Todolist escrita por AnaBorguin


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Aí está! A postagem foi totalmente atrapalhada pelo feriado, sorry x_xAh, se quiserem, deixem perguntas ou coisas assim nas reviews, o Nyah! tem um sistema de resposta dos autores o/. Capítulo não muito grande u_u 



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- Mas você já tem que ir embora? – suplicou.

- Estou atrasado pro trabalho – levantei-me da cama recolhendo as minhas roupas do chão. – Chef Loui me avisou que mais um atraso e estarei demitido.

 - Você não deveria trabalhar lá – Frank disse puxando as cobertas cobrindo sua cabeça.

- Já falamos sobre isso... Não tenho opção – realmente.

Frank ficou em silêncio por alguns minutos, enquanto eu vestia minha camisa.

- Michael... – disse, a voz abafada. – Estava pensando...

- Hum? – resmunguei, mais preocupado com os cadarços do sapato.

- Você podia largar este emprego...

Suspirei impaciente. De novo?

- Frank...!

- Quero dizer... Podia trabalhar lá na empresa do meu pai... comigo...

O fitei surpreso. Ele ainda estava debaixo das cobertas, acho que envergonhado.

- Você está dizendo para...?

- Sim. Eu te dou o emprego.

Não consegui entender o que queria dizer.

- Não, Frank... Não posso...

- Por quê? É um emprego como outro qualquer! Só que você terá horários melhores e ganhará mais!

- Não posso deixar que me sustente... – eu tinha meu orgulho.

- Não estarei te sustentando!Tem muito trabalho pra você fazer! – o olhei de soslaio. – Okay, é porque eu quero te ver mais, algum problema?

- Frank... – como explicar que largar o emprego do restaurante seria um passo largo de mais?

- Sério, Michael - retirou as cobertas e se levantou, ficando em minha frente. – Quase não podemos nos ver. Você sempre tem compromissos misteriosos! E esse maldito trabalho, que além de ter horários absurdos também te trata como escravo! – Disse tudo olhando em meus olhos. Tão bonitinho.

- Mas...

- Por favor...

Pensei durante alguns minutos. Meus olhos perdidos dentro dos dele. Não era má idéia...

- Ok. – Concordei. Sorriu largo e me abraçou.

- Hoje você vai ao restaurante pedir demissão, amanhã mesmo começa aqui!- Ele tinha um poder enorme sobre mim, me ordenava fazer o que bem queria. Mesmo não sabendo quase nada sobre minha vida conseguia controlá-la de maneira surpreendente.

- Certo. – o beijei. Peguei o resto de minhas roupas e saí de seu apartamento, deixando-o bem sorridente.

Sabe aquela coisa de que o tempo passa mais rápido quando não queremos que passe? Isso é bem verdade. Um dia temos a vida toda pela frente e no outro nos resta somente três meses. Estávamos em Julho, e pelas minhas contas, eu não chegaria a ver o fim de Novembro... Nos meses que se passaram minha rotina havia mudado radicalmente.  Agora entre passeios com Julian e horas de serviço sempre dava um jeito de ver Frank. Não saberia responder o que eu sentia em relação a isto. Frank não sabia onde eu morava, nem sobre minha família, minha doença... Não sabia nem o meu nome verdadeiro! E ao mesmo tempo era como se somente ele pudesse me entender. Com ele eu podia ser alguém diferente. Quando estava deitado em seu peito assistindo algum filme o mundo era perfeito. Quando deitávamos sobre a mesa de escritório em pleno meio-dia a vida era perfeita. Muitas vezes mais saí com ele. Conheci uma vida noturna completamente nova, repleta de sensações desconhecidas. Éramos jovens! Estávamos vivendo. Frank era a peça que faltava em minha existência e eu não sentia necessidade de olhar para mais outra pessoa. Kath continuava sendo o que sempre foi: uma grande amiga. Frank era perfeito para mim e eu poderia me dar por satisfeito. Mas não era isso que acontecia.

Havia um outro elemento na minha nova rotina. Elemento este que eu não sentia nem um pingo de orgulho. Frank e eu fizemos uma promessa silenciosa: seríamos os únicos um do outro. Acho que eu tinha medo dele sair por aí... E achar um outro funcionário. Engraçado saber que não foi ele quem quebrou o trato.

Pelo menos uma vez por semana eu ia até o apartamento de Gerard. E no caminho eu torcia, inconscientemente, que ele não estivesse lá.

