Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 141
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 10




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81878/chapter/141

IDAION ANTRON, PLANO MATERIAL


– Sete homens e um destino.

– É bom ver que está de bom humor, Zetes. Não é todo mundo que entra no Inferno sorrindo.

– Chegou a hora, rapazes. Lembrem-se do que está em jogo.

– Tudo certo, Palemon?

– Pronto. O projetor está ligado. O que acham?

– Perfeito. Com essa redoma de proteção mística em torno do ponto onde ficarão nossos corpos, anjo nenhum vai conseguir atravessar.

– E se eles simplesmente explodirem a caverna e toda ela desabar?

– Zetes!

– É possível ou não é?

– O Zetes está certo. Talvez eu deva ficar para enfrentar meus irmãos.

– Eu mesma posso dar conta deles. Ou, pelo menos, posso morrer tentando.

– Kälï, ..

– Faça a sua parte, anjo. Eu faço a minha.

Kälï, ainda no corpo de Idmon, separa o corpo espiritual do corpo físico dos argonautas à medida que eles se deitam no chão frio da caverna e se acomodam da melhor maneira possível. Jasão. Eufemo. Autólico. Palemon. Zetes.

Bem, com Zetes foi um pouco diferente. Quando seu corpo espiritual foi retirado, o corpo físico desvaneceu retornando à forma de ar e se dispersou. Do outro lado, Zetes ficou apavorado com a possibilidade de não poder retornar a uma forma física. Kälï precisou trazê-lo de volta ao plano material e, quando o fez, seu espírito novamente condensou ar na sua forma física habitual. Tranqüilizado, Zetes reuniu-se mais uma vez aos companheiros no outro lado.

– Minha vez. Posso fazer isso sem sua ajuda, Kälï. Afinal, não é realmente meu corpo, sabe agora que eu não tenho um corpo físico. Quanto a esse que estou apenas ocupando ... Kälï, por tudo o que já fomos, peço que proteja o meu receptáculo. É um homem bom que não merece ser incinerado por conta desta nossa briguinha.

Quando o arcanjo deixa o corpo, seu receptáculo desperta, completamente desorientado. Kälï toca sua testa e o põe para dormir. Feito isso, Kälï abandona o corpo de Idmon e se manifesta como chama. Idmon recupera o controle do corpo.

– É bom poder voltar a falar. Escutem. Posso aumentar a proteção da redoma de luz dando a ela resistência equivalente à de uma cúpula de aço. Mesmo que a caverna desabe, a redoma nós protegerá.

Feito o encantamento, o vidente toma seu lugar ao lado dos companheiros.

.

IDAION ANTRON, PLANO ESPIRITUAL


Ao ter o espírito liberto do corpo, Idmon vê claramente o portal para o reino dos mortos. Tinha realmente a aparência de uma grande porta circular, do tipo de correr e se encaixar, de com um alisar coberto de símbolos místicos. Mesmo sendo de natureza espiritual, parecia ser de madeira reforçada com metal. Estava escancarada, e, aparentemente, desprotegida. A única surpresa era sua localização. No sentido vertical, próximo ao teto da caverna no ponto onde a câmara era mais larga. Enquanto observava, os espectros de dois homens atravessaram o portal. Suspirou resignado e fechou os olhos, deixando-se conduzir através dela pelo que parecia uma corrente etérea de ar.

– Aqui estamos os sete.

– Jasão, vejo que conjurou sua antiga espada.

– Sim, a espada que herdei de meu pai. A espada com que enfrentei todo um exército de guerreiros nascidos dos dentes do dragão morto por Cadmo.

– Jasão, você não chegou a usar sua espada contra nenhum daqueles guerreiros. Você seguiu o plano de Medéia e fez com que eles lutassem entre si até não restar nenhum.

– Obrigado por me lembrar, Zetes. Mas, de qualquer forma, essa era a espada que eu carregava.

– Palemon, conseguiu trazer junto seu o exoesqueleto.

– E sei que posso fazer muito mais. Vejam isso.

