Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 104
vida zero epílogo capítulo 1




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HOT MACHINE BAR, LA GRANDE, OREGAN

- É até difícil de acreditar. É muito bom estar de volta. É muito bom ter você de novo ao meu lado, Sam.

- Eu sei. É a terceira vez que diz isso desde que voltou.

- É porque eu estou realmente contente ... depois de .. tudo o que eu passei ... eu .. ah, deixa pra lá.

- Também fico contente de estar aqui com você, Dean. Mas, como já disse, no que me diz respeito, você nunca saiu do meu lado. Nós estivemos aqui, ontem, neste mesmo bar, sentamos nesta mesma mesa, você saiu daqui acompanhado da namorada do capitão do time de football da universidade, transaram, eu voltei a pé para o motel, chegando lá dei de cara com o Trickster se fazendo passar por mim, você já estava lá, bateu boca com o Trickster, ele desapareceu no ar, já era tarde, estávamos cansados e fomos dormir. Acordamos mais cedo que o normal, procuramos o dia inteiro por alguma pista que nos levasse ao FDP e nada. Um dia inteiro perdido. Estávamos nos aprontando para vir para cá, tomar umas cervejas e relaxar, quando você ficou estranho. Me abraçou, queria que eu contasse coisas que provassem que eu era eu mesmo. E só agora está me contando que passou semanas vivendo outras vidas em outras realidades.

- Foi isso, Sam. Não estou louco. Eu lembro perfeitamente de viver vidas diferentes em sete realidades. Sete vidas. Difícil dizer qual foi a pior. Não que tudo tenha sido ruim. ... - Houve alguns bons momentos.

- Bons momentos patrocinados pelo Trickster? ISSO é algo difícil de acreditar.

Dean se calou e assumiu um ar introspectivo. Danneel. Deu um sorriso amargo ao lembrar-se dela. Sabia que jamais a veria de novo. Acordara de madrugada, após poucas horas de um sono agitado, em que sonhos e lembranças se misturavam. Tinha muitas perguntas e sabia que não existia ninguém no mundo capaz de respondê-las. Somente o Trickster, ou nem mesmo ele. Pesquisara na internet enquanto Sam dormia. Não existia nenhuma atriz chamada Danneel Harris no mundo que chamava de real. Nenhum Jensen Ackles. Nenhum Jared Padalecki. Ou, quem sabe, aqui eles fossem personagens de ficção de algum seriado que ele nunca assistira.

Sam observava o irmão, em silêncio. Desde que voltara, ele mal o olhava nos olhos. Conhecia o irmão bem o suficiente para saber que ele estava envergonhado e que não adiantava insistir para que contasse suas experiências nestas outras realidades. O Trickster disse que ia mudar o jeito machão do irmão. O que o desgraçado fizera com Dean? O irmão parecia quebrado. Não tinha dúvidas que o Trickster fizera Dean passar por maus bocados, por situações constrangedoras. Ou algo pior. Queria dar-lhe apoio, mas sem parecer que o estava pressionando a se abrir-se.

- Ele disse mais de uma vez que tudo aquilo, aquela jornada por assim dizer, era para que eu APRENDESSE algo. Que eu não voltaria até que aprendesse.

- Ele quem? O Trickster?

Dean confirmou com a cabeça, sem encarar Sam.

- E aprendeu?

- Não sei, Sam. Ele nunca disse o que esperava que eu aprendesse.

- Dean, você não precisa me contar nada que não queira. Eu estou aqui. Sabe que pode sempre contar comigo.

- Posso mesmo, Sam? Na última destas sete realidades, você - uma versão de você - me deixou quase morrer de sede, fome e frio e depois apontou uma arma para a minha cabeça e simplesmente atirou.

Sam escutou, chocado, aquela revelação. Havia mágoa na voz de Dean. Havia uma dor profunda. Mas não justificava o que ele acabara de fazer. Dean o estava culpando por algo que, tinha certeza, jamais faria.

- Dean, eu nunca faria uma coisa destas com você.

- Sempre achei que não. Que você nunca se permitiria ser dominado pelo mal. Mas meu tempo está acabando, Sam. O pacto que eu fiz. Em poucas semanas, eu vou ser levado para o Inferno. Prometa que não vai vender a alma para me trazer de volta. Prometa. Não se torne nunca o homem que eu conheci naquela realidade.

