitaram que seria. Escuro, barulhento e esfumaçado. Um longo balcão de bar, diversas mesas espalhadas, alvos para jogo de dardos, duas mesas de sinuca, uma jukebox próxima à entrada, um pequeno palco no fundo e uma movimentada escada para um suspeito segundo andar. Nada diferente das centenas de outros que freqüentavam nos intervalos entre caçadas.

Adam era mulherengo e se sentia à vontade em lugares como aquele, onde não faltavam mulheres fáceis. Sam, não. Não se imaginava num relacionamento sério iniciado num lugar como aquele. Não gostava de sexo sem envolvimento.

Mas os irmãos não estavam ali para pegar mulheres. A idéia era afogar em álcool a imagem do garoto destroçado. Uma pausa antes de reiniciaram a caçada ao monstro que o matou. Matar o monstro que se passava por um garoto inocente passara a ser uma questão pessoal.

Sam entornara três doses de uísque em menos de dois minutos e agora olhava para a quarta dose como se ela pudesse lhe revelar o mistério por atrás dos olhos verdes do garoto. O porquê de estar tão mexido.

Faith veio ao encontro dos irmãos. Afinal, tirar homens da depressão fazia parte da descrição do cargo. Mas, Adam conhecia Sam bem o suficiente para saber que aquela não era a forma do irmão resolver seus problemas. Depois de considerar se aceitava ou não ele mesmo o convite, dispensou Faith com um gesto carinhoso. Quem sabe, amanhã?

Adam era resistente à bebida. Muito mais que Sam. Mesmo assim, ainda estava na sua primeira dose e não pretendia passar da terceira. Tinha prometido ao irmão segurar sua barra. Isso significava manter-se razoavelmente sóbrio e não perder o irmão inteiramente de vista.

Adam também ficara abalado. O garoto e seus pais não foram as únicas vítimas. Ghouls vinham agindo nas redondezas há pelo menos quatro meses. Com o garoto, eram nove vítimas comprovadas. E examinar os restos semi-devorados das vítimas, era de revirar o estômago do legista mais experiente. Adam ficava abalado, sim. Mas não a ponto de ignorar uma mulher bonita. Era sua forma de manter a sanidade e seguir em frente na vida de caçador.

A mais atraente era, sem dúvida, a garota que dividia uma mesa com três rapazes que pareciam ser do time de football da faculdade local. Mas logo viu que não teria nenhuma chance com ela. Ela parecia só ter olhos para o namorado e ele também demonstrava estar muito apaixonado por ela. Sentiu uma ponta de inveja. Desejou uma relação assim para si. A felicidade dos dois lhe lembrou o quanto a vida de caçador lhe custara a nível pessoal.

Foi quando uma mulher belíssima, com um vestido que realçava suas curvas e um decote que desafiava o frio, entrou no bar e sentou numa mesa de canto. Sua entrada foi acompanhada de olhares e comentários sussurrados de todos que estavam no bar.

Uma mulher assim, de parar o trânsito, não podia deixar de atrair a atenção de Adam Winchester.

Adam tinha experiência suficiente para saber que não se tratava de uma profissional. Apesar da sensualidade que imprimia aos movimentos, a mulher tinha olhos tristes e uma expressão indecifrável. Adam adivinhou que procurava espantar carência com sensualidade.

Estranhou que nenhum homem presente no bar, muitos deles rudes e a maioria já bastante bêbada, tivesse feito qualquer manifestação mais entusiástica quando ela entrou. Vira a reação deles à entrada de mulheres muito menos interessantes. Achou que se deixaram intimidar pela sua atitude aristocrática, bem diferente do público habitual daquele lugar.

O que Adam não sabia é que, fora ele e Sam, todos naquele bar sabiam exatamente quem era Nathalie Helms e, mais do que isso, sabiam que o melhor a fazer era se manter bem afastado dela.

Adam não fazia idéia do perigo que estava correndo.


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