Palemon se concentra e surgem uma espada numa mão e uma metralhadora na outra. Concentra-se mais uma vez e surge um imenso tanque de guerra.

– Uau, Palemon. Isso é que é poder de fogo. Como você do nosso lado, não tem como não sairmos vitoriosos.

– Essa habilidade do Palemon é realmente um grande trunfo, mas não se enganem pensando que será fácil. Nossos adversários estão numa vantagem numérica astronômica. Não esqueçam que esse é o seu lugar de poder e que existem aqui seres de imenso poder. Eles também têm seus truques.

– Você não assumiu sua verdadeira forma, arcanjo.

– Não. Moldei meu corpo espiritual de forma a reproduzir a forma física de meu receptáculo. Não quero chamar mais atenção do que o necessário. Mesmo assim minha natureza não passará despercebida no Inferno.

– E está novamente com a sua espada.

– Sim. É minha companheira desde sempre. Acho que, ao ser criado por meu Pai, eu já empunhava uma espada. Zetes nunca teve a espada verdadeira nas mãos. Autólico não é o único a conhecer truques de prestidigitação.

– É essa sua auto-imagem, Zetes? Chad Murray com asas de penas douradas.

– Porque a surpresa? Eu era assim quando você me conheceu. E quanto a você, Autólico? Parece que o Idmon estava certo afinal de contas. Ou, não teria aqui a aparência de um quarentão.

– Eufemo, nem mesmo roupas?

– É como Kälï explicou. Sempre achei roupas dispensáveis, salvo como proteção contra o frio. Mais da metade da minha vida passei em alguma cama sem nenhuma roupa. Como o anjo jogou na minha cara, fui a maior parte da minha vida um fanfarrão patético. Não seria de se esperar que eu aparecesse aqui paramentado como um guerreiro.

– Você é o nosso timoneiro, Eufemo. Mostre um pouco de compostura. É você quem vai nos apontar o caminho que devemos seguir para encontrar o tal de Adam. Eu não quero passar os próximos dias olhando para o seu traseiro, mesmo reconhecendo que é muito bonito.

– Pronto, resolvido.

– Palemon, mesmo vendo, ainda acho inacreditável a facilidade com que você consegue conjurar o que quer que imagine. Como essas roupas que criou para o Eufemo.

– Elas se parecem bastante com o tipo de traje que usávamos na expedição da Argo.

– Pelo menos, é como eu lembro que eram.

– Seguimos no tanque de guerra?

– Não. Somos argonautas. Vamos em grande estilo. Vamos na Argo.

Peça por peça, Palemon usa sua excepcional memória para recriar a nave Argo em todos os seus detalhes, por mais insignificantes que fossem, embora numa escala menor, mais adequada a uma tripulação de apenas sete homens. Palemon suspira ao lembrar que a Argo original contava com mais de cinqüenta tripulantes.

.

.

INFERNO


Adam, chorando, abraça o íncubo que ele acredita ser seu irmão. Enquanto aperta o corpo do outro contra o seu, tenta proteger-se daquele comportamento que não combinava em nada com seu irmão e com tudo o que sempre foram um para o outro.

Adam tenta manter-se impassível e ignorar as obscenidades que o demônio lhe sussurra ao ouvido. Tenta ignorar a mão que o outro insiste em passar sobre seu corpo de forma libidinosa. Tenta evitar que a língua do outro atravesse a parede de seus dentes cerrados. Mas como evitar sentir-se destroçado ao ver que seu irmão amado foi corrompido pelo Inferno?

‘Sammy, o que fizeram com você? Não é você falando. Eu sei que não é você.’

Vendo que não está tendo sucesso na tentativa de excitar Adam, o íncubo afrouxa o abraço, abaixa a cabeça e anda em direção ao canto oposto da sala, onde se senta abraçando as pernas com os braços e começa a chorar. Sua face é novamente a de um garoto inocente e desamparado. Quando abre a boca, sua fala sai entrecortada por soluços e longos períodos de choro.