Pelo menos uma vez por semana eu ia até o apartamento de Gerard foder com Bert

   Eu não sei, realmente não sei o que me levava a fazer isso. Por vezes parava pra pensar e via que não havia necessidade. Frank era um amante incrível e indiscutivelmente mais agradável do que McCracken. Mas aquele sentimento de ódio que eu nutria por Bert fazia meu corpo tremer em êxtase. Como se não bastasse todas as minhas verdades ocultas, o ato de mentir sobre aquilo me fazia sentir uma adrenalina maravilhosa.

  Não me odeiem por isso, já me odiei o suficiente. Por Bert eu não portava nenhum sentimento bom além de tesão. E olhando bem para ele nem isso você consegue enxergar.

- Quando vai contar pro Gerard que você é bicha? – Bert sussurrou no meu ouvido enquanto metia – E pra sua mulher, hein?

- Cala...a...boca. – Só tinha forçar para dizer isto.

- E será que sou o único? – continuou – ou você dá essa bundinha para mais alguém? – deu um leve tapa em minha nádega. Como sentia ódio dele!

- Não enche o saco... – resmungava simplesmente. – Vai logo... Gerard já vai chegar...

  Ao contrário do que sentia por Frank, a culpa pelas coisas que fazia com Bert era insuportável. Parecia que a qualquer momento alguém poderia descobrir. E me enchia de preocupação imaginar o olhar de desapontamento de Frank que agora via todos os dias. Como suspeitava, não havia muito trabalho para se fazer no escritório. Xerocava contratos de imóveis, tomava café e me ajoelhava embaixo da mesa de Frank para fazer oral. Minha rotina de trabalho.

  Kath estranhou muito o fato de ter mudado de emprego. Ficou bem desconfiada, mas não pode reclamar. Agora eu tinha mais tempo para ficar em casa e as contas já não venciam.

E com o tempo passando rápido percebi que era hora de por os outros itens da lista em prática. Visualizei a próxima oportunidade certa tarde, quando fui esvaziar o meu armário no vestiário de restaurante.

- Então você vai mesmo? – Bob perguntou, se recostando na parede do vestiário.

- Sim. O emprego é infinitamente vezes melhor – e era mesmo.

- E é um escritório do que mesmo?- Bob estava meio ressentido, afinal, o deixaria sozinho nas garras de Louis e Jun-Chou Li.

- Compra e venda de imóveis. Mas eu não entendo quase nada. – não disse mais nada.- E como estão as coisas sem mim? – tentei quebrar o gelo.

- O de sempre. Ahn... Tenho uma novidade – sorriu, ansioso por contar.

- Diga! – exclamei enquanto dobrava as mudas de roupa que estava no armário.

- Serei promovido! Sub-Cozinheiro-Chefe!

- Ótimo!...E o que significa? – digamos que eu sempre fui um garçom bem desligado.

- Significa mais reconhecimento, menos trabalho e mais dinheiro! – rimos.

- Parabéns, cara. – o abracei.

  Bob merecia muito aquilo, eu não tinha dúvidas. Sempre foi trabalhador, responsável e amigo. Era um tanto anti-social, mas simpático. Eu era fã dele, com certeza. Foi bem naquele abraço que percebi: Bob era o cara perfeito.

Não, não. Não me chamem de puto! Por nenhum momento pensei em ter algo com ele. Bob era como um irmão – não que isso signifique algo de verdade, vide Gerard e eu. Mas logo imaginei que sendo um cara bacana com os amigos, logo seria assim também com sua futura esposa... e seu pequeno filho.

Sim, isso mesmo: Bob seria o pai de Julian. Um plano mal arquitetado passou pela minha cabeça e em seguida já o estava dizendo.

-Estava pensando, Bob, queria te convidar para meu aniversário!

- Aniversário? Desde quando você comemora seu aniversário?

- Ah, não sei. Só acho que seria uma boa idéia. Faz tempo que você não vê minha mãe e Kath...

Bob me olhou desconfiado.

- Você está querendo dizer que... – tentei disfarçar – quer que eu vá ao seu aniversário para cozinhar, é?

Ri.

- Não é má idéia! – não mesmo. – Você podia fazer aquela torta... – e completei ao ver a cara inconformada dele - Mas nós também gostaríamos de sua presença!

- Bom, tudo bem...