- Dean, nada disso aconteceu de verdade. Foi uma ilusão criada pelo Trickster.

- Não, Sam. Não foi uma ilusão. Aqueles mundos existem. E devem existir outros, muitos outros. Nós existimos em alguns, mas não em todos. Num destes mundos, nós dois somos apenas personagens de um seriado de TV.

- Tá brincando!

- Não, é sério. Nesta realidade, eu fui parar no corpo do ator que interpretava Dean Winchester. Uma sereia havia matado e assumido a forma do ator que interpretava você. Eu matei a sereia, mas é ele quem vai passar o resto da vida sendo caçado pela polícia. Sabe-se lá porque o Trickster fez com que ele passasse a ter a minha aparência. Acabou que eu estou aqui e ele, que não tinha nada a ver com a história, perdeu pra sempre a identidade, a carreira e a vidinha segura e confortável que tinha. E eu não consigo deixar de me sentir culpado por isso. O Trickster ferrou com a vida do sujeito de uma maneira tão completa, que eu não sei se um dia ele vai conseguir se reencontrar.

- O Trickster sabe pegar pesado quando quer.

- Isso não foi nem de longe o pior que ele fez.

Dean pensou em sua versão travesti. Agora, lembrando com calma, podia ver mais claramente o quanto aquele Sam se envergonhava do irmão. Embora ele falasse o tempo todo em respeito e aceitação, sua linguagem corporal gritava o contrário. Se a vida de caçador já era difícil para ele próprio, que tinha o amor de Sam para fortalecê-lo nos momentos difíceis, o quanto deveria ser difícil para aquele outro Dean, criado afastado do irmão. Desprezado pelo mundo por uma obsessão que não conseguia controlar. Quanto tempo até que quebrasse?

Quando deixara aquela realidade, aquele Dean acabara de ter as roupas rasgadas e arrancadas. A calcinha que usava havia sido esfregada em sua cara. Eles eram muito fortes. Mais até que imaginou que fossem. Entrara em pânico. Ele estava no chão, totalmente imobilizado por três brutamontes que em nenhum momento esconderam a intenção de estuprá-lo. Estremeceu só de lembrar daquelas mãos tocando o corpo que ocupava. E dificilmente ficaria só nisto. Eles certamente o espancariam, talvez até a morte, ao final de tudo.

Ainda não tivera tempo de lamentar o destino daquele seu outro eu. Vivera a vida daquele Dean por vinte e quatro horas e foram vinte horas de pesadelo. Escapara no último segundo. Seu outro eu não tinha para onde fugir. Foram suas ações que levaram o outro para aquela cela. Mais culpa sobre seus ombros.

Dean foi arrancado de suas divagações pela entrada ruidosa da versão desta realidade do mesmo trio de skinheads que o aterrorizara naquela cela de prisão. Não precisava se virar para saber que eram eles. Reconheceria aqueles três até pelo cheiro.

- Paz, galera. Saudações de Big Jay. Garçonete! Uma rodada de cerveja pra mim e pros meus amigos.

Sam notou que Dean ficou pálido. Notou que sua mão tremeu ao levar o copo à boca. Dean estava com medo. Nunca vira antes o irmão com medo de quem quer que fosse. No entanto, Dean se encolhera e parecia querer desaparecer dali. De onde será que Dean conhecia aqueles sujeitos?

Era evidente para qualquer um que aqueles três estavam ali para arranjar briga. E brigas costumam invariavelmente terminar em noites na cadeia. Dean começa a suar frio quando a mão de Big Jay pousa em seu ombro.

- Aceita beber comigo, garoto bonito?

No fundo do salão, Gabriel, invisível, observa a cena com interesse. O que ia acontecer ali, naquela noite, selaria o destino de Dean e de toda a humanidade. O destino do mundo dependia das ações e decisões que Dean tomasse antes da meia noite. Ou um homem morreria e, com ele, toda a esperança de salvar a raça humana da extinção.


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Notas finais do capítulo

02.07.2011

Dean relembra as situações que passou em vida 1 (Dean cross-dressing preso na mesma cela de 3 supremacistas brancos), vida 6 (Dean no corpo de Jensen Ackles) e vida 7 (Dean tetraplégico e mutilado indefeso frente a um Sam que vendeu a alma)