– Adam. Eu digo que te amo e você me rejeita? Eu fui usado, Adam. Pelas criaturas mais repulsivas que você possa imaginar. De maneiras que fazem com que eu sinta nojo de mim mesmo. Que me fazem desejar a morte. Não essa, claro. Aquela em que alcançamos a paz. Se eu estivesse vivo e passasse por um centésimo de tudo isso, provavelmente já teria me matado porque ninguém consegue continuar vivendo com esse tipo de lembrança. Quando abracei você, eu só queria lembrar o que é ser tocado com amor. Eu precisava me sentir amado. Mas, você também sente nojo de mim. E isso, eu não posso agüentar.

A cada palavra que escuta, Adam sente o coração sendo rasgado um pouco mais. Ele corre para abraçar Sam, mas o íncubo o empurra para longe.

– Você me rejeitou quando eu mais precisava do seu carinho. Agora sou eu quem não quer o seu toque. Você nunca mais vai tocar em mim. Eles vão me levar de volta, eu sei. Para ser novamente abusado por aquelas .. coisas. O melhor que você tem a fazer é me esquecer Adam. Já que não tem como me proteger, o melhor é que você me esqueça.

Aproveitando que Adam está paralisado pelo impacto daquelas palavras, o íncubo levanta e sai correndo pela porta, que se fecha com estrondo. Quando Adam alcança a porta, esta e, em seguida, a própria sala, deixam de existir. Novamente sozinho no escuro, Adam escuta pavorosos gritos de desespero. Adam não tem dúvidas que é Sam quem está gritando. E agora, é o próprio Adam que grita, com o coração destroçado por culpa e remorso.

.

.

SANTA MONICA


O dia estava amanhecendo quando Sam deixou o apartamento de Necker para dar uma corrida no calçadão em frente à praia. Sentia-se extremamente bem disposto e queria gastar um pouco daquela energia toda. O calçadão ainda estava praticamente deserto, mas era questão de tempo para a orla inteira ficar lotada de gente animada e de bem com a vida.

Santa Monica atraia gente bonita e Sam sorriu ao ver que uma bela morena que se aproximava rapidamente, correndo na direção oposta à sua. Ao lado da morena, um belo e esbelto labrador de pelo quase branco. Aparentemente, ela levava o animal para fazer exercícios.

Ao se cruzarem na pista, Sam começou a correr de costas, emparelhando com a garota e usando o seu melhor sorriso para ganhar a atenção dela. Ela não resistiu e abriu um grande sorriso, reduzindo o passo até parar. Sam, ainda correndo de costas, deu toda uma volta ao redor da garota e, sempre sorrindo, se abaixou para fazer um carinho na cabeça do cão.

Estava se achando tão senhor da situação que levou um enorme susto quando o cão rosna e começa a latir sem parar. O susto foi tão grande que Sam cai sentado e recua naquela posição mesmo, apoiado nas mãos.

O latido do cão quebra o encanto hipnótico de Necker e Sam lembra. Lembra de Necker na lanchonete, de como ele o atraiu para o mar, de como o enganou fazendo-o afogar-se, e de como, desde então, vinha usando de comandos verbais para controlá-lo. Por último, veio a sua mente a imagem que viu enquanto afundava, depois antes de desfalecer. Agora sabia que tipo de criatura Necker realmente era. Um homem-peixe, um merman.

A garota primeiro ficou surpresa, mas depois caiu na gargalhada, quando Sam, depois de quase um minuto em que ficou imóvel, com o olhar distante e cara de apalermado, saiu correndo em disparada, sem trocarem uma palavra.

Sam corre até o apartamento, usa sua chave para entrar o mais silenciosamente possível e abre lentamente a porta do quarto onde Lars Necker dorme tranqüilamente. Volta a fechá-la e passa a revistar o apartamento em busca de mais informações sobre seu captor. Sim, porque não tinha dúvidas que Necker o estava mantendo ali contra a sua vontade com alguma intenção maligna. Para sua surpresa, encontra a faca de Ruby. A faca capaz de matar demônios.

Sam empunha a faca e, de cara fechada, segue na direção do quarto do Necker, disposto a matar o monstro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

26.02.2012