Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 165
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 34




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Se existisse uma escala que comparasse níveis de poder entre homens e anjos, teríamos 1 para homens, 100.000 para anjos e 1.000.000 para arcanjos. Por nível de poder, entenda-se a parcela da energia que pode ser usada para causar um efeito externo. Sim, porque muita energia é desprendida apenas para manter o corpo em estado de repouso saudável, aí incluída a reposição celular. Manter a temperatura corporal consome uma quantidade absurda de energia. Outro tanto é gasto para movimentá-lo. Tudo isso consome energia e pode exaurir o corpo, se não for periodicamente reposta. Mas, não é desta energia que estamos falando.

Homens são seres materiais e a maior parte da energia que os compõe está imobilizada na forma de matéria. Anjos são seres espirituais. Tudo neles é energia. Muito desta energia pode ser usada para causar efeitos externos. Na verdade, toda a energia.

Um homem pode partir um tronco de madeira com mãos ou com os pés, se usar a técnica adequada. Um anjo pode fragmentar uma grande rocha com um dedo, sem nenhum esforço. Um arcanjo pode reduzir uma grande montanha a pó. Isso usando uma fração da sua energia não muito maior que a que um homem gasta numa arrancada de 100 metros rasos.

Sem contar que anjos dispõem de um trunfo adicional. O poder inerente a um anjo pode ser potencializado pelas espadas que carregam. Espadas tão poderosas que podem matá-los. Elas permitem canalizar as energias liberadas pelo anjo com extrema eficiência. Multiplicando o efeito por dez.

O Monte Ida é uma montanha impotente, com mais de 2.500 metros. Mesmo assim, não deveria ser difícil, para um arcanjo, demoli-la. Não deveria.

Mas, o Monte Ida não é uma simples montanha. É um lugar de poder, embora isso passe despercebido até mesmo de poderosos sensitivos e de experientes magos. Magia ancestral de entidades muito mais antigas que os Olímpicos oculta de homens e deuses a entrada do Submundo. O portal para o Hades. Rhea, uma titã ligada ao próprio planeta, sabia, ou não teria escolhido o local para esconder o menino Zeus da fúria de Chronos, seu pai.


Rafael desferira uma rajada devastadora, com sua espada. Mas, isso não foi suficiente para demolir a montanha. O desmoronamento que lacrou a entrada de Idaion Antron e o desabamento de túneis secundários no interior da caverna foram resultados irrisórios quando comparados com a energia despendida.

A montanha não somente resistiu à rajada, como reagiu a ela. A retroalimentação da energia fez com que corpo físico do receptáculo de Rafael entrasse em combustão. Rafael ainda tentou curar o corpo, mas foi impossível. A perda do receptáculo o fez retornar ao Paraíso. Derrotado.

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Hércules quase fora soterrado pelas toneladas de rocha que agora lacram a entrada de Idaion Antron. Ficaram alguns arranhões e muito pó por todo o corpo. Ele se limpa como pode do pó que o recobre e examina a entrada bloqueada. Nem uma fresta, por menor que fosse. Impossível alguém atravessar. Ao menos, impossível para os vivos. Invisível, um espectro atravessa a barreira de pedras, passa por Hércules e entra no portal suspenso, a caminho do Hades.

Hércules vê quando uma pedra grande e algumas pequenas se desprendem do teto e atingem a barreira de luz do projetor holográfico reforçada pelo feitiço de Idmon. As pedras são desviadas pela cúpula de luz. Respira aliviado. O projetor estava igualmente protegido. Seus antigos companheiros estavam bem menos vulneráveis do que temera. Não devia ser surpresa. Eles eram bons. Eram uma equipe. Uma equipe que ele abandonara.

Tivera um bom motivo. Hilas. Agora, um nome sem um rosto definido. O tempo borrara suas lembranças. Uma história interrompida. E que, por isso mesmo, se perpetua.

Foi mais uma vez na direção da entrada bloqueada, indeciso sobre seus próximos passos. Desobstruir a entrada e participar da batalha ou ficar e proteger os corpos físicos dos argonautas?

Então, um sobressalto. Hércules sente uma presença. Ele se põe alerta, mas seus sentidos não revelam nada de anormal. Ou melhor, percebe uma sutil diferença de temperatura no ambiente, uma queda de não mais que meio grau. Caminha em círculo. Ficava mais frio à medida que se aproximava do portal. Só então ele vislumbra. Algo etéreo começa a ficar visível a meia distância entre ele e o portal. Um espectro. O espectro de um homem.

O espectro acabara de atravessar o portal do Hades. Mas, não para entrar. Tinha saído e, à medida que se afastava do portal, torna-se mais e mais visível, embora permanecesse intangível.

– É uma honra ser recebido pessoalmente por Hρακλῆς, o dileto filho do grande Zeus.

– Sim, sou Hρακλῆς. Mas, quem é você? Como escapou do Hades?

– Sou um velho amigo de seu pai. Meu nome é Sísifo. Diga a ele que estou de volta. E que vim para ficar.

Com um sorriso zombeteiro, o fugitivo do Tártaro deixa a caverna. Hércules apenas observa. Não havia nada que pudesse fazer contra um espectro. Sísifo. Lembrou da ocasião que escutara Zeus dizendo que Sísifo era o mortal mais perigoso do mundo.

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Kälï acabara de abater mais um adversário. Agora ostentava dez espadas. Uma em cada mão. Ela ergue as espadas para o céu em desafio às hostes celestes.

Da falange de dezesseis anjos que seguira Rafael, restavam apenas seis. Dez imortais tiveram sua existência com entidades autônomas interrompida bruscamente. Onze, se contarmos Uriel. Reintegrados ao Todo. Era como encaravam o fato. O que acreditavam. Mas não sabiam ao certo.

Cada morte foi sentida e chorada na Cidade Prateada. Mas, o clima não era de luto. O clima era de preparação para uma guerra. Miguel comandaria quatro falanges, a elite guerreira da Cidade Prateada, e arrasaria Creta, se necessário, mas matariam a deusa-demônio e vingariam os irmãos que tombaram em batalha.

Zauriel e os anjos sobreviventes, já recuperados, haviam se reagrupado e se preparavam para atacar Kälï, quando foram chamados de volta. As baixas haviam sido por demais numerosas. O inimigo havia sido subestimado. Precisavam mudar a estratégia. Não cometeriam o mesmo erro uma segunda vez.

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Uma silenciosa explosão de energia irrompe no interior da caverna sem que Hércules perceba. É Gabriel, que se manifesta mais uma vez no plano material. Sem um receptáculo ele era apenas energia. Não podia se manter por muito tempo no plano material nesta forma. Ele busca por Matthew Logan. Seu receptáculo devia estar na caverna, junto aos argonautas. Pedira a Kälï que o protegesse. Onde ele estava? O que teria acontecido? Kälï ficara encarregada de proteger a caverna e a entrada da caverna desmoronara. Seus irmãos, com certeza. Temeu pelo destino de Kälï. Precisava encontrá-la. É quando percebe que está preso. A caverna é ela toda uma grande armadilha para anjos. Uma armadilha que ele próprio ajudara a montar.

Caíra na sua própria armadilha.

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Notas finais do capítulo

23.10.2012
Um capítulo curto para quebrar o jejum de semanas sem postar.
Para quem não lembra, Sísifo tem sua história contada no capítulo 14 e volta a aparecer no capítulo 21. Autólico queria tirá-lo do Tártaro.