Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 32
vida 4 capítulo 3




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Benjamin escutou a porta se fechar e se sentiu pior ainda do que já estava. Por mais que se esforçasse, não conseguia encurtar a distância que sempre existira entre ele e o pai.


Ben era inteligente e intuitivo. Tinha um raciocínio rápido e grande habilidade dedutiva. Como o avô John podia ver padrões onde a maioria via dados isolados sem qualquer ligação entre si. Como o tio Samuel era autodidata, capaz de superar as deficiências de sua educação formal e disputar com sucesso vaga nas melhores universidades e centros de pesquisa. Como o pai, se preocupava sinceramente com as pessoas, a ponto de se sacrificar pelos outros. Pena que nenhum dos três pudera desenvolver seu potencial nesta realidade.

Ao contrário dos três, tinha um senso de humor refinado, insuspeitado por quem só o conhecia na superfície. Como por exemplo, o pai.

Dean era incapaz de enxergar qualquer destas qualidades no filho.


As mortes do irmão e da mãe desestruturaram totalmente a vida de Dean. Ele nunca se recuperou inteiramente do baque. Dean tinha dezoito anos e levou quase um ano para que voltasse a tocar a vida de forma mais ou menos normal. O que o salvou, foi o medo de também perder o pai. John afundara na bebida e, para ajudá-lo a sair do fundo do poço, Dean precisou antes reequilibrar-se emocionalmente.

E, naquele momento da sua vida, equilíbrio foi sinônimo de casamento.

Ele conhecera Lisa Braeden um ano antes da tragédia e o casamento - um ano depois - pareceu um novo começo, cheio de promessas. A promessa de ter novamente uma família feliz.

Dean poderia ter sido muito feliz com Lisa. Mas, para isso, precisava esquecer o passado e passar a olhar para a frente. Esquecer a família que perdera e abraçar a família que ganhara. Deixar Sam descansar em paz.

Lisa se apaixonara por um Dean vibrante e cheio de energia. Parte desta energia ele gastava com outras namoradas e também algumas desclassificadas. Mas ela fora paciente e fechara os olhos para muita coisa. Quando aconteceu a tragédia, ela estava ali para ampará-lo. E tivera enfim a recompensa. Tornara-se a Sra. Winchester.

A tragédia não mudara uma coisa. Dean continuava incomparável na cama. Isso ela sabia, mesmo que não tivesse muita base para fazer a comparação.

Quanto ao resto, Lisa acreditou que era apenas uma fase. O luto passaria e tudo voltaria ao normal. Dean voltaria a ser ele mesmo.

Mas Dean não voltaria a ser o mesmo homem. Passou de ativo a contemplativo. Passava horas olhando o horizonte ou as estrelas. Ou mesmo diante da TV, embora não estivesse realmente prestando atenção na programação. Lisa não via o problema porque em muitas destas ocasiões ela estava recostada a ele ou deitada com a cabeça em seu colo. Lisa confundia apatia com romantismo.

Na época, Dean ainda tinha orgulho do Impala e saia com ele mesmo que fosse para comprar pão na padaria que ficava a um quarteirão de distância. Era o início do sedentarismo que o levaria à obesidade em poucos anos.

As coisas pareceram melhorar com a notícia da chegada do primeiro filho. Dean queria que o filho de chamasse Samuel, como o avô materno. Mas Lisa sabia a quem Dean queria realmente homenagear e ela achou que não seria bom para Dean manter Sam tão presente nas suas vidas. Acabou sendo Benjamim.

Ben fora muito desejado. Quando nasceu, Dean se imaginou o homem mais feliz do mundo. Se Ben tivesse permanecido um bebê para sempre, a felicidade de Dean teria sido eterna. Até os cinco anos eram inseparáveis. Mas, à medida que crescia e adquiria sua própria personalidade, Ben mostrava um defeito de nascença insanável aos olhos do pai: não parecia nem agia como seu falecido e idolatrado irmão.

Para a infelicidade de Dean, Ben não era o Sam.

Era comum Dean confundir os nomes e chamar Ben de Sammy. A medida que crescia, isso incomodava cada vez mais o garoto. Sam era a medida de comparação para tudo. Não importa o que fizesse ou o quanto se esforçasse, Ben nunca alcançava nem a base do pedestal onde o pai depositara o irmão imaculado e perfeito.

Estava amaldiçoando o tio que nunca conhecera quando aconteceu.


E tudo aconteceu muito rápido.

Um tremor forte, porém curto, seguido de outro, ainda mais forte, que pareceu interminável.

A sensação de literalmente perder o chão, quando a estrutura do motel, comprometida já no primeiro tremor, vem subitamente abaixo. Benjamim grita chamando o pai, quando o piso se abre e as paredes e teto desabam sobre ele.


Quando a poeira baixa, um silêncio sepulcral se abate sobre as ruínas do Blue Mountains Motel.


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