- Não se esqueça dia dez de Setembro!

- Okay. – deu batidinhas em minhas costas.

Perfeito. Uma pena saber que nesta data só me restaria pouco tempo.

 -------

Uma das obrigações que a minha maldita doença trouxe foi ter de ir ao médico regularmente tomar mais uma dose cavalar de analgésicos. Longe de mim reclamar disso. Na verdade era um período agradável, afinal, Dr. Brooke era o único ser vivente que conhecia minha condição e acaba se tornando meu psicólogo, por assim dizer. Era como se sentisse culpado por não ter feito nada antes – não que pudesse ter feito – então ocupava muitas horas de seu dia para me ouvir. Ficou interessado em saber sobre minha “todolist”. Não contei sobre suas particularidades, mas disse que era uma forma de fazer as coisas que nunca tive oportunidade de fazer.

- Interessante – disse enquanto pagava os cafés para a mulher da lanchonete do hospital, onde estávamos sentados conversando – qualquer pessoa no mundo tem um desejo que nunca pode realizar...

- Você tem? – fui direto, odiava quando falava em terceira pessoa.

- Eu? – assustou-se.

- É. Tem algo que gostaria de fazer?

Parou e pensou durante alguns segundos.

- Já realizei tudo que queria realizar.

- Mentira. – naquela altura já tinha intimidade suficiente pra dizer coisas assim.

Não reclamou. Na verdade sorriu.

- Se falar soará adolescente...

- Pode dizer...

Ele sorriu indeciso. Olhou para o relógio para verificar se estava atrasado para seu plantão. Tamborilou os dedos sobre o tampo da mesa e só então resolveu falar.

- Odeio estar sozinho. – refletiu – desde que minha esposa morreu... Restou somente eu e meu filho.

- Eu não sabia... – fiquei um pouco envergonhado pela falta de conhecimento sobre aquele que era o único a saber de minha maior verdade.

- Tudo bem. – riu – me sinto bobo falando algo assim, mas meu desejo seria ser uma pessoa menos solitária.

Algumas coisas caem em nosso colo e não nos damos conta do quanto podem ser importantes. Mas naquele momento eu percebi que estava diante de um homem tão sensível quanto outro qualquer. E eu poderia fazer algo por ele... e por mim.

- Sabe... Deve ser algo mágico, mas quando estamos pra morrer – ele pigarreou, odiava ouvir aquilo de minha boca, eu sei – ganhamos algum tipo de poder mágico.

Fitou-me sem compreender nada. Então continuei.

- Fará alguma coisa dia dez de Setembro?

 --------

 - Conte, por favor!

- Pra que você quer saber? – estávamos na mesma discussão fazia algumas horas.

- Pensei que fossemos... algo... – ele disse de olhos baixos, um pouco encabulado. Engoli em seco. Nunca havíamos conversado sobre nossa situação e nunca pensei que conversaríamos.

- Eu...

- De qualquer forma – cortou o meu rubor – por que não pode me contar?

- Porque havíamos combinado que não existiriam questões na nossa relação. – conclui.

- Mas, pelo amor de deus, eu só quero saber a data de seu aniversário! – começara a ficar irritado – O que há de errado Michael? Por que não pode me contar nada sobre você? Por que não me mostra nenhum documento seu? Não me conta onde mora? Pra que esse mistério?

O encarei encurralado, um pouco confuso com sua reação.

- O que há no passado, ou presente, de Michael Road que eu não deveria saber? – perguntou veemente, me fazendo tremer ao som de meu falso nome.

- Está soando como um ciumento lunático. – reverti a situação, um talento que aprendi com Gerard e sua capacidade de transportar uma culpa dele para cima de minhas costase em uma piscadela.

Ficou quieto. Sentou-se na cadeira de escritório tentando se acalmar.

- Desculpe-me – disse por fim – Mas eu só queria saber o por quê...

- Eu vou te contar, Frank... – olhou-me imediatamente – mas não hoje. Não agora.

Abaixou os olhos novamente.

- Seja paciente, por favor... – me aproximei e sentei em seu colo arranco-lhe um sorriso fraco. – Okay?

- Claro. – Passou os dedos pelo meu cabelo – Eu serei... – encostei meus lábios nos dele, para sentir seu ar escapando de sua boca e entrando na minha.

A última coisa que queria era magoá-lo. Acho que estava realmente... gostando dele.


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